YOU, terceira temporada em análise
This is a Love story… and a damned one! “You” regressou com uma temporada excitante, atribulada e interessante. Mas estará apta para a 4ª temporada? Afinal de contas, a renovação precoce, antes da estreia, denunciava que o final da temporada não seria totalmente fechado.
ALERTA! Esta análise contém spoilers caso ainda não tenhas visto a temporada. E uma outra nota: continua a ser exclusivamente do ponto de vista de alguém que apenas acompanha a série e que nunca leu os livros de Caroline Kepnes.
Na primeira temporada descontruiu-se a imagem do rapaz perfeito, ao descobrirmos o verdadeiro Joe Goldberg. Já na segunda temporada descobrimos o ‘coração destroçado e negro’ que uma rapariga aparentemente perfeita pode ter. Mas agora? Agora, na terceira temporada, “You” apresenta o resultado da junção de um “felizes para sempre” com duas pessoas tão estragadas quanto possível, e que são um íman para paranóia, psicoses e neuroses.
Depois de uma segunda temporada que terminou com o plot twist da verdadeira Love Quinn, e com um bebé a caminho, Joe decidiu aceitar o seu destino e mudar-se para Madre Linda, nos subúrbios. O que o moveu não foi o amor, pelo menos não o ‘amor verdadeiro’ que julgava sentir por Love, mas o amor por um pequeno ser humano ainda por nascer. E foi… mas não sem antes terminarmos o último episódio com um “Hey, You!”, para uma nova e atraente vizinha.
E foi exactamente por aí que começou esta maravilhosa terceira temporada, que contou com o regresso de Penn Badgley e Victoria Pedretti nos papéis principais. E sim, dizemos já maravilhosa porque, à semelhança das anteriores, conseguiu prender-nos desde o primeiro momento, proporcionando os twists necessários, os momentos wtf que já tão bem a caracterizam e uma psicose simplesmente impossível de não acompanhar – mas não, não ficámos totalmente felizes com o final (já explicaremos porquê).
Antes de mais nada, pegamos aqui num factor: a mudança de cenário. Já habituados a duas cidades, “You” leva as audiências agora a Madre Linda, um bairro dos subúrbios. Uma mudança que faz sentido tendo em conta o passado do casal e o novo bebé, Madre Linda é o pretexto perfeito para conferir a “You” um novo humor sarcástico com a introdução dos Quinn-Goldberg à comunidade do novo bairro. Com uma leve sátira ao tipo de pessoas que se encontra nos subúrbios, e até com uma breve menção à Covid-19 (ainda bem que optaram por não incluir essa vertente na temporada – poderia ter estragado tudo), a introdução neste novo ‘mundo’ foi um dos melhores pontos da temporada.
Ao passo que nas primeiras temporadas acompanhamos as obsessões de Joe, a terceira temporada de “You” pareceu tocar apenas ao de leve nas obsessões dele, com meras menções no primeiro episódio (e uma mítica caixa de souvenirs da ‘presa’), e depois com um episódio pelo meio de temporada, onde arranjou uma nova paixão. Por outro lado, foram enaltecidas todas as obsessões e psicoses de Love Quinn, o que nos fez ficar mais presos ao sofá. O crescendo do comportamento errático de Love ao longo de cada episódio (fica a nota: a contagem de corpos desta 3ª temporada é TODA culpa de Love) fez com que o enredo da série se tornasse substancialmente mais interessante por se desapegar das primeiras fórmulas; a sensação é que Joe é recambiado para elenco secundário e que Love é realmente o centro destes novos episódios. E de notar que as cenas de casal ganharam toda uma outra dimensão e “piada”, nomeadamente as sessões de terapia e as conclusões que dali vinham.
Mantendo um ritmo acelerado ao longo de todos os episódios (consistência nunca foi problema para “You” admitamos), desta vez houve um maior foco para a linguagem corporal das personagens – desde os olhares e reacções de Joe a Love, até aos avanços subtis de Love para com o seu novo vizinho ou a forma como reagia ao pé de Joe e da sua mãe… tudo isto contribuiu para que se sentisse uma certa evolução por parte das personagens, e uma vontade de querer continuar a acompanhá-las.
Em termos de crescimento diríamos que Love não teve oportunidade para crescer, mas sim para se expandir enquanto maníaca que é. Mas, por outro lado, sentimos que a terceira temporada serviu para dar mais contexto a Joe, principalmente quando tentou estabelecer uma relação com o seu filho, o pequeno Henry; e que o facto de nos terem apresentado parte dos motivos para os seus problemas de abandono com recurso a flashbacks de infância ajudou a compreender melhor a personagem. E não se esqueçam! Ele esteve quase 9 episódios sem matar (ou tentar) ninguém. É um recorde!
E, se eles por um lado foram sendo o foco, também dizemos que um dos melhores pontos desta terceira temporada de “You” foi o elenco secundário – o melhor até à data! Desde Theo, que se tornou uma das personagens chave, e que tinha tanto de ingénuo como de creepy e stalker (um Joe em ascensão quase…), até ao casal de extremos, Sherry e Cary, e não esquecendo Matthew Engler – o único que percebeu que Love não era a vizinha perfeita. E não, não nos esquecemos de Marianne – apesar de ser o ponto de partida para a quarta temporada, sentimos que não lhe foi dada o destaque que poderia, nem o tempo de ecrã necessário para se destacar. Especialmente em comparação com os restantes.
No final desta terceira temporada de “You” percebemos que a mudança constante de “cenário” não é um contra ao enredo; é até o melhor ponto de partida para dar azo a um desenvolvimento de personagem. A capacidade de se irem reinventando, em parte porque fogem de um passado perturbado, é também o ponto de partida para conhecermos as suas motivações e os ‘traumas’ que as levaram a tornar-se de um certo modo.
Mas onde é que falhou perguntam-se? Na nossa opinião, num ponto mais que outro. Se por um lado gostávamos da storyline que quase nos levou a acreditar no final de Joe Goldberg, pelas mãos de Love (isso sim teria sido um ENORME plot twist), por outro sentimos que também foi o que pecou para “You”. A série não perdeu em nada a consistência e rapidez na construção de personagens e teorias, mas perdeu no tempo de ecrã do próprio protagonista, que andou desaparecido durante grande parte da temporada. Porém, o que mais nos “falhou” foi o final de Joe – a ideia de que a história iria continuar, mas em Paris e atrás de Marianne, não nos deixou totalmente felizes. Sentimos que é mais do mesmo e fica a questão… será que afinal Joe mudou assim tanto com um filho? Afinal de contas abandonou-o e partiu novamente atrás da “mulher ideal”. Quantas mulheres ideias é que ele conseguirá encontrar ao longo de uma vida?
Não obstante estes pontos, “You” é uma série para continuar a manter debaixo de olho. Penn Badgley continua impecável como Joe Goldberg, o suspense é a palavra de ordem em cada episódio e as surpresas são sempre uma garantia. Agora… será que tal como Forty voltou para ‘assombrar’ Love, também Love irá voltar para ‘assombrar’ Joe?
Com que sensação ficaste desta 3ª temporada de You? A história podia parar aqui ou deve continuar?
Name: You
Description: Na terceira temporada, Joe e Love, agora casados e pais recentes, mudaram-se para o agradável enclave de Madre Linda, no norte da Califórnia, onde vivem rodeados de empreendedores tecnológicos privilegiados, mamãs blogueiras com opiniões sempre prontas e biohackers estrelas do Instagram. Joe está dedicado ao seu novo papel de marido e pai, mas teme a impulsividade letal de Love e, para piorar as coisas, o coração faz outra vez das suas. Será que a mulher que procura há tanto tempo é, afinal, sua vizinha? Escapar do cativeiro numa cave é uma coisa, mas quando a nossa prisão é um casamento aparentemente perfeito com uma mulher que nos conhece de ginjeira, a situação complica-se.
Author: Marta Kong Nunes
-
Marta Kong Nunes - 90
CONCLUSÃO
“YOU” voltou a usar muitas das fórmulas da primeira e segunda temporada mas conseguiu elevar o nível ao quase dar a ideia que o protagonista da série estava prestes a mudar. Por entre psicoses, mortes, acidentes e algumas cenas de sedução, vimo-nos outra vez embrenhados no estranho e psicopata mundo de Joe Goldberg; e sim, torcendo por ele outra vez. A série prende uma vez mais o espectador e se tal não bastasse, ainda oferece mais insight a Joe e aos motivos que o levaram a tornar-se assim. Não é desculpa, mas é um bom desenvolvimento de personagem – ainda para mais quando temos quarta temporada a caminho!
Pros
- A psicose maravilhosa de Love, tão bem representada por Victoria Pedretti;
- A subversão subtil do protagonista da série em grande parte da temporada, e a re-aproximação dos espectadores a Joe Goldberg;
- O grande twist final que deu o mote para novos episódios e condenou uma vez mais a vida de Joe;
- O casting excepcional dos papéis secundários que tiveram desta vez um papel mais predominante no enredo.
Cons
- A alusão a Ellie Alves, e à ligação que ainda mantém com Joe, mas que ficou perdida a meio da temporada (ainda é uma ponta solta na nossa opinião);
- A repetição da fórmula no desenvolvimento de psicoses (ainda que tenham sabido dar a volta durante a temporada, rapidamente voltou ao mesmo no último episódio);
- Joe Golberg ter recorrido aos hábitos antigos e ter deixado o seu filho sozinho – estávamos à espera de uma evolução, especialmente quando ele próprio desenvolveu (finalmente) a ligação a Henry!