'Coupez!', o filme de abertura. | via Festival de Cannes

75º Festival de Cannes | Na Hora da Abertura: Coupez!

Depois das limitações devido à crise sanitária, a grande família do cinema mundial  volta a reunir-se no Festival de Cannes 2022, que abre mais logo (terça) com uma 75ª edição marcada pela presença de grandes estrelas de Hollywood e com a guerra na Ucrânia, em fundo.

O Festival de Cannes foi cancelado em 2020 e em 2021 foi transferido para julho onde nos foram impostas rigorosas medidas sanitárias. Porém já se respira melhor e sem máscara no 75ª edição do Festival de Cinema de Cannes que abre daqui a pouco às 19h, de 17 de maio de 2022, num regresso ao ritmo e glamour tradicionais com ‘Coupez!’, um filme do ‘óscarizado’ realizador francês Michel Hazanavicius (‘O Artista’); numa cerimónia de abertura que a organização, pretende que seja esplendorosa e marcante, depois da pandemia, como aliás os próximos 11 dias de festival.

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75º Festival de Cannes
©Festival de Cannes/AFP

Somos mais do que 35.000 pessoas entre a imprensa especializada, cinéfilos e profissionais da indústria do cinema que nos vamos reunir, como é habitual, nesta estância turística de veraneio da Côte d’Azur, circulando entre a Croisette, a avenida marginal e sobretudo as salas do Palácio do Festivais junto à marina, atolada de grandes iates. A atmosfera mantêm-se colorida, poliglota — apesar de não haver muitos russos acreditados no Festival, eles andam por aí, já que a Côte d’Azur é um dos seus locais privilegiados de veraneio —, como em anos anteriores, mas a festa está por enquanto contida, oscilando entre, a massa de jornalistas e críticos mais exigentes da praça nacional e internacional, as grandes estrelas do cinema mundial, a fina flor do cinema de autor e também os tais ecos da guerra na Ucrânia, que está presente através de vários filmes da Selecção Oficial, de pequenas manifestações e discursos.

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A passadeira vermelha foi estendida só esta manhã, quando tudo estava ainda com ar  de que não estaria pronto a tempo e horas para a festa de abertura. Porém, já está tudo operacional para as estrelas o ‘monter les marches’, menos o sistema de bilheteira, que nos tem causado (jornalistas e indústria) algumas dores de cabeça e stress para reservar os bilhetes das  sessões das várias secções (da Competição à Semana da Crítica), já que por diversas vezes tem-se ido abaixo, com tanta gente a marcar ao mesmo tempo. É verdade que este sistema é bom para evitar que se formem longas filas de espera pelas sessões, mas tem de ser mais eficiente! Os membros do júri, presidido pelo ator francês Vincent Lindon, (‘Gosto de filmes que falam sobre o estado do mundo’) já ontem estavam por aí na conferência de imprensa: o cineasta iraniano Asghar Farhadi, a atriz italiana Jasmine Trinca, o jovem realizador francês Ladj Ly, o realizador americano Jeff Nichols, a atriz indiana Deepika Padukone, a atriz britânica Rebecca Hall, e o realizador norueguês Joachim Trier. Deles, espera-se obviamente o melhor e as decisões mais acertadas, tradicionalmente nunca coincidentes ou quase com a opinião da crítica.

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Forest Whitaker, em ‘Godfather of Harlem e Palma de Ouro Honorária 2022 | © Myles Aronowitz/Epix

A cerimónia de abertura realiza-se daqui a pouco às 19h (18h de Portugal) será apresentada pela bela actriz franco-belga Virginie Efira (Benedetta) — que também vai estar no papel de uma sobrevivente de um ataque terrorista a uma brasserie, no filme Revoir Paris, de Alice Winocour, selecionado, para a Quinzena dos Realizadores. Porém a estrela internacional do final da tarde, será o actor Forest Whitaker — produtor do documentário For the Sake of Peace’, de Christophe Castagne e Tomas Sametin, sobre duas experiências de paz e reconciliação, vividas no Sudão do Sul, filme que abriu  esta ‘maratona cinéfila’, esta manhã — que aos 60 anos de idade, vai receber uma Palma de Ouro Honorária, por uma carreira marcada, entre outras coisas, por um Oscar e pela sua brilhante interpretação de Amin Dada, o ditador de Uganda, em O Último Rei da Escócia (2007); o seu papel de assassino em ‘Ghost Dog-O Método do Samurai’ (1999), de Jim Jarmusch; e ganhou também o Prémio de Interpretação do Festival de Cannes de 1988 por ‘Bird-O Fim de Um Sonho’, de Clint Eastwood. O ator afro-americano, actualmente lidera uma instituição humanitária, que luta contra a pobreza, do Sudão do Sul ao México. Porém veremos se a atmosfera de festa ainda algo contida irá mudar radicalmente com a exibição de ‘Coupez!’, de Michel Hazanavicius, ao que consta uma doida paródia inspirada nos filmes de zombies, que pretende ser uma declaração de amor a todos os filmes, mesmo os maus e mais fracassados na história do cinema. O filme, que vai ser lançado simultaneamente nos cinemas franceses, funciona como uma espécie de metáfora ou parábola, de saída do mundo ou das gentes do cinema para uma nova realidade, que quer recuperar da pandemia de Covid-19: ‘Corta! é um filme alegre, que destaca as pessoas do cinema, e por isso espero que se divirtam como eu me diverti’, disse mais ou menos isto, o realizador de O Artista’, à Agence France-Presse (AFP), reforçando que está ‘muito feliz’ por regressar a Cannes, ainda por cima na abertura do festival. Também por aqui tivemos a oportunidade de redescobrir esta manhã, o filme A Mãe e a Puta, uma obra lendária do Festival de Cannes de 1973. 50 anos depois do escândalo aquando da sua estreia aqui, a grande obra da Nouvelle Vague, assinada por Jean Eustache (1938-1981), que não havia sido reeditada por questões de direitos de autor, regressou numa cópia restaurada, para delicia dos cinéfilos. Os seus dois intérpretes, Jean-Pierre Léaud e Françoise Lebrun, estão também por aqui para apresentar este filme.

