Que filmes podiam originar boas séries?
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Pode fazer sentido recuperar conceitos que desperdiçaram enorme potencial e ampliar universos. Séries como Westworld, Fargo, Hannibal e Bates Motel são a prova viva disso.
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A falta de ideias originais e revolucionárias tem levado o meio televisivo a adaptar vários filmes ao pequeno ecrã. Nos últimos anos temos visto esta tendência crescer: a HBO reinventou Westworld, Noah Hawley tornou Fargo um êxito quando pegar em algo tão peculiar e difícil de replicar parecia um erro, sem esquecer Bates Motel, Hannibal ou Ash vs. Evil Dead. Algumas adaptações não têm sabido fazer jus ao passado (Snatch, 12 Monkeys) ou amplificar o conceito (Limitless). Mas a tendência será esta prática continuar. O criador de Mr. Robot, Sam Esmail, está a adaptar Metropolis, o clássico de 1927, e o autor de The Leftovers e Lost, Damon Lindelof, foi recentemente associado a uma adaptação dos Watchmen para a HBO.
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Diferentes motivos podem levar a que um filme possa resultar numa série de qualidade. Há histórias que se contam numa hora e meia, e outras que merecem várias temporadas, e encontrar o formato indicado pode ser a linha que separa a aclamação da banalidade. Depois, há filmes que hoje teriam outros meios e outra produção ao seu dispor; há universos de personagens que podem ser amplificados; e conceitos cheios de potencial que foram mal executados. E muito pode mudar com um POV ou formatos diferentes.
Se7en
Porquê? O filme de 1995 de David Fincher é excelente. No entanto, preservando as suas linhas gerais podia resultar numa série épica. É certo que a primeira temporada de True Detective já nos mostrou aquilo que seria uma boa adaptação televisiva de Se7en, mas ao brincar um pouco com o formato uma HBO ou Netflix poderiam encontrar um novo tesouro.
Há duas hipóteses apelativas. Uma mini-série de sete episódios em que cada episódio explora um dos pecados mortais e respetivo crime, mantendo uma dupla de detetives regular ao longo da série. Ou uma antologia em que o elenco se renove todos os episódios – dividir os sete pecados mortais por sete criminosos diferentes.
The Big Lebowski
Porquê? Fazer uma série a partir de Fargo parecia à primeira vista ter tudo para correr mal. Mas Noah Hawley é um génio, inteligente e com bom gosto. Fargo manteve o tom do filme e ofereceu-nos três temporadas com algumas das melhores personagens dos últimos anos na TV.
Há outro filme dos irmãos Coen que tem tanto de excêntrico, invulgar e irreplicável como Fargo. Talvez até mais. The Big Lebowski já tem Going Places (spin-off focado na personagem de John Turturro, Jesus Quintana) em pós-produção, mas nem isso retira potencial a uma adaptação televisiva. Difícil não pensar em entregar o desafio a Hawley…
What We Do in the Shadows
Porquê? O conceito da comédia What We Do in the Shadows é simples mas hilariante. Uma equipa de documentaristas segue durante meses um grupo de vampiros neozelandeses que partilham um apartamento. Taika Waititi e Jemaine Clement já estão a desenvolver uma sequela, We’re Wolves, mas quando pensamos nas personagens, no conceito e no humor do filme de 2014, há claramente margem para gerar uma boa série de 30 minutos por episódio. Neste caso, com todos os atores originais.
In Time
Porquê? Brilhante conceito, fraca execução. A distopia distribuída pela 20th Century Fox em 2011, com Justin Timberlake e Amanda Seyfried, tem um mundo que merece ser explorado como série. Há muito potencial na ideia de uma sociedade em que as pessoas param de envelhecer aos 25 anos, tendo a partir daí um prazo de vida de um ano. Com o tempo como moeda corrente, In Time mostrou-nos uma classe que tinha que trabalhar diariamente para não morrer, e o pólo oposto com séculos de vida acumulados.
A ideia de Andrew Nicol, entregue à produtora e ao autor certos, podia facilmente originar uma série com o pedigree de Westworld. Escusado será dizer que os atores seriam outros.
Star Wars: Obi Wan
Porquê? A Disney tem muitos anos pela frente com recordes de bilheteira graças a Star Wars. Os fãs reagiram bem à nova trilogia, já tiveram Rogue One e em breve terão também uma viagem ao passado de Han Solo.
Há duas opiniões mais ou menos unânimes: a primeira, a de que a Disney deve focar-se sim em oferecer novas histórias e novas personagens; e a segunda, que Obi-Wan Kenobi e Boba Fett são provavelmente as duas únicas personagens do “Velho Testamento” que ainda têm algo para contar. No entanto, o intervalo de aventuras de Obi-Wan do episódio III até ao IV podia ser a oportunidade perfeita para Star Wars apostar no formato televisivo. E sim, com Ewan McGregor.
