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Maya Nilo (Laura), em análise

Em tempo da chamada silly season chega agora às salas de cinema ‘Maya Nilo (Laura)’, um pequeno filme de estreia da sueca Lovisa Sirén, que é um alucinante e ao mesmo tempo terno road movie familiar, a bordo de uma velha carrinha Volvo 965. Trata-se de uma longa viagem emocional que termina em Portugal. Estreia esta quinta, 3 de Agosto.

O cartaz de estreias nacional de cinema recebe, no meio do sucesso dos dois blockbusters do momento, (‘Barbie’ e ‘Oppenheimer’, claro…!) este pequeno e discreto ‘Maya Nilo (Laura)’, uma estreia nas longas-metragens da ainda jovem sueca Lovisa Sirén (36 anos). Trata-se de um road movie familiar a bordo de uma velha wagon-station Volvo 965, que começa na longínqua e fria Suécia e vai terminar com a luz da costa portuguesa, mais propriamente em Sagres. Este pequeno filme tem corrido vários festivais internacionais, sobretudo os de temática feminina — foi também nomeado para dois prémios Guldbagge, os mais importantes da indústria audiovisual sueca — já que além de ser realizado por uma mulher, narra a jornada de duas irmãs malfadadas, e a filha de uma delas, pela Europa até chegarem a Portugal, para visitarem a matriarca da família, supostamente doente e em fase terminal com um cancro. Para as três, Maya (Bahar Pars), Nilo (Zhala Zhino Rifat) e Laura (Nadja Rosenberg), a longa viagem tornar-se-á numa jornada física, espiritual e emocional, que apesar dos laços familiares que as unem, as ajudará a conhecerem-se melhor e a reinventarem o seu relacionamento.

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Maya Nilo (Laura)
Nadja Rosenberg é a filha Laura. © Nitrato Filmes



‘Maya Nilo (Laura)’, de Lovisa Sirén — uma das cineastas mais promissores da Suécia na actualidade — é um pequeno filme, mas tem uma ideia de argumento bastante interessante e original. Porém, é um filme com características técnicas bastante complexas e foi decerto um desafio extremo ao nível da rodagem, para uma cineasta novata que tem apenas na sua carreira duas curtas-metragens: ‘Audition’ (2015) e ‘Baby’ (2016). Rodado em película de 35 mm, as filmagens percorreram, tal como as suas protagonistas e pequena equipa, cerca de seis países europeus: Bélgica, França, Suécia, Dinamarca, Alemanha e por fim Portugal. A viagem representada na velha carrinha Volvo 965 que é quase uma das ‘personagens’ do filme — foi afinada para a ocasião e segundo consta resistiu milagrosamente às filmagens — não deve ter sido mesmo nada fácil, muitas vezes sob mau tempo e chuva, mudanças de temperatura e durante a pandemia. Porém, o grande mérito deste filme está na forma como facilmente, transmite as emoções das suas personagens, muito à custa de vertiginosos movimentos de câmara quase sempre sobre os seus rostos; e depois graças também ao realismo de uma extraordinária direcção de fotografia sem grandes artifícios, que usa cenários reais e as longas estradas interiores da Europa.

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‘Maya Nilo (Laura)’, é uma bela história de amor, sobre mulheres e crianças, feita na ausência dos homens, como protagonistas. É um filme que procura descrever, como as mulheres se relacionam umas com as outras, como é que o seu comportamento muda perante determinadas situações de conflito? As protagonistas são efectivamente duas irmãs, as duas mulheres com personalidades quase opostas, presas na mesma família, mas que relutantemente vão ter de conviver numa longa viagem e numa aventura que acaba por se tornar libertadora para ambas e uni-las. De certo modo é um filme que faz lembrar, por exemplo, o Thelma & Louise (1991), de Ridley Scott ou Loucamente (2016), de Paolo Vir, se é que é permitida qualquer comparação.

Maya Nilo (Laura)
A actriz e humorista sueca de origem iraniana Bahar Pars é uma das irmãs. © Nitrato Filmes



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No elenco de ‘Maya Nilo (Laura)’ e com excelentes interpretações, estão a actriz e humorista sueca de origem iraniana Bahar Pars e Zhala Zhino Rifat, uma actriz não-profissional, uma figura um tanto excêntrica e exótica, que é absolutamente notável. As duas intérpretes conseguem uma dinâmica tão divertida quanto emocional, que nos fazem pensar, que são realmente irmãs de verdade, embora as semelhanças físicas não sejam assim tão evidentes. Ambas as protagonistas participaram em trabalhos anteriores da realizadora, como por exemplo a curta-metragem ‘Baby’, algo que ajudou bastante neste reencontro.

Maya Nilo (Laura)
Zhala Zhino Rifat, uma actriz não-profissional, uma figura um tanto excêntrica e exótica. © Nitrato Filmes

‘Maya Nilo (Laura)’, de Lovisa Sirén é uma louca viagem de carro em que não faltam conflitos, emoções e, acima de tudo, muito amor e ternura. Uma pequena pérola do cinema europeu, sempre muito longe dos recursos dos filmes de Hollywood e por isso merecem mais a nossa atenção! Um filme de mulheres que vai enternecer os homens.

Maya Nilo (Laura), em análise
Maya Nilo (Laura)

Movie title: Maya Nilo (Laura)

Movie description: Um melodrama sobre rodas protagonizado por duas irmãs suecas que, ao saberem que à mãe foi diagnosticada com cancro, decidem visitá-la em Portugal junto com a filha de uma delas. Uma viagem de carro em que não faltam conflitos, emoções e, acima de tudo, muito amor e ternura.

Date published: 2 de August de 2023

Country: Finlândia, Bélgica, Suiça

Duration: 97 min

Director(s): Lovisa Sirén

Actor(s): Bahar Pars, Frédéric Clou, Matteo Lima Alves, Nadja Rosenberg.

Genre: Drama familiar, 2022,

  • José Vieira Mendes - 80
80

CONCLUSÃO:

‘Maya Nilo (Laura)’, da ainda jovem sueca Lovisa Sirén (36 anos), conta a história de Nilo, uma escritora feminista que vive uma vida comum, embora distante, com o marido e a filha Laura, de 13 anos. Eis quando Maya, a sua irresponsável irmã cujos projetos tendem quase sempre a fracassar, chega lá em casa e rouba da garagem, a velha carrinha Volvo 965 da família e com a sobrinha Laura decidem viajar para o sul da Europa. A temperamental Nilo é assim forçada a acompanhá-las nessa louca jornada. Trata-se de um tocante melodrama sobre rodas protagonizado por duas irmãs suecas cujo o destino da viagem é Portugal, onde mora a complicada mãe delas, a quem supostamente foi recém-diagnosticado um cancro, e o filho de Maya, para quem chegou também o momento de finalmente de assumir as suas responsabilidades maternais. Uma verdadeira história no feminino, marcada pela ausência dos homens ou quando aparecem a sua importância é irrelevante nesta jornada libertadora, alucinante, mas carregada de frescura e autenticidade. 

JVM

Pros

A dupla de protagonistas conseguem uma dinâmica emocional tão grande que nos fazem acreditar por vezes, embora as parecenças físicas sejam irrelevantes, que são realmente irmãs.

Cons

A complexidade da rodagem em vários países, dão ao filme apesar do interessante argumento, uma certa debilidade ao nível da produção, vícios próprios também de uma primeira obra, onde se quer falar de tudo e mais alguma coisa. 

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