David Lynch | © Dmitry Rozhkov, Wikimedia

Governors Awards 2019 | Balanço da cerimónia do Óscar Honorário

Na entrega dos Óscares Honorários, os Governors Awards 2019, Lina Wertmuller deu um novo nome à estatueta e David Lynch disse muito pouco.

Geena Davis, Lina Wertmuller, David Lynch e Wes Studi. Foram estes os vencedores do Governors Awards 2019, ou melhor do Óscar Honorário, a primeira grande cerimónia na temporada de prémios 2019/2020. De facto, os Governors Awards apostaram (e muito bem) na diversidade na atribuição dos prémios este ano. Ao mesmo tempo, procuraram piscar os olhos aos Óscares 2020, com a presença de cineastas e atores cujos filmes estão a dar que falar, e que certamente contarão com nomeações para edição que acontece no próximo mês de fevereiro. Mas primeiro falemos dos nomes daqueles que foram homenageados.

Todos sabemos o quanto a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas menospreza as mulheres artistas, afinal foi preciso chegar a 2010, contava a Academia com mais de 80 anos, para uma mulher receber o Óscar de Melhor Realizador. Para virar a página, e derrubar demasiado Óscares machistas, nesta edição dos Governors Awards, foi finalmente entregue o Óscar Honorário à primeira mulher nomeada para o Óscar de Melhor Realizador, a italiana Lina Wertmüller.

Estavamos no ano de 1977, quando finalmente o nome de uma mulher soava entre o nome de 4 homens na corrida à categoria de direção. O filme foi “Pasqualino das Setes Beldades” (1975), protagonizado por Giancarlo Giannini. Par dar uma ideia do que isto significa na história dos Óscares, a realizadora Jane Campion, que homenageou Lina, explicou que a presença de mulheres nas nomeações ao Óscar de Melhor Realizador é muito curta: “Primeiro foi Lina, logo depois mais quatro nomeadas e logo ganhou Kathryn [Bigelow]”. Já está. Num total 5 nomeações para mulheres e 350 para homens.

Entre outras das mulheres presentes para celebrar com palavras o trabalho de Lina Wertmüller esteve Sophia Loren. A atriz de 85 anos, expoente máximo do cinema italiano e que também colaborou com a realizadora, disse que só estava presente por Lina, quem já não via há imenso tempo. Antes mesmo de subir ao palco Loren já recebia uma ovação de toda a plateia.

Sophia Loren homenageia Lina Wertmüller nos Governors Awards 2019

Também Greta Gerwig falou sobre Lina Wertmüller. A presença de Gerwig, a última mulher nomeada ao Óscar de Melhor Realizador pelo filme “Lady Bird” (2017) poderá ser uma forma de despertar a atenção mediática (e do público) para o seu próximo filme “Mulherzinhas”, uma nova adaptação do já antes vezes adaptado romance da escritora Louisa May Alcott (1832–1888). Depois foi a vez de Isabella Rossellini, responsável por traduzir o discurso de Lina Wertmüller do italiano para o inglês.

Ao terminar, Wertmüller pediu que mudassem o nome da estatueta, de Óscar para Ana, porque já basta de patriarcado.

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Lina Wertmüller nos Governors Awards 2019

E nada melhor que falar de Isabella Rossellini, que se tornou uma estrela de cinema graças ao filme “Veludo Azul” (1986). Na cadeira de realização desse filme estava David Lynch, e foi exatamente a atriz,  filha de Roberto Rossellini e Ingrid Bergman, a introduzir o prémio a Lynch, com quem esteve casada de 1986 a 1990. No palco, Rossellini contou como é que conheceu Lynch, numa situação um quanto caricata.

Conhecemo-nos num jantar com amigos em Nova Iorque e o primeiro que me disse foi: “Sabes, pareces filha da Ingrid Bergman”. Pergunta à qual um amigo lhe respondeu: “Idiota, é a filha de Ingrid Bergman.

Isabella Rossellini homenageia David Lynch nos Governors Awards 2019

Os outros dois protagonistas de “Veludo Azul” também estiveram presentes: Laura Dern e Kyle MacLachlan. Os três atores estiveram sobre o palco para entregar o único Óscar da carreira de David Lynch, um verdadeiro renascentista, que havia sido nomeado a quatro Óscares: Melhor Argumento Adaptado e Melhor Realizador por “O Homem Elefante” (1980), Melhor Realizador por “Veludo Azul” (1986) e Melhor Realizador por “Mulholland Dr.” (2001).

Pouco disse, ao que muitos estão a apelidar de um discurso ‘lynchiano’ (inesperado, abstrato e demasiado amplio). Isto porque o realizador disse: “Que tenham todos uma boa noite. Têm uma cara muito interessante”. O discurso, de menos de 1 minuto de David Lynch pode ser visto a seguir.