Almost Famous
Porquê? Almost Famous é um dos melhores filmes sobre música que o Cinema já nos deu. E não faz sentido adaptá-lo a série. Faria sentido sim, num conceito ousado e caro, desafiar Cameron Crowe a desenvolver antologias, cada qual dedicada aos primeiros anos da carreira de bandas que se tornaram lendárias.
O projeto podia conservar o nome – Almost Famous – e teria que fazer o que séries como Vinyl ou Roadies não foram capazes. Mas os anos de estrada de Crowe, as suas boas relações com vários músicos e um mecenas disposto a subsidiar uma ideia dispendiosa que implicaria direitos de autor e muitas sinergias, podiam ter como produto final uma viagem no tempo até aos primórdios dos Pearl Jam, Nirvana ou The Cure.
Eternal Sunshine of the Spotless Mind
Porquê? Das 24 opções apresentadas, esta é uma das que que mais dificilmente faria sentido ter luz verde. Eternal Sunshine of the Spotless Mind é um filme perfeito. Intocável.
No entanto, com as pessoas certas envolvidas (guionistas, produtores, realizadores, atores) há qualquer coisa que leva a crer que o 1% de probabilidade de funcionar significaria tratar-se automaticamente de uma das melhores séries de sempre. A história de Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet) está mais do que fechada, e foi rematada com sensibilidade e genialidade. Mas é tentador visitar e amplificar um universo em que as pessoas podem recorrer a tratamentos para apagar alguém da memória. Foco nas relações humanas, 1% de probabilidade de não ser um erro, e Charlie Kaufman teria eventualmente que fazer parte.
Oslo, August 31st
Porquê? O filme do norueguês Joachim Trier, pesado e visto por menos pessoas do que devia, é o exemplo de uma produção nórdica que podia ter outro impacto como série.
Oslo, August 31st acompanha um dia na vida de um drogado em recuperação. Para funcionar como série, a melhor abordagem seria possivelmente cada episódio ter um protagonista diferente. Com o tema geral da difícil adaptação, das segundas oportunidades e do preconceito da sociedade para com quem já errou. Poucas vezes se vê essa luta no pequeno ecrã.
The Conjuring
Porquê? Ponto prévio: The Conjuring é um exemplo para a concorrência na arte de fazer terror. O que James Wan, Vera Farmiga e Patrick Wilson têm feito é bom.
Não obstante, e talvez com algum egoísmo, não resultaria ainda melhor pegar em toda a equipa e oferecer aos espectadores alguns episódios de longa duração por ano com os relatos do casal Warren?
Universo Stanley Kubrick
Porquê? Ok, se adaptar Eternal Sunshine of the Spotless Mind tem uma probabilidade de sucesso de 1%, neste caso a coisa é capaz de baixar para 0,5%.
Stanley Kubrick é, muito provavelmente, o melhor realizador que o Cinema já teve. Um visionário que nos deu Clockwork Orange, Shining, Dr. Strangelove, 2oo1, Full Metal Jacket, Barry Lyndon ou Eyes Wide Shut. Numa homenagem ao homem que vá-se lá saber porquê nunca ganhou um óscar de melhor realizador, uma super-produção capaz de misturar componentes dos vários filmes de Kubrick, respeitando a sua impressão digital (percebem agora o 0,5%?) podia ser incrível. Mas também podia ser um fiasco penoso de assistir.
É inevitável pensar-se que realizadores com vozes tão distintas como Quentin Tarantino ou Wes Anderson podiam ter a soma dos seus filmes a resultar numa boa série. Em relação a Kubrick, há algo difícil de explicar que parece estar por concluir. Juntem os génios todos numa sala, e igualem o maior deles.
1984
Porquê? A obra escrita por George Orwell e publicada em 1949 deu um filme. Mas trata-se de um caso em que a sua pertinência atual e os meios de produção que hoje existem, quase obrigam a um remake como série.
Substitui-se John Hurt por um ator como Jack O’Connell (Skins), e numa altura em que Metropolis está a ser adaptado a série e Fahreneit 451 a um filme televisivo, este parece ser o momento mais do que perfeito e oportuno para 1984 tornar-se tudo o que sempre mereceu ser.
The Addams Family
Porquê? Explicação simples. Até porque neste caso há uma pequena batota. The Addams Family (1991) foi uma adaptação de um programa televisivo, portanto aquilo que aqui se sugere agora é o inverso.
O Showtime mostrou-nos com Penny Dreadful que tem mãos para oferecer a esta família aquilo que ela merece. Acompanhar agora a personagem de Christina Ricci, Wednesday Addams, como mãe da “sua” nova família, igualmente bizarra, gótica e sinistra, chegava para o projeto ser relevante e refrescante.
