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Golda, em análise | o novo biopic que é um potencial candidato aos Óscares

“Golda” é o novo filme de Guy Nattiv e fala sobre o reconhecimento do Estado de Israel após a Guerra do Yom Kippur. Tem Helen Mirren como protagonista e é um possível candidato aos Óscares deste ano.

À primeira vista, o nome Golda Meir nada nos diz, mas é para esta mulher que devemos olhar quando vemos Israel nos dias de hoje. Através da adoção uma política com medidas rígidas, Golda tornou-se Primeira-Ministra e uma das fundadoras do Estado de Israel, o que fez dela a ‘Dama de Ferro da Terra Santa’. Nascida numa Ucrânia que pertencia na altura aos soviéticos, Meir sempre lutou em prol das mais variadas formas de liberdade, tendo passado por diferentes cargos políticos, como Embaixadora de Israel na União Soviética, Ministra do Trabalho e Ministra das Relações Externas, até que se tornou a primeira e única mulher a possuir o título de Primeira-Ministra em Israel.

Durante o seu mandato, o Estado de Israel enfrentou uma curta, mas dolorosa, guerra que resultou no reconhecimento da independência israelita. Em causa estavam os interesses do Egito e da Síria em fazer de Israel um território árabe. O conflito durou vinte dias e ficou conhecido como Guerra do Yom Kippur, por se ter iniciado num feriado judaico conhecido como o ‘Dia do Perdão’, em que o povo judeu faz um jejum intermitente ao longo de 24 horas. E é exatamente sobre este confronto bélico que se debruça “Golda“, o novo filme de Guy Nattiv, que conta com Helen Mirren no papel principal.

Golda
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Se Golda Meir é uma figura central na história do Estado de Israel, podemos então afirmar que Helen Mirren é um dos nomes mais importantes da indústria do cinema britânico atual. Nenhuma outra atriz seria tão bem escolhida para dar vida à Primeira-Ministra israelita como Helen Mirren, não estivesse ela habituada a vestir a pele de figuras históricas como a Rainha Isabel II (A Rainha) e Alma Hitchcock (Hitchcock). Quando subiu ao poder, Golda tinha já uma idade avançada e uma fisionomia bastante oposta à de Mirren, mas a caracterização da atriz nesta nova longa-metragem supera tudo e apresenta-nos uma Helen muito mais envelhecida, com traços faciais que rapidamente nos fazem reconhecer a cara de Meir. Desde as rugas, ao nariz mais característico do povo judaico, nada falhou na caracterização de Mirren, que chega mesmo a ter umas pernas visivelmente inchadas e até a sua altura parece ter diminuído. Viva a magia do cinema!

Mas não é só a caracterização de Helen Mirren que merece destaque, uma vez que o corpo diplomático que acompanha Golda apresenta também verdadeiras semelhanças com as figuras históricas a que dão vida. Ainda assim, mantendo o foco no desempenho de Mirren, a atriz apresenta-se como um verdadeiro camaleão que se move pelo papel que representa de forma flexível. A atriz abandonou o sotaque britânico e interpreta Golda de uma forma emotiva que nos prende ao ecrã.

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“Golda” é um filme cinzento que contrasta com o sempre iluminado escritório da Primeira-Ministra, como se a própria Meir fosse uma luz no meio do conflito. Ainda assim, o argumento pouco explora as decisões tomadas pela ‘Dama de Ferro’, mostrando uma versão mais distante e desligada de Golda, o que não corresponde 100% à realidade. Estamos perante uma mulher que tinha as mãos sujas com sangue da guerra ao mesmo tempo que desesperava por evitar que o povo judaico voltasse a sofrer depois do horror da Segunda Guerra Mundial. Contudo, a longa-metragem deveria ter trabalhado mais no sentido de fazer passar uma imagem mais decisiva por parte de Meir.

Não obstante, o filme de Guy Nattiv dá-nos uma visão dura da Guerra do Yom Kippur, apresentando a crueldade do conflito. Porém, ao público é confiada somente a função de espectador, uma vez que não nos é diretamente mostrado o campo de batalha, mas este chega-nos através da brilhante sonoplastia. É através dos intercomunicadores que vamos tomando contacto com a guerra, e a forma como a mesma é comunicada revela-se sufocante e faz-nos sentir arrepios à medida que os soldados expressam a sua aflição.

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Este é um filme que se expressa através de metáforas e é essa a genialidade desta obra magnífica. A mais significante tem a morgue do hospital como cenário. Golda enfrenta um cancro sem que o povo tenha conhecimento da sua doença, o que a obriga a receber tratamentos numa sala escondida na morgue hospitalar. Nos primeiros momentos da longa-metragem, a Primeira-Ministra atravessa o corredor onde jazem pouquíssimos corpos, um número que vai aumentando substancialmente cada vez que a ‘Dama de Ferro’ se desloca ao tratamento após o despoletar do conflito armado. Naqueles instantes, Golda caminha lado a lado com a morte, a sua que está iminente e a do seu povo que morre sujando as mãos da mulher com sangue.

Em suma, estamos perante um novo biopic magnífico que nos mostra a luta de Golda Meir durante a Guerra do Yom Kippur, ainda que não nos apresente a forma como a líder do país lidou com as estratégias militares definidas. Os maiores destaques vão, sem dúvida, para o desempenho de Helen Mirren e a sua espetacular caracterização, além de termos de elogiar também a fantástica sonoplastia que acompanha a longa-metragem. Além do mais, o argumento de “Golda” é bastante pesado, mas transmitido de uma maneira explícita e fácil de entender, ao mesmo tempo que compreende em si toda a complexidade de um tema duro.

TRAILER | HELEN MIRREN DÁ VIDA A GOLDA MEIR NO NOVO FILME DE GUY NATTY

Qual o teu papel preferido de Helen Mirren? Já conhecias a história de Golda Meir e da Guerra do Yom Kippur?

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