"O Primeiro Encontro" / "Moonlight" / "La La Land" | © FilmNation Entertainment / A24 / Summit Entertainment

Óscares 2017 | Os Prémios da MHD vão para…

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Depois de a equipa MHD ter premiado “A Favorita” e “A Forma da Água” nas mais recentes edições dos Óscares, chegou a altura de ver como seriam os Prémios da Academia de 2017 se quem votasse fosse a nossa equipa de escritores. Quem é que sairá vencedor? “Moonlight” ou “La La Land”?

Tal como já foi feito para os Óscares de 2019 e 2018, a equipa da MHD votou nos vencedores da edição de 2017 dos prémios da Academia de Hollywood. Voltaram-se a seguir as regras reais dos Óscares, incluindo alguns dos seus mais estranhos métodos de votação. O voto em Melhor Filme, por exemplo, tem uma metodologia completamente diferente das outras categorias, sendo feito através de um ranking de todos os nomeados.

Novamente, também se voltou a seguir a lista efetiva de nomeados, pelo que só filmes efetivamente indicados para os prémios puderam ser considerados. Isto traz-nos, pois claro, ao facto de que estes Óscares foram uns dos mais polémicos de sempre. Ao longo da Awards Season, “La La Land” parecia afirmar-se como o indisputado campeão, mas, chegada a noite dos Óscares, o impensável aconteceu.

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Ao início, tudo parecia normal. Com 14 nomeações a seu nome, o musical de Damien Chazelle facilmente mostrou ser o filme mais vitorioso da noite, arrecadando seis estatuetas antes da categoria final, a de Melhor Filme. Foi então que Bonnie e Clyde subiram ao palco e, como muitos esperavam, o nome que foi anunciado por Warren Beatty e Faye Dunaway foi o de “La La Land”. A equipa do romance musicado sobre Hollywood e seus encantos lá subiu ao palco e os produtores começaram a agradecer.

Foi aí que tudo deu para o torto. O envelope que foi aberto estava errado, era o de Melhor Atriz, cujo prémio havia sido ganho por Emma Stone. O verdadeiro vencedor e grande campeão destes Óscares foi “Moonlight”, um drama independente sobre três fases na vida de um jovem afro-americano, pobre e homossexual. Era o tipo de filme que nunca ganha Óscares a triunfar contra o tipo de filme que todos os anos conquista baldes e baldes de homenzinhos doirados.

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Note-se que, até hoje, “Moonlight” é a produção mais barata a alguma vez ganhar o galardão, é o único vencedor com um elenco sem um único ator caucasiano e a única narrativa com um protagonista LGBTQ+ a ganhar também. Trata-se de uma vitória histórica, quando o underdog realmente destronou o favorito das casas de apostas. Foi o tipo de história que só se vê em filmes inspiradores e nunca na realidade.

Pois bem, com isso tudo em conta, vamos ver se História se repete com os votos da equipa MHD ou se é o musical de Chazelle quem triunfa. Sabe-se lá, talvez até seja outro filme. “O Primeiro Encontro”, por exemplo, ficou em primeiro lugar na nossa lista dos melhores filmes estreados em Portugal no ano de 2016. Enfim, só há uma maneira de descobrires. Segue as setas para folheares os vários slides deste artigo e veres os resultados nas 24 categorias, começando com as curtas-metragens e acabando com Melhor Filme. Vamos ver se concordas com os Óscares MHD.

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MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL

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© Netflix

O Óscar MHD vai para… THE WHITE HELMETS, Orlando von Einsiedel e Joanna Natasegara!

Tal como a Disney domina as categorias animadas dos Óscares, também o prémio para Melhor Curta-Metragem Documental começa a ser o reino de um estúdio hegemónico. Neste caso, trata-se da Netflix, cujas produções de documentários em formatos mais curtos que 45 minutos têm vindo a ser um sucesso com os Óscares. Para muitos, isto é um sacrilégio, pois a Netflix continua a ser vista como um serviço mais ligado à net e às televisões que ao cinema, mas o tempo avança e as definições do que é verdadeiramente cinema são obrigadas a mudar.

Com cerca de 40 minutos, “The White Helmets” quase excede os limites regulamentados para se poder considerar uma curta-metragem, mas ainda é elegível. Essa duração dá oportunidade a este filme para desenvolver temas difíceis e mostrar imagens chocantes sem fazer da obra final um simples desfile de atrocidades. Entenda-se que este é um retrato de voluntários a ajudar a população síria, muitas vezes percorrendo ruas tornadas ruínas fumarentas com cadáveres por todo o lado.

No meio da miséria, “The White Helmets” consegue encontrar alguns preciosos rasgos de esperança. Num mundo virado do avesso, onde a crueldade humana é exposta nua e crua, o sorriso de uma criança salva das garras da morte pode ser suficiente para nos fazer crer na Humanidade. Por isso e muito mais, a equipa MHD concorda com os Óscares e atribui este prémio a “The White Helmets” e à Netflix.




MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

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© Pixar Animation Studios

O Óscar MHD vai para… PIPER, Alan Barillaro e Marc Sondheimer

Ao longo das últimas décadas, a Pixar tem vindo a afirmar-se como o melhor estúdio de animação americano. Pelo menos, é o mais influente e tecnologicamente revolucionário. Essa fama deve-se, em grande medida, às suas longas-metragens primorosas, mas também há que se dar crédito às pequenas joias de glória cinematográfica que são as curtas do estúdio. Aliás, em termos puramente estéticos, diríamos que as curtas vão bem à frente das longas.

Assim se viu em 2016, quando “À Procura de Dory”, uma obra adorável mas desprovida de ambição, foi precedida, nos cinemas, por “Piper”. Escusado será dizer que “Piper” é o melhor dos dois filmes. Aliás, iríamos ao ponto de dizer que é uma das mais extraordinárias façanhas da Pixar no que diz respeito à pura arte de animação. Se julgam que o remake de “O Rei Leão” é o píncaro de animação fotorrealista, então têm que rever “Piper”, onde até o modo como a lente da câmara divide o espaço em níveis de foco e desfoque é um toque de génio, tão belo como verosímil.