Darkman
Porquê? As séries da Marvel-Netflix e Legion têm-nos mostrado que, regra geral, o lugar mais adequado para os super-heróis é o meio televisivo.
Darkman, espécie de comic book movie de Sam Raimi, nasceu na geração errada. Em 1990 o conceito do filme não tinha os meios de produção à altura do que a história pedia. Seria interessante encontrar os novos Liam Neeson e Frances McDormand, e no capítulo de bandas desenhadas só não faz sentido sugerir uma série com Doctor Doom (Fantastic Four) como protagonista uma vez que Noah Hawley já está a escrever uma longa-metragem para a personagem.
Bicentennial Man
Porquê? Quando se fala de Isaac Asimov, um dos melhores escritores de ficção científica, há um mar de contos que podiam ser adaptados, um pouco como a Amazon já está a fazer com Philip K. Dick’s Electric Dreams e o FX com Cat’s Cradle de Kurt Vonnegut. Bicentennial Man merecia uma segunda vida. O bom desempenho de Robin Williams no filme original não chega para mascarar a muita coisa que há para melhorar. Mas o coração do filme está lá.
The Discovery
Porquê? Este está bem fresquinho. The Discovery é um filme deste ano, da Netflix, que desperdiça uma premissa excelente – uma sociedade em que a vida depois da morte foi cientificamente provada. Não é difícil fazer melhor e dá alguma pena ver um conceito com tanto potencial desperdiçado.
Shot Caller
Porquê? Há histórias que se contam em duas horas, e outras que se contam em dez. Shot Caller, outro filme de 2017, até nem faz muito sentido ser refeito. Mas é a prova de que o formato escolhido pode significar a diferença entre um filme banal e uma série genial. Shot Caller tem o elenco certo (Nicolaj Coster-Waldau, Jon Bernthal, Jeffrey Donovan, Emory Cohen, Lake Bell) mas precisava de tempo para que a transformação à la Night Of fosse mais sentida.
Spring Breakers
Porquê? Um dos primeiros filmes da A24. É amado por uns, odiado por outros. Há definitivamente algo de atraente no ambiente que é explorado, pedindo apenas afinações na narrativa.
Mud
Porquê? Na já intitulada McConaissance, Mud é um filme muitas vezes ignorado. O filme de Jeff Nichols é um daqueles casos de “está bem como está”, mas a representação do Arkansas e o final do filme deixam apetite para mais. Porém, é muito difícil pensar em Mud sem Matthew McConaughey.
Waterworld
Porquê? Waterworld não é um bom filme. Protagonizado por Kevin Costner, perde-se pelo meio. Mas embora signifique um extraordinário desafio de produção (Waterworld passa-se num mundo em que as calotes polares já derreteram e todo o planeta está coberto por água) tem também significativo potencial.
V for Vendetta
Porquê? É fácil gostar da longa-metragem cujo guião foi escrito pelos irmãos Wachowski. Mas será que é tudo aquilo que as bandas desenhadas de Alan Moore permitiam?
As BD’s da DC, ilustradas por David Lloyd, dividem-se em três volumes: Europe After the Reign, This Vicious Cabaret e The Land of Do-As-You-Please. Três volumes podiam gerar três temporadas. Ninguém diria não a experimentar ver o episódio-piloto, numa série que explorasse ainda mais as experiências e torturas nos campos de concentração e Valerie Page, mantendo o carácter enigmático e misterioso do anárquico V.
Seven Psychopaths
Porquê? Não há nada de errado em Seven Psychopaths, filme louco de Martin McDonagh. Muito pelo contrário. Podia ser a desculpa perfeita para McDonagh fazer a sua transição para o panorama televisivo: através do pós-Seven Psychopaths com a personagem de Colin Farrell, ou viajando até ao passado do fantástico Billy Bickle de Sam Rockwell.
Detachment
Porquê? Detachment presenteou-nos com um professor substituto capaz de impactar o nicho social em que se insere. Pode até nem fazer sentido fazer-se uma série agora que o filme já foi feito, mas talvez tivesse sido mais adequado a ideia ser desenvolvida de raíz como série.
The Beach
Porquê? Tal como Spring Breakers, o filme de Danny Boyle é um daqueles que divide opiniões. Naturalmente sem DiCaprio, mas com o autor do livro em que se baseia, Alex Garland (que entretanto ganhou o seu espaço como realizador com Ex Machina), como showrunner tinha tudo para convencer tudo e todos.
Garden State
Porquê? A estreia de Zach Braff na realização podia servir de inspiração para uma série que ampliasse o universo Garden State. Manter Braff, como produtor e responsável pela banda sonora, era um bom ponto de partida, numa série bastante diferente mas com referências visuais e narrativas ao original.
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