©Internationale Kurzfilmtage Oberhausen

Festival de Oberhausen, a Crítica | Exotic Words Drifted de Sandro Aguilar passou pelo Internationale Kurzfilmtage

 O Festival Internacional de Curtas-Metragens de Oberhausen realizou-se de 1 a 6 de maio, e deu a conhecer Exotic Words Drifted de Sandro Aguilar.

Passaram setenta anos sobre a primeira edição do que no ano de 1954 foi designado por “Westdeutsche Kulturfilmtage”, projecto fundado pela associação pedagógica e cultural Oberhausen Volkshochschule, liderada por Hilmar Hoffmann, e pelo Filmclub Oberhausen. No arranque do festival participaram quarenta e cinco filmes oriundos de países como a República Federal Alemã, França e EUA. Nesta época a influência dos interesses ocidentais que se fazia sentir na sociedade alemã do pós-guerra favorecia um alinhamento em que os países de Leste, e naturalmente a RDA (República Democrática Alemã), constituíam o outro lado da equação, inclusivamente no plano das relações culturais onde a produção de cinema era um pilar importante da geo-estratégica de comunicação.

Exotic Words Drifted
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Os responsáveis do festival cedo perceberam a necessidade e urgência de um diálogo entre os dois mundos separados pela Guerra Fria, e a partir da quarta edição adoptaram uma posição politicamente relevante que ampliou de forma significativa o seu raio de acção ao introduzir na programação filmes produzidos no chamado Bloco de Leste. Decisão mais do que acertada que permitiu abrir as portas a um conjunto de obras muito significativas do ponto de vista artístico, herdeiras de grandes cinematografias que haviam dado cartas e continuavam a dar cartas na História Mundial do Cinema. Deste modo, em 1959 o então rebaptizado “Westdeutsche Kurzfilmtage” mudou o conceito inicial de manifestação voltada para a Kultur (Cultura) e passou ao mais pragmático e directo Kurz (Curta), referência fílmica mais específica. Na prática, esta pequena grande mudança diplomática resultou na ascensão do renovado conceito de festival, que passou rapidamente a ser considerado uma meca da curta-metragem a nível internacional, um dos poucos senão mesmo o único lugar em que se podiam visionar filmes que de outro modo não circulavam livremente entre o Leste e o Ocidente.

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Foi já neste contexto que a 28 de Fevereiro de 1962 um grupo de jovens cineastas alemães (entre muitos outros, Alexander Kluge, Edgar Reitz ou Peter Schamoni) assinou um documento que ficou conhecido por Oberhausen Manifesto, onde se desenhava um apelo de vanguarda a favor de novas perspectivas para a produção cinematográfica alemã e se pugnava pelo despertar de uma nova era menos conservadora que desse lugar a uma necessária renovação geracional. Em 1991, já consolidado nos seus propósitos e propostas de programação, o festival passa a ser designado pelo nome que até agora se mantém, Internationale Kurzfilmtage Oberhausen. Nos dias de hoje, a sua importância pode ser medida pelos números que ostenta e, como se costuma dizer, eles falam por si: ao longo de seis dias (1-6 Maio) foram exibidos cerca de 450 filmes, 117 dos quais integraram as diferentes secções competitivas. Os prémios atribuídos somam um valor global de 43 000 Euros. Nesta edição comemorativa dos setenta anos de actividade, para além do público cinéfilo, nas sessões da competição e nas diversas retrospectivas e programas especiais participaram cerca de novecentos acreditados vindos de sessenta países, além de muitos profissionais cuja presença se faz sentir no interior das salas de cinema assim como nos postos de visionamento do Mercado da Curta-Metragem.


Sobre os (Mal) Vencidos e Alguns Vencedores…

Posso dizer que a minha relação com o Internationale Kurzfilmtage Oberhausen principiou há muitos anos, mais precisamente no ano em que o programa Onda Curta foi estreado na RTP2, ou seja, 1996. Desde sempre que procurei na minha linha editorial de programação as propostas mais arrojadas quer do festival quer do mercado que se podiam encontrar localmente e que hoje podem ser igualmente visionadas online. Dei sempre especial atenção aos projectos que no campo do cinema de vanguarda (e em alguns casos, no quadro do puro exercício experimental) me pareciam os mais compatíveis com as minhas opções de programação. Em boa verdade após, não setenta, mas para aí uns vinte e oito anos de militante participação no festival, não mudei de ideias. Deste modo, nesta minha crónica sobre os filmes que vi em 2024 irei destacar da Competição Internacional apenas o conjunto dos que mais me entusiasmaram, independentemente do seu posicionamento no palmarés, sendo que esta selecção pessoal incidiu sobre os vencedores e os vencidos. Passemos então ao que aqui e agora nos interessa.

