Andy Serkis, o nosso camaleão favorito

Andy Serkis é provavelmente o ator que mais vezes passa despercebido no ecrã, porém, em Black Panther, podemos vê-lo como potencial vilão para o Universo Marvel.

Se já foste ver “Black Panther“, então de certo que reparaste no vilão humano (não em Killmonger), Ulysses Klaue. Klaue representa um dos poucos personagens que o ator Andy Serkis interpreta sem recorrer a um fato de performance capture. O personagem já nos tinha sido apresentado em “Vingadores: A Era de Ultron“, no entanto, a evolução e aproximação ao Universo Marvel são notáveis. Serkis, apesar de breve, também é sem sombra de dúvida notável em “Black Panther”.

Ulysses Klaus Black Panther

Desta forma, criámos este pequeno artigo para que possas conhecer melhor o ator que dá vida ao carismático e letal Ulysses Klaue, conhecido por na Marvel Comics por Klaw.

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Andrew Clement G. Serkis, conhecido simplesmente por Andy Serkis, nasceu a 20 de Abril de 1964, em Ruislip Manor, Londres. O seu gosto pelas artes visuais cresceu na Universidade de Lancaster, onde era, inicialmente, responsável pelos aspectos mecânicos do teatro, design de palco, e construções modelares para algumas peças.

O problema (que não é problema nenhum) é que Serkis é muitas vezes irreconhecível nos seus papéis, não por transformações físicas, mas por estar quase sempre num fato desenhado para captar os seus movimentos e micro-expressões. O que na verdade dificulta o seu trabalho, já que tem de ser bastante mais expressivo para poder fazer transparecer as suas emoções.

Será que reconheceste Andy Serkis em todas as suas prestações?

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GOLLUM –  TRILOGIA “O SENHOR DOS ANÉIS”

Andy Serkis Gollum

Provavelmente já viste imagens do ator que deu vida a Gollum na trilogia “O Senhor dos Anéis.” Mas sabias que a tecnologia inovadora (estávamos em 2000) foi criada de propósito para os filmes de Peter Jackson? Ou seja, Andy Serkis foi o primeiro ator a experimenta-la, e a criar uma personagem virtual completamente gerada por motion capture. Nos livros de J.R.R.Tolkien, Gollum era uma figura trágica, mas Serkis conseguiu contornar a situação trazendo à esquizofrénica personagem uma dimensão hipnotizante capaz de criar empatia.

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Antes do desenvolvimento desta tecnologia, os atores tinham de fabricar emoções perante um espaço branco. Esse espaço era depois preenchido pelo departamento de Animação, que colocava os elementos em falta, preenchendo também os movimentos e expressões, em vez de os recolherem da representação. Neste campo, Serkis e o seu  Gollum são inteiramente responsáveis pela indústria de motion captureperformance capture tal como a conhecemos hoje em dia.

Para imitar a interpretação de Serkis, a equipa técnica inventou uma nova tecnologia que apelidaram de combination sculpting, que permitia recolher as expressões faciais através de 964 pontos. Como era novidade, a nova tecnologia foi sendo cada vez mais aprimorada, permitindo a Serkis representar lado a lado com outros atores, como veremos na continuação deste artigo.




KONG – “KING KONG”

King Kong peter jackson

Depois de Senhor dos Anéis, Serkis chegou a pensar que era o final da linha, até Peter Jackson o convidar para participar no seu novo projecto. Este era nada mais nada menos que o reboot de “King Kong”, o sonho de infância do realizador, que agora podia tornar-se realidade graças à tecnologia de Gollum. Serkis ficou abismado quando soube que iria interpretar Kong, apercebendo-se que a nova tecnologia tanto o permitiria dar vida a um pequeno Hobbit, como a um gorila gigante de sete metros.

Claramente, as proporções de Andy Serkis não foram tão fáceis de converter para Kong, como foram para Gollum. A Weta Digital, responsável pela tecnologia, aprimorou a mesma ao ponto de cobrir o ator com micro-receptores, que permitiam captar todos os seus movimentos do corpo e cara, convertendo-os para a criatura digital que conhecemos. Um dos maiores desafios para a Weta, para além desta conversão, foi a criação do pêlo de Kong, que teria de ser o mais real que possível. Para tal, foi desenvolvida uma técnica, agora conhecida por Barbershop, que permitiu colocar entre 30.000 a 40.000 tufos de pêlo só na cabeça do gorila, e, simultaneamente, dar a ilusão de movimento enquanto Kong andava.