A cereja no topo do bolo, é que a Pixar respeita a Arte da animação e não está somente à procura de realismo. “Piper” é a simples história de um passarinho bebé numa praia e, ao invés de se deixarem prender pela biologia animal, os animadores construíram figuras que parecem reais ao olho humano, mas têm suficiente expressividade e caricatura para nos darem montanhas de informação emocional. Trata-se de um triunfo do mais alto gabarito e, tal como os Óscares, a MHD não foi capaz de resistir a este maravilhoso trabalho da Pixar.




MELHOR CURTA-METRAGEM LIVE-ACTION

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© Meteor-Film

O Óscar MHD vai para… MINDENKI, Kristóf Deák e Anna Udvardy

Pela primeira vez nestes Óscares MHD, todas as curtas premiadas são as mesmas que a Academia de Hollywood escolheu. De certo modo, isso não surpreende. “The White Helmets” é a curta documental mais famosa, tendo sido distribuída pela Netflix, “Piper” é uma produção da Disney e “Mindenki” é, de longe, a curta live-action mais acessível e emocionalmente impactante da sua categoria.

“Mindenki” ou “Sing” foca-se na amizade entre duas raparigas que confrontam e descobrem mistérios sobre a sua professora de coro. A relação entre as duas meninas está no centro da fita e é a química entre as pequenas atrizes que realmente dá valor ao filme. Isso e o facto que o jovem realizador Kristóf Deák é um peculiar prodígio no que diz respeito à direção de atores infantis.

Podemos acusar o filme de alguma sentimentalidade, mas isso seria menosprezar o seu potencial enquanto um drama humano. Deák faz aqui uma pequena joia de humanismo cheia de sinceridade e nem uma ponta de ironia. Não admira que os Óscares se tenham deixado encantar pelo filme e que a MHD lhe tenha seguido os passos. Esta pode não ser uma decisão muito original ou individualista, mas a nossa equipa não conseguiu resistir aos encantos de “Sing” e seu conto de duas meninas unidas pela amizade, pela curiosidade e pelo poder da música.




MELHOR DOCUMENTÁRIO

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© ESPN Films

O Óscar MHD vai para… O.J.: MADE IN AMERICA, Ezra Edelman e Caroline Waterlow!

Ao longo da História dos Óscares, alguns filmes forçaram a Academia a mudar as suas regras. Quando Barry Fitzgerald foi nomeado em duas categorias diferentes pelo mesmo papel em “O Bom Pastor”, por exemplo, o modo como se contavam os votos nas categorias de atuação teve de ser todo revisto. Mais recentemente, a vitória de “O.J.: Made in America” também despoletou uma mudança de regras.

Apesar de estar a competir nos Óscares como se fosse um filme, esta produção documental de Ezra Edelman sobre os crimes de O.J. Simpson e o seu impacto na sociedade americana foi criado como uma minissérie. Aliás, ao mesmo tempo que a obra passava em alguns cinemas com os episódios todos colados, também era exibido na TV. O problema aqui é que toda a produção está estruturada em episódios, é impossível argumentar que isto é um filme construído com a intenção de ser visto como um filme. No entanto, a sua passagem pelos cinemas permitiu-lhe competir aqui e ganhar.

Tal coisa não se vai repetir, pois, a partir de agora, minisséries produzidas para a TV não poderão ser consideradas pelos Óscares, mesmo que sejam de grande qualidade e que passem pelo cinema em versões reeditadas. Por outras palavras, “O.J.: Made in America” nunca teria ganho hoje, mas, como a MHD está a seguir as regras de 2017, votámos à mesma nesta verdadeira obra-prima de análise sociológica e criminal.




MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

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© Disney

O Óscar MHD vai para… ZOOTRÓPOLIS, Byron Howard, Rich Moore e Clark Spencer!

A Disney e seus estúdios afiliados são os grandes campeões da categoria de Melhor Filme de Animação nos Óscares. Considerando o seu atual monopólio e enorme fama dos seus clássicos animados, isso não é nenhuma surpresa. Com isso dito, há anos em que a hegemonia da casa do Rato é um pouco desconcertante, tal é o seu domínio absoluto sobre a cultura popular. Em 2017, 40 % dos nomeados nesta categoria eram produções dos estúdios Disney e, como seria de esperar, foi uma dessas que acabou por ganhar.

Não que “Zootrópolis” seja um mau vencedor. De facto, essa é uma das produções mais estrondosas e arriscadas da Disney, debruçando-se sobre temas de racismo institucional na forma de uma alegoria de um mundo povoado por animais falantes. O melhor de tudo é que o filme não aborda essas temáticas sem nuance ou complexidade. Vemos aqui, por exemplo, como o representante de uma comunidade oprimida na sociedade pode ser eleito presidente e isso em nada altera ou assinala o fim do preconceito.

O filme faz tudo isso e ainda tem tempo para divertir e entreter. O design de personagens é delicioso, o mundo que elas habitam é uma maravilha de ecossistemas tornados numa selva urbana e o humor é do melhor que a Disney tem para oferecer. Além do mais, nenhum dos outros nomeados acaba com uma canção da Shakira e só por isso temos de considerar que este é, de facto, o justo vencedor do Óscar para Melhor Filme de Animação.




MELHOR FILME NUMA LÍNGUA ESTRANGEIRA

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© Alambique Filmes

O Óscar MHD vai para… O VENDEDOR, Irão!

Arte e política são indissociáveis. Há quem fale de outros tempos com doçura nostálgica na voz, como se na Velha Hollywood os filmes fossem apolíticos. Esses filmes não eram apolíticos, eram conservadores, não questionavam o status quo e por isso desfrutavam da aparência de não serem afetados por qualquer ideologia política. É importante ter isto em consideração quando se acusa os Óscares modernos de serem demasiado políticos e não como antigamente. A verdade é que isto sempre foi assim e, em última análise, não há nada de inerentemente errado com isso.

