Robert Pattinson. © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

Mickey 17 na 75ª Berlinale: Robert Pattinson ​é um homem​-duplicado

Em “Mickey 17” o realizador coreano Bong Joon Ho (“Parasitas”), junta um fabuloso elenco anglo-americano, à cabeça com Robert Pattinson num drama muito peculiar de ficção cientifica, com algum humor negro à mistura sobre um futuro próximo, que não andará muito longe. 

Apresentado na secção Berlinale Special (fora da competição, portanto é um não-candidato ao Urso de Ouro), após ao que parece pelas redes sociais, uma estreia muito bem sucedida em Londres, “Mickey 17” a oitava longa-metragem do realizador e argumentista coreano Bong Joon Ho, marca um regresso muito desejado à ribalta.

Já passaram seis anos depois de “Parasitas” (2019), um grande vencedor dos Oscar de Hollywood e um filme que decerto já tem uma marca importante na história do cinema contemporâneo. Bong Joon Ho, volta agora com uma comédia negra de ficção científica, que traz alguns dos temas dos seus filmes anteriores: o desconforto distópico de “Expresso do Amanhã”, o sentido de humor excêntrico de “Okja” e a melancolia de “Parasitas”.

Embora desta vez o cineasta tenha trabalhado com um orçamento e um âmbito narrativo muito maiores, já que o filme com alguns incidentes pelo meio, no seu processo de criação, que já falámos aqui, e produzido pela major Warner Bros, deve chegar às salas na Primavera. Robert Pattinson é a grande figura do filme de Bong Joon Ho e a sua interpretação dá-nos tanto uma grande ressonância promocional, como é o actor perfeito, pela sua expressividade, para essa imagem de antevisão de um futuro angustiante e perigoso.

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Um planeta a caminho da catástrofe e desagregação

Mickey 17
Robert Pattinson. © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

Adaptando do romance de Edward Ashton, publicado 2022 — tem edição portuguesa da Asa — Bong Joon Ho coloca Pattinson a interpretar Mickey,  um zé-ninguém, que vive num futuro próximo e que realiza trabalhos desqualificados e altamente perigosos, enquanto uma boa parte da população terrestre se prepara para colonizar um planeta distante.

Entretanto, foi desenvolvida, uma tecnologia que possibilita que cada vez que morre um ser humano desqualificado como Mickey, uma réplica dele possa ser criada para desempenhar as mesmas tarefas, uma espécie de ‘carne-para-canhão’.

“Mickey 17” é um filme complicado porque oscila por vezes num equilíbrio de tons narrativos diferentes e algo sombrios. Contudo o coreano, mantém o seu tom de denúncia em relação à crueldade humana, ao mesmo tempo que tem uma certa compaixão por um protagonista que não pode morrer, mas verdadeiramente também, não pode viver para sempre.

Duas versões da mesma réplica

Mickey precisa de escapar às suas dívidas na Terra e por isso concorda apressadamente aceitar um trabalho de militar, para realizar missões arriscadas, numa colónia planetária extraterrestre. Além disso, sabe que as suas memórias serão implantadas numa nova réplica dele, caso venha a morrer.

Em “Mickey 17”, Bong constrói ainda uma civilização não tão longínqua como isso do nosso tempo, na qual um líder egocêntrico é aceite como uma espécie de messias, enquanto os plebeus humildes como Mickey são chamados de ‘dispensáveis’:  a sua única função é servirem como soldados (milicianos) descartáveis ​​ou simples ratos de laboratório, para experiências de clonagem.

Mickey 17 (Pattinson) é aliás tratado praticamente como se fosse sub humano. Sempre estupidamente sempre muito angustiado Mickey, trata de questionar o seu amigo e (traidor) Timo (Steven Yeun ), à sua simpática amiga Kai (Anamaria Vartolomei), ou aos vários personagens que o rodeiam no laboratório de clonagem, várias vezes a mesma pergunta: Como é morrer?

Uma ditadura interplanetária 

Em 2054, Mickey 17 (Pattinson) faz então a sua viagem interplanetária, que é gerida por um fanático tirano e intolerante Kenneth Marshall (Mark Ruffalo) — não por acaso uma personagem que é uma combinação de Trump e Musk —, em direcção a Niflheim, um planeta remoto e gelado, objectivo da colonização.