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Serkis contracenou, em grande parte das cenas, directamente com Naomi Watts, que dava vida Ann Darrow, a paixão de Kong, como representado pela fotografia acima. O ator chegou mesmo a utilizar plataformas para ganhar as proporções do primata, para que Watts não ficasse a falar para um fundo verde ou azul. De seguida, era o trabalho da Weta pegar nos movimentos e interpretação de Serkis, ainda sem qualquer filtro, e incorporá-as no seu computorizado Kong.

Após “King Kong”, Serkis comentou que “[o filme] foi a epifania, pois apercebe-mo-nos que podíamos representar qualquer coisa. Depois, quando a evolução da tecnologia permitiu a captura de micro-expressões, tornando-se em performance capture, em vez de ser só motion, compreendi a ferramenta que representava para um ator do séc. XXI”.




CAESAR – TRILOGIA “O PLANETA DOS MACACOS”

Andy Serkis planeta dos macacos

Para Caesar, Andy Serkis modelou a sua interpretação à imagem do famoso chimpanzé, Oliver, que morreu em 2012. Já que ao contrário de King Kong, Caesar cresceu com humanos, portanto a sua inspiração teria de vir de uma origem parecida. “Oliver era conhecido por ser bípede, raramente se apoiava nas quatro patas. Sentava-se em cadeiras. As suas expressões eram muito parecidas com as nossas(…) Eu baseie Caesar em Oliver”, descreveu Serkis aquando a estreia de “O Planeta dos Macacos: A Origem”. No entanto, nem tudo era um mar de rosas, uma vez que como no primeiro filme Caesar era essencialmente uma cria, obrigou o ator a passar grande parte do tempo quase de joelhos. A sensação aliviou-se claro com a evolução da personagem.

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A trilogia permitiu ver a evolução de Caesar e consequentemente de Serkis. No primeiro filme, o primata é um personagem secundário (não menos importante), que à medida que avançamos na história, vai-se tornando no protagonista, até culminar no último capítulo, “Planeta dos Macacos: A Guerra“, onde os humanos são escassos. Nada disto teria sido possível, caso a tecnologia não se tivesse mantido paralela. O progresso do fato foi sem dúvida um factor decisivo, juntamente com a camera  instalada à frente da cara de Serkis, para garantir que o fio temporal das expressões faciais não era perdido. Esta tecnologia, da autoria da Weta Digital, permitiu ao ator e ao realizador, Matt Reeves, transportar por completo as filmagens para o exterior em “Planeta dos Macacos: A Revolta“. De modo que, a partir do segundo filme, Serkis já não era o único vestido a rigor no cenário (fotografia abaixo).

"Planeta dos Macacos: A Guerra"

Para o último filme da trilogia, a 20th Century Fox divulgou um pequeno clip, onde podemos ver Serkis a olhar directamente para a câmara, enquanto se transforma gradualmente em Caesar. O clip começa com o próprio ator no seu fato cinzento, capacete, e marcadores faciais, declarando a motivação de Caesar em “Planeta dos Macacos: A Guerra”. A mensagem termina com a frase “nem todos os heróis são humanos”, o que também pode remeter para a ausência de reconhecimento nos prémios de cinema para este tipo de performance.




CAPITÃO HADDOCK – “AS AVENTURAS DE TINTIN – O SEGREDO DO LICORNE”

"As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne"

Em “As Aventuras de Tintin – O Segredo do Licorne“, Andy Serkis volta a trabalhar com Peter Jackson, juntamente com Steven Spielberg. O projecto desta vez é um pouco diferente, mas a tecnologia e performance solicitada é bastante semelhante. A diferença maior será o facto de todo o elenco estar vestido à semelhança de Serkis, ou seja, utilizando a tecnologia de performance capture da Weta Digital. Sendo que o desafio maior para este projecto foi tentar dar à animação, performances o mais reais que possível.

