Quentin Tarantino defende o filme mais polémico de 2024
Mesmo num mundo regido pelo consenso crítico, há sempre espaço para vozes dissonantes – como a de Quentin Tarantino.
Quentin Tarantino, o realizador que transformou o cinema independente dos anos 90 e redefiniu o que significava fazer filmes de culto, nunca foi pessoa de seguir a corrente dominante. Desde “Reservoir Dogs” até “Era Uma Vez em… Hollywood“, construiu uma carreira baseada em desafiar expectativas e convenções. Mas a sua mais recente posição sobre um filme controverso está a deixar até os seus maiores admiradores perplexos.
Ele sempre acreditou que a arte devia ser feita sem amarras, desafiando as normas. No entanto, o que estamos a ver hoje é uma confusão crescente. O mercado está cada vez mais saturado de produtos que se vendem como arte, mas que na verdade são apenas reflexos de uma indústria em busca de lucros fáceis. Mas é preciso coragem para navegar neste turbilhão e não se perder nas regras impostas. Tarantino, com todas as suas contradições, é talvez o último bastião dessa luta pela liberdade criativa.
A revelação que ninguém esperava: Tarantino adora “Joker: Folie à Deux”
Numa reviravolta surpreendente durante o podcast de Bret Easton Ellis, Tarantino revelou-se um fervoroso defensor de “Joker: Folie à Deux“, a sequela musical do aclamado “Joker” que dividiu críticos e público em 2024. “Adorei mesmo, mesmo muito. Tremendamente”, confessou o realizador, numa declaração que deixou muitos a coçar a cabeça.
O filme, que trocou o drama psicológico do original por números musicais inesperados, foi amplamente criticado e acabou por receber várias nomeações aos Razzies – os “anti-Óscares” que celebram os piores momentos do cinema – em vez dos prémios prestigiados que o seu antecessor conquistou. No entanto, apesar das críticas negativas, o filme conseguiu atrair um grupo de fãs que, curiosamente, encontrou valor na sua abordagem incomum. Por outro lado, muitos defendem que a tentativa de inovar acabou por descaracterizar o espírito do original, perdendo a profundidade emocional que o tornava único.
Tarantino, no entanto, vê algo que muitos parecem ter perdido. “Fui ver o filme e esperei ficar impressionado com a realização. Pensava que seria um exercício intelectual distante que, no final, não funcionaria como filme, mas que eu apreciaria pelo que é”, explicou.
Uma perspectiva única
O que torna esta opinião particularmente interessante é a forma como Tarantino relaciona o filme com o seu próprio trabalho passado. O realizador vê em “Joker: Folie à Deux” ecos do seu guião para “Natural Born Killers“, descrevendo-o como “o ‘Natural Born Killers’ que eu teria sonhado ver, como o criador de Mickey e Mallory”.
A sua apreciação vai além da simples nostalgia. Quentin Tarantino aprecia especialmente os elementos que outros criticaram, incluindo as escolhas musicais mais banais. “Quanto mais banais eram as canções, melhor funcionavam”, afirma, demonstrando uma compreensão única da intencionalidade por trás das escolhas artísticas do filme.
Esta posição não é totalmente surpreendente para quem conhece a carreira de Tarantino. Como realizador que já enfrentou inúmeras controvérsias – desde o uso liberal de linguagem ofensiva até às acusações de mau tratamento de Uma Thurman durante as filmagens de “Kill Bill” – ele parece naturalmente atraído por obras que desafiam o consenso.
Num momento em que as opiniões sobre cinema parecem cada vez mais polarizadas, que filme “mau” defendes secretamente? Partilha connosco o teu “guilty pleasure” cinematográfico.