The Politician | © Netflix

The Politician, primeira temporada em análise

A primeira série de Ryan Murphy para a Netflix é uma superficial sátira política em contexto estudantil que navega à velocidade da determinação do seu protagonista mas cai num conjunto de arquétipos capazes de esvaziar a obra no momento desta afirmar uma personalidade própria ou original. “The Politician” estreia a 27 de Setembro.

Ryan Murphy. O produtor, autor e realizador nascido em Indiana em 1965 é hoje um dos nomes mais influentes no meio televisivo norte-americano. Desde 2003 vimo-lo associado a produções como “Nip/Tuck”, “Glee”, “American Horror Story”, “American Crime Story”, “Feud” ou “Pose” contribuindo para o crescimento sustentado do FX e para afirmação da tendência da série de antologia. Falar de Ryan Murphy é falar de um universo assiduamente habitado por Jessica Lange, Sarah Paulson, Evan Peters, Darren Criss ou Matt Bomer, que se movem entre projetos como se de um jogo das cadeiras para talentosos atores se tratasse; é falar de glamour, pompa e circunstância ao serviço da narrativa, design de produção ciclicamente capaz de hipnotizar o olhar.

The Politician © Netflix

Depois de anos ligado ao FX, hoje propriedade da Disney, Murphy assinou em 2018 um milionário contrato com a Netflix. A parceria terá como frutos “Hollywood” e “Ratched” mas tem para já em “The Politician” o filho primogénito.

A nova comédia política/ melodrama juvenil da plataforma de streaming visita os bastidores, as gestões de crise e os lóbis da campanha de um candidato que sabe desde os 7 anos que um dia será presidente dos EUA. Mas fá-lo na primeira campanha de todas: a corrida à presidência da associação de estudantes da escola de Saint Sebastian.

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No centro de toda a ação está Payton Hobart, interpretado por Ben Platt, o músico-ator vencedor de um Tony com “Dear Evan Hansen”, já recrutado também em conjunto com Beanie Feldstein (irmã de Jonah Hill) e Blake Jenner para uma longa que Richard Linklater pretende filmar durante os próximos 20 anos. E se há alguém ou algo que segura “The Politician”, é Ben Platt e a sua voz.

Adoptado por uma família abastada onde reina o privilégio, Payton é na sua essência uma Cinderela, constantemente marginalizado por dois gémeos insuportáveis, quais Anastasia e Drisella, filhos biológicos de Georgina (Gwyneth Platrow) e Keaton (Bob Balaban). No meio académico, Payton pensa, age e reage em todos os momentos como um político, apoiado pelo seu núcleo de confiança – James, McAfee e Alice, esta última a futura Primeira-Dama no guião meticuloso que Payton escreveu para o futuro que tem como certo.

The Politician © Netflix

Entre muitos contratempos e actualizações de sondagens, “The Politician” acompanha o competitivo embate entre os candidatos Payton e Astrid (Lucy Boynton), ganha sempre algo quando River (David Corenswet, uma espécie de jovem Henry Cavill) está em cena, tudo isto sem esquecer o fundamental subplot de Infinity Jackson (Zoey Deutch), uma rapariga doente – sempre vigiada de perto pela sua avó – que Payton e a sua equipa entendem ser a pessoa perfeita para sua vice-presidente, decisão que faz nascer um infinito de obstáculos.

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Desde o primeiro instante, “The Politician” assume o seu tom satírico e navega à velocidade da determinação do seu protagonista, mas acaba por cair num conjunto de arquétipos que esvaziam a série na hora desta afirmar uma personalidade própria e original. Em vários momentos, a nova série de Ryan Murphy parece um prólogo apressado, e talvez por isso o quinto episódio surja como uma autêntica lufada de ar fresco ao apostar em pleno dia de eleições no POV de um eleitor até aí desconhecido e desinteressado. Numa série porventura mais interessada na sua segunda temporada do que nesta primeira, faltam decisões corajosas ou criativas, e esse 5.º episódio é uma delas.

As cores vibrantes e a preocupação com a simetria dão ares de uma produção de Wes Anderson, mas o enredo em momento algum se equipara à coesão de “Crime Story” ou tão pouco cativa como as melhores temporadas de “Horror Story”. Infelizmente, avaliamos muitas vezes por comparação, e também nesse aspecto “The Politician” perde ao estrear nos últimos meses de 2019, quando ainda há bem pouco tempo “Sex Education” (fotografou muito melhor a vivência escolar) ou “The Act” caminharam em terrenos parecidos mas aparentando saber sempre melhor para onde e como queriam ir.

The Politician © Netflix

Como em muitas ocasiões, é uma questão de gestão de expectativas. Convém por isso preparar quem acha que pode encontrar Versace ou O.J. Simpson em “The Politician” que o mais provável é descobrirem semelhanças tonais com “Glee”. No entanto, é inegável a margem de evolução da série em futuras temporadas, com o conceito amplificado e uma subida no volume da maturidade em substituição deste quadro colorido e inocente.

Analisando o elenco, os 8 episódios fazem nascer ou confirmam Ben Platt como uma futura estrela, sendo o protagonista capaz de equilibrar uma elevada dose de carisma com a emoção ou humanismo que em vários momentos faltam à série. Fica depois a sensação que grande parte do elenco não foi devidamente rentabilizado – Lucy Boynton é disso o melhor exemplo, ficará para sempre a dúvida de como teria sido Barbra Streisand em vez de Jessica Lange (uma diva substituiu a outra) como avó de Infinity, e com o devido respeito Gwyneth Platrow parece fazer… de Gwyneth Paltrow.

Série bastante consciente da importância das aparências, “The Politician” aparenta ter potencial para mais. A segunda temporada mostrará se nos deixámos ou não enganar por esta manobra política.

TRAILER | “THE POLITICIAN”

Ansiosos pela primeira série de Ryan Murphy para a Netflix? O que esperas de “The Politician”?

The Politician - Temporada 1

Name: The Politician

Description: Payton Hobart sabe que um dia será presidente dos EUA. Mas primeiro precisa de vencer as eleições para a associação de estudantes da escola de Saint Sebastian.

  • Miguel Pontares - 69
69

CONCLUSÃO

O MELHOR – A voz de Ben Platt e o potencial da série com o conceito amplificado e uma subida no volume da maturidade em substituição deste quadro inicial, colorido e inocente, que soa a prólogo apressado.

O PIOR – No universo Ryan Murphy, “The Politician” está muito longe da coesão de “Crime Story” e tão pouco cativa como as melhores temporadas de “Horror Story”.

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