Para garantir este resultado, a Weta utilizou a técnica de “Planeta dos Macacos: A Guerra” e “Avatar”, de forma a tentar captar o máximo do ator para a personagem digital. No entanto, também para “As Aventuras de Tintin – O Segredo do Licorne”, a tecnologia foi aprimorada. A captura do movimento passou a ser controlada simultaneamente com a da animação, ou seja, deixou de existir o “filtro intermediário”, o que permitiu à equipa técnica aproximar ainda mais o desempenho do ator à personagem computorizada.

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Este avanço fez com que o Capitão Haddock transparecesse mais de Andy Serkis. De acordo com o ator, o que realmente o apelava em Haddock era o facto de este ser muito explosivo. “De baixo de todo aquele sal, o seu coração está 100% no sítio certo. Se Haddock está zangado, ele está 100% zangado. Quando está furioso, dispara pela rua errada a 160 km por hora. Se chora, chora aos potes. É uma personagem muito pura, franca”, descreveu Serkis.




GOLLUM – “O HOBBIT: UMA VIAGEM INESPERADA”

"Hobbit - Uma Viagem Inesperada"

Em 2011, Andy Serkis revisitou a Terra Média, mas desta vez não foi apenas como Gollum. O ator foi convidado por Peter Jackson para participar enquanto realizador da segunda unidade, responsável pela filmagem das sequências de batalha em 3D. “O Hobbit: Uma Viagem Inesperada” não foi a primeira vez que Andy Serkis se sentou atrás da câmara, o ator já tinha realizado alguns videojogos, tais como “Heavenly Sword”, onde recorreu à tecnologia de performance capture. Esta faceta foi desenvolvida graças ao The Imaginarium, a empresa de performance capture criada por Serkis.

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Quando regressou à Nova Zelândia, a primeira cena que Jackson quis filmar foi o memorável encontro na caverna entre Gollum e Bilbo Baggins (Martin Freeman). A mítica cena das adivinhas. Graças aos avanços tecnológicos, da década que separa “Hobbit” de “O Senhor dos Anéis”, o Gollum que vemos neste filme é 60 anos mais novo. É uma criatura digital mais vivida e expressiva do que o seu antecedente. A maior diferença reside no facto de Serkis poder filmar no exterior juntamente com o restante elenco, ao invés de ser num pano verde (ainda que com outros atores) como acontecia em “O Senhor dos Anéis”.




SNOKE – “STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA” E “STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI”

Andy Serkis Snoke

Em “Star Wars: O Despertar da Força“, o Supremo Líder Snoke não era mais que um holograma. No entanto, para o episódio VIII o desafio era maior, já que Snoke ganhou uma presença física bastante constante. Para isso, o director criativo da Industrial Light & Magic, Ben Morris, teve de criar uma personagem computorizada muito real.

Morris e a sua equipa cobriram o corpo de Andy Serkis com os marcadores habituais, mas espalharam mais 50 câmaras de alta resolução da cabeça aos pés do ator (imagem abaixo). Esta técnica tinha como objectivo absorver os movimentos em tempo real de Serkis, e converte-los directamente para o seu clone digital. “Enquanto Andy representa, nós construímos automaticamente uma animação, desde o pormenor do lábio, até à quantidade de sorriso, passando pelo levantar da sobrancelha”, explica Morris.

Andy Serkis Snoke

Esta conversão poderia demorar cerca de 24 horas por imagem, de forma a garantir uma versão mais detalhada de Snoke. Para tal, a equipa de animadores monitorizava a versão rascunho de Snoke, em vez da performance de Serkis. Paralelamente, o departamento de efeitos responsável pelas criaturas, esculpia modelos pormenorizados de Snoke, que eram posteriormente digitalizados e sobrepostos aos movimentos de Serkis.

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A maior preocupação de Morris era que Snoke não parecesse real o suficiente. Rian Johnson, realizador de “Star Wars: Os Últimos Jedi“, queria ir sempre mais longe. De acordo com o director criativo, Johnson insistia em ter a câmara sempre mais e mais perto. “Com Snoke podemos olhar directamente para os seus olhos e sentir o terror – o que é exactamente o que se pretende que ele faça”, comenta Morris.

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