NOS Alive 2019 (foto de Sara Hawkkk)

NOS Alive 2019 | 5 Melhores Concertos

Após mais uma edição de NOS Alive, revivemos o festival e elegemos os cinco melhores concertos do último alinhamento.

Durante a semana passada e após mais uma edição de NOS Alive, não pudemos deixar de reparar na assídua circulação de lamentáveis declarações pela Internet, onde o estatuto de “festival de Verão” enquanto área de apreciação de música, descoberta de novas bandas e artistas de qualidade ou puro compartilhamento de experiências e sensações estimuladas por dissemelhantes formas de arte, viu-se resumido a um show-off trivial e simplista das mais recentes tendências da moda e da influência das redes sociais num julgamento de popularidade ou condição social. Sob o risco de sofrermos a acusação de sermos “trambolhos”, elegemos os cinco melhores actos do último alinhamento e os motivos que nos levam a inclui-los neste top. Na Magazine.HD, o nosso foco primordial continua a ser a música, o juízo crítico e o testemunho de afeição.

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Nos Alive: Mogwai©Arlindo Camacho

5. Mogwai

A inclusão da performance dos Mogwai na lista “Os 5 Melhores Concertos dos NOS Alive 2019” causou alguma discordância entre os elementos da Magazine.HD que elaboraram a reportagem dos três dias da edição de 2019 do NOS Alive, porém decidimos conceder-lhes a quinta posição do nosso top. Reconhecemos que as condições reunidas não foram as mais favoráveis para que a sonoridade pós-rock do quarteto de Glasgow pudesse atingir o ponto máximo da sua magnificência notoriamente identificada nos álbuns de estúdio. A acústica do Palco NOS deteriorou a distorção das guitarras tocadas por Stuart Braithwaite e Barry Burns, as dinâmicas musicais e a recognição de cada elemento instrumental que delineia as numerosas camadas sonoras constituintes das composições densas, atmosféricas conceptualizadas pelos Mogwai. A maior parte do público aproveitou este concerto antecedente ao grand finale assegurado pelos The Cure para recuperar energias, colocar a conversa em dia ou actualizar as redes sociais com a habitual fotografia tirada no festival de Verão, apesar de termos detectado, para nossa satisfação, genuínos apreciadores de música que se entregaram de corpo e alma a este tão imersivo espectáculo, buscando, pacientemente, pela beleza recôndita, encoberta pela impetuosidade dos instrumentos dominantes e as vibrações sonoras desconfortantes.

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No entanto, quando um quarteto de respeitáveis instrumentistas reinterpreta, excelentemente, canções tão arrepiantes e instrumentalmente complexas quanto “Remurdered” ou “Mogwai Fear Satan”, não podemos deixar de reverenciar a sua performance e lamentar todas as circunstâncias, fora do seu controlo, que a prejudicaram. Citando o jornalista Diogo Álvares Pereira e a sua apreciação da derradeira faixa do alinhamento: “(…) Deixo que me transporte ao céu, recorrendo às serenas paisagens sonoras construídas, de modo exímio, pela banda, e, subitamente, desço a tão prazeroso inferno, aproveitando a boleia do ruído branco e feedback. O Palco NOS não suficientemente grande para esta banda e a música que concebe, disso tenho a certeza.”

NOS Alive | Mogwai, “Mogwai Fear Satan”

Destaques: “Remurdered”; “Mogwai Fear Satan”.




NOS Alive: The Cure ©Arlindo Camacho

4. The Cure

A banda veterana The Cure, liderada por um Robert Smith de aparência física decrépita, porém anormalmente exultante e habilitado para reinterpretar, notavelmente, as inolvidáveis canções integrantes de uma consistente discografia com mais de quatro décadas, encerrou o Palco NOS, no primeiro dia da edição de 2019 do NOS Alive, com um duradouro, envolvente concerto, onde um alinhamento capaz de agradar a todas as gerações, constituído por marcantes êxitos musicais e estimados, cultuados deep cuts, beneficiou de uma performance devotada do grupo britânico e das dinâmicas entre instrumentistas.

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Pais e filhos vivenciaram um evento excepcional, meticulosamente projectado pela banda e equipa técnica, com o crucial objectivo de extinguir as barreiras isoladoras das distintas formas de arte e lograr o resultado criativo supremo, uma fusão entre as “melodias ora açucaradas e aliciantes, ora taciturnas e atormentadoras”, a “angústia existencial, o romantismo sombrio e o eterno sofrimento” incessantemente abordados nas letras de Robert Smith e o espectáculo visual em tons saturados de verde e vermelho, acolhedor da sonoridade dos The Cure, transformando os membros da banda em silhuetas abastecedoras do elixir da eterna juventude e acentuando a linguagem cinematográfica inerente à estética do quinteto e do seu trabalho.

NOS Alive | The Cure, “A Forest”

Destaques: “In Between Days”; “A Night Like This”; “A Forest”; “39”.




