Top Hip-Hop

O Melhor Hip-Hop de 2018

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É um mundo e o mundo é dele. Agrade isso muito ou muito pouco, não queríamos fechar o ano sem vos deixar aqui o melhor hip-hop de 2018. Para nós, já se sabe.

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10. Kanye West, ye (GOOD Music/Def Jam, 1 Junho)

Kanye West, o nome mais polémico no hip-hop. Isto porque facilmente se cai no erro de confundir a pessoa com o artista, quando, no que toca ao assunto vulgarmente conhecido por “arte”, só o produto do artista releva (ou devia relevar), por muito que nos custe abdicar das nossas mais firmes crenças, de modo a conhecer o produto artístico no seu estado puro, sem qualquer tipo de preconceito à partida.

Melhor Hip-Hop de 2018
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa de ye

Grande parte da controvérsia gerada à volta de Kanye é provocada pela própria personagem caricata encarnada pelo mesmo. No entanto, a arrogância com que afirma ser o melhor não é totalmente descabida. É que Kanye, naquilo que faz, é sem dúvida o melhor, e este facto é transversal a toda a sua discografia. E neste caso ser o melhor não significa que todos os outros são piores. É o melhor a fazer o que faz, porque é único a fazê-lo dessa forma.

No meu entender, e para apimentar a discórdia, há uma diferença entre hip-hop e Kanye West, na medida em que ambos caminham na mesma direcção, mas em planos paralelos. Não me interpretem mal. A música de Kanye é hip-hop, porém seria redutor qualificá-la apenas como tal, uma vez que Kanye se tornou maior do que o maior género musical da nossa era. Não é o único, mas é o caso mais flagrante.

Para quem não partilha da mesma visão sobre este artista, estas afirmações poderão cair numa perspectiva um tanto ou quanto abstracta. Por isso, nada melhor que ye para concretizar tudo o que já foi referido. E sobre ye, quem senão Kanye começaria um álbum com um monólogo sobre a sua bipolaridade? Ou tiraria a fotografia da capa do álbum a caminho da apresentação do mesmo? A sua irreverência e falta de método são mais-valias, e não pontos fracos, naquilo que distingue Ye dos demais.

Este álbum é o expoente máximo da singularidade de Kanye West. Desde os coros de cortar a respiração – a título de exemplo, o nó na garganta sentido através da introdução de “Violent Crimes” – aos samples mais inesperados. A produção de Ye é incomparável, fazendo dele um anfitrião, quer no seu estúdio, quer em estúdio alheio. Em qualquer projecto que passe pelas suas mãos sente-se o toque diferenciador e único que caracteriza a música deste prodígio incompreendido, muito por sua culpa, na verdade, pois, afinal, “the most beautiful thoughts are always besides the darkest”.

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | KANYE WEST, YE




9. Anderson .Paak, Oxnard (Aftermath/ 12 Tone Music, 16 novembro)

Ao cair do pano que fecha o ano de 2018, Oxnard deixa uma onda positiva, com que muitos supersticiosamente gostam de começar o ano que vem. Pois bem, este álbum tem a cor ideal para os optimistas, e ouvi-lo sem, no mínimo, bater o pé é resistir à tentação natural.

Melhores Álbuns de 2018
Melhores Álbuns de 2018 | Capa de Oxnard

Nesta linha, Oxnard destaca-se pelo casamento, em regime de comunhão geral, da produção de estúdio com os vários instrumentos participantes. Anderson .Paak transmite o frenesim provocado pelo instrumental, introduzindo uma energia contagiante, através da sua voz rouca, mas vibrante, ao estilo (ainda que diferente) de Kendrick Lamar, com quem aliás colabora em “Tints”, o single principal do LP, que quase suplantou em estatuto o próprio álbum.

Anderson, e consequentemente Oxnard, não têm lugar num só estilo, por toda a musicalidade que concentram, seja ele hip-hop, R&B, ou até mesmo gospel (quem não imagina .Paak a liderar um coro evangélico?). Além disso, conta com uma paleta invejável de colaborações, que enriquecem a variedade de sonoridades exploradas, fruto também da sua voz versátil, e de um sentido musical extremamente enraizado.

Este álbum ganha por ser exactamente aquilo que é, sem pretensões. À excepção de “Tints” (pelo factor Kendrick), não há nenhuma faixa que se destaque das restantes, nem é suposto. É um conjunto de faixas desenhadas para espalhar um sentimento positivo e entreter o público, tornando inevitável dançar ao ouvir seja que música for. O que faz falta são mais álbuns destes. “O que faz falta é animar a malta”.

