A Diplomata, primeira temporada em análise
Keri Russell regressa em grande ao mundo das séries em “A Diplomata”, um thriller político que já é um dos grandes sucessos da Netflix em 2023.
No meio de uma crise internacional, a diplomata Kate Wyler (Keri Russell) prepara-se para assumir funções no Afeganistão, mas o destino troca-lhe as voltas quando é incumbida de ser a nova embaixadora dos Estados Unidos no Reino Unido. Kate é ótima em zonas de conflito. Mas, em casas históricas, nem tanto… A guerra é iminente nos dois continentes. A missão de Wyler é evitar crises internacionais, fazer alianças estratégicas em Londres e aprender a estar no centro das atenções, tudo isso enquanto tenta sobreviver ao casamento com Hal Wyler (Rufus Sewell), um político ambicioso.
É esta a premissa de “A Diplomata”, o novo thriller político da Netflix que foi criado pela veterana Deborah Cahn, envolvida em séries de enorme prestígio como “Os Homens do Presidente”, “Homeland” ou “Fosse/Verdon”. A série que se tornou mais uma história de sucesso para a gigante do streaming é um drama envolvente com bastantes trunfos, mas é impossível não começar por falar do maior deles todos, o casamento perfeito entre a protagonista e a sua intérprete.
Keri Russell é “A Diplomata” na nova série da Netflix| Cr. Alex Bailey/Netflix © 2023
Kate Wyler surge na trama como um peixe fora de água, já que na mesma medida em que é uma diplomata talentosa e devota à sua profissão, Wyler não sabe lidar com os holofotes que a nova posição exige. Trata-se de alguém que quer apenas cumprir a sua função e lutar por um mundo melhor, não estando preparada para todos os jogos políticos e atenção indesejada. Wyler tem também uma postura muito indomável quanto ao protocolo e a etiqueta conservadoramente machista que lhe é imposta. Dá que pensar que o primeiro evento na agenda de uma nova diplomata seja uma sessão fotográfica e uma capa de revista.
É esse espírito rebelde e inconformado que surge lindamente espelhado na prestação de Keri Russell. A vencedora do Globo de Ouro é a âncora na qual esta série segura-se. O seu carisma inigualável e a sua vasta amplitude dramática são ferramentas essenciais para estabelecer a tão necessária conexão entre protagonista e espetador. A atriz triunfa também nos momentos mais cómicos da personagem, salvando sempre essas cenas de soarem um pouco exageradas ou falsas.
Nem sempre este tipo de séries conseguem o equilíbrio saudável entre a trama política e a vida pessoal, mas “A Diplomata” encontra o ideal platónico, ao apostar numa dinâmica diferenciada entre marido e mulher. Se Kate é uma diplomata que não sabe lidar com os holofotes, Hal Wyler é um político que já nasceu pronto para eles. No entanto, após criticar Miguel Ganon (Miguel Sandoval), o Secretário de Estado, e agir impulsivamente, o prestígio de Hal foi se desvanecendo, sendo visto agora como alguém tóxico no meio político.
“The Diplomat” e a complicada relação de Keri Russell e Rufus Sewell| Courtesy of Netflix © 2023
Agora, com os papéis invertidos, Hal tem de se habituar às mudanças e deixar a sua mulher brilhar, sem interferências nem esquemas, abrindo espaço para mais um comentário sobre os papéis de género na política e na sociedade. Rufus Sewell (“O Pai”) interpreta Hal como um homem que tem tanto de charmoso e persuasivo quanto de traiçoeiro e dúbio. Embora o casamento dos dois se encontre à beira de um precipício, o afeto e a química entre os dois é palpável e dá para entender porque é que, apesar de tantas complicações, o casal ainda está junto. Vale também destacar que a série não se inibe de mostrar a tensão sexual entre marido e mulher, com uma intensidade e bom gosto que é muito bem-vinda a este tipo de produções.
É também por causa deste conflito entre mulher competente e marido ambicioso que Kate Wyler se vê envolvida neste jogo político de interesses e incertezas, já que a ideia, ao enviar Kate para o Reino Unido, é testá-la e moldá-la para substituir a atual Vice-Presidente americana. Mas Kate, inicialmente, não sabe isso, tratando-se de uma conspiração que envolve o seu marido, Billie Appiah (Nana Mensah), a Chefe de gabinete da Casa Branca e Stuart Hayford (Ato Essandoh), o Subchefe da missão da embaixada americana em terreno britânico que é encarregue de perceber se Kate seria uma boa escolha.
