Hostile Dimensions no MOTELx’23, a Crítica: Um sci-fi pouco convencional e inventivo

“Hostile Dimensions”, obra realizada pelo escocês Graham Hughes, estreou no aclamado festival de género FrightFest, antes de chegar ao MOTELx’23 para uma sessão única no Cinema São Jorge, ocorrida no dia 13 de setembro no âmbito da programação da retrospectiva Serviço de Quarto. 

Com “Hostile Dimensions”, Graham Hughes casa na perfeição os reinos do terror e do sci-fi, ao apresentar como proposta um filme baseado em filmagens de found footage e muita câmara de ombro, onde os elementos mais aterradores se encontram na perfeição com a pura imaginação insana da ficção científica.

Um filme engraçado, por vezes mesmo absurdo, e noutros momentos capaz de criar tensão, “Hostile Dimensions” não precisa de um grande orçamento ou de muitos efeitos especiais para conseguir envolver quem vê. Algumas portas, fatos de peluche de dimensão humana, armazéns abandonados e até câmaras de realidade virtual são algumas das ferramentas capazes de criar um ambiente muito característico e envolvente.

Ao contrário de outros filmes que recorrem a ângulos de found footage com outros propósitos, este “Hostile Dimensions” é, de facto, a história de um documentário e, em grande parte, um comentário à própria indústria de cinema e aos poucos riscos que esta está disposta a tomar. Aqui, acompanhamos um par de realizadoras que decide investigar o desaparecimento de uma artista que pura e simplesmente evapora depois de passar por uma porta misteriosa dentro de um armazém abandonado.

O par leva a porta para casa e acaba por descobrir que esta tem a capacidade de transportar quem por ela passa para multiversos onde tudo é possível, mas onde certos perigos também se escondem à espreita (a partir de uma teoria de mundos infinitos explorada de forma distinta, memorável, curiosa e com muito folklore à mistura).

De momentos mais emotivos à exploração das vidas que podíamos ter vivido, “Hostile Dimensions” nem sempre toca a fundo nas intenções das suas personagens, mas mesmo quando é obscuro neste aspecto, nunca deixa de ser cativante e capaz de entreter a cada minuto da sua nem 1h20 de duração.

Nos universos de “Hostile Dimensions” tudo serve para fazer cinema, todo o tipo de câmaras e dispositivos (e que alegria é testemunhar este exercício tão livre). O resultado é uma história invulgar, que podemos caracterizar quase como “engenhocas” e que nos traz à memória ecos da loucura controlada de um filme que vimos, no MOTELx’22, apresentado pelos seus realizadores –  “Something in the Dirt” de Aaron Benson e Justin Moorhead.

E se “Hostile Dimensions” não tem a profundidade filosófica de “Something in the Dirt”, partilha com este e outros indies de ficção científica a capacidade de explorar todas as hipóteses, por mais toscas que pareçam, movimento que, aliás, as próprias protagonistas defendem enquanto tentam descobrir que porta/portal têm em casa.

As doses de imaginação abundam, e uma vez mais recordamo-nos de que o cinema da atualidade ainda tem muito caminho por desbravar e autores e autoras capazes de injetar nova vitalidade em temáticas que à primeira vista poderiam não parecer muito originais. É precisamente isso que acontece em “Hostile Dimensions”.

TRAILER | HOSTILE DIMENSIONS NO SERVIÇO DE QUARTO DO MOTELx