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Ba’ad Thalek La Yahdoth Shea’ (Nothing Happens After That), Ibrahim Omar, 2023, Sudão. Podemos dizer que esta obra de um sudanês (fundador do Instituto de Cinema do Sudão mas formado no Instituto Superior de Cinema do Cairo) representa um olhar muito particular sobre as precárias condições em que vivem no Egipto os refugiados e emigrantes seus compatriotas. Nele vemos um pai que procura organizar o funeral do filho que morreu muito jovem, acto que por razões óbvias se afigurava imprescindível do ponto de vista sanitário e material e igualmente no plano da expiação espiritual. Só que a realidade cai com estrondo em cima dele (e sobre outros familiares e amigos que o rodeiam) quando se vê confrontado com a burocracia e a inércia local que num dia feriado o irá obrigar a prosseguir uma absurda série de circunvoluções do cadáver de lá para cá.

De facto, um fatídico dia em que nada parece funcionar. E o dilema número um permanece até ao fim: onde enterrar a criança se não há ninguém disponível para realizar o mínimo dos mínimos de umas exéquias fúnebres? Na derradeira sequência, diga-se, mais ou menos previsível, o corpo será empurrado para dentro de um vulgaríssimo frigorífico, objecto absolutamente inadequado para o serviço que no fundo irá prestar, a conservação do corpo para que ele não se decomponha rapidamente devido ao calor que em geral invade a capital egípcia. E a criança morta, sentada no interior do electrodoméstico, como se fosse um santo num nicho de um improvável altar, surge aos nossos olhos como uma das representações mais subversivas na crítica directa ao modo de ser e estar das sociedades submetidas ao amargo leque de vicissitudes do chamado Terceiro Mundo. Recebeu a Menção Especial do Prémio do Júri do Ministério da Cultura e Ciência da NRW, North Rhine-Westphalia. (60/100)

Hitbasrut (Decryption), Maya Zack, 2023, Israel. Esta não foi a primeira abordagem que a cineasta israelita Maya Zack assumiu com base nas múltiplas facetas da memória. Neste caso, a artista visual incidiu na reconstrução da imagem materna a partir de uma antiga fotografia da progenitora, sobre a qual irá fazer uma intervenção plástica de invulgar criatividade. Trata-se de um processo complexo de recorte e de colagem de imagens e palavras que se vão formando limitadas pelas quatro linhas do enquadramento e que combinadas com planos de grande densidade fotográfica nos revelam uma espécie de ritual mágico e poético na relação entre o passado da mãe e o presente/futuro da filha. Menção Especial do Júri Ecuménico. (75/100)


Spirited City, Ang Siew Ching, 2023, Singapura. Na génese deste ensaio sob a forma de poema visual está um facto material de uma imensa crueza, a necessidade de exumar uma série de corpos sepultados num antigo cemitério de Singapura, o Bukit Brown Cemetery. Tudo por causa da construção de uma estrada que de acordo com o moderno e previsto planeamento urbano deveria atravessar aquele local, digamos assim, sagrado, sobretudo para a comunidade de origem chinesa. Numa combinação de imagens onde se inclui a memória visual dos mortos e a presença omnipresente da Natureza e dos seres que nela habitam, nomeadamente simpáticos macacos que por ali pululam, a realização procura demonstrar os conflitos e contradições entre os valores espirituais e as ambições plutocráticas das autoridades na afirmação pesada e nada meiga do seu desejo de progresso e modernização rodoviária a qualquer preço. (70/100)

Chun Èr Shí San (Spring 23), Wang Zhiyi, 2023, China. Nada mal representada nos dias e noites de Oberhausen, a cada vez mais forte presença da cinematografia chinesa nos circuitos internacionais provou este ano as suas qualidades com esta obra onde um jovem prepara o funeral do seu pai mas, pelo caminho, irá esbarrar com um problema, ou seja, ao contrário do que seria habitual não poderá fazer uso de qualquer artefacto pirotécnico em homenagem ao defunto, porque a secular utilização de fogo-de-artifício fora proibida no ano de 2023. Tudo aquilo que iremos ver passa então pela conturbada odisseia de alguém que não desiste (mesmo incorrendo numa falta grave ou até na pura e simples ilegalidade) de obter aquilo que lhe parece imprescindível no cumprimento de um ritual de passagem. Felizmente, o humor (negro) com que se encara a solução assumida pelo protagonista no final do seu périplo não despreza a seriedade que o assunto desde cedo mereceu, numa simbiose quase perfeita entre a força de vontade individual e os limites do colectivo na realidade chinesa quotidiana. Recebeu o Grande Prémio da Cidade de Oberhausen, atribuído pelo Júri Internacional, e ainda o Prémio da FIPRESCI, atribuído pela referida associação de críticos. (75/100)

