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Toda a Gente Gosta de Jeanne | Entrevista a Nuno Lopes

“Toda a Gente Gosta de Jeanne” é a mais recente comédia francesa a chegar aos cinemas nacionais e conta com Nuno Lopes no elenco principal.

Produzido por ‘Les Films du Worso’ em parceria com ‘O Som e a Fúria‘, “Toda a Gente Gosta de Jeanne é a primeira longa-metragem realizada por Céline Devaux. Após a sua exibição numa sessão especial da 61ª Semaine de la Critique de Cannes, esta comédia francesa chegou a Portugal em sequência da 23ª edição da Festa do Cinema Francês. Estreado a 10 de novembro nos cinemas nacionais, este é um filme imperdível que conta com Blanche Gardin, Laurent Lafitte, Maxence Tual e Nuno Lopes no elenco principal.

“Toda a Gente Gosta de Jeanne” acompanha uma bem sucedida empresária francesa que avança com a ideia de criar uma máquina para recolher o plástico dos oceanos. Mas quando a sua invenção dá para o torto, Jeanne afunda-se em dívidas e vê-se obrigada a ir a Lisboa vender o apartamento da falecida mãe. Ao chegar à capital lusa, a empresária reencontra um ex-colega de escola demasiado extrovertido, bem como Vítor, o seu ex-companheiro. Com o coração dividido entre os dois, a francesa vê-se ainda obrigada a lutar contra o luto e a difícil decisão de encerrar mais um capítulo da sua vida.

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Toda a gente gosta de Jeanne
© O Som e a Fúria

Nuno Lopes é o ator que dá vida a Vítor, o ex-parceiro de Jeanne, um honesto professor de música que vive em Portugal. Nascido em Lisboa, Nuno Lopes é já uma referência para o cinema português, tendo vencido diversos prémios internacionais da indústria. Conhecido pelo seu desempenho em filmes como “São Jorge“, um dos filme candidatos ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, e “Alice”, a presença do ator em produções internacionais é uma constante.

Perante a estreia desta hilariante comédia francesa, a Magazine.HD não quis perder a oportunidade de estar à conversa com Nuno Lopes para ficar a conhecer um pouco melhor a sua personagem em “Toda a Gente Gosta de Jeanne”. Continua a ler para ficares a saber mais sobre a relação do ator português com a indústria cinematográfica francesa, bem como os desafios associados e o seu amor pelas artes cénicas.

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MHD: Antes de mais nada, será que o Nuno nos podia apresentar a sua personagem neste novo filme?

Nuno Lopes: O Vítor é o ex-namorado da Jeanne, uma mulher que tinha uma ideia de carreira muito forte, queria ser uma espécie de salvadora da humanidade ao criar um aparelho gigante para limpar o plástico dos oceanos. E, de repente, todas essas expectativas caem por Terra, e ela torna-se numa pessoa, aos seus olhos, falhada. A Jeanne é obrigada a vir para Portugal, para Lisboa, onde reencontra o seu ex-namorado, um tipo profundamente e estupidamente honesto [risos] e, às vezes, não muito simpático. Por isso, o Vítor é muito descomplexado e tem o coração na boca e, portanto, muitas vezes, não querendo deixar de ser simpático, acaba por não ser lá muito simpático [risos]. 

MHD: Como é que surgiu a oportunidade de fazer este filme?

Nuno Lopes: A partir de uma diretora de casting, em França, que conhecia o meu trabalho e que que falou de mim à Céline. Penso que a Céline também já tinha visto um filme meu, e depois, através de O Som e a Fúria contactaram-me para eu ter uma conversa com a realizadora, para ver se ela queria fazer o filme comigo. E a partir dessa conversa, ela disse que queria trabalhar comigo e, portanto, foi assim!

MHD: O Nuno já tem muita história no cinema português, mas este filme é uma parceria luso francesa. Quais é que são os desafios de trabalhar para o cinema francês? 

