La Casa de Papel | © Netflix

La Casa de Papel, quarta temporada em análise

La Casa de Papel regressou para uma quarta temporada! Será que manteve a coerência ou deixou-se levar pela fama mundial e perdeu o controlo?

Sabemos que a quarta temporada de “La Casa de Papel”, um dos maiores sucessos mundiais da Netflix, já estreou há muitas semanas mas na análise que iremos fazer, talvez percebam o porquê da demora de vos apresentar o nosso lado… Para além de que não há consenso na nossa equipa, foi uma temporada na qual ainda ficámos a reflectir bastante e a pensar se… bem, se sim ou que não.

E antes de entrarmos numa análise (com o mínimo de spoilers) da temporada, há algo que temos para dizer desde o início: “La Casa de Papel” já não nos preenche como preencheu na sua primeira temporada, e quiçá segunda. Agora, à semelhança de tantos outros filmes e séries que envolvem grupos de ladrões, a história deixou de ser sobre um objectivo concreto, um plano, para se tornar tudo isso mas movido pela emoção, pela ‘família’. Não deixa de ser boa, mas não é a mesma coisa.

Alerta! A partir daqui podem existir spoilers da quarta temporada.

A nova temporada começa exactamente onde acabou a terceira: uma Nairobi em perigo de vida, um Professor desorientado, uma Lisboa assustada e todo um plano a ir pelos ares por birras de Palermo e teimosia de Tóquio! O que nós queremos no meio de todo este aparato? Ver uma vez mais o grupo a safar-se, com Nairobi viva, o Professor a levar a seu termo mais um brilhante plano e até mesmo a recuperar Lisboa, de alguma forma.

Tudo começa com uma equipa a lutar pela vida de Nairobi (Alba Flores), fazendo uso de todos os ensinamentos de Professor (Álvaro Morte) e improvisando uma mesa de operações em pleno Banco de Espanha. Tudo poderia parecer estranho, mas aceitamos a ideia dado que é algo que já foi mostrado nas primeiras temporadas – o plano é realmente pensado ao detalhe e a verdade é que a violência pode sempre existir, e é melhor estarem preparados. O que no entanto a acção despoleta, é o início de uma rebelião interna: Palermo revela estar cada vez mais louco, ainda que fiel ao plano, e o resto do grupo deixa a racionalidade para se tornar emotivo durante o golpe.

La Casa de Papel
Nairobi dá o mote para o arranque da 4ª temporada | © Netflix

Um golpe de estado, como Palermo realça, é o que despoleta toda a acção da quarta temporada. Tóquio (Úrsula Corberó), perante a desorientação de Professor, que ainda julga ter sido responsável pela morte de Lisboa, assume o comando perante Palermo e toma as rédeas da operação. As emoções tornam-se grande parte decisiva das acções e se o grupo começa a desmoronar-se por questões internas, Palermo torna-se o refém mais perigoso: conhece o local e o plano, e sabe como deitar tudo abaixo porque afinal de contas, já não tem nada a perder – se não faz parte do assalto, é preso.

Como uma personagem que conhecemos apenas a meio da série, Palermo (Rodrigo De la Serna) é simplesmente intrigante. É a personagem que se adora odiar mas que ao mesmo tempo se percebe ter um motivo para a sua razão de ser, e desta vez os argumentistas deram-nos isso, demasiado até! Desde o segundo episódio da temporada, as mentes por trás de “La Casa de Papel” insistiram nos flashbacks do passado de Professor, Palermo e Berlim (Pedro Alonso), que mais uma vez regressa à série – morreu mas é claramente uma imagem e a maior presença em qualquer um destes assaltos!

Nos flashbacks conhecemos as origens de Professor e Palermo, o fundamento deste novo assalto ao Banco de Espanha, e revisitamos uma vez mais os tempos em que Berlim era vivo. Impossível de não cativar, a série prende-nos ao ecrã ao contar a história do que levou a este novo plano, mais dissimulado, mais arrojado e sem dúvida mais perigoso – até nos mostra a preparação dos detalhes pré-assalto. Um assalto que já aconteceu sem Berlim, um dos mestres que o idealizou…

Mas nem o passado explicado nos deixa ficar fãs de Palermo. Numa espiral de loucura, é ele o culpado por soltar Gandía, o segurança principal do Banco de Espanha, que, a ver bem, é quem realmente eleva a acção nestes episódios. Psicopata, calculista e frio, parte numa caça desenfreada pelo grupo, e torna-se o grande vilão da história porque até aqui, já nós desenvolvemos algum carinho pelos assaltantes, desde Denver a Tóquio, de Bogotá a Helsínquia! O único pelo qual não conseguimos desenvolver sentimentos no meio da trama é mesmo Arturito, que volta um homem intragável (mais do que já havia sido nas temporadas anteriores), e que por muito mais que queiramos, acaba por não morrer ou sofrer em qualquer episódio!

