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Maestro, em Veneza fez esquecer o nariz de Bradley Cooper!

Depois da insuportável maestrina (fictícia) criada por Cate Blanchett no ano passado em ‘Tár’, coube agora a Bradley Cooper dirigir ‘Maestro’ e interpretar de uma maneira absolutamente notável e incrivelmente igual ao próprio, o grande Leonard Bernstein, uma das maiores figuras da música clássica, do século XX. Não sai daqui sem prémio!

Pois é, coube agora ao camaleónico Bradley Cooper dirigir e interpretar Maestro, um filme extraordinário que já nos marcou a todos, sobre a vida (real) de Leonard Bernstein (1918-1990). Porém, focando-se na sua atormentada esfera privada, na questão de sair ou não do armário, apesar dos muitos comentários à boca pequena, da família e dos três filhos criados no casamento que durou até á morte da mulher. Bernstein foi a personalidade musical mais mediática, extrovertida e multifacetada do século XX: desde a direcção da Orquestra Filarmónica de Nova York, aos célebres Concertos Para Jovens na televisão (Young People’s Concerts, entre 1954 e 1989), programas que passaram também na RTP, ainda a preto e branco; o maestro tornou-se por isso, numa inspiração e num mestre, para uma geração de melómanos e novos músicos; além de serem famosas as suas composições de musicais como ‘West Side Story’, ‘Candide’ e ‘On the Town’.

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Maestro
‘Maestro’. © Biennale di Venezia

Efectivamente, o Festival de Veneza costuma correr bem para Bradley Cooper: o seu filme de estreia como realizador e como intérprete ‘Assim Nasce Uma Estrela (2018) com Lady Gaga estreou aqui e chegou aos Oscar com oito nomeações e ganhou a estatueta de Melhor Canção Original, além de ter sido um enorme sucesso de público e da crítica. Agora regressa com ‘Maestro’, um projeto há muito acalentado também por Steven Spielberg, que realizou há pouco tempo, a sua magnífica versão cinematográfica do musical ‘West Side Story’ (2021). Spielberg, decidiu abandonar o ‘projecto Bernstein’ para se dedicar a ‘Os Fabelmans’ (2022) e como sempre do alto de sua magnanimidade, decidiu agradar a Bradley Cooper — que contou também com Martin Scorcese, como produtor — que, há muito ansiava trabalhar — a paixão do realizador pelo maestro, vem desde criança, tentando imitá-lo à frente de uma orquestra imaginária — a brilhante e controversa figura de Leonard Bernstein. Mas tal como no seu filme anterior, o ator e realizador, deixa de lado o contexto histórico em redor e as grandes façanhas artísticas, para centrar-se nos sentimentos e emoções dos personagens (neste caso) reais, colocando no centro da narrativa a relação entre o músico e a sua companheira de vida, a actriz de origem chilena Felicia Montealegre Cohn, interpretada por Carey Mulligan, que incarna o papel de uma forma maravilhosa e tocante. Por isso, ’Maestro’ é sobretudo uma história de amor pouco ortodoxa, intrigante, mas absolutamente genuína entre dois seres humanos notáveis, uma espécie de carta de amor à vida e à arte e na sua essência, um retrato emocionalmente épico da família e do amor sem limites ou preconceitos.

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VÊ TRAILER ‘MAESTRO’

Sempre gentil e correcto, Bradley Cooper, decidiu não aproveitar a oportunidade de se apresentar no Lido, como realizador, para não trair os colegas atores que lutam por seus direitos, pondo-se do lado dos grevistas. Porém, a título privado, consta que nos dias anteriores ao Festival, deslocou-se ao Palazzo del Cinema do Lido, para assistir aos ensaios técnicos do filme. A interpretação de Bradley Cooper é de tal maneira credível e convincente, que as polémicas, sobre o nariz já foram esquecidas, mesmo para que nunca lhes deu grande importância. 

