Mireille Herbstmeyer ©Netflix

Marianne, a primeira temporada em análise

Marianne é a nova aposta da Netflix na secção de terror. Falada em francês, a nova série de Samuel Bodin promete deixar qualquer um com arrepios na espinha. 

O calendário marcava a sexta-feira. O dia era treze. E a superstição ditava o azar e o infortúnio. Crianças cantavam uma alegre cantiga em pano de fundo…

“Marianne, nascida numa terça-feira, feliz numa quarta-feira, casada numa quinta-feira, bruxa na sexta-feira, apanhada no sábado, julgada no Domingo, executada na segunda-feira, enterrada na terça-feira.”

Apesar de o dia ser de desgraça, a Netflix, que continua imparável na produção de originais, assumiu este como o dia ideal para o lançamento de mais uma série de terror. Com os astros todos alinhados no dia mais negro do advento, a plataforma de streaming presenteou os espectadores com “Marianne”. Após o enorme sucesso de “The Haunting of Hill House“, parece que a Netflix tomou o gosto por este género que tanto cativa a atenção daqueles que têm a satisfação retorcida de serem assustados.

A nova aposta da Netflix tem origem francesa, tendo sido criada e dirigida por Samuel Bodin, com argumento do mesmo e Quoc Dang Tran e protagonizada por Victoire Du Bois, Lucie Boujenah e Tiphaine Daviot nos papéis principais.

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Victoire Du Bois © Netflix

“Marianne” conta a história de Emma (Victoire du Bois), uma jovem escritora de trinta anos, no auge do sucesso que alcançou com a saga literária Lizzie Larck, que tanto horrorifica como delicia os leitores. No entanto, Emma decide encerrar a saga, ainda para mais, com um final em aberto, o que traz à tona assombrações  do seu próprio passado. É então que, numa sessão de autógrafos, a autora é confrontada por uma antiga amiga – Carol (Aurore Broutin)– que refere que algo sombrio está a caminho, sendo que a sua própria mãe (Srª. Daugeron) está com comportamentos dementes e, por isso ela tem que regressar a Elden – a sua cidade natal.

Contudo, quinze anos antes da acção presente, Emma tinha deixado esta pequena vila francesa assombrada por demónios que haviam de a marcar nos anos vindouros. Acompanhada pela sua assistente, Camille (ou CamCam como é muitas vezes referida), a protagonista regressa a Elden, determinada a descobrir de que forma as suas criações literárias podem estar a afectar o mundo real. É tempo de reencontrar os seus pais e os seus amigos de infância. Porém, Elden tem agora uma atmosfera sombria e Emma começa a reconhecer atitudes estranhas e lascivas até naqueles que lhe são mais próximos – é Marianne, o espírito da bruxa satânica que atormenta a heroína da sua saga, Lizzie Larck, que chegou para se vingar de Emma, a autora que insiste em não escrever mais.

Mas preciso cuidado… porque Marianne nunca parte de mãos vazias…

Samuel Bodin e Quoc Dang Tran conseguiram um argumento que desde o início revela sinais de que há algum tipo de monstro ou demónio como vilão principal e, com o passar do tempo esses sinais vão ficando mais fortes e presentes,  tornando os sustos mais fortes e agressivos. Neste tipo de produção é comum vermos uma banda sonora que ajuda a criar momentos de tensão, preparando os grandes jumpscares, porém, em “Marianne”, o som de fundo nem sempre mantém a tenebrosidade adequada ao momento.

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Marianne ©Netflix

Todos os episódios começam com frases de escritores conhecidos e que associamos ao mundo do terror, como Edgar Allan Poe, por exemplo. Ao longo dos mesmos, o enredo é folheado como se de um livro se tratasse, como se o leitor tivesse que ler a página seguinte para saber o desfecho da intriga.

À medida que decorrem os oito episódios, são invocados alguns clichés já batidos (e re-batidos) no universo do horror, relacionados com o próprio argumento – como a ideia de que é possível controlar espíritos recorrendo ao seu verdadeiro nome – ou com a linguagem visual, claramente influenciada pelo jogo de câmara inventado por James Wan (“The Conjuring – A Evocação“). “Marianne” recorre também ao nojo fácil, popularizado, por exemplo, em “Saw” e, claro, importa referir que há um momento à la “O Exorcista”, como não podia faltar.

Ofuscado frequentemente por olhos brilhantes, é também possível ver ver uma referência à cultura japonesa, uma vez que, parecem ser usadas máscaras associadas ao teatro kabuki, afim de personificar a bruxa que assombra Emma.

Nesta produção televisiva é-nos também um pouco impossível criar empatia com a personagem de Du Bois, uma vez que esta tem comportamentos de risco e atitudes que revelam bastante egoísmo face aos seus amigos e familiares. Outro ponto menos bom é que, ainda que, de inicio a série se apresente misteriosa, logo se encaminha para um desfecho bastante previsível, conduzindo-nos a um momento bastante influenciado pela obra de Roman Polanski – “A Semente do Diabo”.

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Lucie Boujenah ©Netflix

A série tem até um argumento bastante consistente, bem pensado, porém, os diálogos ficam, por vezes, aquém da expectativa. Com cliffhangers que prendem, referências bem colocadas e bons jumpscares, “Marianne” deixa a sensação que podia ir bem mais além e ficar a par com “The Haunting of Hill House”.

O grande ponto alto de “Marianne” é a Srª. Daugeron (Mireille Herbstmeyer), sombria e, até mesmo, nojenta. Esta personagem mantém o espectador focado mais de metade da temporada, chegando mesmo a roubar o foco à jornada de Emma, que constitui o centro da trama. A personagem de Herbstmeyer, que detém um vasto currículo no teatro, é o pináculo do horror desta série – o terror está-lhe nos olhos e o medo que inspira na forma como deforma o próprio rosto com um simples sorriso – simplesmente delicioso!

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Mireille Herbstmeyer ©Netflix

A verdade é simples: o público gosta de ser assustado! E nisso “Marianne” não falha, podendo-se dizer que cumpre o propósito.

A necessidade de saber o que vai acontecer após cada episódio, geralmente terminado com um cliffhanger, torna a série numa maratona de consumo rápido, quase como se de fast-food se tratasse, que comemos com avidez mas que, no final, deixa a sensação de que não foi a refeição gourmet que o nosso estômago merecia.

TRAILER | MARIANNE

Ansiosos por uma segunda temporada? Fãs de terror, “Marianne” é um grande sim ou um grande não?

Marianne - Temporada 1
Marianne

Name: Marianne

Description: Marianne conta a história de Emma (Victoire du Bois), uma jovem escritora de trinta anos, no auge do sucesso que alcançou com a saga literária Lizzie Larck, que tanto horrorifica como delicia os leitores. No entanto, tudo se complica quando as suas próprias criações chegam para assombrar a sua vida.

  • Ana Fernandes - 65
65

CONCLUSÃO

O MELHOR – A interpretação de Mireille Herbstmeyer, que com o horror no olhar, inspira o medo no espectador, mantendo-o agarrado ao ecrã durante mais de metade da temporada.

O PIOR – A ausência de empatia que o espectador, inevitavelmente cria com a protagonista Emma, a par com os diálogos, por vezes desprovidos de conteúdo e pouco trabalhados.

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