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | ANDERSON .PAAK, OXNARD




8. Kanye West & Kid Cudi, KIDS SEE GHOSTS (GOOD Music/ Def Jam, 8 junho)

Em mais um ano prolífero para Kanye West, KIDS SEE GHOSTS marca o regresso de Kid Cudi, que se junta a Ye no estúdio para conceber uma verdadeira obra-prima. Nada que não se esperasse por parte de Kanye. Sobre a mesa de mistura é inigualável, e a sua produção é sempre inesperada e pouco ortodoxa. No entanto, o contributo de Cudi neste álbum é fundamental. É nele que o corpo de KIDS SEE GHOSTS ganha forma, e a estrutura desenhada por Kanye só se concretiza à volta de Kid Cudi.

Melhor Hip-Hop de 2018 - Kids See Ghosts (2018)
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa de Kids See Ghosts

Se menos com menos dá mais, KIDS SEE GHOSTS é a amostra ideal dessa máxima, na medida em que duas mentes depressivas e perturbadas se juntam para criar algo que provoca um efeito totalmente oposto à respectiva motivação. Este é um dos factores fascinantes da música, universal a qualquer forma de arte: a obra mais brilhante pode ter como causa o estado mais negro.

Neste projecto sobressai um Ye mais agressivo, à semelhança do tom de “Black Skinhead”, do álbum Yeezus, faceta que aumenta os bpm’s do beat, e dá lugar a samples acelerados mas, sobretudo, fora da caixa. A ponte que liga todos estes elementos é Cudi, com uma voz apaziguadora, como se a resolver a fúria de Kanye e a restabelecer o equilíbrio em cada faixa. O resultado final? Um álbum poderoso, intenso e refinado. É o que dá juntar num estúdio dois titãs, que apesar da sua grandeza, têm também os seus fantasmas. Afinal, “Men See Ghosts”.

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | KIDS SEE GHOSTS, KIDS SEE GHOSTS




7. Earl Sweatshirt, Some Rap Songs (Tan Cressida/ Columbia, 30 Novembro)

Um regresso tão aguardado. Com os álbuns Doris e I Don’t Like Shit, I Don’t Go Outside, Earl Sweatshirt destacou-se pela sua escrita particularmente complexa, não só ao nível do conteúdo, mas também, e principalmente, da forma. Em Some Rap Songs, nuns breves (mas suficientes) 25 minutos, as suas letras são construídas como uma compacta teia de aranha de rimas.

Earl Sweatshirt - Some Rap Songs - the Mint - Melhor Hip-Hop de 2018
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa de Some Rap Songs

Não é propriamente um estilo de rap apelativo. Só quem conhece Earl, gosta de Earl. Porém, é preciso conhecer Earl para gostar de Earl, e, por vezes, este processo é negligenciado, o que faz com que um dos grandes liricistas deste género musical esteja na sombra das luzes da ribalta, mesmo sendo seguido pelos holofotes dos seus admiradores. Ainda assim, é na sombra que Earl Sweatshirt brilha, e mostra, tanto em Some Rap Songs como nos outros dois álbuns, que há uma certa beleza na depressão, quando é artisticamente expressada.

Some Rap Songs gira à volta da relação de Thebe com o seu pai, falecido recentemente, mas presente no álbum através dos samples da sua voz e, apesar do tom de luto, há neste álbum uma maior musicalidade, em termos melódicos, comparando com os dois anteriores, onde as letras são declamadas sobre beats monótonos (no sentido literal), algures entre o mumble rap e a slam poetry.

No final de contas, este é um novo Earl, ainda que continue fiel a si próprio, e Some Rap Songs, além de fechar o ano, fecha também um capítulo da vida de Thebe (fazendo minhas as suas palavras). Portanto, no final de contas, será mesmo este álbum apenas um conjunto de “some rap songs”?

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | EARL SWEATSHIRT, SOME RAP SONGS




6. Mac Miller, Swimming (Warner Bros, 3 Agosto)

“Come Back To Earth”, primeira faixa de Swimming, é também a primeira frase que me vem à cabeça ao relembrar Mac Miller. Pois bem, 2018 teve tanto de bom como de mau, tudo graças ao falecimento de Malcolm James McCormick, cerca de um mês depois do lançamento do seu último álbum.

Swiming é uma ironia trágica, e chega a ser assustadora a quantidade de presságios espalhados pela música de Mac Miller. A título de exemplo, o single deste projecto, “Self Care”, protagonizado pelo próprio e filmado dentro de um caixão. É triste ver, ao longo da discografia de Larry The Fisherman, tantos sinais de um final inevitável como este, mas será este, apesar de tudo, um final triste?

