Todo o Tempo que Temos, a Crítica: Andrew Garfield e Florence Pugh num romance com potencial
“Todo o Tempo que Temos” ou “We Live in Time” é a mais recente obra da autoria de John Crowley (“Brooklyn”), que no passado já tinha trabalhado com Andrew Garfield no emotivo “Boy A”. Neste novo filme, Florence Pugh junta-se para um drama romântico que tenta examinar o conceito de tempo.
Em “We Live in Time”, os protagonistas Tobias (Garfield) e Almut (Florence Pugh), tal como escritos por Nick Payne – argumentista ainda sem créditos diferenciadores na sua filmografia – são duas personagens com perspetivas antagónicas sobre a vida que, não obstante as suas diferenças, se apaixonam e constroem uma vida em conjunto.
Perspetivas díspares em Todo o Tempo Que Temos
Neste “Todo o Tempo que Temos”, profundamente marcado pela analepse e pela prolepse, vamos acompanhando a relação romântica e a vida dos protagonistas. O prisma central passa por uma certa escassez de tempo e pela necessidade de fazer valer cada interação, cada olhar e cada sentimento. Mas será que Payne e Crowley conseguem equilibrar as muitas influências deste “We Live in Time”?
Entre a comédia romântica e o melodrama, o filme é uma mescla de estilos que tem alguma dificuldade em definir-se: a si e ao seu ponto de vista. E onde pretende mostrar dois sujeitos com sensibilidades e individualidades próprias, uma mulher ambiciosa e o seu parceiro mais recatado e modesto em expectativas, acaba por nos conduzir para um desconfortável beco sem saída – narrando a história de uma protagonista feminina excessivamente empenhada na vida profissional e negligente no que toca à vida familiar. Mas será que a Almut de Florence Pugh merecia tal tratamento?
O enredo desta obra com Andrew Garfield e Florence Pugh
Em “We Live in Time” acompanhamos, ao longo de cerca de uma década, a relação de Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield). Neste filme relativamente curto, a bater na marca da 1h45, começa por nos ser apresentado um “meet cute” com genuína dinâmica e graça. O humor britânico está, aliás, bem presente no arranque desta co-produção entre o Reino Unido e França.
Mas eis que de um cortejo com alguns instantes cómicos relevantes, partimos para instâncias mais melodramáticas com muita rapidez. O tom muda e sentimos saudades da versão mais leve da narração de vidas que inicialmente nos é proposta.
Rapidamente mergulhamos no campo daqueles que são os alegados momentos basilares de uma vida – a construção de um lar e de uma vida familiar, o nascimento de uma criança e, como o próprio trailer nos diz (dispensando a alusão a um spoiler para quem conheça a premissa), a intromissão dos imprevistos mais cruéis da vida. Neste caso um susto de cancro que influencia em tudo a vida deste casal.
We Live in Time e a luta de Tobias e Almut
A história de amor apresentada vai oscilando entre instantes mais positivos e outros pautados pelo sofrimento e pela resiliência de um casal que, objetivamente, enfrenta desafios pesados na sua relação.
E por mais enternecedor que o filme tente ser (e acabe por ser, senão de forma pontual), é também pautado por enormes desequilíbrios impossíveis de colocar de lado. A personagem masculina, Tobias, acaba por ser sempre a mais “racional”, razoável e alinhada com valores familiares tradicionais. Almut, por outro lado, com a sua ‘ambição desmedida’, parece estar perpetuamente em falta para com o seu parceiro.
Um filme que pretende representar uma relação a dois de forma complexa e realista acaba por enfatizar um protagonista como o mais virtuoso, e a outra como uma mulher com as prioridades trocadas. Dizer que esta não é uma obra com cunho feminista é dizer pouco, pois a “escolha” de Almut parece sempre condicionada por sentimento de culpa e pela ameaça da partida.
Além disso, “Todo o Tempo que Temos” sofre de uma falta de inventividade visual, filmado como um filme para a televisão, com uma iluminação excessivamente artificial e que embora beneficie os fotogénicos Florence Pugh e Andrew Garfield, não deixa de se evidenciar como contrária em relação ao suposto naturalismo e representação de vida que o filme quer assumir.
Há escolhas muito dúbias, de câmara lenta em doses desnecessárias a uma sequência final que dispensávamos (mesmo).
“We Live in Time” começa bastante bem, com laivos de humor britânico e ecos dos mais charmosos instantes do humor inglês, mas vai-se degradando ao longo do seu tempo de duração. Ainda assim, é uma escolha adequada para os românticos incuráveis e para fãs de romances dramáticos. Os intérpretes não falham, isso é certo.
Para ver, nos cinemas de norte a sul, em dezenas de salas.
Trailer | Todo o Tempo que Temos, de John Crowley
Todo o Tempo que Temos, a Crítica
Movie title: Todo o Tempo que Temos
Movie description: Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield) conhecem-se de forma invulgar, num encontro que vai mudar as suas vidas para sempre. Ao visitar-mos vários momentos das suas vidas – quando se apaixonam, a construção de um lar, a constituição de uma família – é revelada uma verdade difícil que vai abanar os seus alicerces. À medida que embarcam numa jornada desafiada pelos limites do tempo, Almut e Tobias aprendem a valorizar cada momento da sua história de amor pouco convencional, num romance profundamente comovente que se estende por uma década.
Date published: 16 de October de 2024
Country: Reino Unido, França
Duration: 1h47'
Author: Nick Payne
Director(s): John Crowley
Actor(s): Andrew Garfield, Florence Pugh, Lee Braithwaite
Genre: Drama, Romance
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Maggie Silva - 50
Conclusão
“We Live in Time” ou “Todo o Tempo que Temos” é um filme repleto de potencial, nem que seja pelo historial de nomeações aos Óscares do seu realizador e intérpretes centrais. O arranque é também auspicioso, mas a narrativa perde força e torna-se com rapidez lugar comum (pautado até por um certo mau gosto).
Pros
- As prestações centrais de Andrew Garfield e Florence Pugh – sinceros, emotivos, com uma química palpável;
- O meet cute inicial;
- Uma dose saudável de humor britânico.
Cons
- Um desequilíbrio nítido, com a personagem masculina honrada com muito mais respeito e compreensão;
- Opções estéticas e de montagem verdadeiramente duvidosas, como algum slow motion de bradar aos céus;
- Uma série de analepses e prolepses que não acrescentam assim tanto à história.