Tony Jaa em "Monster Hunter" © Constantin Film

Monster Hunter | Entrevista à estrela de artes marciais Tony Jaa

Tony Jaa, célebre ator de artes marciais, está ao lado de Milla Jovovich em “Monster Hunter”, o novo filme de Paul W.S. Anderson.

Depois da nossa conversa com Milla Jovovich e Paul W.S. Anderson a propósito da estreia de “Monster Hunter” nos cinemas portugueses a 13 de maio, entrevistámos também Tony Jaa, um dos atores de artes marciais mais conhecidos pelo mundo fora, co-protagonista desta trama. Nascido na Tailândia em 1976, e conhecido na sua terra natal como Jaa Panom, Tony Jaa começou a trabalhar como duplo em meados dos anos 90, mas em 2003 tornar-se-ia um rosto internacionalmente popular quando deu vida a Ting, personagem principal no filme “Ong-bak – O Guerreiro” (Prachya Pinkaew, 2003).

Tony Jaa
Tony Jaa em “Monster Hunter” © Constantin Film

Graças ao sucesso comercial de “Ong-bank – O Guerreiro” foram feitas algumas sequelas, transformando-o numa estrela ao nível de atores de ação como Vin Diesel, Arnold Schwarzenegger ou Tom Cruise. Tal como esses artistas, Tony Jaa é diariamente perseguido por uma legião de fãs, sendo tantas vezes referenciado como “O Guerreiro do Muay Thai“. De facto, o seu talento não é reconhecido apenas no continente asiático, pois já teve oportunidade mostrar tudo aquilo que vale com as emblemáticas participações em “Velocidade Furiosa 7” (James Wan, 2015) e “xXx: O Regresso de Xander Cage” (D. J. Caruso, 2017).

As acrobacias de Tony Jaa no cinema de Hollywood são uma consequência óbvia da paixão dos espectadores por heróis de carne e osso e não só daqueles feitos por CGI. Se Bruce Lee, Jackie Chan, Donnie Yen e Jet Li foram celebrados pelo kung-fu, Phillip Rhee pelo o Taekwondo, Dolph Lundgren e Michael Jai White pelo Karate Kyokushin, Jean Claude Van Damme pelo Muay Thai, Steven Seagal pelo Aikido e Chuck Norris pelo Chun kuk do, Tony Jaa mescla o estilo de muitos desses lutadores para o seu trabalho, como confirmou na entrevista à MHD sobre “Monster Hunter”. Ironicamente até teve a ajuda de Jackie Chan para participar em “Hora de Ponta 3”, filme realizado por Brett Ratner, que acabou por recusar por problemas de agenda.

De qualquer forma, em cada filme no qual aparece, Tony Jaa mostra todas as potencialidades do corpo humano. Poucas expetativas temos em relação aos seus desempenhos, mas Tony Jaa rebenta a escala e deixa-nos completamente arrebatados pelos seu movimentos, auxiliados pelos enquadramentos da câmara mais arriscados e pelo facto de ser ele próprio a enfrentar as sequências tão exigentes. O que não o derruba torna-o mais forte e foi exatamente isso que percebemos na nossa conversa com o ator. Como as suas personagens, Tony Jaa não é de muitas palavras e prefere o silêncio e a meditação para estabelecer um equilíbrio entre a mente e o corpo agitado e frenético proporcionados pelas artes marciais.

Antes de leres a entrevista da MHD a Tony Jaa, (re)vê o trailer de “Monster Hunter“, realizado por Paul W.S. Anderson.

Monster Hunter | Tony Jaa em destaque

MHD: Olá Tony, bom dia desde Portugal. 

Tony Jaa: Olá, olá! Bom dia desde a Tailândia.

MHD: O Tony é bastante famoso globalmente. Os seus filmes estão disponíveis em diferentes formatos e plataformas. A sua participação em “Monster Hunter” é uma prova que veremos mais do Tony em Hollywood? 

Tony Jaa: Hollywood é um desafio enorme na minha carreira. Começou há pouco tempo, mais ou menos há seis ou sete anos. Não me vejo como o Senhor Estrela de Hollywood. Acredito que será sempre 50/50. Estarei parte da minha vida profissional em Hollywood e outra metade estarei aqui na Tailândia.

Monster Hunter
Milla Jovovich e Tony Jaa em “Monster Hunter” © Big Picture Films

MHD: Portanto o que tem Hollywood de diferente que não encontra no cinema tailandês ou genericamente no cinema asiático do qual tem feito?