NOS Alive: Sharon Van Etten©Hugo Macedo

3. Sharon Van Etten

Tendo a grande maioria do público na mão desde que o sintetizador de “Jupiter 4” começou a ecoar pelo palco secundário, Van Etten deu um concerto exímio, directamente para a listagem dos melhores concertos do festival e pouco antes das 19h do primeiro dia. A boa execução musical e vocal já era um dado adquirido, sendo o acrescento artístico aquilo que tornou esta performance digna do lugar que ocupa. Tratou-se de um espectáculo onde foi possível observar ao seu crescimento artístico e performativo. Em si, “Remind me Tomorrow” é um álbum que já tinha conquistado a equipa da secção de música da MHD, mas em palco ganha toda uma nova dimensão e profundidade. Mesmo o reviver de antigos trabalhos incluídos no álbum “Are We There”, embora não tenham sido submetidos a novos arranjos, espelharam a nova personalidade que Sharon Van Etten tem vindo a criar junto da esfera pública.

NOS Alive | Sharon Van Etten, “Jupiter 4”

Destaques: “Serpents”; “Jupiter 4”; “Comeback Kid”.




NOS Alive: Thom Yorke©Sam Hawkkk

2. Thom Yorke

A menos de um mês do seu concerto no NOS alive, Thom Yorke lançou o seu mais recente trabalho de estúdio, “Anima”, que foi logo louvado pela crítica musical internacional. O seu terceiro álbum a solo é marcado pelo gosto de left-of-center dance music e foi com esse mesmo espirito que presenteou o público do palco secundário no último dia do festival. Partindo da música electrónica construída sob camadas, Yorke, juntamente com o produtor Nigel Godrich construíram um ambiente sonoro que vai para além de respeitar as criações de estúdio: estas são enaltecidas.
Em palco houve a colaboração do aclamado artista visual Tarik Barri. Este esteve encarregue da criação ao vivo de construções imagéticas projectadas numa armação atrás do palco. O público é então assoberbado com o bombardeamento de estímulos: terá de decidir se observa as projecções, os perfomers, fecha os olhos e sente apenas a música, ou se tenta fazer de tudo um pouco.

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Foi um espectáculo audiovisual integro, com composições musicais e visuais desenhadas para envolver o público numa viagem plena. Nem seria de questionar o trabalho de Yorke como membro do colectivo Radiohead, mas algumas dúvidas poderiam ser levantadas quanto à sua performance a solo. Estas incertezas rapidamente seriam abandonadas após um par de minutos do início do concerto no NOS Alive. Por vezes a música eletrónica acaba por centrar os indivíduos apenas em si mesmos, uma vez que no palco há apenas artistas que manipulam todo um aparato técnico. Yorke, apesar de pouco interagir verbalmente com a plateia fez com que a atenção do público fosse dividida entre cada elemento constituinte da performance, dando também espaço para a própria introspecção do espectador: as construções imagéticas intrincadas e a música hipnótica envolvia cada pessoa, levando-as a moverem-se, dançando para si e como membros integrantes do universo criado no palco.
O público estava completamente rendido a Yorke, que se balançava pelo palco segundo o ritmo da sua música, como se um deus se tratasse.

NOS Alive | Thom Yorke, “Anima” Curta-Metragem Teaser

Destaques: “Dawn Chorus”; “Amok”; “Twist”.




NOS Alive: IDLES©Nuno Conceição

1. IDLES

O concerto dos IDLES no Palco Sagres, integrado no alinhamento do último dia da mais recente edição do festival, satisfez as nossas necessidades de redenção por não termos marcado presença no mítico evento proporcionado pelo quinteto de Bristol, em Novembro do ano passado, no Lisboa ao Vivo. Após terem lançado um dos mais interventivos e combativos discos punk de 2018, Joy As An Act Of Resistance, devidamente reconhecido pela comunidade crítica e pelo público geral, os IDLES retornaram a Portugal para, mais uma vez, converterem a intensidade dos instrumentos e o vigor da mensagem proferida, eximiamente encapsulados no trabalho de estúdio, numa performance puramente visceral, ardente, onde o “transparente discurso de amor e ódio, o feroz combate à masculinidade tóxica, xenofobia e lavagem cerebral gerada pelos falaciosos meios de comunicação públicos” irrompeu por um Palco Sagres que aparentou ter-se expandido em comprimento e largura, dada a irrequietude e a actividade frenética dos membros da banda. Todavia, a nossa nota de destaque não se dirige, unicamente, aos IDLES, mas também à dedicada audiência que “viveu” este concerto de nicho, dignificando a subcultura punk e do moche, a conciliação dos valores de entreajuda e camaradagem e da violência como elemento catártico. Neste concerto, sentimo-nos verdadeiramente livres, repartindo um espaço onde todos foram bem-vindos e a fraternidade e o respeito pelo outro venceram. Um autêntico “oásis”  no meio de um festival progressivamente mais generalista.

NOS Alive | IDLES, “Danny Nedelko”

Destaques: “Danny Nedelko”; “Television”; “Rottweiler”.

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