David Lynch nos Governors Awards 2019

Seguiu-se a vez de Geena Davis, a atriz popularmente conhecida pela sua participação em filmes como “Thelma & Louise” (1991) – que, aliás, lhe valeu uma nomeação ao Óscar de Melhor Atriz -, foi a única dos quatro galardoados a ter ganho um Óscar numa categoria competitiva. Passaram-se precisamente 30 anos desde que Davis levou o Óscar como Melhor Atriz Secundária no filme “O Turista Acidental” (Lawrence Kasdan, 1988). Desde aí, Davis não só tem participado num conjunto de obras cinematográficas, como também tem procurado chamar à atenção para as desigualdades na cultura do seu país.

Geena Davis recebeu o prémio humanitário entregue pelos Óscares, o designado Jean Hersholt Humanitarian Award, dedicando-o às pessoas que abriram caminho à diversidade na indústria. A própria artista já leva mais de duas décadas entregues a essa causa. O prémio foi-lhe entregue por Tom Hanks, que relembrou que era o único homem no filme “Liga de Mulheres” (Penny Marshall, 1992).

Tom Hanks homenageia Geena Davis nos Governors Awards 2019

Através do Instituto Geena Davis, dedicado à luta pela a igualdade salarial entre os homens e as mulheres na indústria de cinema, Davis estuda com detalhe a quantidade de mulheres que aparecem nos filmes, aquilo que fazem e o quanto falam.

A atriz partilhou com a audiência dados curiosos e interessantes, afirmando que 81% das personagens no grande ecrã são homens. A atriz não deixou de dizer as suas palavras com um pouco de sarcasmo e divertimento à mistura, numa sala onde se encontravam os maiores realizadores e produtores da indústria cinematográfica norte-americana.

Geena Davis nos Governors Awards 2019

Há ainda um nome na lista dos vencedores do Óscar Honorário: o ator Wes Studi. Poucos poderão conhecer o nome, mas a partir de agora Wes Studi é o único ator nativo americano a ter um Óscar. O ator de 72 anos, participou em filmes como “O Último dos Moicanos” (Michael Mann, 1992) ou “The Heat – Cidade Sob Pressão” (Michael Mann, 1995), nunca havia sido nomeado para uma estatueta dourada.

Finalmente é chegada a hora da sua carreira ser celebrada como o perfeito ator secundário nativo norte-americano. Tudo aquilo que o poderia colocar na lista dos atores esquecidos é precisamente o que o distingue dos restantes. Nesta que foi a 11ª edição dos Governors Awards (entregues desde 2009), a diversidade foi mesmo o centro de todas as atenções. Christian Bale, que contracenou com Wes Studi em “Hostis” (Scott Cooper, 2017), foi responsável por homenagear o trabalho do talentoso artista.

Christian Bale homenageia Wes Studi nos Governors Awards 2019

Wes Studi percebe aos nativos Cherokee, mas no grande ecrã interpretou um dezena de tribos como Pawnee ou Cheyenne, sempre falando nas línguas nativas. Como disse o próprio Christian Bale: “Quando pensamos nos nativos americanos no cinema, são os filmes e as interpretações de Wes Studi que recordamos”.

Wes Studi contou à audiência um pouco do seu percurso na indústria dos estúdios norte-americanos de cinema e como a sua caminhada o colocou naquele lugar, tornando-se o primeiro indígena nativo americano a receber um Óscar.

Wes Studi nos Governors Awards 2019

Mas não só destes maravilhosos artistas se fez uma gala, que começa a ser uma previsão para os Óscares, nem que seja pelo seu cardápio de convidados. Na realidade, o novo presidente da Academia David Rubin fez questão de salientá-lo. Mais do que celebração dos artistas, os Governors Awards são também o pontapé de partida para aqueles que estarão frente a frente na corrida à estatueta dourada no próximo mês de fevereiro.

Entre os presentes estiveram Quentin Tarantino e Leonardo Di Caprio (nomes de peso de “Era Uma Vez em… Hollywood), Eddie Murphy (“Dolemite Is My Name”), Pedro Almodóvar e Antonio Banderas (“Dor e Glória), o vencedor da Palma de Ouro, o sul coreano Bong Joon-ho (“Parasitas”) e uma lista de estrelas que poderão concorrer ao Óscar em 2020: Scarlett Johansson, Charlize Theron, Jordan Peele, Lupita Nyong’o, etc.

O que achaste da cerimónia dos Governors Awards? Quem gostarias que recebesse um dos Óscares honorários?

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