'Fingernails'. ©Festival de San Sebastián

Festival de San Sebastián | ‘Fingernails’: Isto Vai Doer!

‘Fingernails’, o filme do realizador grego Christos Nikou, protagonizado por Jessie Buckley e Riz Ahmed é uma deliciosa comédia romântica (ou melhor uma sátira mordaz) que nos mostra como o amor verdadeiro e duradoiro pode ser traído por reviravoltas surreais, se nos deixarmo-nos levar pelas novas tecnologias e por técnicas de motivação pessoal, como metáforas das aplicações de encontros.

Protagonizado por Jessie Buckley (‘Women Talking’), Riz Ahmed (‘O Som do Silêncio‘) e Jeremy Allen White (‘O Bolo de Aniversário’), a estreia em inglês do grego Christos Nikou, um realizador muito interessante que tem sido geralmente assistente de outros cineastas, entre eles Richard Linklater; e que estreou recentemente o muito interessante, ’Fruto da Memória’ [Apples], filme de abertura da secção Orizzonti, do Festival de Veneza 2020, que não chegou ainda às salas, mas que está disponível na Filmin. Agora em ‘Fingernails’, o cineasta grego volta a mostrar suas habilidades como realizador, tecendo uma extraordinária alegoria sobre a nossa necessidade de ter certezas, a confiança na tecnologia e o preço que pagamos por ir também perdendo aos poucos com a vida moderna, a conexão com nossos (melhores) e mais primitivos instintos.

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Fingernails
‘Fingernails’. © Apple TV+




Situado num futuro estranho — ou talvez num presente ligeiramente alternativo ou imaginário, onde a tecnologia dos smartphones, as redes sociais ou as app de encontros, não têm qualquer influência no drama ou sequer aparecem no filme — Anna (Buckley) e o seu companheiro Ryan (Jeremy Allen White) conseguiram alcançaram o sonho de todo casal, da relação perfeita: possuem uma espécie de certificação, que lhes atesta um amor verdadeiro e duradoiro, uma espécie de match como nas aplicações de encontros.  Embora como já disse essas não aparecem no filme. O casal vive um vida confortável, embora um tanto mundana e rotineira, algo que deixa Anna inquieta, questionando mesmo o seu bem-sucedido teste de amor, feito colocando as unhas extraídas de cada um deles, numa máquina laboratorial de última geração. Ao mesmo tempo, Anna começa a trabalhar para esse Love Institute, dirigido por Duncan (Luke Wilson), uma instituição privada que, além de determinar o status de um casal por meio desse misterioso teste, treina-o para aprofundar esses laços amorosos.

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Fingernails
‘Fingernails’. © Apple TV+




É lá, que Anna vai trabalhar juntamente com o experiente monitor — e devastadoramente charmoso — Amir (Ahmed) para levar ou preparar casais em vários estágios de relacionamento, através de uma série de atividades lúdicas, de construção de amor, antes de se sujeitarem ao grande teste. À medida que os novos colegas trabalham para melhorar as conexões dos clientes, Anna começa a questionar-se se talvez Amir seja seu único amor verdadeiro e se pode mesmo confiar os seus sentimentos, a uma métrica mais confiável do que aquela que é determinada por uma máquina. Rodado em 35 mm esta estreia em língua inglesa, do realizador grego Christos Nikou é uma lufada de ar fresco — nesta competição que até agora tem sido algo sombria — no contexto das comédias românticas inteligentes, graças à sua estética hábil e objetividade que se combinam para criar um alerta inabalável, sobre o que pode acontecer se nos deixar-nos levar pela tecnologia e perdermos a nossa intuição, liberdade de escolha e risco. Atenção também à excelente banda sonora de originais e standards composta e escolhida por Christopher Stracey. Este filme estreado mundialmente há poucos dias no Festival de Toronto foi comprado entretanto pela Apple TV+.

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JVM, em San Sebastián

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