Loki, em análise
Loki é o primeiro vilão da Marvel Studios a ter a sua própria série e já recebeu luz verde para nova temporada. Mas será que acrescenta algo de novo à MCU?
Nota prévia: Apesar de já vir ‘fora de tempo’ em relação à estreia/término primeiro temporada, esta análise procura reflectir essencialmente na construção de “Loki” e no seu impacto no universo das histórias Marvel. Os spoilers são reduzidos como habitual.
Os filmes já tinham criado um universo coeso e imerso em ligações e easter eggs, mas o que não esperávamos é que também as novas séries da Marvel Studios nos pudessem trazer a mesma magia para os peuenos ecrãs. Se “WandaVision” foi um bom começo, e “Falcon and the Winter Soldier” manteu o interesse e as portas abertas para novas storylines de filmes e personagens, “Loki” é a confirmação que as séries vão começar a ser indissociáveis dos grandes filmes dos estúdios.
Sim, uma série não é a mesma coisa que um filme, e podemos começar logo pela questão da narrativa; um filme, ainda que agora já se estendam quase até às 3 horas por vezes, tem uma sensação de finito, uma sensação de fecho dentro da sua própria história. Por outro lado, uma série oferece sempre a sensação de uma nova criação e, acima de tudo, de uma possibilidade infinita de desenvolvimento de personagens, ligação emocional e até curiosidade acrescida – algo que a Marvel Studios e a Disney+ conseguiram muito pela estratégia de lançarem apenas um episódio de “Loki” por semana.
“Loki” apresenta-se como terceira série da MCU na plataforma de streaming da Disney+ mas com grandes expectativas – deveria suplantar as anteriores, mostrar que a nova aposta em formatos curtos seria para continuar e mostrar que um vilão da Marvel é tão bom protagonista como um super-herói. A nossa primeira conclusão? Sim, conseguiu! Se é para todos visível e fácil de chegar à mesma conclusão? Bem, talvez não. Mas tal não lhe tira o mérito da sua importância e do quão boa pode ser.
Apesar de ser uma história de um vilão a sair da sombra de um irmão super-herói, Loki é a estrela da série mas com um constante co-protagonista ao lado, a Time Variance Authority (TVA). Juntando-se já a um vasto leque de organizações super-secretas e que se encontram à margem da “sociedade normal”, a TVA é a grande responsável pelo tempo e o espaço, sendo talvez a grande força motora por detrás dos acontecimentos que temos vindo a presenciar nos filmes da MCU nos últimos anos. Ainda que demoremos a encontrar o seu real significado ao longo da série, é nela que Loki encontra o seu propósito maior, mais do que ser vilão ou enaltecer o seu alter ego de Deus da Mentira.
Mas é esta “dupla de protagonistas”, se assim a podemos caracterizar, que faz com que “Loki” seja uma série coesa do primeiro ao último episódio. Com uma linha narrativa criada de forma exímia pelos argumentistas, a série nunca avança um episódio sem nos dar pistas deste “submundo” ou deixar no ar questões pertinentes sobre as suas acções e o impacto nos vários multiversos – afinal de contas, desde cedo percebemos que a TVA é quem conhece todos os multiversos, algo que sempre roçou a teoria nos filmes e que só agora vai ser aprofundado.
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Para além disso, a Marvel Studios faz aqui o que os fãs mais queriam: aprofundar Loki. Desde “Thor” que esta é talvez a personagem anti-heroína mais adorada por todos os fãs, seja pelo talento enorme e brilhante casting de Tom Hiddleston (que continua imparável enquanto Loki), seja pela sua complexidade enquanto Deus da Mentira, e aqui não desiludiu. Em parte reforçamos que esse crescimento se deveu muito às novas personagens secundárias criadas, nomeadamente Mobius (Owen Wilson) e Sylvie (Sophia Di Martino) – apesar de já ter sido indiciada pelo seu percurso ao longo dos filmes Marvel.
Enquanto que Sylvie ajudou no desenvolvimento de Loki enquanto, bem, Loki e as crenças, Mobius foi quem realmente contribuiu para vermos a personagem central da história a desenvolver outro tipo de crenças e objectivos, elevando-o quase ao estatuto de herói e fazendo-o sair realmente da sombra de Thor. Com uma série que acompanhou uma personagem em constante crescimento, vimos que a Marvel deu a oportunidade a Loki de se descobrir a si mesmo, explorando alguns dos sentimentos mais complexos alguma vez abordados por uma personagem numa série/filme dos estúdios.
