'Priscilla'. ©Biennale di Venezia

Festival de Veneza | O meu nome é ‘Priscilla’…Presley!

Foi ontem apresentado, um dos filmes mais aguardados desta Competição: ’Priscilla’, de Sofia Coppola, uma obra que se revelou muito competente, que conta de uma forma bastante directa, a turbulenta história de amor e traição, de Elvis Presley e a sua jovem mulher, interpretados respectivamente por Cailee Spaeny e Jacob Elordi. 

Depois de ‘Maestro’, de Bradley Cooper, a música e o cinema biográfico regressaram ao Lido com ‘Priscilla’, um filme que marca o regresso de Sofia Coppola ao Festival, treze anos depois de ter ganho o Leão de Ouro em 2010, com ‘Somewhere’, no ano em que curiosamente Quentin Tarantino foi o presidente do júri. Priscilla’ é baseado no livro de memórias ‘Elvis and Me’, escrito pela própria Priscilla Presley, em 1985, onde descreve o seu relacionamento e vida ao lado do ‘rei do rock’n roll‘, com quem esteve casada de 1967 a 1973 e com quem teve uma filha, Lisa Marie Presley, falecida em Janeiro passado.

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Sofia Coppola, é, pode-se dizer, uma especialista em histórias trágicas e românticas de amadurecimento, [veja-se por exemplo ‘Marie Antoinette’,(2006)] e agora atravessa-se um pouco ao lado do mito de Elvis Presley, logo após o ‘estrondo’ do filme de Baz Luhrmann, do ano passado. Isto é, adoptando o ponto de vista da sua infeliz e então jovem mulher Priscilla. Porém, fá-lo colocando Elvis em segundo plano, utilizando aliás uma banda sonora, em que não há uma única música dele, mas antes sons da época. Todo o filme centra-se na figura de Priscilla e principalmente como uma rapariga de 14 anos, teve de crescer tão depressa e de uma forma tão cruel. Priscilla Beaulieu era ainda uma adolescente quando conheceu Elvis Presley numa festa. Este já era uma estrela meteórica do rock and roll. Por isso torna-se totalmente inesperado, observar a forma como Elvis age, nos momentos privados e lida com a ainda miúda ingénua e imatura, dez anos mais nova que ele: uma paixão que vemos foi sem dúvida emocionante, mas assente na sua solidão e apoiando-se mais numa ‘amiga’ ainda muito jovem e um tanto vulnerável, do que numa mulher. Através dos olhos de Priscilla, Sofia Coppola conta assim, indirectamente o lado invisível de um dos grandes mitos americanos — algo que passou ao lado de Luhrmann — desde o longo namoro, ao turbulento casamento de Elvis e Priscilla, desde a base americana na Alemanha, onde cumpriu o serviço militar e conheceu a rapariga, até Graceland, a sua propriedade em Memphis, uma espécie de mundo dos sonhos e da fantasia. ‘Fiquei impressionada com a autobiografia de Priscilla Presley, principalmente sobre os seus anos em Graceland, quando era ainda muito jovem. E tentei apanhar, como era mergulhar no mundo de Elvis e, também foi uma forma de descobrir, a sua verdadeira identidade’, mesmo sendo Priscilla, a figura principal do filme.

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Priscilla
‘Priscilla’. © Biennale di Venezia




‘Como artista para mim é também importante mostrar o mundo, através dos olhos das minhas personagens, sem as julgar’, explicou Coppola, em cuja filmografia (de ‘Lost in Translation’, a ‘Marie Antoinette’) são exemplos de investigações, sobre a identidade, a transformação ou amadurecimento de figuras bastante jovens, que sentem dificuldades, na sua passagem à idade adulta, o que não deixa também de ser o caso de Elvis. ‘Este filme investiga como Priscilla se tornou, quem é, e o que significa ou significou tornar-se mulher e como se tornou um exemplo para as gerações subsequentes’. A pequena Priscilla, viveu experiências comuns a muitas jovens da altura: deixar a casa dos pais, os estudos, para casar cedo e aparentemente ter mais liberdade. Porém com a diferença de que enfrentou essas experiências, num contexto inusitado e único. E é por isso que na história da Priscila, apesar de ser a dela, conseguimos identificar-nos com o seu retrato de fantasia, fama e também de amor profundamente sentido, já que nunca é posto em causa, apesar de tudo, o comportamento e afecto mútuo. A jovem Cailee Spaeny (‘Assassinato em Easttown’), faz interpretação notável e corporiza muito bem Priscilla; ao passo que o jovem australiano Jacob Elordi (da série ‘Euphoria’), tem uma interpretação mais discreta mas bastante eficaz, deixando o palco para a terceira, interpretação essa, que não pode ser comparada de forma nenhuma com a de Austin Butler, no filme de Baz Lurhmann, até pelo papel que tem nesta história de ‘Priscilla’.

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JVM, em Veneza

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