Homem-Aranha: Sem Volta a Casa, em análise
Os arranha-céus eram o limite e “Homem-Aranha: Sem Volta a Casa” levou a audiência às nuvens com impactantes performances do elenco, grandes acontecimentos comoventes, uma realização e um argumento originais e arrojados, para além de muito fan service.
“We did the right thing”
O vigésimo sétimo filme do Marvel Cinematic Universe (MCU) é o fecho de um círculo com o super-herói Spider-Man, e é também a melhor entrada do ano neste universo a nível de longa-metragens, e quem sabe até mesmo contando com as séries estreadas. “Homem-Aranha: Sem Volta a Casa” (no original, “Spider-Man: No Way Home”) é não só o culminar desta trilogia, mas é a resolução de mais de oito filmes todos juntos, no projeto mais ambicioso do MCU desde “Avengers: Infinity War” e “Avengers: Endgame”.
A expectativa para este Spider-Man estava elevadíssima e a nova entrada da saga figurava em todas as listas de filmes mais ansiados de 2021. Sem surpresa uma das perguntas que mais se ouve após o assistir é: “Correspondeu ao hype?”. Em “Sem Volta a Casa” houve gritos de entusiasmo, muito riso, bocas abertas, aplausos (aplausos mesmo sentidos!) e até choro.
Na sequela de “Spider-Man: Homecoming” (2017) e “Spider-Man: Far From Home” (2019) o terceiro filme acontece durante o último ano do ensino médio de Peter Parker e, como o presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, afirmou, apresenta “uma história de Peter Parker que nunca foi feita antes no cinema”. Se bem estão lembrados do final do segundo filme, “Far From Home”, foi revelado publicamente que Peter Parker é o Spider-Man, e a premissa desta nova história começa exatamente a partir daí.
Baseado nos trabalhos de Stan Lee e Steve Dikto, “Sem Volta a Casa” vê o regresso de Jon Watts na realização e de Chris McKenna e Erik Sommers no argumento. Temos Kevin Feige e Amy Pascal na produção, contado com as companhias produtoras da Columbia Pictures, Marvel Studios e da Pascal Pictures. A Sony Pictures/Big Picture ficou responsável pela distribuição. O compositor de “Homecoming” e “Far From Home”, Michael Giacchino, é outro dos retornos para a trilha sonora do filme. O cinematográfico Mauro Fiore, vencedor do Óscar em 2009 com “Avatar”, atuou como diretor de fotografia, trazendo uma maravilhosa combinação entre os elementos digitais e de fotografia.
“Sem Volta a Casa” explora o conceito do multiverso e liga o MCU aos filmes precedentes de Spider-Man, envolvendo vários atores da recente saga do super-herói, assim como atores anteriores de filmes do personagem, realizados por Sam Raimi e Marc Webb. Vemos assim o regresso da estrela Tom Holland como Peter Parker/Homem-Aranha, ao lado de Zendaya no papel de MJ, Jacob Batalon a voltar a interpretar Ned Leeds, Tony Revolori como Eugene “Flash” Thompson, J. K. Simmons como J. Jonah Jameson, Marisa Tomei no papel de May Parker e Jon Favreau como Happy Hogan. Dentro do MCU contamos também com as personagens de Dr. Stephen Strange e o Mestre em Artes Místicas, Wong, interpretados por Benedict Cumberbatch e Benedict Wong, respetivamente. E quem mais? Criou-se uma curiosidade gigantesca, que só foi crescendo com o tempo, quando surgiu a confirmação da presença de personagens tanto da trilogia “Spider-Man” de Raimi, como dos filmes “The Amazing Spider-Man”. Os trailers deram-nos pistas e indicações da presença de vários super-vilões e dessa forma contamos com as presenças de: Alfred Molina que regressa como Otto Octavius/Doctor Octopus, é o retorno de Willem Dafoe no papel de Norman Osborn/Green Goblin, Jamie Foxx repete a interpretação de Max Dillon/Electro, Rhys Ifans volta como Dr. Curt Connors/Lizard e temos ainda Thomas Haden Church como Flint Marko/Sandman.