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On Hospitality – Layla Al-Attar and Hotel Al Rasheed, Magnus Bärtås, Behzad Khosravi-Noori, 2023, Suécia. Neste filme sobre um caso ocorrido no Iraque durante o regime de Saddam Hussein assistimos a uma espécie de ressurreição de uma das figuras proeminentes do regime, a da artista Layla Al-Attar, assumida por uma actriz contemporânea. No momento em que decorria a devastadora guerra Irão-Iraque, Layla Al-Attar foi escolhida para directora artística e decoradora do luxuoso Hotel Al Rasheed de Bagdad, cuja construção nos anos oitenta do século XX, por ordem do poder vigente, devia ser prova da pretensa pujança e estabilidade do país. De facto, nele deveriam ser alojados por altura da inauguração os altos representantes e demais convidados de uma prevista Conferência do Movimento dos Não Alinhados. Todavia, a sua finalidade acabou por ser posta em causa pela acção de um ataque surpreendente promovido por um piloto da força aérea iraniana que conseguiu atingir alvos muito próximos do emblemático edifício.

Depois deste incidente, a dita conferência foi deslocada para Nova Deli, na Índia. Entretanto, no início dos anos noventa e com o eclodir da Guerra do Golfo, o Hotel Al Rasheed foi um dos centros nevrálgicos da cidade iraquiana, não só para os homens e mulheres de negócios, mas também e sobretudo para numerosos jornalistas da imprensa mundial. Foi no lobby deste Hotel que Layla Al-Attar concebeu um mosaico com o rosto de George W. Bush. Tratava-se obviamente não de uma homenagem ao presidente americano mas sim de uma humilhação e provocação, já que a obra de “arte” fora colocada num local de passagem onde era suposto ser continuamente pisado, ou seja, qualquer hóspede devia passar-lhe por cima com os pés. Dito isto, o dispositivo a meio caminho do documental e do ficcional inerente a esta curta, baseado na observação do passado e do que resta dele na actualidade daquele espaço com 1001 quartos, procura estabelecer a ponte para a compreensão de um conflito que perdura para além das consequências bélicas imediatas. Procura igualmente revisitar os ecos que deixaram marcas e não são fáceis de erradicar do corpo e da alma de quem sofreu na pele as consequências das sucessivas guerras que assolaram e assolam a região. Recebeu o Primeiro Prémio do Júri do Ministério da Cultura e Ciência da NRW, North Rhine-Westphalia (60/100).


The Many Interrupted Dreams of Mr. Hemmady, Amit Dutta, 2024, União Indiana. Este filme usa os grafismos impressos em caixas de fósforos comercializados há muitos anos na Índia, mas maioritariamente produzidos no Japão e num ou outro país ocidental, nomeadamente a Suécia. São objectos cujas referências pictóricas pertencem visivelmente a outras eras e seguramente fazem parte de uma colecção adquirida com inegável paixão. Na verdade, durante o visionamento o sentimento prevalecente no decorrer das meta-narrativas propostas passa pela sensação que um qualquer colecionador experimentaria se as ditas caixas fossem alinhadas de forma a constituírem um mosaico de padrões e se através do fôlego vital e mágico da animação resultassem em peças de um portal para um universo alternativo de múltiplos referentes onde os rostos humanos, o corpo dos animais, as formas dos seres mitológicos se interligassem numa explosão e exploração de simbologias relacionadas com as ilustrações outrora inertes. Para além do seu fascínio visual, esta obra pertence a uma categoria muito curiosa, a dos filmes que não possuem uma definição clara do seu princípio e fim. Digamos que existe um meio situado entre dois fotogramas, porque a isso a proto-narrativa obriga, mas o seu núcleo central passa pela fruição pura do seu processo criativo que de um modo quase hipnótico decorre ininterrupto diante dos nossos olhos. Sem cair nos excessos de anarquia visual de alguns projectos de pseudo-vanguarda, The Many Interrupted Dreams of Mr. Hemmady” situa-se plenamente no quadro do verdadeiro cinema experimental. Recebeu o Prémio Principal do Júri Internacional. (75/100)

