Cobra Kai

Cobra Kai, segunda temporada em análise

“Cobra Kai” está de volta, permanecendo um descontraído murro de nostalgia, capaz de condimentar bem o conflito e desenvolver o leque de personagens com astúcia. A série está disponível no Youtube Premium.

Com 100% (e 95 de audience score), “Cobra Kai” foi a série dramática com melhor avaliação no popular Rotten Tomatoes em 2018. Aquando da sua temporada de estreia, a sequela de “Momento da Verdade” (1984) certificou o Youtube Premium como um legítimo criador de conteúdos, ideia que saiu reforçada com o lançamento já este ano de “Wayne”. Mas o que é que torna “Cobra Kai”, numa Era que perdeu a conta aos reboots e remakes forçados por uma indústria sem criatividade, o único produto reciclado cuja existência faz sentido?

Em 1984, Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) estavam frente a frente na final do torneio de artes marciais de All-Valey. Daniel era o protagonista da história, treinado pelo inconfundível Mr. Miyagi, e vencia nos instantes finais Johnny, seu nemesis loiro de kimono preto e amarelo e o aluno que melhor absorvera a doutrina Cobra Kai, com um pontapé para a História.

The Karate Kid
The Karate Kid (1984)

O filme inspirou fracas sequelas, e viu-se ressuscitado ou reintroduzido na cultura popular quando na série “How I Met Your Mother” Barney Stinson apresentou a sua visão do clássico de ’84, defendendo que Johnny Lawrence era o verdadeiro herói da história. A teoria valeu ao ator William Zabka várias presenças na sitcom, e foi agigantada pelo vídeo “The Karate Kid: Daniel is the REAL Bully” publicado por J. Matthew Turner em 2015 e hoje com mais de 10 milhões de visualizações.

Trinta e quatro anos depois de assistirmos à génese da rivalidade, nasceu “Cobra Kai”. Um produto pleno de saudosismo, que se tornou rapidamente uma espécie de série de culto sem nunca se levar demasiado a sério, desejosa sim de proporcionar momentos, à falta de melhor palavra, badass.

Criada por Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg, a primeira temporada mostrou-se tão preocupada em respeitar e referenciar o passado como em construir o futuro, e primou pela escrita inteligente e equilibrada, capaz de fazer o espectador sentir-se dividido. O segredo: apresentar desta vez Johnny inicialmente como a personagem principal, um adulto que falhara em toda a linha e que procuraria a sua redenção ao conhecer o jovem Miguel (Xolo Maridueña), reabrindo o dojo que fora a sua casa e escola de vida, Cobra Kai.

Cobra Kai
Cobra Kai

Ao longo de 10 episódios, a temporada de estreia (juntamente com “My Brilliant Friend”, “Sara”, “Maniac”, “Homecoming”, “Barry”, “Killing Eve”, “Sharp Objects”, “The Haunting of Hill House” e “Succession” uma das grandes novidades de 2018) reacendeu a imortal rivalidade do fracassado Johnny e do bem-sucedido Daniel, e abriu as portas à transformação de um conjunto de nerds e proscritos, envolvendo na trama o filho de Johnny, Robby, que acabou debaixo da asa do rival do seu pai, e Samantha, a filha de Daniel e o vértice final – além de Miguel e Robby – no triângulo da nova geração. Porque em muitos momentos “Cobra Kai” traz à memória o lado formulaico de “Star Wars”.

No nosso olhar global sobre o ano televisivo de 2018 elegemos o capítulo final da 1ª temporada, “Mercy”, como um dos melhores episódios do ano. O emocionante encontro no tatami entre Miguel e Robby, com Johnny e Daniel como mentores, o conflito interno do sensei dos Cobra Kai, e por fim um aperitivo chamado John Kreese (Martin Kove). E acreditem, “Cobra Kai” continua a mostrar que sabe como fechar uma temporada…

A nova temporada – disponível na íntegra a partir de hoje no Youtube Premium – introduz o dojo Miyagi-Do, acompanha métodos de ensino muito diferentes, leva rivalidades ao limite e trabalha as noções de honra e misericórdia, tudo isto com o veneno silencioso do Cobra original, Kreese, e a nova personagem Tory (Peyton List) a desfazer um triângulo amoroso que passa a double date.