O retorno de Tobey Maguire, Andrew Garfield e até mesmo a participação de Charlie Cox foi um assunto de intensa especulação, onde a Sony e a Marvel, apesar de vários supostos vazamentos, conseguiram manter dúbias as participações destes atores no filme. A confirmação, só mesmo assistindo ao filme.
“Homem-Aranha: Sem Volta a Casa” (2021) ©Big Picture Films
“Homem-Aranha: Sem Volta a Casa” estreou a 16 de Dezembro em Portugal como parte da Fase Quatro do MCU. Estabelecendo vários recordes de bilheteira (melhor pré-venda de ingressos no primeiro dia desde “Avengers: Endgame”) e arrecadando mais de US $600 milhões em todo o mundo, já se tornou no sexto filme de maior bilheteira de 2021. Um quarto filme já está em progresso, com a Disney e a Sony a “começar a desenvolver ativamente” a próxima história do Homem-Aranha, estando a pensar-se a construção de “algo diferente” e com uma mudança tonal.
Em resposta à crítica, o filme tem recebido análises positivas pelas performances e química do elenco, pelo argumento original, o peso emocional, a realização corajosa, as cenas de ação entusiasmantes, a impressionante cinematografia, uma trilha sonora envolvente e um excelente e equilibrado fan service. O Rotten Tomatoes relatou um índice de aprovação de 94%, enquanto no Metacritic o filme possui uma pontuação média ponderada de 72/100.
Com muita ansiedade, o novo filme do “Homem-Aranha” consegue entregar aquilo que prometia e corresponde a umas expectativas muito elevadas. No entanto, não quer isto dizer que todo o filme se desenrole de forma uniforme. Na realidade, “Sem Volta a Casa“ sofre de uma primeira parte leviana e quase cartoonizada, onde o uso excessivo de elementos cómicos tornam por vezes difícil levar a narrativa a sério. O desenvolvimento da segunda metade porém revela todo um projeto bem pensado, onde argumento e realização atingem o clímax de uma verdadeira teia de narrativas de diferentes personas e desafios do Spider-Man, revelando um profundo conhecimento do personagem. A captura dos valores de compaixão de Spider-Man, que o tornam mais benevolente que muitos outros super-heróis, assim como o destino trágico/cómico de Peter Parker é merecedora de todo o nosso espanto e aplauso.
A introdução dos elementos dos anteriores filmes de Raimi e Webb, assim como a fusão de magia com ciência e o mergulho no Multiverso foram ambiciosas ideias, mas que funcionaram de forma espantosa e trouxeram algo inédito. Apesar de poder ser feita a comparação com “Spider-Man: Into the Spider-Verse” (2018), em “Sem Volta a Casa” conseguiu-se atingir a grandiosidade de eventos ao nível dos “Avengers”, mantendo o pequeno espectro de ação típico de Spider-Man.
A competição entre qual o melhor Homem-Aranha entre Holland, Maguire ou Garfield também é aqui resolvida, ao se mostrar que todos eles são espetaculares, todos eles são surpreendentes e que ao juntarmos os seus três universos, obtemos três faces de um perfeito diamante. Outro destaque é a dinâmica do trio de Holland, Zendaya e Batalon, que revela extraordinários laços entre o elenco e entre as personagens, realçando que o Spider-Man de Holland é muito mais forte graças aos amigos que o rodeiam.
A temática do Multiverso no MCU é um importante enredo que tem sido introduzido desde a série “WandaVision”, passando por “Loki”, pela antologia animada “What If…”, com uma paragem em “Sem Volta a Casa” e que tudo indica que será concluída no futuro filme de 2022, “Doctor Strange in the Multiverse of Madness”. As duas cenas pós-créditos são importantes no estabelecimento do futuro tanto de Spider-Man, como do Multiverso e da ligação a Doctor Strange e até mesmo ao Universo Marvel da Sony através de Venom, fazendo-se uma ligação ao recente filme de “Venom: Let There Be Carnage”.