Sore Wa Tonikaku Mabushii (Radiance), Hatano Shuhei, 2023, Japão. Mesmo após o abrandar das regras de confinamento devidas ao COVID-19, continuam a surgir no cinema, e não só, projectos que se debruçam sobre esses dias e sobre iniciativas que no plano individual ou colectivo reflectiram sobre o dia-a-dia vivido no círculo mais íntimo a que um ser podia estar sujeito de forma mais ou menos voluntária, a saber, o seio familiar. Produzido entre 2020 e 2021, ou seja, durante um ano de reclusão forçada nos limites da sua casa e jardim, o realizador deste diário sob a forma de curta-metragem filmou aquilo que ele próprio define como os mais vulgares e corriqueiros gestos quotidianos, quer os da sua filha ainda criança quer os da sua mulher. Todavia, considerados de forma isolada, os materiais digitais obtidos não podiam ser mais frágeis. Panorâmicas mal concebidas ou planos só por acaso bem enquadrados. Imagens e sons onde não se nota uma réstia de preocupação pelo rigor exímio da composição, apenas pela funcionalidade do aponta e dispara (na nomenclatura de utilização do material fotográfico), e muito menos uma sistemática ou estilo próprio e identificador.

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Há mesmo alturas em que o autor confessa, no comentário dito com alguma ironia e que acompanha o material montado, que se esquecia da câmara ligada sem saber que ela estava a gravar. Seja como for, por isso mesmo o que mais surpreende na estrutura final deste filme vai ser o lado sedutor e até coerente (pelo menos até aos poucos minutos que antecedem a sua conclusão) com que planos mal concebidos, rodados contra a lógica de uma planificação por mais simples e mínima que fosse, acabam por adquirir sentido no processo de montagem que na sua estrutura  final nos dá a conhecer uma história familiar que, mais uma vez, não precisa de um princípio, meio e fim mas apenas de duas balizas, neste caso, duas datas, 2020 e 2021.  Partilhamos neste filme com o realizador uma autêntica celebração de memórias feitas de rápidas impressões e flagrantes da vida real num contexto em que o exterior fora substituído pelo interior e o mundo possuía os limites, a dimensão e a fragilidade da natureza humana. (80/100)

Referi alguns dos filmes que na minha opinião mereceram o devido destaque na competição internacional. Por isso mesmo, não posso deixar de mencionar a excelente incursão na curta-metragem do português Sandro Aguilar, que este ano concorreu com o seu “Exotic Words Drifted, 2023, Portugal (Produção O Som e a Fúria). Provavelmente para ele, seguramente para mim, o clássico “Leave Her To Heaven” (Amar Foi a Minha Perdição), 1945, de John M. Stahl, perfila-se como um dos mais belos film noir a cores, e que cores aquelas, as do Technicolor nas mãos de um mestre da fotografia chamado Leon Shamroy. Pois bem, Sandro Aguilar, quase setenta e cinco anos depois, separou um conjunto de planos desta magnífica longa-metragem, condensou o resultado final em pouco mais de quinze minutos e não se limitou a usar o conceito mais do que estafado do “found footage”, ou melhor, a vampirização do filme alheio para conceber a sua audiovisão particular, que melhor apreciamos se soubermos o que víamos e ouvíamos no filme original. Mas não se ficou pelo exercício de (re)montagem. Retirou a cor e substituiu-a pelo negro denso e por luz branca sobre impressões de negativo como “cores” dominantes.

Exotic Words Drifted Internationale Kurzfilmtage Oberhausen
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Tudo junto, mais a contribuição das ferramentas do software digital, constitui a base deste “Exotic Words Drifted”, e os efeitos dinâmicos e cromáticos que daí resultam são uma absoluta maravilha. De igual modo, ao primado da ausência da primitiva paleta de cores junta-se o silêncio dos diálogos, agora inexistentes, pelo menos no plano da palavra dita. Porque o diálogo dos corpos e dos rostos, o significado de cada interacção e de cada olhar, isso está lá inteiro e de forma poderosa para nos arrebatar os sentidos, para nos fazer adivinhar a nova sobre a velha intriga. Nada disto seria compatível entre si se a estrutura da montagem não fosse apoiada por uma magnífica e precisa recriação do espaço sonoro. Em suma, não por ser português, mas porque constitui um dos grandes filmes do Festival de Oberhausen, aqui fica a minha classificação: 100/100.

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João Garção Borges no 70th International Short Film Festival Oberhausen

Festival de Oberhausen, a Crítica
Internationale Kurzfilmtage Oberhausen Cartaz

Movie title: Internationale Short Film Festival Oberhausen

  • Ba'ad Thalek La Yahdoth Shea' - 60
  • Hitbasrut - 75
  • Spirited City - 70
  • Chun Èr Shí San - 75
  • On Hospitality – Layla Al-Attar and Hotel Al Rasheed - 60
  • The Many Interrupted Dreams of Mr. Hemmady - 75
  • Sore Wa Tonikaku Mabushii - 80
  • Exotic Words Drifted - 100
74
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