Tony Jaa: Todos sabemos a resposta a isso (risos). Os filmes de Hollywood são todos muito diferentes. Hollywood é Hollywood. Produzir um grande filme nessa cidade é sinónimo de grandes orçamentos e lá eles gostam de tecnologia, muita tecnologia. Trata-se de uma questão cultural onde esmiuçam o uso de CGI, de luzes, de todos os elementos de produção. Os filmes em Hollywood são feitos com base numa lógica de cinema internacional, e por isso continuam a ser desenvolvidos. Diria que é algo completamente separado do cinema tailandês, onde normalmente os filmes são produzidos com orçamentos mais limitados.

Depois enquanto ator entretenho-me bastante a participar em filmes de Hollywood. Trata-se de algo que gosto de fazer. Poderíamos comparar o trabalho de Hollywood como a ida para uma Universidade de renome ou algo semelhante. Eu gosto de ser um aluno de Hollywood e gosto do inglês. Gosto de expressar-me em inglês.

MHD: Como é que se sentiu ao trabalhar ao lado da Milla Jovovich e do Paul W.S. Anderson, nomes tão conceituados em termos de adaptações de videojogos para o grande ecrã? O Tony é fã dos filmes de Resident Evil?

Tony Jaa: Sempre fui um grande fã do Paul W.S. Anderson e conheço perfeitamente o seu trabalho na série de filmes de “Resident Evil”. Trabalhar com ele e com a Milla Jovovich foi um sonho tornado realidade. Gostei particularmente desta colaboração porque deu-me oportunidade de brilhar num filme de grandes dimensões.

O Paul queria criar a figura de um guerreiro, mas desta vez eu não lutaria contra outras pessoas senão contra monstros. Obviamente esses monstros são criados em computador, com a tecnologia mais avançada e isso era realmente novo para mim. Não hesitei em aceitar o desafio pois o Paul deixou-se ser o meu próprio duplo. Não são muitos os atores na América que são atores e duplos ao mesmo tempo. Eu gosto de fazer as sequências de ação porque são a minha especialidade, sobretudo aqui em “Monster Hunter” onde as artes marciais eram realmente necessárias. Sabia que bons momentos me esperavam e não estava enganado. Foi uma aventura cinematográfica.

Tony Jaa
Tony Jaa em “Monster Hunter” © Constantin Film

MHD: O Tony gosta muito de ser o seu próprio duplo em vez de ser substituído por outros profissionais ou até por CGI?

Tony Jaa: Bastante. Eu inspiro-me noutros atores como por exemplo o Bruce Lee ou o Jackie Chan. Apesar de Hollywood utilizar imensa tecnologia e CGI, eu não gosto de ser substituído. O cinema pode usar CGI, mas não durante todo o filme. Talvez num futuro, exista algum herói de artes marciais concebido digitalmente, mas de qualquer maneira não serão substituídos por estas máquinas humanas como nós somos. Podemos correr na areia, poderemos sujar as nossas roupas e poderemos continuar a ser nós próprios.

MHD: No trailer vemos pouco da sua personagem. Quem é esta figura ao qual o Tony dá vida em “Monster Hunter”? 

Tony Jaa: Certo. A minha personagem chama-se Caçador [“Hunter” no original] e vou ajudar a personagem da Milla, a Artemis, e os seus companheiros, a enfrentarem os monstros. Eu tenho o conhecimento, sei os nomes de todos os monstros e sei como matá-los. A minha personagem é, na verdade, um profissional na batalha contra aqueles seres gigantescos. Os monstros têm habilidades e têm a técnica, mas o Hunter é um homem do Novo Mundo. Não é tarefa fácil enfrentar estes bichos diariamente.

Monster Hunter
Rathalos, uma das criaturas de Monster Hunter © Constantin Film / Sony Pictures

MHD: A sua personagem em “Monster Hunter” tem um lado mais cómico como Jackie Chan ou temos uma personagem mais séria? Os espectadores poderão esperar o despertar do seu Jackie Chan interior? 

Tony Jaa: (risos) Claro, claro. Em miúdo adorava os filmes de Jackie Chan e adoro a comédia, sobretudo a comédia de ação, do qual sempre me entusiasmo a fazer. Gosto de fazer rir as pessoas, de torná-las mais felizes. Portanto não esqueci isso para a minha personagem em “Monster Hunter“. Sabes é como uma pequena dependência… Como caçador de monstros embarquei num novo mundo, numa nova personagem, mas mantive-me fiel a mim mesmo. Como esses monstros que têm a sua própria linguagem eu também tenho a minha para o filme.