adágio
‘Adágio’. ©via Biennale di Venezia

A ‘scuadra’ italiana presente na Competição continua a dar que falar hoje pela manhã, com Adagio, de Stefano Sollima (o realizador de ‘Sicário: Guerra de Cartéis’), que regressa a Itália, com um film noir em tom distópico, com Pierfrancesco Favino, Toni Servillo e Valerio Mastandrea como protagonistas. ‘Adagio’ conta a história do declínio inexorável e comovente de três antigas lendas da Roma criminosa, em busca de uma redenção impossível. Mas há um raio de luz, de uma nova geração, que passa pela trágica cadeia de acontecimentos em que se envolve Manuel, um jovem de dezesseis anos, filho de uma dessas lendas do crime, (Toni Servillo), já idoso e doente. O rapaz é chantageado como informador da brigada de combate à droga da polícia (interpretado por Adriano Giannini, Francesco Di Leva e Lorenzo Adorni) e obrigado a ir a uma festa para tirar algumas fotografias às escondidas, de um misterioso indivíduo. Temendo ter sido enganado, decide fugir, mas é perseguido pelos polícias determinados a eliminá-lo pois consideram-no uma testemunha inconveniente. Manuel entende que está enredado em algo muito mais complicado e pede proteção a dois ex-criminosos (Valerio Mastandrea e Pierfrancesco Favino), velhos conhecidos de seu pai. Favino regressa à Competição em mais uma papel memorável e convincente, de tal maneira que só ao fim de uma hora da sua aparição no filme conseguimos detectar que é ele que interpreta o personagem de um dos velhos delinquentes. Além disso, este extraordinário filme policial, tem como pano de fundo uma Roma sitiada pelas chamas de um grande incêndio, uma espécie de fim do mundo antecipado que leva ao caos, com a população a fugir da cidade, no meio de casos de chantagem, ajustes de contas, vingança, assassínio e trafico de droga, com ligação às elites políticas, num registo que fica, entre precisamente ‘Suburra’ , do realizador e ‘Gomorra’, de Matteo Garrone.

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The Palace
‘The Palace’. ©via Biennale di Venezia

Roman Polanski, recém-chegado aos noventa anos idade, estreou fora da competição o seu ‘The Palace’, com um elenco de estrelas notável onde está Joaquim de Almeida, uma comédia negra sobre uma caótica véspera de Ano Novo de 2000, escrita em conjunto com o realizador polaco Jerzy Skolimowski. No filme, o Palace Hotel em Gstaad, na Suíça, é um sumptuoso castelo com uma atmosfera gótica, de conto de fadas para onde todos os anos convergem, hóspedes ricos (alguns deles falidos) de uma elite excêntrica e cruel convergem de todo o mundo para celebrar a mudança do milénio. Ao seu serviço está um bando de garçons, camareiras, cozinheiros e recepcionistas que lidam com as necessidades extravagantes dos hóspedes entusiasmados e ao mesmo tempo angustiados pelo início de um novo e incerto milénio e as profecias de Nostradamus. As histórias dos personagens individuais, interpretados por Oliver Masucci, Fanny Ardant, John Cleese, Bronwyn James, Joaquim De Almeida, Luca Barbareschi, Milan Peschel, Fortunato Cerlino e Mickey Rourke, dão vida a situações absurdas e a um conto muito divertido muito bem realizado e que chega ao detalhe. mas também um verdadeiro deboche, que mais do que rir faz-nos sorrir. ’The Palace’ é ‘uma comédia, um pouco abrupta e sarcástica, severa com as personagens do filme, mas não sem um toque de indulgência e simpatia’, como disse o próprio Polanski. Hoje é também o dia do segundo Leão de Ouro de Carreira desta vez para o ator de Hong Kong, Tony Leung Chiu-wai, conhecido entre outros por ‘Disponível Para Amar’ (2000), de Wong Kar-wai.

JVM, em Veneza

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