Festival de Veneza 2024 | Joker: Loucura a Dois, o espetáculo continua no cinema
Depois do primeiro filme de 2019, “Joker: La folie à deux”, de Todd Philips estreou aqui na Competição de Veneza 81, com as expectativas bastante elevadas. É menos sombrio que o anterior e descobre-se como se fosse um filme do género musical.
“Joker: La folie à deux”, a muita aguardada continuação da história do transtornado vilão saído do quadradinhos de Batman, mas que se autonomizou na saga de Todd Philips, começou muito cedo às 8h15 da manhã, com uma pequena animação que no fundo resume o drama do primeiro filme de 2019. À partida também se pensaria que a “loucura a dois” seria a base do drama protagonizado por Joaquin Phoenix e Lady Gaga. Mas não trata-se de um transtorno psicótico identificado em 1877, pelos psiquiatras franceses Ernest-Charles Lasègue e Jean-Pierre Falret, e que significa um indivíduo ter como que duas personalidades, distintas e é isso que a advogada de defesa de Arthur Fleck (Phoenix), vai tentar provar em tribunal.
Um Joker mais luminoso
Depois da violenta tragédia inicial — em que o Joker matou 6 pessoas, incluindo a própria mãe — bem-vindos ao mundo luminoso deste “Joker: Folie à Deux”, que apesar de tudo é muito menos sombrio que o primeiro filme, que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza 2019, dois Óscares e mais de 100 prémios em todo o mundo. Consagrando esta tragicomédia social ao nível da arte pura e do cinema de autor. Portanto, era inevitável que nesta sequela a fasquia das expectativas, fosse ainda mais elevada. Porém, o filme vai surpreendentemente muito mais além da revolução já provocada, no anterior, dos cânones dos filmes de super-heróis e vilões.
Com a música no coração
Arthur Fleck (Phoenix) está recluso em Arkham, preparando-se para o julgamento pelos seus crimes como o Joker (Coringa). Continuando de certa maneira a lutar à sua maneira, com sua dupla identidade, Arthur vai frequentar aulas de canto na prisão-hospital Arkham. É aí que o Arthur encontra a expressiva e alegre Lee (Gaga), tropeçando num amor verdadeiro e descobrindo que tem a música no coração. É neste Asilo Arkham que de facto a tal ‘loucura a dois’ fortemente se desencadeia: Lee (Lady Gaga) fica também intrigada e atraída por Arthur/Joker e os dois parecem apaixonar-se perdidamente, encontrando algo de comum, nas suas patologias (‘Não sou ninguém. Não sou ninguém. fiz tudo na minha vida, como tu’, ela diz a Arthur.). Mas a coisa não vai correr como ambos esperavam.
Um verdadeiro musical
Entretanto Lee é libertada e vai acompanhar o julgamento de Arthur, enquanto os seguidores que este conquistou após o assassinato ao vivo na televisão manifestam-se à porta do tribunal para incentivá-lo e libertá-lo. E a saga aparentemente fecha-se por aqui com a surpresa de mais um trágico desfecho final, à boa maneira dos clássicos gregos. Contudo “Joker: La folie à deux”, um filme que explora sobretudo a questão da identidade, tem momentos muito engraçados, visualmente fortes (às vezes também violentos).
Em breve na Broadway
Mas é sobretudo um filme do género musical, cujas raízes assentam em vários e bem conhecidos covers da música popular norte-americana, brilhantemente interpretados, pelos dois protagonistas, recriados como nos espetáculos de show biz (aparecem vestidos num belo modelo Sonny & Cher), inclusive numa incrível cena de sapateado; que não temos bem a certeza se é o próprio Phoenix que o interpreta. Embora que, para um ator extraordinário como ele tudo seja possível. O argumento, que regista uma fuga do protagonista do tribunal, este corre em direção à 42º Street, o berço do teatro musical nova-iorquino (ou de Gotham City). Portanto não se admirem um dia destes depois do filme, ver “Joker: La folie à deux, O musical”, em cartaz na Broadway.
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