MHD: O Tony não é apenas um artista da artes marciais, mas é também um monge budista. Como é que dá-se o encontro entre estes dois universos? 

Tony Jaa: As pessoas nem imaginam o quão importante para mim é ser um monge e o quão importante é meditar. Independentemente da minha paixão pelo mundo da interpretação eu gosto de meditar. Uma pessoa aprende imenso através da meditação e aprende bastante graças ao Budismo. Passas a conhecer uma filosofia, uma visão distinta das coisas e como colocá-las em prática. Foi isso que aproveitei para a minha personagem. O Hunter acredita em si mesmo e é exatamente aquilo em que acredita que o poderá ajudar.

MHD: Quantas horas treina por dia? 

Tony Jaa: Atualmente o meu treino consiste em 4 horas por dia, divididas em duas horas pela manhã e outras duas horas à tarde. Posso não o fazer todos os dias, mas é sempre um treino intenso. Pratico regularmente boxe e Muay Thai. Ao início da minha carreira e quando era mais novo chegava a treinar 8 horas por dia. Via os filmes que se faziam na China e o físico de muitos duplos e queria chegar aos seus calcanhares. Tentava imitá-los em tudo.

São habilidades que comecei a praticar bastante cedo na minha vida e gosto de fazer isso várias vezes durante o dia. Nos intervalos das diferentes modalidades tento meditar e encontrar assim o meu equilibro. Nem todas as pessoas o conseguem fazer, mas eu tenho as minhas maneiras.

Tony Jaa em sequência de ação de “Ong-bank”

MHD: A Milla partilhou connosco que as temperaturas na África do Sul estavam bastante altas. Como é que se sentiu ao rodar essas sequências em “Monster Hunter”? 

Tony Jaa: Realmente as temperaturas na Cidade do Cabo são bastante diferentes àquelas que estou habituado. Pediram-me para correr a imaginar que estava a ser perseguido por um dos monstros e foi praticamente impossível não cair sobre a areia. Pediram-me para pensar nos elefantes gigantes com quem já contracenei para pensar naquelas criaturas.

Quando pensava que já tínhamos terminado uma cena, pediam-me sempre para repeti-la. Tive que me mentalizar que “Monster Hunter” é um filme importante, com um grande orçamento e que estas coisas me estavam a ser pedidas para atingir a perfeição. Claro que respondia “Ok, cool”, mas sentia por vezes o pior. Tive que trabalhar os meus instintos e a aprimorar a minha imaginação. A areia branca dos locais onde filmámos é de uma pureza incrível, é realmente bonita. Mas aquele calor é inimaginável. Torna-se até pesado pensar em suportá-lo novamente.

MHD: Que importância acredita que as suas participações nos filmes “Ong-bank” ou em “A Hora do Dragão” tiveram sobre o público? 

Tony Jaa: Em primeiro lugar acredito que com esses filmes atingi os meus objetivos. Eu trabalho naquilo que gosto e concretizei o meu sonho. Eu gosto de fazer filmes porque é uma forma de representar a cultura do Muay Thai e até ajudar a protegê-la. Faço-o de coração e estou muito orgulhoso de mostrar quem é o Tony, qual o meu país, a minha cultura. É certo que agora mesmo não sou jovem, mas posso manter a postura que tinha no início da carreira. Quiçá Hollywood possa ajudar-me a desenvolver um novo estilo, uma vez usufruindo da tecnologia (risos).

As pessoas sabem que os filmes que fiz têm estilos diferentes, mas daí resultam sempre reações muito positivas. Sinto que  o público aprende imenso sobre este meu mundo. Neste momento o meu trabalho parece-me mais fácil, porque ganhei alguma coisa com a prática. De qualquer forma não deixo de dar o meu melhor. É isso que gostaria de ser relembrado por qualquer um dos meus fãs no futuro.

MHD: Muito obrigado por esta conversa!

Tony Jaa: Sou eu que tenho de agradecer.

Estás ansioso pela estreia de “Monster Hunter” nas salas portuguesas? A equipa da MHD também. Fica atento às próximas entrevistas aos nomes do cinema e da televisão mundiais. 

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