Nuno Lopes: Existem muitas diferenças! A maior delas, monetária, como é normal. Normalmente, os filmes têm muito mais dinheiro. Basta dizer, por exemplo, que nos filmes franceses, eles dizem-me que a equipa é muito pequena e, normalmente, essa equipa pequena é o dobro da equipa que nós temos [risos]. Depois, há o facto de, por exemplo, teres três pessoas para o vestuário é diferente de teres só uma, não é? E, portanto, isso depois vai modificar a dinâmica da rodagem. Mas, basicamente, eu diria que a grande diferença é a quantidade de dinheiro que há, a quantidade de cinema que há, o facto de as pessoas terem mais poder de decisão que cá. Porque caso se seja convidado para um filme, se queres fazer cinema, tens que aceitar, porque cá só se fazem dez filmes por ano, e em França fazem-se cento e vinte. Portanto, tu podes escolher realmente quais são os filmes que queres fazer, e estou a falar não só dos atores, mas também da equipa. 

MHD: E houve desafios a nível da língua?

Nuno Lopes: Não! Este já é para aí o sexto ou sétimo filme que eu faço em França, portanto, não há um desafio direto, em especial neste filme. Existe sempre um desafio de representar noutra língua, porque as palavras não tem o mesmo peso. Se disser ‘merde’, em francês tem o mesmo peso que dizer frigorífico. Portanto, as palavras não têm peso, acima de tudo. A dificuldade é essa e é muito mais difícil decorar o texto. Isso é muito mais complicado, mas, fora isso, é o normal. 

Nuno Lopes
© Jéssica Rodrigues

MHD: Existe o Nuno do cinema, mas também existe o Nuno do teatro. Como é que o Nuno encara esta diferença que existe entre as duas artes? O Coração foge mais para qual dos lados? 

Nuno Lopes: Primeiro que tudo, eu tenho épocas! Neste momento, está a fugir mais para o cinema, mas tem a ver com com o que me desafia naquele momento. Não tenho uma resposta propriamente racional sobre o assunto… Às vezes sinto necessidade de controlo e de estar próximo do resultado final, o que existe no teatro, não é? Porque no teatro, é o ator quem controla a pausa daquele dia ou se quer falar mais alto ou mais baixo. No cinema é a montagem que faz isso… Mas ao mesmo tempo, há outras vezes em que sinto mais necessidade de fazer algo que deixe uma marca, o que se sente mais no cinema, não é? Eu posso mostrar o filme “Alice”, que fiz em 2004, mas não posso mostrar os atores que fiz há três anos em peças de teatro. Portanto, às vezes também sinto falta de sentir que deixei cá qualquer coisa, como uma espécie de filhos que ficam [risos]. 

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MHD: O facto de “Toda a Gente Gosta de Jeanne” ser um filme luso francês tem um peso para o cinema português?

Nuno Lopes: Eu espero que sim! Portugal é um paraíso para se filmar porque, para além de ser muito barato comparado com França e tudo mais, temos uma geografia totalmente diferente de 40km em 40km. Quer dizer, temos praia, temos Serra, temos frio e calor, deserto quase no Alentejo, zonas montanhosas mais acima… Portanto, a uma distância de duas horas de carro estás em sítios completamente diferentes, o que para os filmes é muito importante. E bom tempo! Não temos uma grande preocupação meteorológica! E, além disso, temos técnicos extraordinários e acho que isso é reconhecido em qualquer parte do mundo. Porque o facto de termos equipas pequenas forma técnicos que estão habituados à entreajuda, e se for preciso fazerem outra coisa ou ajudar alguém de outra equipa, estão lá e ajudam e fazem quase tudo sozinhos. E, portanto, quando de repente têm três pessoas para trabalhar com eles, sentem-se num paraíso, mas há técnicos extraordinários em Portugal! 

TRAILER | TODA A GENTE GOSTA DE JEANNE JÁ ESTREOU

Já tiveste a oportunidade de assistir a “Toda a Gente Gosta de Jeanne”?

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