'O Corno'. © Via Festival de San Sebastián

A Concha de Ouro 2023 de San Sebastián foi para ‘O Corno’

‘O Corno’, da cineasta espanhola Jaione Camborda, um filme de co-produção portuguesa com a Bando à Parte, de Rodrigo Areias e direcção de fotografia de Rui Poças é o vencedora da Concha de Ouro 2023. 

O cinema espanhol vive há vários anos uma revolução autoral por parte das mulheres-cineastas e nos filmes do chamado Novo Cinema Galego. Assim a cineasta de origem basca, residente na Galiza, Jaione Camborda (‘Arima’), foi a vencedora da Concha de Ouro 2023, com ‘O Corno’, tornando-se na primeira realizadora espanhola a ganhar nas 71 edições do Festival de San Sebastián. ‘O Corno’, é a sua segunda longa metragem e teve a sua estreia mundial, recentemente no Festival de Toronto na secção Platform. Fica também para a história como o primeiro filme falado em galego a concorrer à Concha de Ouro de San Sebastián. Era também uma questão de tempo, embora não se esperásse que fosse tanto, que um realizador espanhol ganhasse a Concha de Ouro pela primeira vez na longa história do Festival de San Sebastián e nesta 71ª edição. Mas foi desta e com uma forte participação portuguesa, além das suas localizações fronteiriças. 

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Cinema espanhol
‘O Corno’. © Via Festival de San Sebastián

Trata-se de um filme co-produzido pela Bando à Parte, do produtor e realizador vimaranense Rodrigo Areias e uma obra que aborda à primeira vista um tema já muito explorado no cinema: o tema da fuga ou melhor da fuga fora-da-lei. ‘O Corno’,  transporta-nos para a Galiza dos anos 70, para a Ilha de Arousa, Rias Baixas, Pontevedra, centrando-se na figura de uma carismática mulher-solteira de uma aldeia entre o campo e o mar, apanhadora de marisco e parteira, quando é preciso e que um dia é obrigada a fugir, por que as coisas lhe correram mal. É uma obra que se enquadra também na estética de vários filmes galegos recentes, onde os personagens desenvolvem os seus dramas, numa paisagem com elementos muito concretos e telúricos, que reflectem uma força sensorial, que não tropeça no pitoresco, nem no regionalismo bacoco. O filme quase sempre nocturno (quer em interiores ou exteriores) ou em tons de cinzento, é extraordinariamente bem fotografado pelo nosso compatriota Rui Poças, um dos mais solicitados directores de fotografia portugueses, da actualidade. Esse estranho título ‘O Corno’, remete para uns ‘corninhos’, que crescem entre as espigas de centeio e que tem um lado bastante obscuro e uma utilidade perniciosa e proibitiva na altura: os desmanchos ou abortos. Porém, desde a sequência inicial — um longo e bem filmado parto — que a realizadora deixa claro, que para além dos temas da fuga e do aborto, são os corpos femininos, que sopram e agitam como o vento e o mar, o grande foco deste filme, imerso de uma carnalidade, que vai muito mais além do erotismo.

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VÊ TRAILER DE ‘O CORNO’

A catalã Isabel Coixet e o seu ‘Un Amor’, mais uma cineasta espanhola, sempre na luta pela afirmação das mulheres, foi outra das vencedoras deste excelente festival:  o Prémio de Melhor Actor Secundário, foi para Hovik Keuchkerian, que no filme, interpreta o papel do perturbador Andreas, que põe a cabeça da protagonista Laia Costa, a andara à roda. O Prémio de Melhor Actor foi para Tatsuya Fuji, uma lenda do cinema japonês, em ‘Great Absence’, que acabou por dividi-lo ou melhor recebeu-o ex aequo com argentino Marcelo Subiotto na sua fabulosa interpretação em ‘Puan’, o filme passado no meio académico e um dos melhores da competição, obra que naturalmente ganhou também o Prémio de Melhor Argumento. A Concha de Prata de Melhor Realizador foi para a dupla taiwanesa, Pin-Wen Wang e Tzu-Hui Peng pelo suave ‘A Journey in Spring’. ‘Kalak’, o inquietante filme da sueca Isabella Eklöf, passado na Gronelândia, ganhou o Prémio Especial do Júri e o Prémio de Melhor Fotografia, que foi para o dinamarquês Nadin Carlesen.  Houve ainda um Prémio do Público, que foi ‘A Sociedade da Neve’ do espanhol J.A. Bayona, filme que estreará em breve na Netflix. O júri de San Sebastián 2023 foi presidido pela cineasta francesa Claire Denis e integram ainda a atriz espanhola Vicky Luengo; a atriz chinesa Fan Bingbing; a produtora, realizadora e escritora colombiana Cristina Gallego; a fotógrafa francesa Brigitte Lacombe, o produtor húngaro Robert Lantos e o realizador alemão Christian Petzold.

VÊ TRAILER DE ‘UN AMOR’

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PRÉMIOS DO FESTIVAL DE SAN SEBASTIÁN  2023

Concha de Ouro de Melhor Filme: ‘O Corno’, de Jaione Camborda

Concha de Prata de Melhor Realizador: Tzu-Hui Peng e Ping-Wen Wang por ‘Chun Xing/ A Journey in Spring’

Concha de Prata para Melhor Actor Principal: Tatsuya Fuji por ‘Great Absence’ e Marcelo Subiotto por ‘Puan’

Concha de Prata para Melhor Actor Secundário: Hovik Keuchkerian por ‘Un Amor’

Prémio Especial do Júri: ‘Kalak’, de Isabella Eklöf

Prémio do Júri de Melhor Argumento: María Alché e Benjamín Naishtat por ‘Puan’

Prémio do Júri de Melhor Fotografia: Nadim Carlsen por ‘Kalak’

Prémio Novos Realizadores: ‘Bahadur, o Bravo’, de Diwa Shah

Prémio Horizontes Latinos: ‘O Castelo’, de Martin Benchimol

Prémio Zabaltegi: ‘A Ascensão do Humano 3’, de Eduardo Williams

Prêmio Zabaltegi Menção Especial: ‘O Julgamento’, de Ulises de la Orden

JVM, em San Sebastián



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