Mac Miller - Swimming - Melhor Hip-Hop de 2018
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa do álbum Swimming

Ora, Mac Miller começou como rapper irreverente, contrariando todas as críticas iniciais com o seu talento evidente e indiscutível. Por vezes, a figura prevalecia sobre o produto, porém a música sempre falou por si e bem mais alto, o que resultou na ascensão uniforme de Mac Miller, a cada álbum fabricado. GO:OD AM foi o ponto de viragem e, em The Divine Feminine, deu-se a transição. Mac Miller deixou de ser o “white rapper” para finalmente ser reconhecido como um verdadeiro músico, através do trabalho multifacetado em estúdio, desde a guitarra, ao piano, passando pela bateria. Era um músico que fazia música (coisa rara neste género musical).

Swimming é o culminar de uma carreira e de uma vida, ambas tão curtas e ricas ao mesmo tempo. É um álbum bastante evoluído instrumentalmente, cheio de pormenores, com um Malcolm maduro à cabeça, a dar pleno uso à sua voz. Aproveita-se das suas limitações vocais para encontrar o seu registo ideal, fazendo do rapper cantor, como aliás se nota nos últimos três álbuns. Ainda assim, pergunto-me se este álbum teria o devido reconhecimento se Mac Miller ainda estivesse vivo, sabendo que é quando se perde alguma coisa que se dá valor à mesma.

No meu caso, a admiração por Mac Miller sempre foi igual. A sua morte serviu para me lembrar disso. Mais do que isso, a sua morte afectou-me como se de alguém próximo se tratasse. E, em boa verdade, Mac Miller era (e continua a ser) alguém próximo – nas viagens de carro, metro, autocarro, comboio, ou até mesmo a pé; em casa ou na rua; com os amigos ou sozinho; nos bons e nos maus dias; nos lados direito e esquerdo dos phones. Mac Miller sempre esteve presente, desde que me lembro, nesta vida entre auscultadores. Mais próximo que isto é difícil. E se foi para ter este impacto em todos aqueles que o seguem, como teve em mim, então o final desta história é tudo menos triste. Obrigado, Mac.

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | MAC MILLER, SWIMMING

Em memória de Malcolm James McCormick




5. A$AP Rocky, TESTING (A$AP Worldwide/Polo Grounds Music/RCA Records, 25 Maio)

Senhoras e senhores, mantenham-se sentados, apertem os vossos cintos de segurança e aumentem o volume – TESTING está prestes a começar. A$AP Rocky, o novo pai do “gangsta rap”, reinventou este estilo e mostrou que é possível fazer este tipo de música com qualidade, e sem superficialidade. Música, porque se ainda havia dúvidas nos primeiros dois álbuns, TESTING esclarece-as todas. Rocky é visto cada vez menos como um simples rapper, e cada vez mais como um ícone. Prova disso é TESTING, onde A$AP descobriu a sua estética, que o distingue como um artista incomparável, sem igual.

Melhor Hip-Hop de 2018
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa de TESTING

Nesta linha, destacam-se inevitavelmente os vídeos deste álbum, que dão vida à estética desenhada pelo “Fashion Killa”. Cada vídeo tem uma técnica de filmagem diferente, e surpreendentemente inovadora, com planos enérgicos, agressivos, cativantes, e, principalmente, cinematográficos. Porém, todos passam a mesma imagem (figurativamente): uma filosofia, um mindset, um modus operandi e, sobretudo, uma identidade, tudo isto protagonizado por Lord Flacko, o arquitecto desta obra.

Assim sendo, TESTING é muito mais do que um mero álbum. Marca o início de uma nova era, tendo como personagem principal A$AP Rocky, e apresenta-se como um verdadeiro teste, em que este aposta em todas as frentes de que é capaz, desde o puro “gangsta rap”, ao hip-hop suave e melódico (não se deixem enganar, A$AP é dotado de um dos melhores timbres deste género musical), passando ainda, bastante perto, e frequentemente, pela música experimental, no que aos instrumentais diz respeito.

TESTING foi aprovado, resta aguardar pelo novo A$AP Rocky que vem para ficar. Já deu algumas luzes, nomeadamente no último single lançado ainda este ano, “Sundress”, que revela ao máximo o potencial de Rocky, seja a cantar (e não apenas a “rappar”), seja a realizar vídeos. É realmente brilhante a mente de Rakim, e para aqueles que ousarem entrar nela, aproveitem o test drive, e boa viagem.