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Torna-se magnífico ver Berlim de volta e saber que esteve por trás do assalto | © Netflix

O jogo de gato e rato de Gandía (José Manuel Poga) e o grupo do Professor (Álvaro Morte) foi no entanto o melhor. Porque à parte disso, o que houve? Emoções, demasiadas emoções e falta de ritmo no desenvolvimento da história. Com demasiadas cenas paradas, esta temporada focou-se nas relações conjugais e de amizade entre todos. Um pecado na nossa opinião, já que se formos ligar todos os nomes, o que fizeram foi que todos tivessem relações com todos, sejam elas amorosas ou uma amizade quase a recair num amor platónico. Qual a necessidade de um triângulo amoroso entre Rio, Estocolmo e Denver (Jaime Lorente)? Não bastava já o Arturito intrometer-se entre o casalinho? E qual o propósito da apresentação de Julia (Manilla) no grupo? Focou-se na parte emocional e pessoal de Denver mas ao mesmo tempo não acrescentou nada à história, a não ser maior foco nas acções de Arturo Román…

Ao mesmo tempo, quando queremos focar-nos no assalto em si, não podemos deixar de referir o rumo que deram a outra personagem: Lisboa. Apresentada como uma mulher forte, independente e dona de si mesma, é agora representada como alguém frágil, com dúvidas e relativamente fácil de manipular pelas vias com que ela própria havido tentado manipular o grupo durante o primeiro assalto. Se Lisboa nos desapontou, por outro lado foi a oposição de uma brilhante Alicia! Alicia (Najwa Nimri) continuou a mostrar uma força inigualável nesta temporada e nem o remexer do seu passado e das suas fragilidades lhe tirou o poderio feminino de ir à luta – afinal de contas, ela chega mesmo ao Professor! Resta perceber agora se será forte ou se irá sucumbir como Raquel Murillo (Itziar Ituño) fez…

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Alicia é uma vez mais uma força da natureza durante toda a temporada de “La Casa de Papel” | © Netflix

O desenvolvimento das personagens, ainda que não seja do nosso inteiro agrado, proporcionou no entanto algo em nós… quase que um síndrome de Estocolmo (no pun intented e sem querer ofender ou atribuir menos importância a uma verdadeira vítima, mas uma expressão como mera analogia) – eles são assaltantes, são criminosos e no entanto cativaram-nos de tal modo que não podemos deixar de torcer por eles. E se há quem no grupo nos tenha puxado toda a temporada foi Nairobi. O desempenho de Alba Flores foi brilhante uma vez mais, como já tinha sido na última temporada. E se o início da temporada foi um alívio para nós, nada nos preparou para os seus momentos finais, que nos levaram lágrimas aos olhos de forma instantânea.

Quanto ao Professor, faltou-nos a sua astúcia e paixão pelo assalto! O plano de Paris foi um bom regresso às origens mas agora queremos mais. Com o grupo todo junto, queremos um verdadeiro plano digno do Professor!

Na próxima temporada queremos um “La Casa de Papel” original, um regresso às origens! Queremos estratégia, queremos um plano, queremos pequenos plot twists que nos façam ficar realmente prendidos ao ecrã – porque desta vez não sabemos se foi apenas pelo isolamento em que temos estado, mas a temporada não foi o mesmo que já foi em tempos. Faltou a “paixão pelo assalto!”. Mas atenção, a temporada foi boa na mesma e óptima para binge-watching… só faltou mais acção!

E tu, uma quarta temporada acima ou abaixo das expectativas?

La Casa de Papel - Temporada 4
Netflix

Name: La Casa de Papel

Description: O caos está instalado: o Professor pensa que Lisboa foi executada, Rio e Tóquio fazem um tanque do exército explodir e Nairobi está entre a vida e a morte. O grupo está a passar por um mau bocado, e quando um dos seus vira a casaca para se tornar inimigo, o golpe fica em sério risco.

  • Marta Kong Nunes - 60
  • Inês Serra - 55
58

CONCLUSÃO

O MELHOR: Najwa Nimri e Alba Flores continuam a ser as estrelas do segundo assalto!

O PIOR: Já não existe a estratégia do assalto, e o foco passa a ser maioritariamente nas relações pessoais e amorosas do grupo do Professor.

One Response

  1. ADRIANA GOTARDO 28 de Abril de 2020

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