Quando “O Vendedor” ganhou o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro em nome do Irão, essa vitória veio na onda de uma série de medidas xenófobas por parte do governo americano e do seu novo Presidente, Donald Trump. Muitos foram aqueles que olharam para este cenário e começaram logo a proclamar que a vitória era o resultado da tirania do politicamente correto e outras histórias que tais. A situação política americana teve um impacto na votação, é certo, mas diríamos que, mesmo sem isso, “O Vendedor” teria saído vitorioso. Aliás, como se pode ver aqui, a MHD, dois anos depois da cerimónia, continua a dar o prémio ao filme iraniano.

Parte do apelo que esta obra terá tido para com o corpo votante é o facto que se trata de um filme sobre atores. A maior parte da Academia dos Óscares é composta por atores, sendo que são eles os que têm o maior poder de voto e histórias sobre a sua profissão tendem a ser bem-sucedidas. Para além disso, este drama matrimonial é acessível sem ser desmiolado, confronta a realidade iraniana e as complicações de um casal assolado por uma misteriosa tragédia. Ashghar Farhadi, cujo filme “Uma Separação” também ganhou este Óscar, é um mestre do drama humano e da direção de atores. “O Vendedor” demonstra isso mesmo com potentes performances de um elenco exemplar e uma história convoluta que fascina e emociona em igual medida. Trata-se de um justo vencedor para os Óscares e para a MHD, mesmo quando descartamos razões políticas para o seu triunfo.




MELHORES EFEITOS SONOROS

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© FilmNation Entertainment

O Óscar MHD vai para… Sylvain Bellemare por O PRIMEIRO ENCONTRO!

Como sempre, convém relembrar quais são as diferenças entre as categorias dos Óscares para Melhor Sonoplastia (Sound Mixing) e Melhores Efeitos Sonoros (Sound Editing). Na que referimos primeiro, o que está a ser premiado é a mistura final de todos os sons assim como a gravação direta que foi feita durante a rodagem. Ou seja, o prémio comemora a junção de diálogo com música e ruídos, a montagem dos vários elementos e controlo de volume, de sobreposição e manipulação dos sons.

No caso de Sound Editing, o prémio refere-se à criação de sons individuais, efeitos concebidos por cineastas para depois serem usados como elementos na sonoplastia final. Ou seja, “O Primeiro Encontro” ganhou o Óscar para Melhores Efeitos Sonoros pela criação dos vários ruídos em cena, desde os passos dos atores numa nave espacial até às vocalizações alienígenas de criaturas fantasiosas. Sylvain Bellemare não foi responsável pela sonoplastia, só mesmo pelos efeitos individuais.

O seu trabalho impressionou, sendo que ele conjurou sons desumanos e inaturais, algo fora deste mundo, que os ouvidos não reconhecem e que tanto perturba o espetador, como o fascina. Afinal, definir o som de algo que não existe, algo que está para além da compreensão humana, é um desafio colossal. Tal como toda a glória de “O Primeiro Encontro” também estes sons são perfeitos e mereceram o Óscar que ganharam.




MELHOR SONOPLASTIA

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© Summit Entertainment

O Óscar MHD vai para… Kevin O’Connell, Andy Wright, Robert Mackenzie e Peter Grace por O HERÓI DE HACKSAW RIDGE!

Pode parecer insano dizer tal coisa, especialmente quando consideramos toda a infâmia em volta do Óscar para Melhor Filme de 2016, mas a categoria mais interessante da Awards Season 2016/17 é muito provavelmente a de Melhor Sonoplastia. Para começar, temos aqui uma variedade bem interessante de filmes nomeados. Há três grandes campeões das nomeações presentes. Eles são um musical contemporâneo, um filme de ficção-científica cerebral e um drama de guerra de prestígio. Além disso, estão também presentes um filme de ação em contexto bélico que só recebeu esta nomeação e um novo capítulo na fantasia espacial mais famosa de sempre.

É claro que, como bem sabemos, o drama centrou-se em volta dos filmes de guerra. “13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi” é um dos raros nomeados para Óscares que de tal forma quebram as regras da Academia que certas nomeações são anuladas. Neste caso, o técnico de som Greg P. Russell, um autêntico veterano de Hollywood, foi desqualificado depois de se ter descoberto que estava a fazer campanha ilegal para o seu filme, violando as regras dos Óscares. Entenda-se que este é um homem que já foi nomeado mais 16 vezes, mas nunca ganhou.

No entanto, por muitas nomeações fracassadas que Russell possa ter, ele em nada se compara a Kevin O’Connell. Quando foi nomeado por “O Herói de Hacksaw Ridge”, O’Connell alcançou a sua 21ª nomeação. Nenhuma das 20 outras nomeações, havia resultado numa vitória, fazendo deste técnico de som o indivíduo mais nomeado de sempre sem nunca ter ganho um Óscar. Felizmente tudo mudou com este filme de Mel Gibson e aqui pela MHD não somos suficientemente cruéis para negar esta vitória a O’Connell. No entanto, apesar de gloriosa, a conquista do Óscar foi um momento agridoce para O’Connell. Outrora, ele era um bombeiro, mas a mãe dele, com medo da segurança do filho, arranjou-lhe trabalho no estúdio de cinema onde ela trabalhava. Ele rapidamente se mostrou prodigioso no campo da sonoplastia e tornou-se num dos grandes nomes do ramo. Alguns anos depois de alcançar o sucesso, O’Connelle expressou eterna gratidão para com a mãe e esta apenas lhe disse que, como agradecimento, só queria ouvi-lo mencioná-la quando ganhasse um Óscar. Desde a primeira nomeação até à vitória, Kevin O’Connell teve de esperar 33 anos. A sua mãe, entretanto, morreu e nunca pode ouvir as palavras do filho de Óscar na mão. Ele, há que dizer, fez questão de a mencionar no seu discurso, apesar de ela já não estar cá para assistir.




MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

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© Summit Entertainment

O Óscar MHD vai para… “City of Stars” de LA LA LAND: MELODIA DE AMOR, Justin Hurwtiz, Benj Pasek e Justin Paul!

Tal como muitos outros filmes na História do Óscar para Melhor Canção, “La La Land” chegou à cerimónia dos prémios da Academia com duas músicas nomeadas. Uma delas é uma doce melodia muito memorável, mas não muito complexa. A outra não fica lá muito bem no ouvido, mas trata-se de um grande gesto de contar histórias através dos códigos do cinema musical. Como costuma acontecer, o número mais simples e chamativo ganhou com os Óscares e o mesmo se repetiu com o voto da equipa MHD.

“Audition” pode ser mais narrativamente importante, mas a canção que mais rapidamente associamos com “La La Land” é a icónica “City of Stars”. Não só este é o som do romance do filme, como a letra também remete para a própria cidade que, ao fim e ao cabo, se assume como uma personagem tão ou mais importante que Mia e Sebastian.

A primeira vez que ouvimos a música na sua forma integra é quando, depois de passar uma noite memorável na companhia de Mia, o nosso herói romântico deambula pelas ruas de Los Angeles. A música que o envolve é melancólica, trespassando uma nostalgia doce, mas não por isso menos dolorosa. Há esperança e uma qualidade melosa na composição, especialmente quando, mais tarde, o casal volta a cantar “City of Stars”, desta vez num ambiente mais casual, com um arranjo menos orquestrado. Este é o som da história de amor entre os dois protagonistas do filme e um justo vencedor do Óscar.

Não acreditas em nós? Então vê o vídeo que aqui deixamos e deixa-te embalar por esta melodia:




MELHOR BANDA-SONORA ORIGINAL

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© Summit Entertainment

O Óscar MHD vai para… Justin Hurwitz por LA LA LAND: MELODIA DE AMOR!

Justin Hurwitz é um dos mais promissores compositores de Hollywood. O seu trabalho para Damien Chazelle tem vindo a revelar o seu talento e dado origem a uma série de bandas-sonoras que, no futuro, certamente serão aclamadas como peças intemporais de música para cinema. Em 2017 ele ganhou dois Óscares e a MHD concorda com as decisões dos Óscares, dando-lhe tanto o troféu para Melhor Canção como esta honra para Melhor Banda-Sonora Original. Aliás, se formos perfeitamente honestos, diríamos até que as composições instrumentais de “La La Land” conseguem ser ainda mais belas e extraordinárias que as suas canções.

Aquando da Awards Season de 2017, dedicámos alguns artigos ao trabalho de compositores, entre eles Hurwitz. Aqui fica um excerto do texto:

Inspirando-se fortemente na música dos filmes de Jacques Demy, especialmente As Donzelas de Rochefort, Hurwitz construiu um híbrido entre classicismo romântico a imitar os epítetos melódicos da Hollywood de outros tempos e a modernidade das composições de jazz que o inspiram desde os tempos de estudante.

O resultado final é verdadeiramente apaixonante, sendo que, desde a energia bombástica de uma orquestra de 95 instrumentos a tocar “Another Day of Sun” na primeira cena do filme, passando pelo romantismo delicado da dança interestelar a meio do filme e terminando no epílogo instrumental, o trabalho de Hurwitz é sempre impecável e mais memorável que qualquer outra banda-sonora de 2016. Esse último exemplo que mencionámos, o epílogo, é um triunfo de particular gabarito, sendo uma recapitulação de todos os temas principais do filme, conflagrados num inebriante orgasmo musical completado com uma intervenção coral que eleva as melodias evocativas a um patamar de transcendente poder emocional.

Ouve ainda uma das passagens instrumentais de “La La Land”:




MELHORES EFEITOS VISUAIS

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© Disney

O Óscar MHD vai para… Stephane Ceretti, Richard Bluff, Vincent Cirelli e Paul Corbould por DOUTOR ESTRANHO!

Apesar do recente triunfo de “Black Panther”, os Óscares e o MCU nem sempre se deram bem. Aliás, o filme de Ryan Coogler foi o primeiro capítulo desse gigantesco franchise a cair nas boas graças da Academia. Já antes muitos filmes da Marvel tinham sido nomeados na categoria para Melhores Efeitos Visuais, é claro, mas nenhum ganhou. Considerando que “Black Panther” nem sequer foi nomeado para esse prémio e “Vingadores: Guerra do Infinito” perdeu contra “O Primeiro Homem na Lua”, essa categoria onde os blockbusters são reis continua longe do alcance da Marvel.

No entanto, se a MHD votasse nos vencedores, a situação seria bem diferente. Mais especificamente, em 2016, ao invés de seguirmos o exemplo dos Óscares e premiarmos “O Livro da Selva” e seu bestiário fotorrealista, decidimos honrar o caleidoscópio de impossibilidades espaciais em evidência no mirabolante “Doutor Estranho”. Convém dizer, contudo, que esta foi uma categoria bem renhida e que “O Livro da Selva” e “Rogue One” chegaram bem perto da vitória.

Sendo este um dos filmes mais visualmente idiossincráticos da Marvel, não cremos que pudesse haver melhor produção do MCU a arrecadar esta particular estatueta. Algumas das sequências de ação em “Doutor Estranho” são autênticas explosões alucinatórias de espaços urbanos a desfragmentarem-se diante dos nossos olhos, com inúmeras leis da física a serem violadas como se a própria realidade estivesse à mercê dos feiticeiros em cena. É claro que quem realmente molda a realidade e a torna em imagens de sonhos e pesadelos não são Tilda Swinton nem Benedict Cumberbatch, mas sim a formidável equipa de efeitos visuais que a MHD aqui honra com esta vitória.