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | A$AP ROCKY, TESTING




4. Nerve, Auto-Sabotagem (Edição independente, 9 Abril)

Em 2015, Nerve lançou aquele que para mim é o melhor álbum da língua portuguesa: Trabalho & Conhaque ou A Vida Não Presta & Ninguém Merece a Tua Confiança. A fasquia estava baixa, portanto. Foi preciso bater no fundo para chegar ao topo, e, nos tempos que correm (a uma velocidade estonteante), Nerve é um profeta com uma legião de seguidores cada vez mais fiéis. “Seguidores” é o termo correcto. Não me refiro a nós (sou o primeiro a dar o corpo às balas) como “fãs”, porque não é o que somos. Basta ir a um concerto do “Sacana Nervoso” para se perceber isso. No meu caso, já foram quatro as sessões presenciadas, e em todas o denominador comum foi a comunhão sentida naquela hora, em que cada alma se manteve vidrada mas atenta às palavras do “senhor mistério”, procurando conforto precisamente naquilo que nos atormenta, tão bem escrutinado pelo “Monstro Social”.

Nerve - Auto-Sabotagem EP - Melhor Hip-Hop de 2018
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa de Auto-Sabotagem EP

Assim sendo, Auto-Sabotagem trazia uma expectativa inquietante. Por um lado, vindo de Nerve o selo de genialidade é garantido, mas por outro, como é possível superar o insuperável? Pois bem, surpresa: Nerve superou-se. Em termos líricos, a meu ver, T&C/AVNP&NMTC continua a ser a maior obra prima da poesia cantada em português (“rap tuga”, leia-se). No entanto, há uma clara evolução neste EP, nomeadamente na produção instrumental (totalmente a cargo do próprio, desta vez), na variedade, qualidade e quantidade de rimas, tanto por estarem mais complexas e aguçadas, com figuras de estilo ao pontapé (um autêntico “Pontapé de Boas-Vindas”), como pela vertente bastante intensificada da punchline.

Em relação à história contada, há uma transição, entre álbuns, dos demónios exteriores para os interiores. Neste, “o demónio mora ali na porta em frente à porta em frente à «dele»”. É uma endoscopia pelas suas entranhas, com passagem obrigatória em cada nervo, resultando num grito contra a maré. Afinal de contas, o mote sempre foi o da oposição aos parâmetros habituais e generalizados, culminando, em Auto-Sabotagem, numa reacção contra tudo e todos (inclusive, e especialmente, o próprio).

O saldo final é mais uma obra de arte por parte do suspeito do costume. O tempo é o melhor juiz, mas posso dar-vos um teaser desta sentença: o papel de génio está entregue a Nerve, e Auto-Sabotagem não tem um final feliz, mas “a música não tem de ser feliz, nem eu”.

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | NERVE, AUTO-SABOTAGEM




3. Kota The Friend, Anything. (Flight Boys, 15 Fevereiro)

“You make me smile”. Primeiro verso da primeira faixa de Anything.. Há álbuns que têm esse efeito, e este é um deles. Isto porque não é comum (raro até) ouvir um álbum pela primeira vez, de uma ponta a outra, e gostar imediatamente de cada música que o compõe. É aqui que, quando o disco dá a volta, “you make me smile” surge novamente e rasga-se um sorriso de pura satisfação. Kota The Friend acertou em cheio e agarrou-me do início ao fim, em cada canção com a mesma atenção que em todas as outras.

Kota The Friend - Anything - Melhor Hip-Hop de 2018
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa do álbum Anything.

O nome é “Kota” mas a sonoridade está muito à frente, numa fase em que o “cara ou coroa”, no hip-hop, está viciado, pelos dois resultados (erradamente) possíveis: boom bap ou trap. Kota The Friend dá-nos uma lição melódica e faz um álbum que não cabe em nenhuma prateleira, na secção do hip-hop. Entre acordes de piano e guitarra, a percussão marca o ritmo que caracteriza a forma de Kota cantar, oscilando entre os refrões arrastados, e os versos uniformemente cuspidos em cadeia, nunca perdendo o domínio do ritmo, e o controlo dos compassos.

Anything. é um álbum que só faz sentido como um todo. Não há nenhuma faixa que se destaque das demais, e cada faixa parece a continuação da anterior, ainda que diferente da mesma. Por isso, só há uma forma de digerir esta peça: carregar no play e saborear a refeição completa. Acreditem, no fim vão sorrir.

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | KOTA THE FRIEND, ANYTHING.




