O ator italiano Stefano Accorsi em "Capitães de Abril" (2000), de Maria de Medeiros © Alia Film

As inesquecíveis músicas que marcaram o 25 de Abril

Em plena Ditadura, era preciso um código para fugir aos ouvidos da censura. Estas músicas foram cruciais no antes e no após Revolução dos Cravos. 

Durante quase 40 anos Portugal viveu sob um regime opressivo, onde as famílias lutavam para sobreviver e a cultura era escassa. Foram momentos de apertos e de muita censura que marcou para sempre quem viveu e quem ouviu as histórias, da PIDE à Guerra do Ultramar.

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No entanto no dia 25 de Abril de 1974, Portugal entrava numa nova página da sua história, uma página mais solta, mais livre, era o fim da Ditadura que começou em 1933. O Movimento das Forças Armadas, deu início ao Golpe de Estado que iria derrubar a Ditadura de António Oliveira Salazar, e que ficou conhecida como a Revolução dos Cravos.

Para fugir à apertada censura que se fazia sentir nesses negros dias, a música foi a chave para dar início às movimentações – às 22h55 do dia 24 de Abril de 1974, E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, foi a primeira senha para o início das movimentações do Movimento das Forças Armadas. Poucas horas depois, quando passavam 25 minutos da meia-noite do dia 25 de Abril de 1974, “Grândola, vila morena”, a segunda senha da revolução, foi anunciada por Leite de Vasconcelos, no programa “Limite” da Rádio Renascença, confirmando que a revolução seria naquele dia.

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Por vários quartéis, estavam à escuta os militares prontos a mobilizar forças para tomar pontos estratégicos, especialmente na capital. Mais do que nunca, celebra-se a Liberdade. Nos 50 anos da revolução recordamos as músicas mais importantes no antes e no após Revolução dos Cravos

E DEPOIS DO ADEUS” – PAULO DE CARVALHO

Paulo de Carvalho, em entrevista à Câmara Municipal de Lisboa, falou sobre a criação da música e do que a mesma se tratava – “A cantiga nasceu com o José Niza, autor da letra, e o José Calvário, autor da música, para concorrerem ao festival da canção. Entrelinhas tentava-se dar alguns recados às pessoas daí o ´quis saber quem sou, o que faço aqui`. Não era direta, tinha alguns recados, mas era essencialmente uma canção de amor. A letra tem coisas muito bonitas que pouca gente sabe”.

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Como mencionado acima, a música foi fundamental para a preparação da revolução mas a própria canção surgiu no meio de um dos pontos mais sensíveis da ditadura. A letra da música é uma canção de amor de José Niza a partir de cartas enviadas à mulher em plena guerra colonial, quando estava no mato de Angola. No mesmo ano Paulo de Carvalho venceu o Festival da Canção de 1974 com “E Depois do Adeus”, e este ano voltou a subir a palco para cantar uma vez mais este símbolo da liberdade.




GRÂNDOLA, VILA MORENA” – ZECA AFONSO

A eterna música do 25 de Abril, do eterno Zeca Afonso. “Grândola, Vila Morena” também é conhecida como a canção que a Censura deixou escapar. Cerca de um mês antes da revolução, no dia 29 de Março de 1974, o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, juntou vários cantores de intervenção para um concerto memorável.

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A censura dificultou várias composições mas não entendeu a enorme carga simbólica que o tema de Zeca Afonso tinha. No entanto a música já existe desde 1971, no álbum “Cantigas do Maio”. O tema é em homenagem a uma sociedade musical da vila alentejana com o mesmo nome. Mas foi José Mário Branco que lhe deu a força mobilizadora de um canto coletivo intemporal como é hoje conhecido.




SOMOS LIVRES” – ERMLINDA DUARTE

O pós-revolução também foi muito importante para a história de Portugal. Escrita e interpretada por Ermelinda Duarte e produzida por José Cid, ficou imortalizada como uma das canções da revolução. A música destaca-se pela sua simples letra mas com um significado bastante profundo.




O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO” – LUIS CILIA

Da autoria de Sergio Ortega Alvarado e os Quilapayún antes do golpe de estado fascista chileno (patrocinado pelos Estados Unidos) que depôs Salvador Allende, em 1973, “El Pueblo Unido Jamás Será Vencido” tornou-se um dos hinos da resistência chilena e da esquerda internacional.

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Em 1974 a banda chilena, na altura exilada em França, acompanhou Luís Cília, que também vivera em França durante a ditadura salazarista, nesta versão portuguesa da canção.




LIBERDADE” – SÉRGIO GODINHO

“A paz, o pão, habitação, saúde e educação” – palavras de Sérgio Godinho de há 50 anos atrás mas que ainda se hoje mantém demasiado presentes. O primeiro disco de Sérgio Godinho surgiu mesmo no meio deste momento histórico de Portugal ficou para sempre ligado à intervenção.

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TOURADA” – FERNANDO TORDO

Por muito que a Censura tentasse, a voz do povo e dos artistas é impossível de calar. Ainda é um mistério como “A Tourada” passou o Lápis Azul, visto que Ary dos Santos expôs o Portugal da Ditadura – os seus tipos sociais, as suas hipocrisias e as suas contradições. A canção era no final uma metáfora da decadência de um regime e uma crítica direta e severa ao governo de Marcelo Caetano.

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Com excertos como ‘Toureamos ombro a ombro as feras’ ou ‘Com bandarilhas de esperança, afugentamos a fera’, a música venceu o Festival da Canção e fez ecoar a força entre o povo.




OS VAMPIROS” – ZECA AFONSO

“Grândola, Vila Morena” não foi a única grande música revolucionária de Zeca Afonso. Neste tema o músico denuncia os abusos e repressão do estado sobre o povo português. Numa única frase é possível resumir tudo o que se fazia sentir – “eles comem tudo mas não deixam nada”.




DESFOLHADA” – SIMONE DE OLIVEIRA

O Festival da Canção foi sempre um grande palco para a cultura portuguesa, que muitas vezes deu a volta à censura da Ditadura. Com letra do eterno José Carlos Ary dos Santos, a música compara o amor de que resulta a concepção de uma criança com o seu amor patriótico. Um tema com várias mensagens subentendidas.

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Para ti, qual é a música mais importante da revolução do 25 de Abril?


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