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Deep Water, em análise

“Deep Water” é o primeiro filme erótico da Disney desde “Color of Night” de 1994 – não contando, obviamente, com as obras trazidas de antemão de estúdios secundários comprados pela “casa do rato” – assim como o regresso de Adrian Lyne ao mundo do cinema 20 anos depois do seu último projeto (“Unfaithful”). Terão sido os vários adiamentos e consequente lançamento em streaming boas decisões?

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Quando o tópico de conversa cinéfila envolve thrillers eróticos, Adrian Lyne é um dos cineastas mais frequentemente abordados. “Atração Fatal”, Proposta Indecente ou o seu filme de 2002 mencionado acima são exemplos de uma carreira marcada por histórias e personagens definidas sexualmente, onde o erotismo é destaque narrativo com tremendo impacto. Com nomes como Ben Affleck (“O Último Duelo”) e Ana de Armas (“Knives Out: Todos São Suspeitos”) à mistura – ainda por cima, o seu namoro começou precisamente durante as filmagens de Deep Water – seria de se esperar uma obra extraordinariamente interessante e repleta com inúmeros momentos de elevada intensidade.

Infelizmente, a decisão de alocar Deep Water para streaming – Hulu na América, Prime Video no resto do Mundo – acaba por ser compreensível. As duas décadas de pausa por parte do conhecido realizador parecem ter feito o próprio perder as suas melhores qualidades, se bem que o maior problema do filme passa mesmo pelo argumento. Talvez por culpa de um marketing enganador ou por causa de uma equipa criativa que falhou na sua missão principal, mas para algo que era suposto ser um thriller erótico, peca exatamente pela falta de “thrills” e erotismo. Não chega a ser necessária uma mão inteira para contar os momentos verdadeiramente tensos, seja a nível sexual como em termos narrativos.

Lyne não consegue criar uma atmosfera extremamente cativante como já o conseguiu no passado, cedendo ao argumento preguiçoso, desinteressante e demasiado repetitivo. Zach Helm (Stranger than Fiction) e Sam Levinson (“Malcolm & Marie”) constroem duas personagens absolutamente desprezíveis sem qualquer atributo minimamente decente com que se pudesse descrever um humano. Enquanto Melinda (Armas) troca de amante com uma facilidade e velocidade chocante, Vic (Affleck) comete atos horríveis provenientes de ciúmes avassaladores. Ambos repetem as suas “vontades” durante todo o tempo de execução sem existir qualquer arco de personagem ou motivações claras.

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Nisto, ficam os espetadores a viver uma relação puramente tóxica no grande ecrã, sem nenhuma mensagem essencial para transmitir, segredos impactantes para desvendar, ou sequer algum momento narrativo genuinamente surpreendente. Deep Water é tão repetitivo na sua estrutura que chega a nem ser possível dividir a história pelos três atos tradicionais, visto que não aparenta existir uma evolução em crescendo para algum tipo de clímax. Affleck e Armas dão o seu melhor e entregam-se totalmente aos seus papéis, mas não chegam para elevar personagens vazias num enredo que se atrapalha constantemente na passagem de um ponto narrativo para o seguinte.

É verdade que já passaram oito anos desde “Em Parte Incerta”, mas não deixa de ser um exemplo algo recente de grande sucesso no género. Deep Water claramente tenta seguir algumas fórmulas que David Fincher utilizou, mas sai tudo complemente ao lado. As personagens secundárias aparecem e desaparecem de forma aleatória, sendo que, por exemplo, os supostos melhores amigos de Vic são esquecidos para a última meia hora, tal como uma potential relação sexual que acaba por não ser mais que um mero “tease”. Tirando um par de momentos realmente tensos com Affleck e os amantes da sua mulher, nem a banda sonora de Marco Beltrami (“Venom: Tempo de Carnificina”) serve para salvar tamanha desilusão.

DEEP WATER | DISPONÍVEL NA PRIME VIDEO A PARTIR DE DIA 18 DE MARÇO

Deep Water, em análise
Deep Water

Movie title: Deep Water

Movie description: Baseado no célebre romance da famosa escritora de mistérios Patricia Highsmith ("The Talented Mr. Ripley"), "Deep Water" leva os espetadores para dentro do casamento perfeito de Vic (Ben Affleck) e Melinda Van Allen (Ana de Armas) para descobrir os seus jogos mentais perigosos e o que acontece com as pessoas que são apanhadas nos mesmos.

Date published: 18 de March de 2022

Country: EUA/Canada

Duration: 115'

Director(s): Adrian Lyne

Actor(s): Ben Affleck, Ana de Armas, Tracy Letts, Lil Rel Howery, Dash Mihok, Finn Wittrock, Kristen Connolly, Jacob Elordi, Rachel Blanchard

Genre: Drama, Mistério, Thriller

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  • Manuel São Bento - 30
30

CONCLUSÃO

“Deep Water” vende-se como um thriller erótico, mas peca precisamente pela falta dos mesmos componentes. Adrian Lyne tenta um regresso ao cinema após vinte anos de pausa, mas o argumento de Zach Helm e Sam Levinson contém demasiados problemas. Os protagonistas não podiam ser pessoas mais horrendas numa relação inacreditavelmente tóxica frustrante de se ver, mas é a sua falta de desenvolvimento e a inexistência de um arco que tornam a narrativa repetitiva, previsível e desprovida de qualquer tipo de intensidade. A utilização confusa das personagens secundárias e o esquecimento de possíveis enredos laterais contribuem para um guião absolutamente desastroso, onde nem um terceiro ato é percetível. No fim, salvam-se Ben Affleck e Ana de Armas que (bem) tentam.

Pros

  • Prestações dedicadas de Ben Affleck e Ana de Armas.
  • Par de momentos mais tensos com a personagem de Affleck e os amantes da sua mulher.

Cons

  • Thriller erótico sem “thrills” e/ou erotismo.
  • Personagens desprezíveis, subdesenvolvidas, sem arco nem motivações compreensíveis.
  • Narrativa tão repetitiva que chega a levantar problemas lógicos.
  • Argumento confuso e atrapalhado ao ponto de esquecer enredos e personagens secundárias, terminado sem terceiro ato.
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