2. Papillon, Deepak Looper (Sente Isto, 21 Março)

Deepak Looper, álbum português do ano. Afirmação arriscada? Nem por sombras. Na era dos “singles”, Papillon lança um Álbum com devida maiúscula no “A”, e dá o salto que distingue um rapper de um músico. Embora “Papi” tenha dado provas do seu potencial com GROGNation, na escrita principalmente, uma estreia a solo é sempre um novo começo, e exige uma nova identidade. Ora, identidade é o que não falta em Deepak Looper. Sob a produção do mestre do estúdio, Slow J, Papillon abriu-se sobre o instrumental e deu-nos a conhecer o Rui, numa auto-análise com o objectivo de se descobrir a ele próprio, que nos permite simultaneamente descobrir o artista através da sua obra.

Papillon - Deepak Looper - Melhor Hip-Hop de 2018
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa do álbum Deepak Looper

Este álbum é dos que tem princípio, meio e fim, ligados por um fio condutor que junta os vários episódios relatados pelo autor (através dos vários interlúdios gravados pelo próprio, como que reflexões sobre aquilo que procura). A mestria, partilhada em sintonia por Papillon e Slow J, está em diversificar ao máximo o espectro das faixas sem se perder o conceito nuclear do álbum, além de saltar à vista (ou ao ouvido) uma forte raiz da musicalidade africana, patente, aliás, no vídeo de “Iminente”, que conta com a colaboração de Plutónio, numa celebração à cultura africana que paira em volta deste projecto.

Papillon saiu então do casulo para voar bem alto, e, por aquilo que já fez, não há vento que desvie esta “borboleta”. Desde The Art Of Slowing Down, de Slow J (coincidência ou não), que não aparecia um projecto com impacto suficiente para mudar o panorama nacional. Um projecto que centrasse todos os olhos (ou os ouvidos, mais uma vez) no mesmo e influenciasse tudo o que seria feito a partir daí. Esse projecto é Deepak Looper. Papillon é, sem dúvida, um novo nome na mesa dos “crescidos”, e este álbum não precisa de mais tempo para ser considerado um clássico. Afinal de contas, não foi isto que Papillon quis dizer em “se eu morrer isto é para sempre”?

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | PAPILLON, DEEPAK LOOPER




1. Taylor Bennett, BE YOURSELF (Tay Bennett, 6 junho)

Existe uma grande diferença entre ouvir música no carro e em qualquer outro lado. Se a distância for curta, há que escolher as três ou quatro músicas que se alojaram na cabeça nessa semana. Se a distância for grande, o foco perde-se pelo caminho, mesmo que a escolha seja um álbum dos grandes. BE YOURSELF é o álbum ideal para viagens médias.

Melhor Hip-Hop de 2018
Melhor Hip-Hop de 2018 | Capa de Be Yourself

Já todos vimos um filme, seja ele qual for, onde, numa cena pouco relevante para o enredo, a personagem principal conduz sozinha (de noite, normalmente), enquanto toca uma música perfeitamente enquadrada no cenário projectado na tela. E todos nós imaginámos esse cenário no filme da nossa vida. Aquilo que separa o filme da realidade é a falta da música perfeita para o cenário ganhar vida. BE YOURSELF é, na verdade, o álbum ideal para as minhas viagens médias. E sabem que mais? Nesta cena, durante os 20 minutos do álbum (ou EP, pelo tamanho), o carro anda sozinho. Já sabe o caminho, acelera e abranda com o ritmo de cada faixa, e faz com que uma cena sem qualquer tipo de relevância para a história passe a ser indispensável na mesma.

Para quem não se lembra de nenhuma cena do género, recomendo a parte final da curta-metragem “Mr. Happy”, onde o protagonista é interpretado pelo músico Chance the Rapper. E por falar em filmes, já viram um daqueles em que, a certa altura, um pequeno pormenor, aparentemente insignificante, dá origem a uma reviravolta na história? Não estranharam ter dado como exemplo, entre tantos possíveis e mais conhecidos, a curta-metragem “Mr. Happy”? Eis-nos na reviravolta deste filme: Chancelor Bennett, mais conhecido por Chance the Rapper, é o irmão mais velho de Taylor Bennett.

Este filme é daqueles que acaba em aberto, pelo menos para vocês. Por isso, oiçam o álbum do Taylor, vejam a curta do Chance, e procurem a banda sonora da vossa cena. Spoiler alert: é um final feliz.

MELHOR HIP-HOP DE 2018 | TAYLOR BENNETT, KNOW YOURSELF

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Esta não é (nunca é) a tua lista do melhor hip-hop de 2018. Talvez nenhum destes álbuns conste sequer da tua lista do melhor hip-hop de 2018. Se assim é, exprime-te, comenta, barafusta e lista tu o melhor hip-hop do ano.

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