Patty Jenkins e Gal Gadot em "Mulher-Maravilha 1984" | ©NOS Audiovisuais

Realizadoras criaram mais em 2020, diz estudo

Os efeitos do movimento Time’s Up continuam a fazer-se sentir na indústria cinematográfica norte-americana, com repercursões à vista ano após ano.

Em 2020 o número de filmes realizados por mulheres superaram todos os valores antes registados. Parece que as realizadoras envolvidas em grandes produções vieram para ficar! 

É um estudo do Centro de Estudos Femininos em Televisão e Cinema, integrado na Universidade Estatal de San Diego, que é o diz. Mais realizadoras estiveram envolvidas, em 2020, em grandes produções cinematográficos, do que em qualquer outro ano prévio.

Lê Também:   100 Realizadoras a conhecer ou recordar

Pela primeira vez, 16% dos 100 filmes mais lucrativos do ano foram realizados por mulheres, quando comparado com os 12% em 2019 e um muito mais baixo 4% em 2018. Em Hollywood, aumenta a pressão no sentido de promover o trabalho de realizadoras, e os movimentos para este efeito, como o “Time’s Up”, continuam a provar a sua eficácia.

No âmbito da crise pandémica, vários blockbusters realizados por mulheres viram-se adiados para 2021, como é o caso da nova produção Marvel “The Eternals”, um novo grupo de super heróis ancestrais que serão interpretados por um casting de grandes estrelas, incluindo nomes como Angelina Jolie, Richard Madden, Kumail Nanjiani, Salma Hayek ou ainda Kit Harrington no elenco. Chloé Zhao é a realizadora e argumentista desta obra, uma escolha improvável para muitos e que promete agora um filme emocionalmente robusto aos espectadores Marvel.

MAIS MULHERES NA CATEGORIA DE MELHOR REALIZAÇÃO NOS ÓSCARES? 

realizadoras
Greta Gerwig e Timothée Chalamet nas gravações de Lady Bird (2017) |©NOS Audiovisuais

Apesar de “The Eternals” ter sido adiado para 2021, Chloé Zhao é uma das grandes promessas desta Award Season, com o seu “Nomadland – Sobreviver na América”. Como é sabido, a estatueta dourada de Melhor Realizador apenas foi entregue a uma mulher uma vez, em 2009, a Kathryn Bigelow, por “Estado de Guerra”. Ao longo da longa história dos Óscares, que dura desde 1929, apenas encontramos a primeira realizadora nomeada ao Óscar dessa categoria em 1975, com a italiana Lina Wertmüller e o seu  “Pasqualino das Sete Beldades”. Até ao presente ano, apenas outras três mulheres obtiveram nomeações no campo da realização: Jane Campion (“O Piano”), Sofia Coppola (“O Amor é um Lugar Estranho”) e mais recentemente Greta Gerwig (“Lady Bird”).

Lê Também:   10 realizadoras que já deviam ter ganho o Óscar

O ano de 2021 tem o potencial para destabilizar esta estatística, com  Chloé Zhao altamente bem posicionada para vencer na categoria de realização dos Óscares  – e em inúmeros outros prémios ao longo desta award season mais tardia, motivada pelo adiamento dos Óscares até abril para dar tempo a mais filmes estrearem no âmbito do encerramento dos cinemas durante grande parte do ano passado. No Awards Leaderboard organizado todos os anos pelo agregador de críticas Rotten Tomatoes, “Nomadland – Sobreviver na América” segue já com  vinte e sete vitórias de prémios numa fase bastante embrionária da corrida, incluindo-se já oito distinções de Melhor Realização para Zhao por parte de múltiplas associações de críticos e outras organizações. É desta que passamos para duas realizadoras vitoriosas nesta categoria?

Lê Também:   Gotham Awards 2021 | Aclamação feminina nos nomeados a Melhor Filme

GRANDES PRODUÇÕES ORIENTADAS POR REALIZADORAS EM 2021 

Marvel Viúva Negra
Viúva Negra | © NOS Audiovisuais

Outro grande potencial sucesso de bilheteira realizado por uma mulher viu-se também adiado para 2021 – falamos de “Viúva Negra”, da realizadora  australiana Cate Shortland. Shortland, autora do sucesso da crítica “Lore”, estreou-se nas grandes produções de Hollywood com o primeiro filme em nome próprio do membro dos “Vingadores” Black Widow (Scarlett Johansson).

