"Frankie", com Isabelle Huppert , foi filmado em Sintra |©Midas

Portugal no Cinema | 10 filmes estrangeiros filmados em território nacional

Portugal viu já, ao longo dos anos, diversos filmes estrangeiros gravados nas suas cidades. Recordamos agora 10 produções internacionais que por cá passaram entre várias localizações e géneros fílmicos. 

Os recantos das terras lusas merecem, sem dúvida, ver a sua beleza captada pela câmara de filmar. Nesta lista incluem-se não apenas títulos estrangeiros filmados em Portugal, mas também co-produções entre Portugal e outras produtoras internacionais que viram as suas filmagens, na íntegra ou parciais, decorrer no nosso país.

Muitos destes filmes incorporam a paisagem e os costumes locais nas suas narrativas, funcionando assim também como pedaços da nossa história. Procuramos agora dar a descobrir algumas destas longas-metragens aos nossos leitores. Embarquem connosco numa viagem ao longo de décadas e de lugares…

“OS AMANTES DO TEJO” DE HENRI VERNEUIL (1954)

Portugal e os Amantes do Tejo
“Os Amantes do Tejo” (1954) |©Films de France

“Os Amantes do Tejo”, no título inglês “The Lovers of Lisbon” será, sem margem para dúvida, uma carta de amor à Lisboa dos anos 50. O filme noir francês incorpora elementos culturais próprios da cultura lusitana. Amália Rodrigues, por exemplo, marca presença na obra como ela própria, aguçando o valor de máquina do tempo deste testemunho da memória colectiva. A fadista, ela própria um pedaço intrínseco do tecido e identidade cultural da cidade, tem inclusive música na banda sonora do filme.

Lisboa é mais que o pano de fundo da acção, e por isso o filme nunca poderia ser esquecido nesta galeria e faz apenas sentido que a venha inaugurar.Já a narrativa, essa diz respeito à história de um taxista francês em Lisboa. O protagonista, Pierre  Roubier, que carrega consigo as cicatrizes da infidelidade da mulher, conhece uma mulher, também ela francesa, que está em sarilhos com a polícia  – que acompanha todos os seus movimentos. Já os traumas do passado de Pierre impedem-no de confiar verdadeiramente nesta sua amada…

Em Portugal, a obra foi censurada pelo famoso “lápis azul” e cerca de 15% da duração do filme foi omitida. Hoje, não deixa de reter o seu valor de testemunho.


“ANGÚSTIA” DE FRANÇOIS TRUFFAUT (1964) 

Portugal no Cinema internacional
Jean Desailly e Françoise Dorléac em “Angústia” (1964) |©Athos Films

Foram grandes, gigantes, diversos dos realizadores que no passado século XX filmaram em Portugal. Em especial se considerarmos a nata do cinema francês e europeu. Truffaut, um dos ícones máximos da Nouvelle Vague, responsável em parte por uma profunda transformação cinematográfica nos anos 60 e 70, por cá filmou o seu “Angústia”. A obra, no original intitulada “La Peau Douce” e no inglês traduzida de forma literal para “The Soft Skin”, traça a anatomia de um adultério. Jean Desailly encarna Pierre, um editor literário casado. Aquando de uma viagem a Lisboa para uma conferência tem um relacionamento de uma noite com Nicole (Françoise Dorléac), uma hospedeira de bordo. A diferente percepção dos acontecimentos para os dois amantes leva a um sofrimento crescente…

Esta melancólica narrativa nomeada à Palma de Ouro foi parcialmente gravada na nossa capital. O realizador visitou a capital para gravar essas cenas em 1963 e por cá contou com o apoio das Produções Cunha Telles e do realizador e produtor António da Cunha Telles. Uma visita a não esquecer, de um vulto da cultura cinematográfica incontornável.


“007 – AO SERVIÇO DE SUA MAJESTADE” DE PETER R.HUNT (1969) 

Portugal filmes gravados
George Lazenby em “007 – Ao Serviço de Sua Majestade” (1969) |©MGM

Na década de 60 não foi apenas o icónico Truffaut que veio filmar em Portugal. Peter Hunt passou por cá e rodou em grande parte “007 – Ao Serviço de Sua Majestade” em localizações tão distintas quanto Lisboa, Estoril, Sesimbra, Palmela e Guincho. O Bond do ator australiano George Lazemby hospedou-se no famoso Hotel Palácio no Estoril e encontrou-se, em território português, com a personagem Condessa Tracy di Vicenzo (Diana Rigg). O Hotel não só acolheu o elenco como lá foram gravadas cenas.

Esta fita foi sem dúvida marcada pela sua localização, embora não seja uma das mais aclamadas nesta longa e admirada saga que em breve chega ao seu 25º filme. Tão fundamental foi Portugal como cenário de “007 – Ao Serviço de Sua Majestade” que o seu protagonista regressou ao Estoril em maio de 2019 para assinalar a estreia da obra há 50 anos.

Neste capítulo James Bond e Tracy di Vicenzo unem força para combater uma organização chamada SPECTRE, a qual prepara uma perigosa guerra biológica.


“O ESTADO DAS COISAS” DE WIM WENDERS (1982) 

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“O Estado das Coisas” (1982) |© Wim Wenders Stiftung

Saltamos a década de 70 e encontramos mais um grande autor, talvez o mais gigante autor do cinema a verdadeiramente incorporar Lisboa e Portugal na sua obra. Falamos de Wim Wenders,  realizador dos inesquecíveis “Paris, Texas” (1984) e “As Asas do Desejo” (1987). Antes de sequer realizar estas suas maiores obras de referência, já Wenders tinha uma relação de proximidade face a Portugal, que continua hoje em dia.

Ainda na última edição do LEFFEST, em 2019, o realizador regressou a Lisboa e reencontrou-se com o seu antigo colaborador, o produtor Paulo Branco, para mais algumas deliciosas conversas públicas acerca das obras que por cá gravou, nomeadamente “O Estado das Coisas” (1982) e “Viagem a Lisboa” (1994).

Recordamos agora “O Estado das Coisas”, obra gravada maioritariamente entre Sintra e Lisboa. Este é, como o filme que gravaria em Portugal nos anos 90, uma obra sobre cinema e sobre fazer cinema. No enredo, uma equipa encontra-se em Portugal para gravar uma produção de ficção científica de série B. Acontece que o produtor desaparece, deixando a equipa do filme sem fundos. O realizador (Patrick Bauchau) procura então este esquivo produtor (interpretado pelo produtor, realizador e argumentista Sam Fuller).

A obra gravou na freguesia de Colares, Sintra, na área circundante à Praia das Maças. Wenders encontrou também em Lisboa uma musa para a sua câmara. Em “O Estado Das Coisas” encontramos, nomeadamente, como ponto de referência o Cais do Sodré e o estabelecimento noturno “Texas Bar”. Este último já desaparecido e com a película como prova imortalizada da sua existência.

É esta  uma das co-produções internacionais mais valiosas do nosso património cinematográfico. Ao fim de contas, “O Estado das Coisas” venceu em Veneza o Leão de Ouro.


“A CIDADE BRANCA” DE ALAIN TANNER (1983) 

Portugal A Cidade Branca Lisboa
Bruno Ganz em “A Cidade Branca” |©Doperfilme

“Dans la Ville Blanche” ou “A Cidade Branca” , obra inteiramente filmada em Portugal, é uma das mais importantes co-produções que aconteceram neste nosso território nacional. A obra nomeada ao Urso de Ouro em 1983 e vencedora de um César para Melhor Filme Estrangeiro em 1984 juntou atores de calibre nacionais  suportados pelo seu incortornável protagonista Bruno Ganz -“Asas do Desejo” e tantos outros- que infelizmente nos abandonou em 2019 aos 77 anos. Nomes como Teresa Madruga, José Wallenstein ou Lídia Franco figuraram entre o elenco.

