'The Old Oak'/©Ken Loach

76º Festival de Cinema | ‘The Old Oak’, a emoção final

O veterano realizador britânico Ken Loach com ‘The Old Oak’, fechou com emoção o concurso de Cannes 76 e é mais um dos favoritos. A italiana Alice Rohrwacher bem ao seu estilo experimental trouxe ‘La Chimera’ um filme sobre a memórias das vidas passadas. Mais logo às 19h30 (hora de Lisboa) e fechadas as contas saberemos que é o vencedor da Palma de Ouro 2023.

‘The Old Oak’, novo filme de Ken Loach (‘Eu, Daniel Blake’ ou Sweet Sixteen’), dá-nos mais uma lição de humanidade, recordando-nos a necessidade de uma verdadeira solidariedade, mais do que a caridade ou as boas intenções políticas. Sobretudo nestes tempos conturbados que vivemos e em que comunidades e povos se dilaceram e se opõem em conflitos inadiáveis; em que a Europa está sob pressão, obrigada a acolher muitos refugiados, sírios ou ucranianos. Apesar de um dispositivo narrativo que dificilmente nos surpreende, ‘The Old Oak’, compara as duas formas de pobreza: a dos deslocados das guerras e as das famílias de ex-mineiros de um Inglaterra cada vez mais indiferente aos mais desfavorecidos. E como sempre o realizador, consegue tocar-nos graças à combinação de duas horas de emoções fortes e um pouco de humor. De um lado está TJ Ballantyne (Dave Turner), dono de um pub decadente (que dá título ao filme) e do outro Yara (Ebla Mari), uma jovem fotógrafa de uma família síria, a quem o inglês começa por ajudar a consertar sua câmera partida. Os dois personagens são irrepreensíveis (e as interpretações notáveis) e tentam trazer um pouco de razão a uma pequena cidade do Norte de Inglaterra, onde a chegada de várias famílias de refugiados traz ao de cima, as dificuldades de integração, captando também na perfeição, o sentimento de revolta e de crise da classe trabalhadora inglesa.

VÊ TRAILER DE ‘THE OLD OAK’

O filme vai questionando ao mesmo tempo a esperança, tanto das famílias que fugiram da guerra, a da rapariga que aliás espera ter notícias do pai desaparecido, quanto para os ingleses poderem ter uma vida melhor, já que perderam o emprego ou viram a sua casa desvalorizada pela especulação imobiliária ou abandono de uma região onde não há trabalho. Como sempre, o argumento de Paul Laverty é muito eficaz na criação de emoções fortes e bons sentimentos, mas falta-lhe talvez um pouco da tensão criada em outros filmes de Ken Loach. The Old Oak’, de Ken Loach tem contudo um final surpreendente e comovente e como todos os filmes do realizador faz-nos acreditar que ainda é possível fazermos alguma coisa para tornar este mundo melhor. Forte candidato à Palma de Ouro 2023, se vencer será a terceira para Ken Loach, o que seria algo de histórico.

VÊ TRAILER DE ‘LA CHIMERA’

‘La Chimera’, da italiana de Alice Rohrwacher, um filme curioso sobre a memória de vidas passadas foi o penúltimo filme apresentado na competição do 76º Festival de Cannes. Alice Rohrwacher já nos surpreendeu com sua última aparição na competição de Cannes, com Feliz Como Lázaro’, filme que ganhou Prémio de Argumento em 2018. Esta sua nova obra vai na mesma linha dos seus filmes anteriores de uma narrativa fragmentada, entre o linear e o experimental, — sobretudo no que diz respeito aos formatos com que é filmado, 35 mm, Super 16 mm e uma câmera amadora de 16 mm — mas trata-se de um filme menor nesta Competição de 2023, que dificilmente vai fazer história. Mas nunca se sabe? O filme passa-se na Itália profunda, na Costa do Mar Tirreno e conta a história de Arthur (Josh O’Connor), que está de volta à sua terra natal depois de ter vivido no estrangeiro e que tem, um dom singular para a radiestesia, uma técnica que usa para ajudar com os seus amigos um bando de saqueadores de túmulos etruscos. No entanto, Arthur também carrega consigo o vazio deixado pela memória de Beniamina, um bela mulher e o seu amor perdido. Arthur é um personagem fora do tempo, franzino e sempre de rosto fechado e a sua aventura parece saída de uma velha fantasia do folclore da região. Nesse sentido, ‘La Chimera’ é um filme poético com uma atmosfera singular, mas que sofre de graves problemas de ritmo e resolução. Para além de Josh O’Connor (interpretou o actual Rei Carlos de Inglaterra, na série ‘The Crown’, o filme conta ainda com a participação da actriz brasileira Carol Duarte (‘A Vida Invisível de Eunice Gusmão’), que é uma revelação e da grande Isabella Rossellini.

JVM





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