Apesar de 2020 ter sido um ano bastante restringido no que toca a estreias comerciais de filmes, ainda assim diversas das estreias mais marcantes foram orientadas por realizadoras, como é o caso de Patty Jenkins (“Monstro”), que regressou este ano ao universo da sua super-mulher com “Mulher Maravilha 1984”. Adicionalmente, foi Cathy Yan a realizadora de “Birds of Prey”, o primeiro filme a solo da vilã mais adorável do universo DC – Harley Quinn, numa longa-metragem que contou com a co-produção da sua protagonista Margot Robbie, através da sua produtora própria LuckyChap Entertainment.

MAIS MULHERES ATRAVÉS DA CÂMARA

Nomadland realizadoras
‘Nomadland’, da sino-americana Chloé Zhao, produzido e protagonizado por Frances McDormand. | ©Searchlight Pictures

Regressando ao estudo mencionado, o mesmo acompanhou a empregabilidade de mulheres no cinema entre março e dezembro do ano passado e concluiu que cerca de 19% dos realizadores, escritores, executivos, produtores, editores e diretores de fotografia haviam sido mulheres, menos 2% se comparado com os filmes mais lucrativos. Quanto aos filmes vistos, obras realizadas por mulheres representaram 10% da totalidade de produções quando comparado aos  16% de realizadoras que criaram obras vencedoras nas bilheteiras.

A diretora deste centro de estudos destaca um dado positivo evidente, que foram verificados dois anos de crescimento exponencial no número de realizadoras a operar nos Estados Unidos da América, o que segundo Lauzen “quebra um padrão histórico, em que estes valores iriam subir um ano, para descer imediatamente no ano seguido”. Contudo, nem tudo é um mar de rosas, pois 80% não são ainda conduzidos por mulheres, o que se concretiza numa percentagem assinalável.

Lê Também:   Guia de Estreias de Cinema em 2021

Quanto a outras posições de destaque atrás da câmara, entre os 100 filmes mais lucrativos do ano passado, 28% dos mesmos foram produzidos por mulheres e 21% se considerarmos produção executiva, configurando um aumento de dois pontos percentuais em ambas as categorias. Foram também elas que editaram 18% destas obras, escreveram 12%  e apenas foram responsáveis pela fotografia de 3% , numa categoria técnica essencial ainda muito dominada por homens, que ainda assim viu o aumento de um ponto percentual.  Contudo, na edição e escrita houve uma queda respetiva de cinco e oito pontos percentuais.

REALIZADORAS MOTIVAM CONTRATAÇÃO FEMININA

Gal Gadot, wonder woman 1984 mulher maravilha
©2020 Warner Bros. Ent. All Rights Reserved

Este estudo analisou mais um dado pertinente. Filmes com realizadoras têm uma hipótese muito maior de contratar mulheres para outros cargos, como edição ou fotografia, entre muitos outros que se desenvolvem atrás da câmara. Por exemplo, olhando para filmes com realizadoras, 53% destes foram escritos por mulheres. Um valor totalmente distinto é encontrado quando consideramos realizadores masculinos, que apenas viram 8% das suas obras escritas por mulheres. Também em filmes realizados por mulheres, 39% dos seus filmes foram editados por mulheres e 13% tiveram musica composta por  mulheres, contra apenas 18% e  4%  junto de realizadores do sexo masculino.

E apesar desta clara evolução, 67% dos filmes de Hollywood ainda empregam zero a apenas quatro mulheres em grandes papéis de bastidores, contra 70% de films de topo que contratam dez ou mais homens como realizadores, argumentistas e outras posições de topo.

A diretora deste centro e coordenadora do estudo reforça que este desiquilíbrio é impressionante, e de facto salta à vista. Apenas um esforço consertado ao longo dos próximos anos permitirá um equilíbrio destes valores e o impedimento do regresso de uma tendência yo-yo.

Desse lado, gostavam de ver mais filmes guiados por realizadoras? 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *