50 Melhores Canções de 2018
Eis as melhores canções de 2018 para a MHD, aquelas que mais nos tocaram e despertaram a atenção, enquanto inspiradoras e se possível inovadoras.
Melhores Canções de 2018 | Introdução
Podem imaginar como terá sido difícil chegar a esta lista das Melhores Canções de 2018, num ano que nem sequer ao nível dos álbuns a destacar para a posteridade conseguiu reunir algum consenso. Num exercício exemplar de democracia e diplomacia, depois de múltiplas concessões e negociações, conseguimos acordar as canções a relevar de cada artista que apareceu em mais do que uma lista pessoal e desfizemos os vários empates. O resultado final é uma vitória da qual nos orgulhamos e na qual nos revemos, contentes por ver emergir as nossas preferências, mesmo se num lugar reajustado pela recepção comunitária, e por perceber quanto as preferências alheias nos fazem descobrir um mundo novo ao qual não prestáramos a devida atenção. De facto, o final do ano é um momento não só para sintetizar o nosso juízo mas para o rever e aproveitar a última oportunidade que nos é dada de avistar o que nos escapou. Ainda assim, poderão ver no final quais foram, para cada um de nós, as cinco melhores canções de 2018, inclusive as opções originais, prévias à negociação.
Do que escolhemos como o melhor falaremos mais à frente e com vagar, por isso uma palavra agora para o que ficou de fora. Sendo o indie rock o nosso género de eleição é expectável que não apareçam nesta lista coisas que não acompanhamos, particularmente tão longínquas e especializadas como jazz ou metal. Quanto a géneros mais vizinhos, mesmo se igualmente distintos, que também apreciamos e vamos dando a conhecer, podem consultar a nossa seleção do melhor hip-hop do ano. Estas são exclusões que têm a ver com uma questão de categoria e não de qualidade. Não faltam, contudo, ausências capazes de suscitar alguma perplexidade e que se prendem com esta última razão. Já demos a conhecer noutros sítios a nossa impaciência com os ruídos de satisfação em redor de coisas que julgamos pouco merecedoras de tanto aval, particularmente nos casos de Cardi B ou dos 1975. Mas como estamos no rescaldo do anúncio de que Ariana Grande irá encabeçar o cartaz de um dos dias de Coachella e dado que o vinil de “thank u, next” acabou de ser lançado, deixem-me explicar, a título de exemplo, porque é que esta canção (e portanto outras como ela) não aparece aqui. Vejam que nos damos ao trabalho de justificar o que há alguns anos seria óbvio.
Não é de admirar que a Pitchfork de agora (não a saudosa Pitchfork dos tempos anteriores à sua compra pela Condé Nast) – a mesma que elegeu “Bodak Yellow”, da Cardi B, como a melhor canção de 2017 e a “Love It If We Made It”, dos 1975, como a melhor de 2018 – tenha atribuído o lugar #8 a “thank u, next”. A justificação apresentada deixa entrever os critérios soterrados que conduziram esta e outras decisões do género: comoção pela sua história pessoal, vivida ainda por cima sob “a dura luz da atenção pública” (estamos de lágrimas nos olhos); respeito pela sua coragem em expor artisticamente, numa “radical manifestação de empatia”, o drama vivido em prol da emancipação política da mulher (isto costumava ter outro nome, mas os tempos mudam, certo?); e, claro, algum mérito musical, mesmo se “a omnipresença cultural da canção tem mais a ver com a mulher que está no centro do que com qualquer som em particular”. Nisto estamos de acordo. É mesmo o único ponto em que convergimos, uma vez que nem sequer as duas linhas de apreciação crítica musical subscrevemos. A nosso ver, nada há nem de experimental nem de inesquecível na batida desta canção pop; a única coisa que se pode dizer em abono da letra, retirada de certeza do diário da Barbie Now I’ve Been Kissed, é a sua “ingénua franqueza” (estou a gozar, claro); e, já agora, embirramos sumamente com a performance vocal de beicinho mimado.

Reparem, a irritação não é com a versão insípida da Alicia Silverstone em Clueless oferecida por Ariana Grande no vídeo de “thank u, next”, nem com a canção em si, ou muito menos com as milhares de outras iguais a ela, algumas um pouquinho melhores, outras bastante piores. Sempre existiram, não interessa qual a fórmula encontrada em cada era para as produzir, com ínfimas variações, em quantidade industrial. De espantar é a deriva dos críticos, nos últimos anos, para levar a sério esta música. As razões são inúmeras, todas elas suspeitas e nenhuma delas muito interessante, mas este não é nem o lugar nem o momento para denunciá-las ou rebatê-las. Queríamos só avisar que não vale a pena procurar pela “thank u, next” na nossa lista, porque não consta dela nem sequer em último lugar. Deus poderá muito bem ser uma mulher, se assim o quiserem, mas seguramente que, para nós, não é a Ariana Grande.