O peso emocional já referido é um dos grandes pontos positivos do filme, sendo que vivemos um verdadeiro carrossel de emoções desde o riso, à surpresa, à adrenalina e à tristeza. Spider-Man é um dos heróis que leva a vida de forma mais cómica, apesar da sua vida ser marcada de eventos tão trágicos, e de cada Parker perceber bem o significado da perda. A tragédia muitas vezes leva à amargura, à raiva e à escuridão, e todos estes elementos são explorados, mais uma vez encaixando a narrativa naquilo que expressa a essência do personagem, que é uma benevolência extrema contra todas as dificuldades e todas as dúvidas.
Tirando tudo isto, existiram algumas incoerências ou enredos menos explorados que mancharam ou distraíram um pouco da linha principal do filme. Desde plot holes mais pequenos, como caso de: como é que Peter no final saiu da Estátua da Liberdade, sendo que não é possível viajar com teias? Até à questão de não dever ser possível destruir o capacete do Green Goblin com uma pedra, e chegando ao mais questionável fato da ineficácia ou falta de envolvimento das empresas Stark (e do vasto exército de advogados à sua disposição) para resgatar Peter e Happy de todos os problemas judiciais. Por fim, o contraste entre a personalidade de Peter Parker e Stephen Strange foi demasiado vincado, quase que tornando o último numa espécie de vilão. A atitude arrogante e estóica de Strange foi hiperbolizada a uma frieza vilã, reagindo de forma impetuosa aos eventos que escalaram de forma inexplicável.
“Homem-Aranha: Sem Volta a Casa” é o ápice da trilogia do herói aracnídeo no MCU, acompanhando o crescimento de Peter Parker de criança a adolescente e com uma evolução sólida no destino do super-herói Spider-Man. No final encerram-se círculos, mas também se abrem as portas para vários futuros entusiasmantes.
TRAILER | O FUTURO DO MULTIVERSO ESTÁ NAS MÃOS DO HOMEM-ARANHA!
Qual é para ti o melhor filme da trilogia? E qual a melhor saga de Homem-Aranha?
Homem-Aranha: Sem Volta a Casa, em análise
Movie title: Homem-Aranha: Sem Volta a Casa
Movie description: Peter Parker é Spider-Man. Um herói ou uma verdadeira ameaça? Independentemente da verdade a revelação da sua identidade trará conflito e perigo para a vida de Peter e para todos os que o rodeiam. Conseguirá o Doutor Estranho restaurar o seu segredo de Peter com um feitiço? Ou levará esta solução ao maior desafio de Spider-Man, estando em jogo não só o futuro, mas todo o Multiverso?
Date published: 16 de December de 2021
Country: EUA
Duration: 148
Director(s): Jon Watts
Actor(s): Tom Holland, Zendaya, Jacob Batalon , Marisa Tomei , Jon Favreau , Benedict Cumberbatch
Genre: Ação, Aventura, Fantasia
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Emanuel Candeias - 87
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Manuel São Bento - 90
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Maggie Silva - 81
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Cláudio Alves - 30
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Marta Kong Nunes - 80
CONCLUSÃO
“Homem-Aranha: Sem Volta a Casa” é o filme de super-heróis do ano, correspondendo à maioria das expectativas dos fãs. A mistura entre o Multiverso, Doctor Strange e várias sagas diferentes de Spider-Man é uma fórmula de sucesso e resulta num evento grandioso à escala de “Avengers”. Numa só palavra: imperdível!
Pros
- Performances e química do elenco
- Argumento original e realização corajosa
- Peso emocional
- Cenas de ação, cinematografia e trilha sonora envolvente
- Fan service
Cons
- Primeira metade demasiado leviana
- Plot holes ou enredos pouco aprofundados
- Feitiço escalou em demasia sem explicação suficiente
- Contraste hiperbolizado entre Strange e Peter
- Terá Ned realmente uma habilidade que será explorada ou as suas ações não passaram de um desenrasque na narrativa?
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