O realizador oriundo da Suíça como que forjou a expressão “cidade branca” nesta sua visita a Portugal e assim filmou a história de amor entre um marinheiro (Ganz) e uma empregada de mesa (Madruga). Lisboa, a sua zona ribeirinha, a sua luz característica, todos estes elementos servem de suporte à relação narrada. É também pela cidade que o Paul de Bruno Ganz se apaixona.

A bela fotografia, marca característica da película, essa ficou a cargo de Acácio de Almeida. O diretor de fotografia nascido em 1938 ainda hoje trabalha e recentemente fotografou o belo “Raiva” de  Sérgio Tréfaut.


“A CASA DOS ESPÍRITOS”  DE BILLE AUGUST (1993)

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Meryl Streep em “A Casa dos Espíritos” |©Costa do Castelo Filmes

Se outras co-produções nos trouxeram mais prestígio, chegamos contudo à que nos trouxe maiores estrelas a território nacional. A narrativa de “A Casa dos Espíritos” não tem lugar em Portugal mas sim no Chile. Não obstante esta ausência de  incorporação do nosso património cultural na história do filme, a presença das localizações do nosso país não passarão despercebidas a um nativo ou residente.

A obra de Bille August é uma produção conjunta entre Estados Unidos, França, Alemanha, Dinamarca e Portugal e trouxe ao nosso país, para filmar, nomes tão célebres quanto Jeremy Irons, Winona Rider e Meryl Streep. “A Casa dos Espíritos” baseia-se num clássico de Isabel Allende e a sua recriação passou por gravações em locais como Vila Nova de Mil Fontes e Cabo Espichel para além da suas filmagens adicionais na Dinamarca.

A produtora portuguesa envolvida no projeto foi a Costa do Castelo Filmes, ainda hoje em atividade. A casa fundada por Paulo Trancoso trouxe-nos obras como “Duas Mulheres” (2009) ou “O Último Condenado à Morte”, do mesmo ano.


“A NONA PORTA” DE ROMAN POLANSKI (1999) 

Portugal Cinema Internacional the ninth gate
Depp em “A Nona Porta” |©Filmes Lusomundo

O infame Roman Polanski, exilado na Europa deste o final dos anos 70 depois de fugir dos Estados Unidos horas antes de uma condenação por violação de uma menor, continuou a produzir as suas obras no Velho Continente. No final dos anos 90, o seu “The Ninth Gate”  – protagonizado por  Johnny Depp – foi gravado parcialmente em Portugal. Contudo, esta não é uma co-produção com Portugal mas antes um trabalho conjunto de França, Espanha e Estados Unidos.

Este thriller sobrenatural premiado nos European Film Awards na categoria de “World Cinema” baseia-se no romance “O Clube Dumas” do espanhol Arturo Pérez-Reverte. Depp interpreta Dean Corso, um colecionador de livros antigos que procura uma invulgar obra literária. Na busca por “O Livros das Nove Portas Para o Reino das Trevas” Corso vai percorrer um perigoso caminho rumo às temáticas satânicas. Tendo em conta a mística desta obra não é surpreendente que Sintra tenha sido um local escolhido como palco de gravações…

O filme pode ser encontrado no catálogo da HBO Portugal.


“COMBOIO NOTURNO PARA LISBOA” DE BILLE AUGUST (2013) 

Portugal Night Train to Lisbon
Jeremy Irons em “Comboio Noturno para Lisboa” (2013) |©NOS Audiovisuais

Damos um significante salto temporal e chegamos a 2013, assinalando o regresso de Bille August para filmar em terras lusas. Depois de “A Casa dos Espíritos” e na marca dos 20 anos desde as gravações dessa obra o cineasta dinamarquês decidiu situar o seu novo filme em Lisboa. Aqui, a cidade passa a ter um papel preponderante e Jeremy Irons vem também filmar mais uma vez a Portugal.

