Festival de Veneza 2024: O brutal “The Brutalist” de Brady Corbet
Com duração de três horas e meia (215 minutos) e intervalo, “The Brutalist”, do actor e realizador Brady Corbet é um drama épico incrível, filmado em 70mm, que passa sem se dar por isso e segue parte da vida do arquiteto judeu László Toth (Adrien Brody) imigrado para os EUA, depois de ter sobrevivido a Auchevitz. É para já o melhor e mais completo filme na competição do Festival de Veneza 81.
“The Brutalist”, o drama épico do norte-americano Brady Corbet, segue parte da vida do arquiteto judeu László Toth (Adrien Brody) e da sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) numa jornada de décadas, depois da sua viagem da Europa após a Segunda Guerra Mundial, para construírem uma nova vida na América.
O ainda jovem realizador Brady Corbet (36 anos) é uma figura fascinante, que adora Portugal e sobretudo comer bem, tem aliás engordado uns quilos, nos últimos anos. Ator muito talentoso e precoce, aos dezesseis anos foi protagonista de “Mysterious Skin”, de Gregg Araki.
“The Brutalist” no Festival de Veneza
O filme esteve na competição da secção Orizzonti de Veneza 2004, não ganhou nada, mas o cinema ficou de olho num actor para o futuro. Depois de Gregg Araki, Michael Haneke contou com Corbet para o remake americano de “Brincadeiras Perigosas” (2007). Depois com Lars Von Trier, fez “Melancolia” (2011). A sua vontade de trabalhar com grandes realizadores europeus persistiu com Bertrand Bonello (“Saint Laurent”), Ruben Östlund (“Força Maior”) e Olivier Assayas.
É precisamente em “Nuvens de Sils Maria”, de Assayas, que Corbet, interpreta um jovem ator americano e no final desabafa com Juliette Binoche sobre o argumento que escreveu e que acabou por transformar no seu filme de estreia: “A Infância de um Líder”, ganhou o Prémio De Laurentiis de Melhor Primeira Obra e de Melhor Realização na secção Orizzonti do Festival de Veneza 2015. Foi um filme muito apreciado pela crítica e pelos círculos de cinema independente em Portugal, inclusive estreou no LEFFEST, nesse mesmo ano.
Porém o caminho de Corbet para chegar a um Leão de Ouro, continuaria com “Vox Lux”, (2018) a história de uma estrela do rock interpretada por Natalie Portman, e agora finalmente na competição principal, com este “The Brutalist”, a sua terceira longa-metragem e que longa, com duração de três horas e meia (215 minutos), incluindo um intervalo de 15 minutos. Porém o filme parece que passa num instante e é tão absorvente que não se dá pelo tempo passar.
Os temas deste filme épico e grandioso são a América construída pelos migrantes, o sonho modernista bastante actuais que lhe abrem decerto portas para a corrida aos próximos Óscares, independentemente de ser premiado aqui ou não. Mas tudo leva a crer que pelo seu ‘visionarismo clássico’, não sairá daqui sem um prémio.
Sobretudo trata-se de uma história de amor e compreensão mutua, entre os dois seres com enorme talento e cultura, mas decerto modo frágeis na sociedade capitalista americana: László Toth e a mulher, que têm que defender-se do feroz e sinistro industrial Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce), que ao mesmo tempo contratará o arquitecto para projetar um monumento que mudará para sempre, a vida do casal. László Toth é um arquiteto brilhante, um judeu húngaro que sobreviveu a Auschwitz. Em 1947 mudou-se para os EUA com sua esposa Erzsébet.
Depois de alguns anos de grandes dificuldades, encontra alguém que lhe permitirá dar vazão à sua criatividade, o misterioso e riquíssimo Harrison Lee Van Buren, que lhe encomenda uma obra gigantesca, na qual, no entanto, Toth não quer, qualquer interferência criativa. Porém é entre outras fragilidades, viciado em ópio ou num composto de heroína.
Génio, incompreensão, imprudência e comportamentos no limite, caracterizam quase sempre os protagonistas dos filmes de Corbet. Para este ambicioso projeto “The Brutalist”, o realizador que não é mais ator (não está à frente das câmeras desde 2014) inspira-se nos clássicos do cinema americano dos anos 40, como “Verdade Indómita” (“The Fountainhead), de King Vidor, que por sua vez é baseado no romance de Ayn Rand, escritora russa-judaica e filósofa do movimento Objectivista norte-americano, um sistema filosófico que vê o ser humano como uma criatura heróica que deve ter a busca da felicidade como obrigação moral, a produtividade como objetivo e a razão como absoluto.
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Brady Corbet deve ter estudado extensivamente os escritos de Ayn Rand (1905-1982), mas também deve ter visto várias vezes “O Mundo a Seus Pés” (“Citizen Kane”), de Orson Welles. Uma das sensações revivalistas — e pode ser uma boa sugestão para sessões mais longas — desta notável projecção foi a introdução de um intervalo de 15 minutos, com uma a projecção de um slide no ecrã. Bem visto!