MELHOR MAQUILHAGEM E CABELOS

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© Paramount Pictures

O Óscar MHD vai para… Joel Harlow e Richard Alonzo por STAR TREK: ALÉM DO UNIVERSO!

Quando se avaliam os vencedores e nomeados para os Óscares mais técnicos, há que se conseguir separar os vários elementos de um filme. Afinal, podemos estar perante uma catástrofe narrativa com péssimos atores e realização deplorável, mas a banda-sonora ser uma maravilha musical ou os figurinos serem milagres por entre epítetos de mediocridade. É por isso que, não obstante a sua estranheza, se consegue compreender como é que filmes como “Esquadrão Suícida” acabam por ganhar Óscares apesar de terem sido quase unanimemente aceites pela crítica como deploráveis desperdícios de tempo.

Para quem não se recorda, o filme onde Jared Leto se estreou como o Jóquer ganhou o prémio para Melhor Maquilhagem, em parte, devido às caracterizações ostentosas das suas personagens mais coloridas. Em termos técnicos, temos de reconhecer o mérito de tornar um homem numa criatura reptileana coberta de escamas, mesmo que o seu design seja meio desinspirado. Com isso dito, a MHD não se deixou convencer como a Academia, pelo que o nosso vencedor é um filme bem diferente e bem mais criticamente aclamado.

“Star Trek: Além do Universo” pode não ser tão espalhafatoso como o filme da DC Comics, mas também está repleto de formidáveis exemplos de maquilhagem transformativa de Hollywood. Se a figura interpretada por Sofia Boutella exibe a maquilhagem mais bela do filme com sua tez pálida e desenhos pretos ao longo da face, é o antagonista a que Idris Elba dá vida quem tem direito aos efeitos de caracterização mais extravagantes. Dizemos isso, pois, aquando do clímax do filme, podemos ver várias fases na transformação física do vilão e, ao invés de usarem meramente efeitos computorizados, a equipa de “Star Trek: Além do Universo” fez questão de usar a magia da maquilhagem para fisicamente transmutar a cara de Idris Elba. É um feito espantoso que, segundo a MHD, devia ter arrecadado o Óscar.




MELHOR DESIGN DE FIGURINOS

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© Cinemundo

O Óscar MHD vai para… Madeline Fontaine por JACKIE!

“Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los” e “La La Land” conquistaram alguns votos da equipa MHD, mas, no final, foram as modas históricas de “Jackie” quem conquistaram o nosso Óscar. Ficam aqui algumas palavras originalmente publicadas num artigo em que analisámos os figurinos que a francesa Madeline Fontaine concebeu para esta cinebiografia muito pouco ortodoxa:

(…)é fascinante ver a versão final de Jackie e reparar como, ocasionalmente, certos detalhes parecem contornar a perfeição imaculada. Por vezes, vemos peças enrugadas, golas que estão a perder a forma, botões caídos, bainhas e costuras demasiado marcadas ou chapéus mal colocados na cabeça dos atores. Num filme biográfico convencional, tais idiossincrasias poderiam resultar numa estética desleixada, mas, neste caso, apenas contribuem para a peculiar natureza do retrato que o chileno Pablo Larraín imaginou da mais famosa Primeira-Dama que os EUA já tiveram.

(…)o trabalho de Madeline Fontaine não foi a mera orientação de uma equipa de costureiras e alfaiates em modo de fotocopiadora, mas sim a criação de um discurso visual complementar e paralelo ao de Larraín e restante equipa criativa. Isso vê-se, em particular, nos momentos mais íntimos da história. Um bom exemplo disso, é a maravilhosa sequência em que Jackie vagueia pela Casa Branca, embriagada, sozinha e em profundo sofrimento, enquanto veste e despe inúmeras peças formais e respetivos acessórios. Ao som das canções do musical Camelot, estes momentos poderiam facilmente cair num registo paródico, mas toda a execução formal, a elegância solene das roupas e a prestação de Portman contribuem para uma lacerante mostra de desespero humano, do sofrimento de uma atriz política traumatizada pela perda.

(…) No mesmo figurino coexistem ideias contraditórias de falsidade e autenticidade e, com efeito, o guarda-roupa edificado por Madeline Fontaine manifesta-se como uma parte tão essencial do filme, que é impossível imaginar Jackie sem ele.




MELHOR CENOGRAFIA

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© Summit Entertainment

O Óscar MHD vai para… David Wasco e Sandy Reynolds-Wasco por LA LA LAND: MELODIA DE AMOR!

David Wasco e Sandy Reynolds-Wasco são uma equipa de marido e mulher que tem vindo a conquistar e encantar vários dos grandes autores americanos do cinema atual. Quentin Tarantino, Wes Anderson e Damien Chazelle já trabalharam várias vezes com a dupla cuja imagem de marca parece ser uma cuidada fusão entre o poder imersivo de um espaço realista e o gosto pelo tipo de artifício que realmente faz do ecrã de cinema uma janela para um mundo de sonhos e impossibilidades.

Depois de anos a serem ignorados pelos Óscares com filmes tão esplendorosos como “Os Tenenbaums – Uma Comédia Genial”, os dois “Kill Bill” e “Sacanas Sem Lei”, este cenógrafo e decoradora finalmente ganharam as boas graças do Óscar com “La La Land”. Para estes artistas e sua particular abordagem, nada podia ser mais apropriado. De certo modo, este musical los angelino representa uma síntese de anos de trabalho, o culminar de uma estética pessoal que se tem vindo a desenvolver ao longo de duas das filmografias mais ricas de Hollywood.