A UCRÂNIA EM FUNDO DE ECR 

A competição de Cannes 2022 começa amanhã com 21 filmes — 5 são de realizadoras — num concurso para saber quem vai suceder a ‘Titane, a sangrenta e intransigente Palma de Ouro do ano passado, da francesa Julia Ducournau, a segunda realizadora, galardoada com o prémio máximo da história do Festival.

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A competição oficial começará simbolicamente e em força com a exibição de ‘A Mulher de Tchaikosvki’, o último filme do dissidente realizador-encenador russo Kirill Serebrennikov, que está para já proibido de sair de Moscovo; e que curiosamente vai igualmente abrir com a peça de teatro, ‘O Monge Negro’, a adaptação de um conto pouco conhecido de Anton Chekhov, no Festival de Avignon, em julho próximo. Será que virá pessoalmente defender seu filme? Por outro lado, o Festival recusa-se a receber ‘representantes oficiais russos, autoridades governamentais ou jornalistas que representam a linha oficial’ do regime, nas palavras de Thierry Frémaux, o DG do Festival de Cannes, em conferência de imprensa realizada ontem: ‘é a nossa forma de mostrar apoio absoluto e inegociável com o povo ucraniano’, concluiu justificando uma programação e vários filmes selecionados sobre o tema da Guerra da Ucrânia, incluindo Mariupolis 2, um filme póstumo, adicionado na semana passada, do realizador lituano Mantas Kvedaravicius, morto no início de abril em Mariupol.

VÊ TRAILER DE ‘ELVIS’

Na passadeira vermelha já estão preparadas as câmeras e os degraus dos fotógrafos para receberem o elenco de Top Gun: Maverick (fora de competição e que já vimos em Lisboa), incluindo Tom Cruise, que está presente no Festival pela primeira vez, depois três décadas; amanhã vai também fazer um encontro com a imprensa, que poucos minutos depois de abrir a bilheteira — a marcação de bilhetes é para o dia seguinte logo às 7h da manhã — já estava esgotada. Vamos tentar um furo! Contudo, muitas estrelas do cinema de Hollywood e não só são esperadas, aqui na Croisette, até 28 de maio: Kristen Stewart, pisará a passadeira vermelha, ao lado de Léa Seydoux e Viggo Mortensen por causa de ‘Os Crimes do Futuro’, último e muito aguardado filme de David Cronenberg, que os distribuidores portugueses se queixam de que ainda não foram adquiridos os direitos para Portugal, porque é caríssimo; também vamos ver o promissor Austin Butler e o veterano Tom Hanks, respectivamente Elvis Presley e o seu empresário num filme biográfico (‘Elvis’) de Baz Luhrmann, ou mesmo Idris Elba e Tilda Swinton, em ‘Three Thousand Years of Longing’, o último filme de  George Miller, o realizador da saga Mad Max.

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VÊ TRAILER DE ‘OS CRIMES DO FUTURO’

Entre os cineastas que concorrem à Palma de Ouro, há muitos do nosso agrado e estima como: o coreano Park Chan-wook (‘Old Boy)’, que regressa com uma investigação sulfurosa (‘Decision to Leave’), o norte-americano James Gray (A Cidade Perdida de Z) que apresenta ‘Armageddon Time’, com Anthony Hopkins e Anne Hathaway,  mais uns tantos da velha guarda e premiados como os Irmãos Dardenne (‘Rosetta’) com ‘Tori e Lokita’, o estridente Ruben Östlund (O Quadrado) com ‘Triangle of Sadness’, o japonês Hirokazu Kore-eda (Shoplifters-Uma Família de Pequenos Ladrões), que nos trás ‘Time Shot Broker’, protagonizado por Song Kang-ho, a estrela sul-coreana deParasitas, de de Bong Joon Ho.

JVM, em Cannes

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