76º Festival de Veneza (2) | Brad Pitt brilha em Ad Astra
Em ‘Ad Astra’, do cineasta norte-americano James Gray, num futuro próximo Brad Pitt viaja pelos confins do sistema solar à procura do pai e seres vivos além dos terrestres. O melhor do filme é mesmo a interpretação de Brad Pitt.
Antes de ‘Ad Astra’, a maioria dos filmes anteriores do cineasta nova-iorquino James Gray, — muitas vezes comparado a Martin Scorsese, embora seja de uma geração bastante mais nova — têm por hábito combinar o género policial com o drama familiar, como por exemplo ‘Nós Controlamos a Noite’, (2013), ou ‘Nas Teias da Corrupção’ (2000). Talvez o mais distintivo seja o seu último filme, o épico histórico-aventuras ‘A Cidade Perdida de Z’ (2018), sobre, o explorador inglês Percy Fawcett (1867-1925) que iniciou uma série de expedições à América do Sul, em 1906.
Em ‘Ad Astra’, estreado aqui na competição de Veneza 76, Gray faz a sua primeira incursão na ficção científica, com uma sofisticada soap-opera, que nem de perto nem de longe chega aos calcanhares de ‘2001, Uma Odisseia no Espaço’, de Stanley Kubrick, de ‘Apocalipse Now’, de Francis Ford Coppola ou mesmo o mais recente ‘Gravidade’, de Alfonso Cuarón, estreado na Mostra de Veneza em 2013. Embora James Gray tome todos esses filmes como as suas referências para justificar este ‘Ad Astra’: É como se misturasse uma pitada do livro ‘Coração das Trevas’ de Joseph Conrad, que inspirou Coppola em ‘Apocalipse Now’ com as atmosferas de ‘2001, Uma Odisseia No Espaço’.
VÊ TRAILER OFICIAL DE ‘AD ASTRA’
‘Ad Astra’ apresenta uma boa combinação de géneros dentro da ficção científica, é muito bem realizado — James Gray continua a ser uma eterna esperança — mas na sua essência trata-se de um filme pouco original, mesmo em relação às suas (e às nossas) referências cinematográficas. O tema central do filme passa sobretudo pelo relacionamento típico de um pai (ausente) e do seu filho que apesar de tudo quer ser como o progenitor. Um tema, aliás recorrente tanto dos filmes anteriores de Gray, como do imaginário literário e cinematográfico da cultura ocidental.
No inicio ‘Ad Astra’ até promete pois começa de uma forma espetacular: o major-astronauta Roy McBride (Brad Pitt) lidera um grupo operadores-espaciais que está a construir na atmosfera terrestre a maior (e mais alta) antena do mundo, para localizar a possibilidade de existência de sinais de extraterrestres. Uma súbita onda de energia faz cair a antena e Pitt consegue salvar-se graças ao seu super-pára-quedas. Este acidente é o último de uma série de vários, que estão a afetar o planeta Terra, inclusive ao nível climático. Por isso, os ‘serviços de inteligência’ norte-americana supõem que esses desastres são causados por um projeto secreto intitulado Lima, que foi liderado pelo coronel H. Clifford McBride (Tommy Lee Jones), um lendário astronauta e pai de Roy. O Projeto Lima foi uma missão espacial em direcção a Neptuno, em que os astronautas desapareceram e não comunicam com a Terra há cerca de dezasseis anos. Roy fica encarregado de ir à colónia terrestre de Marte, na tentativa de comunicar, e lançar um apelo ao pai, que pode ainda estar vivo. O objectivo é localiza-lo e se possível neutraliza-lo. Apesar da sua coragem Roy sofre muito com a ausência do progenitor, que desapareceu entre as estrelas quando ele era ainda uma criança. É dessa forma um homem que vive atormentado e fechado nas suas relações, inclusive com a mulher (Liv Tyler, numa aparição quase feérica). Nesta missão Roy terá que lidar com todos esses transtornos emocionais e solidão, que marcaram toda a sua vida.
‘Ad Astra’ era um dos filmes mais aguardados nesta competição, em primeiro lugar por causa do elenco que juntava dois grandes actores e as suas interpretações, talvez seja mesmo uma das melhores coisas do filme: Brad Pitt, o rosto do protagonista e o veterano Tommy Lee Jones, que faz crescer o ecrã na última parte do drama. O filme de Gray foi muito falado para a Selecção do Festival de Cannes 2019, mas acabou por ser adiado devido talvez a duas razões: a compra da 20th Century Fox pela Disney, mais empenhada no lançamento de ‘Aladdin’ de Guy Ritchie; e pela complexidade dos efeitos especiais, do cenário espacial. Apesar da sua falta de originalidade a narrativa e a visão do espaço são muito bonitas e realistas. Um dos méritos de ‘Ad Astra’ está ainda em mostrar que apesar de todos os grandes desenvolvimentos tecnológicos que já existem e os que aí vêm, o espaço continuará a ser bastante hostil para a Humanidade. Este é um dos poucos filmes que não hesita pôr em causa a existência de extraterrestres, pelo menos no nosso sistema solar.
JVM em Veneza