Veja-se o que tivemos a dizer sobre o seu trabalho em “La La Land” num perfil que publicámos sobre David Wasco:

Wasco e a sua mulher trabalharam com localizações reais de Los Angeles que depois tornaram versões idealizadas de si mesmas. Para esse efeito, Wasco criou candeeiros de rua retro que espalhou pelas ruas vistas no filme, pintou as fachadas de quarteirões inteiros, exagerou a proeminência e escala de murais pré-existentes e, em alguns casos, reconstruiu espaços reais, como o Observatório da cidade, para apagar marcas de contemporaneidade e salientar os seus aspetos arquitetónicos mais antigos. Para o final, onde os telões pintados são obra dos mesmos artistas responsáveis pelas paisagens de Mary Poppins, David Wasco pode realmente dar asas à sua imaginação, criando um sonho de artificialismo descarado à moda dos grandes musicais do passado.




MELHOR FOTOGRAFIA

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© Summit Entertainment

O Óscar MHD vai para… Linus Sandgren por LA LA LAND: MELODIA DE AMOR!

Desde o seu primeiro momento, “La La Land” é um festim para os olhos. Muito antes de vermos a cenografia evocativa de David Wasco, os figurinos coloridos de Mary Zophres ou a beleza das estrelas de cinema que protagonizam o filme, já a imagem do céu de Los Angeles nos maravilha. O azul é quase brilhante, mais real que real, o grão da imagem dá-lhe textura, mas quando a câmara se começa a mover, fá-lo com a fluidez possibilitada pelas mais recentes tecnologias. Tal fluidez é essencial para o autêntico ballet que a câmara dança através de “Another Day of Sun”, a canção de abertura que é filmada através de um delirante plano sequência. Linus Sandgren é o diretor de fotografia responsável por tal sonho cinematográfico.

Essa abertura com o céu azul e a câmara dançante é impressionante, mas está longe de ser o único ponto forte do trabalho de Sandgren. É pela sua mão que a dinâmica que o filme estabelece entre a nostalgia classicista e a modernidade alcança um patamar estético que transcende o design de produção. Por outras palavras, “La La Land” remete-nos sempre para o passado dos grandes clássicos de Hollywood, mas há algo muito moderno nas suas imagens, algo que impede o filme de ser pastiche ou um exercício meio arqueológico ao estilo de “O Artista”, por exemplo.

Essa dinâmica também muito se traduz no modo como Sandgren se vai baloiçando entre naturalismo e despregado artifício. Por vezes, há cenas filmadas nas ruas de Los Angeles que transbordam a magia irreal do cinema, com céus violeta e uma atmosfera rosada. Outras vezes, este pintor de luz como que descasca a pátina de glamour de um ambiente doméstico e filma as suas estrelas com o mínimo de engenho teatral. O jogo de “La La Land”, essa dança da realidade e do sonho, do clássico e do moderno, do romance idílico e do cinismo pessimista, tanto se traduz em música e história como em imagens, em cor e em luz, em película granulosa e câmaras em movimento. Sandgren é quase um coautor do filme, sendo que é impossível imaginar “La La Land” sem a sua contribuição artística. Em suma, trata-se de um excelente vencedor do Óscar.




MELHOR MONTAGEM

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© Summit Entertainment

O Óscar MHD vai para… John Gilbert por O HERÓI DE HACKSAW RIDGE!

A categoria de Melhor Montagem foi uma das mais divisivas para a equipa MHD. Todos os nomeados receberam múltiplos votos e, à medida que os votos eram contados, o filme vencedor estava sempre a mudar. “O Primeiro Encontro”, “La La Land” e “Moonlight” conseguiram quase tantos votos como o vencedor, mas, no final, foi “O Herói de Hacksaw Ridge” quem triunfou. Se há algo que estas votações nos estão a mostrar é que, quando não há consenso e os votos se espalham por todos os nomeados, normalmente ganha o filme que também ganhou o Óscar.

De certa forma, trata-se de uma escolha expectável. Poucos são os géneros em que a montagem é mais conspícua que o cinema de ação, especialmente no contexto caótico de um campo de batalha. Por muitas fragilidades e contradições ideológicas que o filme de Mel Gibson possa ter, os seus momentos mais bombásticos são pequenas maravilhas técnicas e a montagem muito contribui para essa qualidade. É através dela que temos um inferno de balas e sangue que, mesmo assim, é sempre legível pelo espetador, com ritmos precisos e a habilidade de mostrar equilibradamente a posição e estado de cada uma das várias figuras em cena.

Fora do campo de batalha, a montagem não é tão impressionante, mas não podemos dizer que a vitória de John Gilbert seja infeliz. Este é, afinal, um dos grandes técnicos de montagem do cinema neozelandês. “O Herói de Hacksaw Ridge” marcou a sua segunda nomeação, sendo que, em 2002, Gilbert já tinha sido indicado pelo seu trabalho no primeiro filme da saga “O Senhor dos Anéis”.




MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO

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© A24

O Óscar MHD vai para… Barry Jenkis e Tarell Alvin McCraney por MOONLIGHT!

A presença de “Moonlight” na categoria de Melhor Argumento Adaptado merece alguma explicação. Tecnicamente, só filmes baseados em textos publicados ou encenados podem competir aqui. “Moonlight” é baseado numa peça que nunca chegou aos palcos, pelo que, normalmente, seria considerada uma obra original. Contudo, num raro rasgo de sanidade por parte dos Óscares, considerou-se que, mesmo que a peça de Tarell Alvn McCraney nunca tenha sido encenada ou publicada na forma de um livro, trata-se de um texto original que foi subsequentemente adaptado ao grande ecrã por Barry Jenkins. Melhor ainda, como realizador e dramaturgo tiveram uma colaboração tão próxima, a Academia considerou-os a ambos como autores do argumento de “Moonlight”.

Foi uma decisão acertada pela parte de todos e, tal como a Academia de Hollywood, também a equipa da MHD votou quase unanimemente neste filme como vencedor da categoria. Só mesmo “O Primeiro Encontro” ofereceu alguma competição à obra maestra de Barry Jenkins. Quando sabemos mais sobre a adaptação do texto ao grande ecrã, mais esta decisão e voto se tornam impossíveis de criticar.