A obra reflecte uma certa nostalgia de uma Lisboa perdida à medida que acompanha as aventuras do Professor Raimund Gregorius (Jeremy Irons), à medida que este abandona a sua vida académica rotineira na área das línguas clássicas e embarca numa viagem de descoberta pessoal que o leva até à nossa capital. Em Lisboa procura descobrir o que aconteceu afinal a um autor, médico e poeta que em tempos ousou desafiar o regime Salazarista.

No filme participaram diversos atores portugueses, entre eles Beatriz Batarda, Nicolau Breyner ou Marco D’Almeida. O elenco internacional contou ainda com outros nomes de peso como Mélanie Laurent (“Sacanas sem Lei”) ou Bruno Ganz (que já cá tinha protagonizado “A Cidade Branca” nos anos 80).  Foi esta uma co-produção Suíça, Portugal, Alemanha que por cá contou com a participação da Cinemate  – Produção e Aluguer de Material Cinematográfico – responsável por “Call Girl” ou “O Fim da Inocência.


“O HOMEM QUE MATOU D.QUIXOTE” DE TERRY GILLIAM (2018)

paulo branco don quixote
Adam Driver e  Jonathan Pryce em “O Homem Que Matou Don Quixote” |©Screen Media Films

O projeto amaldiçoado de Terry Gilliam – antigo membro do grupo de comédia Monty Python – esteve muitos anos para ser feito e uma vez que conseguiu, finalmente, chegar à fase de produção acabou por ver diversos percalços adicionais no seu caminho. A co-produção entre Espanha, Bélgica, Reino Unido e Portugal chegou a um impasse quando a relação de Gilliam com a Leopardo Filmes e o seu produtor Paulo Branco se degradou e desde aí desenvolveu-se uma enorme batalha legal pela luta dos direitos da obra , a qual acabou por ser concluída com a co-produtora Ukbar Filmes – de Pandora Cunha Telles.

Propriedade artística à parte, a longa-metragem parcialmente gravada em Portugal e que estreou em Cannes em maio de 2018 viu-se também “amaldiçoada” aquando das filmagens em território nacional. Muita foi a polémica  devido a um incêndio que decorreu durante as rodagens e provocou danos no Convento de Cristo, em Tomar – um edifício com o selo Património Mundial da UNESCO.

Passado todo este tempo o filme – sobre um realizador desiludido que é transportado para um mundo fantástico de viagens no tempo e que depressa deixa de conseguir distinguir sonho de realizada  – encontra-se ainda por estrear nas salas de cinema de Portugal.


“FRANKIE” DE IRA SANCHS (2019) 

Portugal Frankie Sintra
“Frankie”, com Isabelle Huppert  |©Midas

Fechamos esta galeria com uma das mais recentes obras internacionais a ver-se rodada em Portugal. Falamos de “Frankie”, de Ira Sanchs, mais uma produção que se viu enfeitiçada pela aura de Sintra como tantos autores se sentiram ao longo dos séculos.

O filme é protagonizado por Isabelle Huppert (“Elle”)  e conta também com Maria Tomei (“O Wrestler”)  no elenco. Narra a história de Frankie (Huppert), uma famosa atriz francesa a quem é diagnosticada uma doença terminal e que escolhe como local de despedida da sua família a bucólica e reconfortante vila de Sintra. O elenco conta ainda com alguns nomes nacionais como Manuel Sá Nogueira (“Bem-Vindos a Beirais”) e Carloto Cotta (“Tabu”, “Diamantino”).

“Frankie” é uma co-produção entre França e Portugal que por cá ficou a cargo da “O Som e a Fúria” (“Technoboss” ou “Hotel Império”, entre outros).

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Que outros filmes essenciais se recordam ter sido filmados em Portugal?



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One thought on “Portugal no Cinema | 10 filmes estrangeiros filmados em território nacional

  • Longwaves também foi filmado em Portugal. O filme passa-se durante a revolução do 25 de Abril.

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