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European Film Challenge | Desafio: ‘Frankie’ Goes to Sintra…

O nova-iorquino Ira Sachs filmou em Sintra, a reunião de uma ilustre família, liderada por uma poderosa matriarca, chamada ‘Frankie’,  que quer controlar tudo e todos.  Uma co-produção portuguesa na competição de Cannes 72, e um dos filmes especiais do European Film Challenge!

Se não pudemos ter Woody Allen a filmar em Lisboa, tivemos pelo menos o norte-americano Ira Sachs (‘Love is Strange – O Amor é Uma Coisa Estranha’), a rodar em Sintra e arredores. ‘Frankie’, é uma co-produção franco-portuguesa (com a O Som e a Fúria), protagonizada por Isabelle Huppert e mais um notável elenco internacional, em passeio por uma das mais belas vilas do mundo, num filme que tem demasiado formato de bilhete postal e talvez um certo excesso de ‘product placement’ turístico. Portugal e Sintra são lindos e merecem ser vendidos internacionalmente, — incluindo para se fazerem filmes — mas não é preciso chegar a tanto. Ou a chegar, chegar pelo menos com um pouco de mais naturalidade.

Frankie
Marido (Brendan Gleeson) e mulher (Isabelle Huppert), procuram a redenção.
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O pretexto do filme é a história da matriarca Frankie, (Isabell Huppert), uma complicada e auto-centrada estrela de cinema internacional, manipuladora e incapaz de mostrar os seus sentimentos, que reúne a família num final de verão, para fazer uma revelação pessoal e de certo modo controlar o futuro de todos. Mas as grandes protagonistas de ‘Frankie’ são sem dúvida a vila de Sintra e a Praia das Maçãs. E é maravilhoso ainda mais quando se está num festival que dura 12 dias, sentir a nostalgia e a saudade— aliás um sentimento muito português que ainda ninguém talvez teve a coragem de o exprimir como deve ser no cinema — ver o eléctrico para a Praia da Maçãs (os tuk-tuk, estão creio que a mais…), a serra, a vegetação, o Palácio da Pena encobertos pela neblina, as ruas estreitas de Sintra e da Serra, as queijadas da Piriquita, e recordar as lendas populares das bicas de água e as histórias da Praia das Maçãs, que há muito já esquecemos nas nossas memórias. E sobretudo é maravilhoso o apoteótico plano final de ‘Frankie’, com as silhuetas dos protagonistas marcadas na arriba, com a linha do horizonte ao fundo e aquele pôr-do-sol sobre o mar, que marca a luz e céu de Lisboa e Portugal. Algo que aliás o director de fotografia português Rui Poças, tirou muito bem partido em todo o filme e que vale ouro se quisermos trazer mais gente para filmar no nosso País.

Frankie
Praticamente todo o elenco num dos momentos mais bonitos do filme.

As fragilidades de ‘Frankie’, não estão assim na fotografia,  localizações, ou interpretações dos actores. Estão num argumento que parece disperso, pouco desenvolvido e trabalhado do ponto de vista narrativo: logo à partida faz lembrar os filmes (sobretudo os dois ‘Contos de Inverno e Primavera’) do mestre francês Eric Rohmer, (1920-2010); e por outro lado o filme assenta numa trama que fica muito presa e demasiado dependente das exigências de produção e do fascínio do realizador Ira Sachs e do argumentista de origem brasileira Maurizio Zacharias, pelos locais. Embora, em algumas cenas, os diálogos, aliás bastante teatrais, sejam interessantes, no que diz respeito aquilo que é a discussão do sentido da vida. As cenas são algo dispersas e sem continuidade, quase como se fossem quadros soltos. Os ambientes e a atmosfera de Sintra por si só sempre foram muito inspiradores para muitos artistas que por lá passaram. Quanto ao elenco de ‘Frankie’, composto por Isabelle Huppert, Brendan Gleason, Pascal Greggory, Jérémie Rénier, Marisa Tomei (está deliciosa…) e Greg Kinnear, (talvez a personagem mais mal aproveitada) e Carloto Cotta corporizam com competência, essa partilha de um lugar e a beleza única de Sintra e de um Portugal, cada vez mais únicos no mundo, por oposição a Nova Iorque ou Londres, locais de pertença dessas personagens algo desenraizadas e sem rumo.

Frankie
Isabelle Huppert é Frankie, uma actriz em final de carreira.

Para um espectador português, é verdade que certas referências nos diálogos e situações de ‘Frankie’, podem tornar-se um pouco absurdas e até ridículas, principalmente no que é valorizado por esse olhar de fora, de quem escreveu e dirigiu o filme, que é diferente do nosso. Nós portugueses temos a velha tendência para valorizar pouco aquilo que temos de bom. Talvez o grande mérito de ‘Frankie’ e o seu objectivo principal ou seja exactamente esse de mostrar, por esse mundo fora a descoberta e a preciosidade que é Portugal. Se o País (e Sintra) já conquistou Madonna, por que não  conquistar outros artistas para trabalharem em Portugal? Já agora, vem daí Woody Allen, estás perdoado!

Vê este filme em dezembro e recebe mais 10 pontos no novo desafio do European Film Challenge!

José Vieira Mendes

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