Veja-se como, por exemplo, foi Jenkins quem decidiu que, ao contrário da peça, o filme deveria ser separado em capítulos, tornando-se num tríptico da vida de um jovem homossexual afro-americano de Miami. Essa fragmentação da história tornou o filme num retrato com base na observação, tanto da personagem pela audiência, como da personagem pela personagem. Momentos fugazes acumulam-se e constroem um puzzle cheio de vazios sugestivos e dolorosos, uma imagem que o espetador tem de ativamente completar, prestando atenção aos significados escondidos até nos mais pequenos gestos e olhares desviados. Este é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores vencedores na História recente do Óscar para Melhor Argumento Adaptado.




MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL

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© Film4

O Óscar MHD vai para… Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou por A LAGOSTA!

Filmes como “Canino” e “Alpes” rapidamente tornaram Yorgos Lanthimos no realizador grego predileto da cinefilia internacional. Quando este provocador sem medo de tomar riscos se virou para o cinema anglófono, com elencos recheados de estrelas de cinema, muitos foram aqueles que temeram pela qualidade da sua filmografia. Afinal, Lanthimos não seria o primeiro cineasta europeu a sucumbir a abordagens mais seguras e convencionais ao transitar da sua língua materna para o inglês e orçamentos maiores.

Felizmente para todos nós, Yorgos Lanthimos rapidamente apaziguou quaisquer temores com “A Lagosta”, o seu primeiro filme anglófono e uma das suas mais bizarras propostas. A premissa de um mundo em que o adquirir de um parceiro romântico está no centro da sociedade já é algo meio insano, mas acrescente-se a isso um hotel feito prisão, transformações de humanos em animais e um movimento revolucionário contra o amor e temos a perfeita receita para a loucura. Não que ”A Lagosta” se resuma a uma coleção de excentricidades e choques.

Lanthimos e Efthymis Filippou conceberam um argumento que usa o grotesco como base para uma aguçada dissecação dos jogos sociais e sentimentais que regem o mundo em que vivemos. Nunca o fazem com pretensiosismos portentosos, preferindo procurar um tom cómico e seco. Na sua forma final, “A Lagosta” é uma gloriosa comédia negra que tem muito mais a dizer sobre o papel do romance nas nossas vidas que a maioria das histórias de amor que estamos habituados a ver no grande ecrã.




MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

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© NOS Audiovisuais

O Óscar MHD vai para… Mahershala Ali em MOONLIGHT!

Apesar de ter pouco tempo em cena, Mahershala Ali deixa uma enorme impressão em “Moonlight”. Tal é o impacto que, mesmo depois de a sua figura sumir da narrativa, a presença do ator continua a sentir-se, o vazio que ele deixa na experiência do espetador ecoa o vazio que fica na vida do protagonista após a perda do seu mentor. Para Chiron, Juan, também conhecido como Blue, é uma ilha de compaixão e conforto paterno no meio de um oceano de constante alienação e indignidade. Além disso, quando “Moonlight” chega ao seu terceiro capítulo e Chiron chega à idade adulta, é a imagem de masculinidade afro-americana projetada por Blue que a personagem principal tenta imitar.

Nesse e noutros sentidos, Ali tem que se confrontar com as contradições inerentes ao seu papel. Por um lado, Blue representa um aliado e protetor para Chiron, dando-lhe muito do afeto que a sua própria mãe não consegue oferecer. Por outro, é impossível negar o papel meio venenoso que Blue tem na vida do rapazinho que tanto tenta proteger. É ele que fornece as drogas que arruínam a mãe do menino e é ele que, anos mais tarde, acaba por traçar o caminho de Chiron até uma vida criminosa. É claro que, longe de ser ignorante face a tais realidades, Blue está bem ciente do mal que ele traz a esse rapaz que ele adora quase como um filho.

Na cena que certamente lhe terá valido o Óscar, tanto aquele votado pela Academia como aquele votado pela MHD, Ali ilustra toda a tempestade dentro de Blue, toda a vergonha e autorrecriminação, todo o amor e dor. A dinâmica que Mahershala Ali consegue estabelecer com o pequeno ator que dá vida à encarnação mais nova de Chiron é de particular admiração. Juntos, os dois concebem uma sinfonia de reações cúmplices que sugerem toda uma dimensão emocional que, devido a limites cronológicos, o filme não consegue representar por meios mais diretos. Convém ainda dizer que, tal como acontece com os Óscares reais, Ali já é campeão de dois troféus da MHD, tendo também triunfado na votação de 2019, com “Green Book”.




MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

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© Paramount Pictures

O Óscar MHD vai para… Viola Davis em VEDAÇÕES!

Viola Davis é, sem sombra de dúvida, uma das grandes atrizes americanas da sua geração. Apesar de isso ser, hoje em dia, considerado uma verdade indisputável, nem sempre foi assim. Durante muitos anos, Davis era um nome principalmente conhecido pelo seu trabalho nos palcos, enquanto no cinema e na TV ela era uma atriz de papéis pequenos e facilmente esquecidos. Foi um desses papéis pequenos, quase um cameo, em “Dúvida”, que lhe mudou completamente o percurso profissional no grande ecrã. Daí veio reconhecimento internacional, uma nova fama e até a nomeação para o Óscar. Note-se que “Dúvida” é a adaptação de uma peça, perpetuando a ligação de Davis aos palcos, mesmo quando a atriz começou a afirmar-se em cinema.

Talvez por isso não seja surpresa nenhuma que foi nos palcos que Davis encontrou aquele que é talvez o melhor papel da sua carreira. Rose Maxson é a matriarca da família à volta da qual orbita todo o drama de “Vedações”, uma das mais famosas peças do falecido August Wilson. Na Broadway, Davis deu vida a esta figura numa encenação de Denzel Washington e conquistou o Tony para Melhor Atriz e quando Washington decidiu transferir o projeto para o grande ecrã, muito do elenco da peça foi escolhido para reinterpretar os seus papéis. Louvamos a decisão de Washington, pois, como bem sabemos, o trabalho de Davis neste papel é estrondoso, quer seja visto emoldurado pelo proscénio de um teatro ou no ecrã de um cinema.

