Todos Falam Sobre o Jamie, em análise

A vida real do jovem Jamie Campbell foi inicialmente imortalizada num documentário, o qual inspirou a criação de um popular musical do West End que, por sua vez, originou esta longa-metragem distribuída em Portugal pela Amazon Prime Video – “Todos Falam Sobre o Jamie” está disponível na plataforma desde 17 de setembro e é essencial para fãs de musicais. 

Inspirado na vida real de um jovem adolescente de 16 anos, que ousou tornar-se drag queen na sua pequena cidade britânica de Sheffield, “Todos Falam Sobre o Jamie” é uma história positiva e encorajante, se não até  um pouco utópica. A narrativa é bastante simples, acompanhamos o jovem arrojado  Jamie New (Max Harwood ), um adolescente que se recusa a aceitar um emprego aborrecido e banal como o seu futuro destino.

Jaime sonha com os palcos e por muitos obstáculos que possa encontrar – o seu pai tradicionalista, os seus professores antiquados, os seus colegas opressores – não irá parar até se tornar uma drag queen feroz, temível e poderosa. Ao seu lado tem também fortes aliados, a sua jovem amiga Pritti (Lauren Patel) , a mãe (Sarah Lancashire) e a sua mentora, a lendária drag queen local Miss Loco Chanelle (Richard E. Grant, “Dispatches From Elsewhere“), os quais serão fulcrais para que  Jamie pise os palcos pela primeira vez.

Um hino que incentiva à auto-expressão e auto-determinação, “Everybody’s Talking About Jamie” é uma lição acerca de tolerância, uma que só poderia ser criada e posteriormente filmada neste século XXI de maior abertura. Esta narrativa LGBTI+ toca em algumas temáticas essenciais dentro do género, como por exemplo a crise da SIDA, por meio de música e dança, através de um flashback de passado tenebroso, um dos momentos do filme e que confirmam Richard E. Grant como uma dádiva nesta longa metragem.

Contudo, não são as grandes problemáticas ou temáticas que vencem em “Todos Falam Sobre o Jamie”. Esta é uma narrativa muito pessoal, contada na primeira pessoa, acerca da importância da expressão da individualidade. É também, dentro do género cinematográfico, um claro exemplo do “coming of age tale” ( contos acerca da transição da infância para a idade adulta, os quais cobrem todos os passos em falso e lições aprendidas pelo caminho).

E por muito bem intencionado que o filme possa ser, “Everybody’s Talking About Jamie” não deixa de viver um pouco na sombra do musical de palco que lhe deu origem. Os temas não se traduzem com o mesmo nível de magia para o grande ecrã, talvez porque não são assim assim tão poderosos, talvez porque o baixo orçamento se torna evidente nos números musicais ou talvez porque a estrela da obra, Max Harwood, é um Jamie muito carismático mas um intérprete com dotes vocais algo limitados e que, por consequência, limitam o potencial das músicas.

“Todos Falam Sobre o Jamie” acaba por ser meramente morno, e sem dúvida fica aquém da promessa da sua premissa. O melhor que faz é acrescentar o número original “This Was Me”, com performance de Richard E.Grant e pela vocalista dos Frankie Goes to Hollywood. Sem dúvida de que este momento, já previamente abordado, em que se ensina alguma história queer ao jovem Jamie, é o ponto alto da história. Mas será realmente positivo que os quatro melhores minutos de filme nada tenham a ver com a narrativa central?

Feitas as contas, esta história sabe a pouco, ou antes, não chega a atingir o máximo do seu enorme potencial, quer musical , quer narrativo.

TRAILER | TODOS FALAM SOBRE O JAMIE ESTÁ DISPONÍVEL NA AMAZON PRIME VIDEO DESDE 17 DE SETEMBRO