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TOP Xavier Dolan | Ranking oficial MHD

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A propósito da estreia nacional de A Minha Vida com John F. Donovan, percorremos a curta mas prolífica e carismática carreira de Xavier Dolan neste Ranking Oficial MHD.

Xavier Dolan: enfant-terrible do cinema canadiano contemporâneo, talento à frente e atrás das câmaras, autor inequívoco.

Apesar de surgir organicamente como um dos grandes talentos do Cinema Queer, Dolan esquiva-se às categorizações e procura, nas suas narrativas, uma abordagem abrangente e normalizadora do género e da identidade sexual, revisitando por sua vez temas emocionalmente carregados como a complexa dinâmica das relações, os amores impossíveis e a viagem de descoberta pessoal. A inspiração em autores como Wong Kar-wai, Almodóvar, Fassbinder ou Paul Thomas Anderson é inegável, mas, ao mesmo tempo, e desde a sua primeira incursão na realização, Dolan provou a distinção da sua voz.

A Minha Vida com John F. Donovan é o seu sétimo filme e estreia hoje entre nós, uma oportunidade de ouro para revisitar e ranquear a curta mas iconoclasta filmografia do prodígio canadiano.

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7. A Minha Vida com John F. Donovan (2018)

© NOS Audiovisuais

Uma década após a morte de John F. Donovan, uma estrela da TV americana, um jovem ator relembra a correspondência trocada entre ambos, e o impacto que essas cartas tiveram nas suas vidas.

Depois de estrear com críticas mornas – estamos a ser simpáticos… – no festival de Toronto no ano passado, A Minha Vida com John F. Donovan chega finalmente às nossas salas mais de um ano depois. No rescaldo da performance pouco impressionante no circuito de festivais, Dolan regressou à sala de montagem para reparar aquilo que seria possivelmente irreparável, tendo, inclusivamente, apagado por completo a presença de Jessica Chastain, que se juntava ao elenco de estrelas composto por Kit Harington, Natalie Portman e Jacob Tremblay neste que é o primeiro filme do realizador canadiano em língua inglesa.

Surgindo como uma espécie de puré de ideias mal-cozinhadas, A Minha Vida com John F. Donovan acaba por passar como o filme mais convencional da obra de Dolan… e consequentemente também o mais vazio, nunca conseguindo encontrar a fluidez e emoção necessárias para ligar as três linhas de narrativa que tenta equilibrar ao mesmo tempo.

Obviamente que, com a filmografia que tem já na bagagem com apenas 30 anos de idade, é impossível negar-lhe o talento, e mesmo entre a trapalhada de John F. Donovan é possível encontrar momentos, sequências e ideias intrigantes… mas face às últimas incursões menos inspiradas de Dolan, talvez seja este um importante momento para a introspeção e para entender onde conseguirá reencontrar-se novamente como cineasta – algo que não temos qualquer dúvida que conseguirá, e mal podemos esperar!




6. Tão Só o Fim do Mundo (2016)

Xavier Dolan
© Alambique

Adaptando a peça homónima do francês Jean-Luc Lagarce sobre um escritor que regressa à sua terra natal com o intuito de anunciar à família a sua morte iminente, Dolan regressa ao tema das mercuriais relações familiares com um elenco de luxo encabeçado por Marion Cotillard, Vincent Cassel, Léa Seydoux, Nathalie Baye e Gaspard Ulliel.

Certamente, aquela que revela ser a maior e mais dramática fragilidade de Tão Só o Fim do Mundo aparece nas nossas primeiras palavras: “Adaptando a peça…”.

Recuperando as palavras da nossa crítica ao filme por Cláudio Alves, “no final, é precisamente a barreira que se erige entre o cineasta e o seu texto que tornam Tão Só o Fim do Mundo na pior obra de Dolan. Longe de tentar entender o contexto histórico e pessoal da peça original, o canadiano tentou subjugar o material textual ao seu jogo estilístico sem considerar o modo como isso acabou por esvaziar suas personagens e dinâmicas familiares de necessária complexidade. O resultado consequente de tudo isto é uma obra que vibra de histeria mas que, para além da superfície vistosa, é emocional e concetualmente oca“.




5. Amores Imaginários (2010)

© Remstar Distribution

Francis e Marie são grandes amigos. Certo dia, durante um almoço, conhecem Nicolas, um jovem do campo acabado de chegar à cidade. À medida que os encontros se sucedem de forma perturbante – reais ou imaginários, os sinais são todos maus – os dois amigos mergulham cada vez mais em fantasias obsessivas em torno do mesmo objecto de desejo. E quanto mais mergulham, mais a sua amizade, que antes parecia inabalável, começa a desmoronar-se sob a pressão da competição pelo novo miúdo do bairro.

Elegante e provocador, Amores Imaginários retrata a triangulação do desejo numa exploração inebriante das complexidades e do absurdo da paixão e do amor.