Mas fica a nota, há muitas ‘ilusões’ a que nos agarrar nesta série, ou não fosse ela liderada pelo Deus da Mentira. Através do seu mote de “glorious purpose”, e apesar das inúmeras versões suas espalhadas pelo universo, o Loki que conhecemos dos filmes da MCU continua a ser o melhor Asgardian, o Deus mais interessante e o ser mais cativante de se conhecer. Não temendo temas como fé, família, destino e a dualidade do bem e do mal, Tom Hiddleston agarra-nos sempre ao ecrã com os monólogos de Loki – alguns deles os melhores que nos relembramos de todos os filmes da Marvel.
No que diz respeito às novas caras da série Marvel/Disney+, notamos que nenhuma se destaca em particular para estar no patamar do ‘queremos saber mais’. Sylvie, a secundária com mais protagonismo, é de certo modo irritante, às vezes sem contexto, e muitas vezes disruptiva da narrativa que queremos acompanhar, levando a momentos que nos fazem pensar duas vezes se a série está a ir pelo caminho certo. Já a juíza misteriosa da TVA (Gugu Mbatha-Raw), não oferece muito em termos de presença a não ser que poderá ser a chave para o que realmente queremos saber – o que é a TVA?! Mas, posto isto, se há alguém que fica ligeiramente acima, e com todo o seu mérito, é Mobius (Wilson): afável, fácil de gostar e claramente com uma história que nos puxa, é ele que partilha alguns dos momentos de crescimento de Loki e sabemos que poderá ser o grande factor para vermos um Loki diferente.
Se no entanto acreditamos que a série é das melhores e mais interessantes em termos de premissa, fica-nos algo em falta com o último episódio. Para quem não conhece bem a história da banda desenhada “sabe a pouco” e torna-se até algo confuso (apesar de acreditarmos que as dúvidas se irão dissipar com os próximos filmes da MCU e até com a segunda temporada já confirmada). Essa falta de contexto, aliada à relação de Loki e Sylvie que nos pareceu pouco convincente, e até forçada, foram talvez os maiores pecados de “Loki”. São pequenos momentos que parecem fazer fugir toda a série pelo meio dos dedos mas que estamos confiantes que não foram feitos ao acaso; há muito para tirar de “Loki” e ele é verdadeiramente o o ponto de partida para o futuro.
“Loki” é uma série de topo, e em muito nos leva para a magia do cinema – com uma cinematografia de ambiente pesado e misterioso, mas que tão bem se enquadra na temática e na personagem, a série não parece fora de contexto e traz uma nova visão ao mundo Marvel. Não é por certo a série da MCU mais fácil de ver (comparando às anteriores “WandaVision” e “Falcon and the Winter Soldier”), mas é certamente uma das mais importantes e que mais impacto terá no futuro dos filmes desta nova Fase 4 – afinal de contas, Wanda fez ligação a Dr. Strange mas Loki parece estar muito mais envolvido com a questão do multiverso que já sabemos ser um dos pontos fulcrais com o novo “Homem-Aranha: Sem Volta a Casa” e “Doctor Strange in the Multiverse of Madness“.
O que sentiste desta temporada de Loki? Atingiu as expectativas que havias criado?
Loki, em análise
Name: Loki
Description: Em "Loki", da Marvel Studios, o icónico vilão Loki retoma o seu papel de Deus da Mentira numa nova série que se desenrola após os acontecimentos de "Vingadores: Endgame".
Author: Marta Kong Nunes
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Marta Kong Nunes - 82
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Manuel São Bento - 80
CONCLUSÃO
O potencial era enorme, o produto final trouxe muitos easter eggs mas agora queremos mais! Esta foi talvez a primeira série da MCU até ao momento que realmente nos fez sentir que o número de episódios não é suficiente; há muito mais para explorar, muitos acontecimentos para explicar e muito background para contextualizar. Não foi um tiro ao lado mas não esteve ainda à altura do seu verdadeiro potencial (quem sabe estará a guardar-se para a segunda temporada!). Destacamos no entretanto as interpretações, a essência de Loki e uma interessante abordagem ao universo através da “perspectiva” de um proclamad vilão do universo.
Pros
- Tom Hiddleston. Não há melhor casting para Loki e na nossa MCU, Loki será sempre, sempre interpretado por Hiddleston
- Os easter eggs espalhados ao longo de toda a série. É uma verdadeira ‘caixinha de doces’ para os fãs mais entusiastas da Marvel
- A ligação que estabelece entre o que já aconteceu na MCU e o que aparentemente irá acontecer de agora em diante
Cons
- A relação de Loki e Sylvie – apesar de ter a sua química, nem sempre resultou e pareceu por vezes forçado e até “cringeworthy”, tornando Sylvie quase a personagem central do enredo até.
- A explicação algo vaga da TVA – queríamos mais contexto da origem e talvez do seu real propósito.
- O compasso lento dos episódios por vezes
- Faltou um grande final!