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Toda a Luz Que Não Podemos Ver, a Crítica I Não agrada crítica, agrada aos espectadores!

A minissérie “Toda a Luz Que Não Podemos Ver” do catálogo da Netflix, é uma adaptação de um romance de Anthony Doerr, que tem sido muito apreciada pelos espectadores e arrasada pela crítica. Trata-se de mais uma visão da II Guerra Mundial, uma história de amor à distância e uma pequena ode ao papel da rádio e da sua importância nos momentos de tragédias e conflitos. A ver….

A minissérie da Netflix de 4 episódios “Toda a Luz Que Não Podemos Ver” é uma adaptação da obra literária de Anthony Doerr publicada em 2014, (edição portuguesa da Presença), laureada com o Prémio Pulitzer 2015 (Ficção) e, apesar de ter sido arrasada pela crítica praticamente em todo o mundo, é das ofertas mais vistas e um dos grandes sucessos da plataforma de streaming. Desenvolvida e escrita por Steven Knight, o criador de “Peaky Blinders“, “Taboo” e “See”, esta nova série da Netflix passada durante a II Guerra Mundial é realizada por Shawn Levy, um cineasta, mais conhecido por fazer comédias como a divertida trilogia “À Noite, no Museu”, com Ben Stiller, e responsável por filmes como “Free Guy: Herói Improvável” (2021) ou “O Projeto Adam” (2022).

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Apesar de se tratar de um melodrama um tanto novelesco, a sua premissa é excelente, pois conta a história de dois jovens que sobrevivem nos campos opostos da II Guerra Mundial, unidos por lembranças e memórias do passado, mas que, aos poucos, vão-se aproximando, até ao romance. De um lado, uma rapariga francesa cega Marie-Laure LeBlanc (Aria Mia Loberti quando mais velha e Nell Sutton na infância) que transmite códigos para o serviços de inteligência aliados através do seu programa de rádio clandestino, na cidade de Saint-Malo, na França murada e dominada pelos nazis; do outro lado, um jovem soldado alemão Werner Pfennig (Louis Hofmann), um genial especialista em construção de rádios e na localização de transmissões clandestinas, que fascinado pela voz, começa a ouvir Marie-Laure diariamente, mantendo-a em segredo dos seus superiores.

Toda a Luz Que Não Podemos Ver
Aria Mia Loberti, é na verdade cega e estreia-se brilhantemente como actriz e logo como protagonista. ©Netflix

Rapidamente apercebemo-nos do potencial, riqueza e subtileza do argumento e principalmente da beleza e delicadeza desta história de amor improvável, onde se destacam à primeira vista as interpretações dos dois protagonistas: Aria Mia Loberti, que é na verdade cega, devido a uma acromatopsia e estreia-se brilhantemente no seu primeiro papel como actriz e escolhida entre um enorme casting. Loberti consegue, apesar da sua pouca experiência como atriz, dar o tom exato à sua sofrida e vulnerável figura e ao mesmo tempo transmitir-nos a ideia de uma personagem forte do ponto de vista psicológico.

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Por seu lado, Louis Hofmann, vem confirmar as suas qualidades dramáticas que mostrou ter como Jonas Kahnwald, na série alemã “Dark”, (também na Neflix), ainda que neste caso do soldado alemão, o seu papel exija menos do que o da sua parceira de elenco. Estas interpretações combinadas com as presenças de Hugh Laurie e Mark Ruffalo (como pai de Marie-Laure) no elenco e uma boa direção de arte, de reconstituição da época, trazem a “Toda a Luz Que Não Podemos Ver”, uma razoável expressão narrativa e estética, que enfim não é tão má como pintam, a crítica. 

VÊ TRAILER DE ‘TODA A LUZ QUE NÃO PODEMOS VER’

O maior problema de “Toda a Luz Que Não Podemos Ver” talvez seja o facto de ser demasiado maniqueísta, estereotipada e as vezes até caricata, sobretudo na forma como retrata os nazis. Inclusive o obsessivo e doente — e não apenas mentalmente — Reinhold von Rumpel interpretado pelo actor alemão Lars Eidinger, um oficial da Gestapo, caçador de tesouros, que se torna numa figura demasiado histriónica que parece quase um desenho animado. E é pena porque ele é um fabuloso actor! Von Rumpel, quer localizar Marie-Laure por achar que a rapariga é a guardiã do diamante Mar de Chamas que, segundo a lenda, dá imortalidade e cura qualquer doença, a quem o possui.

Por outro lado, Werner Pfennig aparece-nos como um personagem demasiado boazinha e pura, que foi levado pelas circunstâncias da vida e destino, a tornar-se um soldado nazi, ou, mais correctamente, na história, um soldado alemão, mas não necessariamente um nazi. Porém, dá um pouco a ideia de que todos os soldados na Alemanha nazi, só obedeciam às ordens do Führer e portanto era forçados, e com tal eram merecedores de uma segunda oportunidade. Os personagens de Laurie e Ruffalo são também um pouco subalternizados, sem que no drama os atores ganhem o espaço e que realmente seja aproveitada toda a sua experiência e talento.




Toda a Luz Que Não Podemos Ver
Esperemos ver mais vezes o talento dos jovens Aria Mia Loberti e Louis Hofmann em outros filmes e séries. ©Netflix

Apesar de tudo, Shawn Levy parece lutar para encontrar o tom certo de uma série (o de um filme) de guerra — que não é propriamente a sua especialidade — focando-se principalmente na força e no carisma da protagonista, Marie-Laure, que inconscientemente não vive escondida num abrigo no subsolo, para se proteger das bombas, mas antes num edifício bastante alto, apesar da destruição. Durante as suas transmissões e os ataques aéreos, o edifício ou torre, só parcialmente é atingido e não esqueçamos, que ainda por cima, além de cega a jovem anda descalça, logo com dificuldade em escapar às bombas.

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Toda a Luz Que Não Podemos Ver
Mark Ruffalo, interpreta o director de um museu e o pai de Marie-Laure, ambos em fuga dos nazis. ©Netflix

Mesmo que seja uma simbólica homenagem que realça a  importância da rádio em tempo de guerra, as transmissões são feitas de uma torre, algo vai um pouco contra a lógica interna da obra, que na verdade é uma ou melhor duas histórias de luta pela sobrevivência.

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De qualquer modo esperemos ver mais vezes o talento dos jovens Aria Mia Loberti e Louis Hofmann em outros filmes e séries. Vale a pena dizer também que quem leu o livro pode ficar bastante decepcionado. O final é diferente e algumas questões importantes passam um pouco ao lado, como a origem da cegueira de Marie-Laure, que na obra de Doerr é vítima de catarata. Apesar de tudo, “Toda a Luz Que Não Podemos Ver”, embora não seja uma maravilha e seja até um pouco piegas, é bastante superior a outras produções do catálogo da Netflix, pelo menos em espectacularidade, além de ser uma série que se vê de uma vez, quase como um filme. Não chateia, e diga-se o que se disser sobretudo alguma crítica mais feroz, vale a pena ver!.

Toda a Luz Que Não Podemos Ver, a Crítica
Toda a Luz Que Não Podemos Ver

Movie title: All the Light We Cannot See

Movie description: O drama histórico com duas histórias entrelaçadas, de dois jovens Marie-Laure (Aria Mia Loberti) e Werner Pfennig (Louis Hofmann), ao longo de uma década. Inicialmente, ambientada na França de 1940, a protagonista é uma jovem cega que perdeu a visão quando ainda era criança. Ela e o pai, Daniel LeBlanc (Mark Ruffalo), fogem de Paris, depois ser tomada pelos nazis. Daniel protege uma pedra lendária chamada Mar de Chamas, um item raro e poderoso que está na mira do exército alemão. Do lado oposto está Werner, um órfão com um talento especial para consertar rádios, que é recrutado pelo exército nazi. Mesmo em lados opostos na guerra, os dois começam a comunicar por meio de uma transmissão de rádio clandestina. É justamente nessa ligação secreta que os dois procuram, uma forma de sobreviver aos horrores da guerra.

Date published: 14 de January de 2024

Country: EUA/Reino Unido

Duration: 4 episódios/288 minutos

Director(s): Shawn Levy


Actor(s): Aria Mia Loberti, Louis Hofmann, Lars Eidinger, Hugh Laurie, Mark Ruffalo, Marion Bailey,

Genre: Drama, Guerra, 2023,

  • José Vieira Mendes - 60
60

CONCLUSÃO:

Esta minissérie de 4 episódios, intitulada ‘Toda a Luz Que Não Podemos Ver’ tem triunfado em termos de audiência na Netflix. É um drama histórico passado na II Guerra Mundial recomendado sobretudo para os apreciadores mais obstinados do género. Porém, não se esperava que apesar das críticas jornalísticas arrasadoras, praticamente em todo o mundo, houvesse tantos. Tem cenas espetaculares, a direcção de arte, os figurinos e a caracterização são excelentes, mas o argumento, apesar de vir de um Pulitzer, fica muito quem do esperado. É o tal problema das adaptações cinematográficas, que nem sempre corresponderam à obra original. As duas histórias entrelaçadas não estão muito desenvolvidas — a história de amor… se é que se lhe pode chamar assim —, apesar de uma estrutura não linear, entre o passado e o presente da guerra. É um daqueles casos de uma série, que merecia uma temporada de episódios mais longa. Os personagens são também um pouco estereótipos, embora em relação aos protagonistas consigamos ganhar uma certa empatia. Em suma, é normal  que ‘Toda a Luz Que Não Podemos Ver’ agrade aos fãs de dramas históricos, uma vez que, sendo uma produção de época, cumpre os padrões de espectáculo que normalmente são esperados, num filme ou numa série de guerra.

JVM

Pros

As notáveis interpretações dos protagonistas principalmente de Aria Mia Loberti, combinadas com as fortes presenças de Hugh Laurie e Mark Ruffalo, além de uma boa direção de arte na globalidade, quanto à reconstituição da época.

Cons

É uma história, demasiado maniqueísta, novelesca e estereotipada, na forma como retrata os nazis, inclusive o obsessivo Reinhold von Rumpel (Lars Eidinger), o oficial da Gestapo, caçador de tesouros, uma figura além de sádica, demasiado histriónica e caricata.

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