© José Vieira Mendes

32 º EFA | De ‘A Favorita’ a grande vencedor!

O filme ‘A Favorita’, de Yorgos Lanthimos, sem grande surpresa, foi considerado o Filme Europeu 2019, numa cerimónia muito original e bem conseguida, onde o realizador espanhol Pedro Almodóvar pareceu o grande desiludido da noite dos EFA 2019.

Contra praticamente todos os alinhamentos de cerimónias de prémios e inclusive as anteriores, os EFA 2019, realizados neste sábado 7 de Dezembro, na Haus der Berliner Festspiele, começaram pela atribuição de Melhor Realizador. E parece ter começado aí o favoritismo de ‘A Favorita — passe o pleonasmo — e (mais) uma desilusão para o cineasta espanhol Pedro Almodóvar — que era bem visível no final da cerimónia — que concorria com o seu ‘Dor e Glória’. Mas também pareceu pouco provável para quem assistiu à cerimónia; e sobretudo para os outros cineastas e filmes europeus nomeados nas várias categorias. Definia-se de início as linhas gerais de uma premiação que consagrou ‘A Favorita’ — um filme que curiosamente já foi candidato aos Óscares 2018 — logo com o galardão de Melhor Realizador Europeu, atribuído ao grego Yorgos Lanthimos. Não se pode dizer que seja injusto, mas não deixa de ser estranho quando outros cineastas apresentavam premiados filmes europeus, estreados na temporada de 2019: Marco Belocchio (‘O Traidor’) Roman Polanski (‘J’accuse’), Pedro Almodóvar (‘Dor e Glória’).

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© José Vieira Mendes

Os três realizadores e as suas respectivas obras, partilhavam igualmente o favoritismo com quatro nomeações das cinco possíveis. Tal como já tinha acontecido no Festival de Cannes, foi Antonio Banderas agora em directo por Skype de uma sala de teatro em Málaga, que aliviou a ‘dolor’ de Almodóvar, ou salvou a honra do convento, ganhando o Prémio de Melhor Actor Europeu, no seu Salvador Mallo de ‘Dor e Glória’,  que não é mais do que um retrato intimo do próprio realizador.

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Olivia Colman em “A Favorita” (2018) © Big Picture Films

‘A Favorita’, que esteve na cerimónia, sem a presença de Lanthimos ou da novamente celebrada Olivia Colman (também a Melhor Actriz Europeia), foi mais ouvido durante a noite e efectivamente é um filme de outro ‘campeonato’: quatro dos oito prémios técnicos dados anunciados antecipadamente já lhe pertenciam (fotografia, montagem, guarda-roupa, maquilhagem e cabelos) ainda mais se lhe acrescentou o de Melhor Comédia Europeia, para um filme, que tem mais dramático, do que hilariante. Ao todo foram oito prémios para um bom filme mas já requentado e da temporada de 2018.

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© José Vieira Mendes

Roman Polanski, não apareceu, mas mesmo assim recebeu uma ‘palmadinha nas costas’ pela voz do produtor britânico Mike Downey, eleito agora como novo ‘chairman’ da Academia Europeia de Cinema, em substituição da veterana Agnieska Holland. Para evitar polémicas, Downey como porta-voz dos academistas, tentou justificar — diga-se de passagem sem necessidade — a presença de Polanski nos nomeados aos EFA 2019, pese embora qualquer juízo ou opiniões contrárias: Temos que respeitar a decisão dos academistas e de todos os que trabalharam no filme. Doloroso foi também de ver Marco Belocchio (‘O Traidor’) um dos grandes mestres do italiano, que passou quase despercebido na passadeira vermelha — veja-se a ‘santa ignorância’ da nova geração de fotógrafos e jornalistas que cobrem estes eventos —, sair de mãos a abanar sem nenhum prémio quando, até parecia que o argumento, da história do mafioso Tommaso Buscetta ia tombar para o seu lado. Mas a surpreendente — e ausente cumprindo a greve geral em França — vencedora de Melhor Argumento Europeu foi a francesa Céline Sciamma pela sua intimista história de amor no feminino, intitulada ‘Retrato de uma Mulher em Chamas’, com as belas Noémie Merlant e Adèle Haenel, ambas candidatas a Melhor Actriz. ‘Les Misérables’, do francês de origem maliana Ladj Ly e um dos filmes que entre outros foi Prémio do Júri no Festival de Cannes, recebeu o galardão de Descoberta Europeia, indicado pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci).

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© Alambique Filmes

‘For Sama’, o impressionante filme co-realizado por Waad Al-Khateab e Edward Watts, sobre a experiência das mulheres, na Guerra da Síria, venceu o prémio de Melhor Documentário. A Melhor Animação Europeia foi efectivamente para uma verdadeira obra-prima do género: ‘Buñuel en el Laberinto de las Tortugas’, do espanhol Salvador Simó, baseado na história verídica e com mistura de imagens reais da rodagem do documentário ‘Las Hurdes – Tierra Sin Pan’ (1933), do próprio Louis Buñuel, que conta a sua história de amizade com Ramón Acín. Um história de cinema que merece ser relembrada.

Cold War - Guerra Fria
Cold War – Guerra Fria | ©Midas Filmes

O Prémio do Público, que agrupava todos os filmes europeus estreados em 2019, foi para Cold War – Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski, não sem algo de embaraçoso, mais uma vez para a Academia Europeia de Cinema e suas regras, porque o filme já ganhou cinco Prémios do Cinema Europeu na edição do ano passado.

Além dos prémios competitivos houve momentos muito bonitos na cerimónia e sobretudos dois importantes galardões de carreira para: Juliette Binoche, destacando  o seu percurso internacional iniciado na década de 80. Foi a realizadora francesa Claire Denis, que a dirigiu várias vezes, que ternamente prestou a homenagem em palco e entregou o prémio a Binoche. O cineasta iraniano Jafar Panahi, que não pode sair do seu país, fez igualmente uma surpresa à actriz e apareceu nos ecrãs para homenagear uma das suas divas. Binoche deixou também um conselho todas as atrizes e atores: Por favor, escolham os filmes que fazem e sejam responsáveis pelas vossas escolhas; o mestre alemão Werner Herzog, recebeu em casa um prémio pelos seus incomparáveis 50 anos de carreira — como lhe cantou no palco Wim Wenders, inspirando-se na canção de Sinéad O’Connor — recordando-lhe ainda a independência e do entusiasmo partilhado por ambos nos tempos do Cinema Novo Alemão, dos anos 60. Aos 77 anos, Werner Herzog realizou mais de setenta filmes, entre longas e curtas, ficção e documentário e o seu mais recente trabalho, ‘Family Romance, LLC.’, rodado em Tóquio, estreado fora da competição em Cannes, foi apresentado ontem sexta, numa  interessante sessão especial com público, com perguntas e respostas.

Werner Herzog
Werner Herzog e a mochila de Bruce Chatwin | ©Sideways Film

Portugal mais uma vez não esteve representado ao nível das longas-metragens mas tinha algum favoritismo, ao nível das curtas-metragens: ‘Les Extraordinaires mésaventures de la jeune fille de pierre’, um co-produção luso-francesa de Gabriel Abrantes, e ‘Cães Que Ladram aos Pássaros’, de Leonor Teles, estavam como candidatas a Melhor Curta-Metragem Europeia, ou seja dois filmes portugueses entre os cinco nomeados. O filme de Abrantes, estreado na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e nomeado pelo Curtas de Vila do Conde, é uma divertida história de uma estátua do Museu do Louvre que quer deixar de ser arte para se juntar aos ‘coletes amarelos’; ‘Cães Que Ladram aos Pássaros’, por sua vez nomeado pela secção Horizontes do Festival de Veneza, conta um momento de vida de uma família do Porto que no meio de uma crise financeira, tenta alugar um apartamento numa cidade remetida ao turismo e gentrificação.

Cães Que Ladram aos Pássaros
Vicente Gil diverte-se com os amigos nas ruas turísticas do centro do Porto. | ©Uma Pedra no Sapato

No entanto, neste contexto ‘The Christmas Gift’, do romeno Bogdan Muresanu, foi considerada a Melhor Curta-Metragem Europeia de 2019. Os próximos Prémios do Cinema Europeu — que vão alternado anualmente com Berlim, sede da Academia Europeia de Cinema e outras cidades europeias — serão realizados em Reiquiavique, a capital da Islândia, a 12 de dezembro de 2020.

JVM

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