Sem escapar aos clichés que a série abraça consciente e sem qualquer presunção, “Cobra Kai” afirma-se desta vez, depois de nos cumprimentar com uma vénia, como uma viagem que serpenteia entre temas como segundas oportunidades, formar e educar, questionando se quem já fomos é quem seremos para sempre.

Cobra Kai
Cobra Kai

À banda sonora eletrizante junta-se um melhor trabalho de coordenação de duplos e acrobacias (nesse aspeto, o arranque é enferrujado, mas o episódio final, sem ser “Daredevil”, inclui uma longa sequência que dá mesmo gozo assistir, e que tem graça até deixar de ter) e um maior equilíbrio entre Johnny e Daniel, crucial para que todos os momentos de conflito sejam mais ricos e os beats mais sentidos. Nos seus melhores momentos, “Cobra Kai” provoca no espectador sensações similares a “Warrior – Combate Entre Irmãos”, e encontra em “GLOW” (Netflix) algumas parecenças.

Mas se “Cobra Kai” 2 molda de forma cativante a dinâmica incessante dos 2 protagonistas e rivais, que mergulham nos seus traumas tentando em simultâneo libertar-se e perseguir o passado que os definiu e define, o mesmo não se pode dizer do leque de personagens jovens. Em muitos momentos, a série cai em convenções teen previsíveis, parecendo desperdiçar Miguel, Robby e Samantha (sobretudo os dois últimos) e ganhando interesse sim num subplot lateral os secundários Hawk e Demetri.

As lições aprendidas em dojos e tatamis, levadas para o mundo real, são o cerne de uma série que, caso pretenda ganhar asas e partir tudo em 2020, terá que corrigir algumas coisas entre os seus jovens, sem perder no entanto o seu carácter ou ADN jovial e luminoso.

Cobra Kai
Cobra Kai

Embora a temporada se veja a correr sem nunca se tornar aborrecida, o nível e a imprevisibilidade do último episódio é incomparável com os anteriores 9, e é esse patamar que os autores devem procurar que passe a ser a norma, ou pelo menos um fenómeno mais frequente.

Com episódios de aproximadamente 30 minutos, “Cobra Kai” é um binge-watch obrigatório e a terceira temporada contará connosco! Tudo leva a crer que Ali (Elisabeth Shue) reforçará o elenco, deixando a série o vilão Kreese numa posição que o poderá tornar quiçá o catalisador de uma futura colaboração entre rivais, destacando-se sobretudo a indefinição promissora por razões várias em que fica o quarteto Johnny, Daniel, Miguel e Robby.

TRAILER | “COBRA KAI”

Estão preparados para a energia de “Cobra Kai”? A segunda temporada está disponível no Youtube Premium.

Cobra Kai - Temporada 2
Cobra Kai Poster

Name: Cobra Kai

Description: A rivalidade de Johnny e Daniel aumenta com a abertura de um novo dojo e a chegada de um velho mentor.

  • Miguel Pontares - 74
  • Inês Serra - 80
77

CONCLUSÃO

O MELHOR – “Cobra Kai” volta a mostrar que sabe como fechar uma temporada! Até ao clímax, afirma-se como uma viagem que serpenteia entre temas como segundas oportunidades, educar e formar, honra e misericórdia, questionando se quem já fomos é quem seremos para sempre. A rivalidade de Johnny e Daniel e dos seus pupilos é levada ao limite, desta vez com a presença venenosa do Cobra original, John Kreese.

O PIOR – Entre clichés e convenções teen previsíveis, é desperdiçado o potencial da nova geração – Miguel, Robby e Samantha. Embora a série se veja a correr sem nunca se tornar aborrecida, são vários os episódios com pouco peso dramático, servindo o último capítulo como a elevada fasquia que deve passar a ser a norma.

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