Em solo britânico, a tensão ascende e a intervenção militar está mais perto do que nunca. A série usa este pano de fundo para examinar a tensão e debater a necessidade de um conflito armado, enquanto explora a relação interdependente entre os Estados Unidos e o Reino Unido, num mundo pós-Brexit.
A trama política é pautada por entusiasmantes demonstrações de poder e negociações de força, trazendo referências ao panorama sociopolítico atual, tal como a guerra na Ucrânia, que facilitam a imersão do espetador na história.
Nenhum destes temas é tratado de forma verdadeiramente visceral, o que não é exatamente um detrimento, já que isso nunca prejudica o envolvimento na história, mas pode ser um pouco frustrante para quem procura algo um pouco menos superficial.
Os diálogos da série são rápidos e palavrosos, marcados por um humor e um estilo um pouco crasso que não agrada a toda a gente mas que ajuda a compor muito bem os personagens, principalmente a nossa protagonista que se destaca pela forma frontal e sem filtros com que enfrenta as pessoas.
Vale destacar o ótimo elenco secundário, composto ainda por David Gyasi, Ali Ahn e Rory Kinnear, que chama a atenção pela eficiência nas suas funções narrativas e pelo coeso trabalho dos seus atores, já que todos os desempenhos são bastante competentes. Na pele de Austin Dennison, o Secretário dos Negócios Estrangeiros pelo Reino Unido, Gyasi é uma revelação, imprimindo um charme e uma firmeza ímpar no seu personagem que choca com o caos de Kate Wyler. A natureza ambígua da sua parceria torna-se um dos pontos chave da série, sendo que a ótima química dos atores abre espaço para muitas possibilidades. Ali Ahn é uma presença confiável no papel de Eidra Park, a chefe do departamento da CIA em Londres, e Rory Kinnear volta a interpretar um Primeiro-Ministro britânico, após a sua memorável participação no primeiro episódio de “Black Mirror”. O seu Nicol Trowbridge é uma bomba-relógio e o ator encaixa como uma luva no personagem e no ambiente em que se insere.
A série conta ainda com participação especial de Michael McKean, Celia Imrie e T’Nia Miller. No papel do Presidente Rayburn, McKean é um verdadeiro desperdício já que o veterano ator revela bastante potencial com o pouco que tem para fazer, já Celia Imrie diverte-se no papel da influente conservadora e estratega política Margaret Roylin. Mas é T’Nia Miller que rouba a cena ao encarnar Cecilia Dennison, a explosiva irmã de Austin que se irá colocar entre Kate e Hal. Miller surge tão misteriosa e cativante que é impossível desviar o olhar do ecrã.
Com uma narrativa empolgante e bem sustentada, “A Diplomata” entrega episódios com um ritmo acelerado que evitam exageros e mirabolâncias, mas nunca deixam de surpreender, usando a técnica do cliffhanger. Nem sempre a duração de cinquenta minutos é justificada, mas, raramente, a série aborrece já que os riscos e os perigos do que está em jogo são perfeitamente demonstrados. Trata-se de uma série que recupera uma fórmula clássica de fazer televisão e aplica-a ao novo mundo do streaming, aproveitando-se do menor número de episódios e do formato de maratona para ser uma série completa e viciante.
Nos últimos minutos do seu último episódio, a série apresenta uma sucessão de acontecimentos inesperada e chocante bastante corajosa para uma primeira temporada, que deixa tudo em aberto para a já confirmada segunda temporada.
TRAILER | KERI RUSSELL BRILHA EM A DIPLOMATA
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A Diplomata, primeira temporada em análise
Name: A Diplomata
Description: Em plena crise internacional, uma diplomata é incumbida de uma tarefa de alto nível para a qual não tem perfil, o que acaba por ter repercussões tremendas no seu casamento e no seu futuro político.
Author: André Sousa
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André Sousa - 90
CONCLUSÃO
Uma série que vicia e impressiona pelos seus diálogos afiados e elenco afinado, principalmente Keri Russell, uma protagonista de luxo. Os episódios são muito bem ritmados, recheados de surpresas e cliffhangers. A Netflix apresenta assim um thriller político que é uma grata revelação e uma boa opção para uma maratona.
Pros
- Keri Russell tem na sua Kate Wyler uma excelente protagonista;
- Uma intriga política envolvente e bem sustentada;
- Equílibrio saudável entre a trama política e a vida pessoal da protagonista;
- Ritmo acelerado e bem doseado com boas reviravoltas.
Cons
- A superficialidade como trata alguns temas pode incomodar;
- A duração dos episódios nem sempre se justifica.