Frequentemente comparado a Jules et Jim de Truffaut e a In the Mood for Love de Wong Kar-wai, já está claramente no “espetro positivo de Dolan”, mas o romanticismo, as suas aspirações e a estilização de Amores Imaginários são prejudicialmente exagerados – o estilo enterra o conteúdo – e por isso, diminuem o efeito da emoção da narrativa e a credibilidade das personagens.




4. Tom na Quinta (2013)

© Alambique

Tom, um jovem publicitário, viaja até ao campo a pretexto de um funeral. À chegada, dá-se conta que ninguém sabe quem ele é nem qual a sua relação com o falecido, cujo irmão rapidamente define as regras de um jogo doentio. De forma a proteger a honra da família e a mãe enlutada, Tom tenta manter a paz num lar cujo passado obscuro confere um negrume ainda maior a esta visita à quinta.

É curioso que Xavier Dolan tenha confirmado mais do que uma vez que nunca viu um filme de Alfred Hitchcock antes de filmar Tom na Quinta: isto porque este psicodrama altamente disciplinado deixaria o Mestre do Suspense orgulhoso!

Tenso e cativante, Tom na Quinta inspira e expira poesia no seu estudo da dor e da mentira como autênticos bichos papões. Assustador, inebriante e quase perfeito.




3. Como Matei a Minha Mãe (2009)

Xavier Dolan
© K Films Amerique

Depois de uma carreira prolífera como ator infantil, Xavier Dolan serpenteou para trás das câmaras com apenas 19 anos, quando lançou o seu primeiro filme, Como Matei a Minha Mãe, um grito de raiva materializado num drama parcialmente autobiográfico sobre a complexidade dos laços de um filho problemático e uma mãe alheada e uma primeira obra que espalhou na tela como pinceladas seguras alguns dos primeiros indícios daqueles que seriam os traços mais distintivos da obra do jovem realizador canadiano.

No enredo, Hubert é um adolescente de 17 anos de idade que vê a mãe com desprezo: não gosta das roupas “bimbas” que ela usa e até os mais pequenos detalhes da sua personalidade e o irritam. Aos poucos, ele vê-se tomado e dominado por uma relação de amor e ódio que fica fora de controlo.

Apesar de transportar algumas das limitações de uma estreia atrás das câmaras, Como Eu Matei a Minha Mãe inicia a exploração de vários temas e técnicas que viriam a ser recorrentes na obra de Dolan – como as mães, as composições clássicas ou os confrontos com a cultura pop. E aos 19 Dolan consegue algo que nós e, inclusive, muitos realizadores, nunca conseguem produzir numa vida inteira: uma obra de arte que nos fala diretamente às emoções de forma inovadora e profundamente afetante.




2. Laurence para Sempre (2012)

© Alambique

Algures nos anos 90, Laurence anuncia à namorada, Fred, que deseja tornar-se numa mulher. Contra todas as adversidades, e até contra si próprios, ambos enfrentam o preconceito dos amigos, ignoram as advertências familiares e confrontam as fobias da sociedade que estão a “ofender”. Tentam, durante 10 anos, sobreviver a esta transição e embarcam numa viagem épica que poderá custar-lhes a sua relação.

Mesmo com três horas que ameaçam não se coadunar com o conteúdo que encerra, Laurence Para Sempre é um exercício esteticamente deslumbrante – desde a saturação das cores à extravagância moderada dos planos – e um filme ponderado e profundamente compreensivo para com os seus protagonistas na sua observação universal sobre a passagem do tempo e a sua íntima relação com as mudanças pessoais e interpessoais que nos atravessam o quotidiano.

Exuberantemente romântico e ousadamente original, Laurence para Sempre é uma autêntica sinfonia de sons e imagens que se metamorfiza constantemente num relato épico de uma das mais poderosas e comoventes histórias de amor do Cinema moderno.




1. Mamã (2014)

Xavier Dolan
© Alambique

Se Como Matei a Minha Mãe foi um castigo alegórico para a sua mãe de Xavier Dolan, Mamã nasceu para, de certa forma, vingá-la.

Die é uma mãe solteira, viúva mas com muita garra, que dá por si com o fardo de ter a guarda exclusiva de Steve, o seu filho de 15 anos que sofre de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. Enquanto tenta sustentar ambos e lida com esta situação difícil, Kyla, a nova e peculiar vizinha da frente, oferece-se para a ajudar. Juntos encontram um novo sentido da vida, de equilíbrio e esperança.

Trágico mas luminoso, é um filme de surpreendente violência e dor profunda, pontuado por explosões de absoluta (e genuína) felicidade e que atesta na perfeição a maturidade de Dolan desde os seus primeiros filmes (de notar que aqui tinha apenas 25 anos).

Uma consequência justa. Uma reviravolta injusta. Um sorriso sincero. Um uivo de dor. Uma lembrança serena. Uma ferida em carne viva. Uma gargalhada dobrada. Um murro no estômago. Um abraço de esperança. Um choro de morte. E passando os dedos pelas cicatrizes, saímos dele ainda mais vivos.

Qual a obra de Dolan que preferes?

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