A sua invulgar alcunha de Mickey 17, vem já do facto de ser a 17ª clonagem de si mesmo. Um dia, numa missão no exterior da paisagem gelada do novo planeta, caiu numa fenda profunda e foi dado como morto. Porém, Mickey consegue voltar à base, mas constata que por necessidade, já ‘imprimiram’ um outro Mickey 18 (também Pattinson). E claro, isto representa um problema, porque os ‘múltiplos’ — duas versões da mesma réplica — são obviamente ilegais, o que significa que os Mickeys, têm de esconder o facto de ambos existirem.

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As vantagens da relação sexual a três

Mickey 17
Robert Pattinson. © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

O único alívio de Mickey para esta melancolia duplamente existencial, vem de ter um caso amoroso com Nasha (Naomi Ackie), uma gentil oficial de segurança de Niflheim, que o vê como mais do que apenas uma cobaia humana, embora tenha os seus defeitos: quando Mickey 18 chega, a rapariga sugere as ótimas ​vantagens sexuais de ter uma relação a três.

Enquanto Mickey 17, transmite uma genialidade estúpida, Mickey 18 tem um comportamento antag​ónico ou seja agressivo e detesta o seu frágil antecessor. Com medo de ser descoberto pelas autoridades, Mickey 18 acha que Mickey 17 tem de morrer — afinal, para quê existirem dois iguais??? — mas por seu lado, Mickey 17 defende que são diferentes o suficiente para que aquilo que o torna único, não desapareça para sempre. De repente, o mal-estar existencial de Mickey de morrer repetidamente, acaba substituído por algo ainda mais desesperante — a perspetiva de nunca mais voltar à vida.

O planeta Niflheim, afinal é habitado

mark ruffalo
Mark Ruffalo, Toni Colette. © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

O planeta nevado, revela ainda um complexo segredo: a existência de criaturas indígenas — muito parecidas com o monstrinho Okja — que o fanático Kenneth marginaliza chamando-lhes ‘trepadeiras’ e ordenando o seu extermínio, para um domínio completo dos humanos.

Há de facto um paralelo na postura de Mickey 17, a favor do ambiente e pró-animais ou pró-criaturas alienígenas, como nos filmes anteriores de Bong Joon Ho. Vê-se claramente que Pattinson se diverte a interpretar os Mickeys — um tímido deles é tímido, o outro é bastante hostil, mas bastante útil e corajoso no desfecho. Morrendo repetidamente, o nosso herói MIckey,  só quer ter a certeza de que a sua alma sobreviverá.

Um certo exagero caricatural

Bong Joon Ho tende a exagerar um pouquinho, sobretudo nos comentários e nas caricaturas políticas. Por exemplo, Kenneth (Ruffalo), louco pelo poder, torna-se numa caricatura irritante, aliás como da sua vil esposa Ylfa (Toni Collette). Ruffalo projeta mesmo o queixo de tal forma, que a sua interpretação, pretende ser igual a Donald Trump.

A visão louca de Mickey 17 corre efectivamente também o risco de descambar por completo — a comédia, torna-se às vezes, demasiado ampla e absurda — mas o filme acaba por ser muito envolvente e sensível, pois regressa sempre ao grande dilema  humano da sua personagem principal, a de um homem comum, que trabalha arduamente num trabalho terrível, para beneficiar aqueles que possuem a riqueza e o poder e que tem consciência da sua finitude.

A cinematografia desbotada de Darius Khondji (mais uma vez, um colaborador de “Okja”) e o design de produção de Fiona Crombie, retratam habilmente, esse tom algo melancólico e a imagem de colónia humana planetária, como um inferno gelado, deliciosamente sujo, a precisar de ser civilizado ou melhor explorado (colonizado) nos seus recursos naturais. Como sempre!

Um possível (in)​ sucesso?

Mickey 17
Robert Pattinson. © 2025 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

Por tudo isto, “Mickey 17”, pode tornar-se um caso único na obra de Bong Joon Ho. Há quem goste muito​, que ache apenas uma brincadeira​ sem consequências e há mesmo quem encontre nele algumas dificuldades em conectar-se com os espectadores comuns. Os fãs, tenho a certeza que vão adorar, embora a Warner Bros, não acredite muito, ao que parece, no sucesso do filme. “Mickey 17”, trata-se na verdade de um retrato existencialista de uma civilização em desagregação e a caminho da catástrofe. Mas o filme é um ‘mimo’! Estreia na Europa, em meados da abril e ainda ao que sei não tem ainda uma data prevista, em Portugal. 

“Mickey 17” chega aos cinemas nacionais a 6 de março deste ano. Curioso para ver o novo filme de Bong Joon Ho e Robert Pattinson?



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