Não queremos com isto dizer que Davis está simplesmente a repetir o que já tinha feito em palco. A atriz nunca se deixa cair nos automatismos que, por vezes, marcam presença quando um ator já interpretou o mesmo papel centenas de vezes e também demonstra bem como adaptar uma performance da grandiosidade da Broadway até à escala mais íntima da câmara em grande plano. É mesmo nas suas expressões mais subtis que Davis cimenta a legitimidade da sua vitória, sendo ela capaz de modular até os mais portentosos monólogos com uma cara que está sempre a projetar os dilemas interiores de uma mulher que ama o marido ao mesmo tempo que odeia e se sente magoada pelas suas ações e escolhas. Nas cenas finais da obra, ela é devastadora, pintando um retrato de contradições, de afeto matrimonial, dever familiar e desesperada dignidade.




MELHOR ATOR PRINCIPAL

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© Amazon Studios

O Óscar MHD vai para… Casey Affleck em MANCHESTER BY THE SEA!

De certo modo, é muito fácil para um ator projetar a ideia de uma personagem deprimida e autodestrutiva. Uma postura cabisbaixa, olhos sem vida e uma expressão fechada são suficientes e o espetador, com ajuda do diálogo, consegue preencher o resto da caracterização sem problemas. É claro que tal abordagem é superficial e pouco ou nada nos diz sobre a especificidade da dor e do indivíduo em questão. Não que, na história dos Óscares, a Academia não tenha premiado esforços medíocres desse género.

Casey Affleck em “Manchester by the Sea” está longe der uma dessas mediocridades Oscarizadas, tratando-se, pelo contrário, de uma das mais lacerantes representações que o cinema recente tem para oferecer de alguém que se odeia a si mesmo. Os elementos básicos que referimos acima marcam presença na prestação de Affleck, mas são somente um punhado de pormenores numa autêntica tapeçaria de minuciosas idiossincrasias. Numa só cena de diálogo, o ator leva o espetador numa montanha russa de gestos abortados e olhares reprovadores, uma máscara de inexpressão que, de repente, se desmancha em rasgos de hostilidade, um acesso de energia que é imediatamente reprimido por uma onda de dor despoletada por algo que não conseguimos entender.

Com tudo isso dito, não é nenhum diálogo volátil que cimenta a legitimidade deste ator enquanto vencedor do Óscar. O seu mais extraordinário momento é uma cena de memória dolorosa, um monólogo proferido por um homem que perdeu a vontade de viver e está encurralado dentro de uma prisão construída pela sua própria dor e sentido de culpa. Ver como o ator se esvazia a si mesmo de qualquer expressividade e mata o brilho nos seus olhos, como ele relaxa os músculos como se tivesse perdido a força e deixa voz jorrar dos lábios num registo assustadoramente monocórdico é algo que tanto perturba como dá vontade de aplaudir.




MELHOR ATRIZ PRINCIPAL

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© Midas Filmes

O Óscar MHD vai para… Isabelle Huppert em ELA!

Isabelle Huppert é uma das atrizes mais respeitadas da atualidade, quiçá a melhor atriz europeia a trabalhar tanto em cinema como em teatro. Ela é a grande campeã dos Césars, sendo que mais nenhuma atriz alguma vez conquistou tantas nomeações como ela. Huppert também é das poucas pessoas a poder contar com as maiores honras dos festivais de cinema mais prestigiados da Europa no seu mantel. Ela já triunfou em Cannes, em Berlim, em Veneza, em Locarno e muito mais. No entanto, foi só em 2017 que esta deusa do grande ecrã conseguiu finalmente captar a atenção dos Óscares.

O filme que lhe valeu tal honra foi “Ela”, um dos mais polémicos de 2016, uma comédia negra sobre uma mulher no rescaldo de uma violação traumática, uma história de vingança e crueldade ao mais alto nível. Ou seja, um típico filme protagonizado por Isabelle Huppert, uma atriz que nunca mostra temor face a papéis e projetos arriscados. Em “Ela”, a atriz molda um argumento problemático à sua imagem e tanto extingue os seus aspetos mais sensacionalistas com um minimalismo frio e calculado como traz um humor perturbador e seco a algumas das suas passagens mais insólitas. Tal como muitos críticos vieram a apontar, o trabalho de Huppert neste filme é um bom argumento para a consideração de atores como autores de um filme no mesmo patamar que um realizador.

É impossível imaginar esta obra a funcionar sem a presença de Huppert. Ela faz o filme, subjuga-o às suas escolhas e fá-lo brilhar. Mesmo assim, nada disso deu uma vitória fácil a Huppert entre os votos da equipa MHD. Talvez o seu estilo de atuação minimalista tenha sido um obstáculo, talvez seja a sua estudada inexpressão. Ou talvez seja só a competição renhida que ela teve de enfrentar. Natalie Portman em “Jackie” e Emma Stone em “La La Land” ficaram muito próximos desta diva francesa e, verdade seja dita, qualquer uma das três atrizes seria uma boa vencedora. 2016 foi um ano extraordinário para a categoria de Melhor Atriz.




MELHOR REALIZAÇÃO

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© Summit Entertainment

O Óscar MHD vai para… Damien Chazelle por LA LA LAND: MELODIA DE AMOR!

Quando ganhou o Óscar, Damien Chazelle tornou-se no mais novo vencedor do prémio da Academia para Melhor Realização. Ele alcançou tal glória com apenas 32 anos, pela sua terceira longa-metragem, “La La Land”. Face a tal feito poderíamos supor que estamos perante um cineasta precoce, muito mais maduro que a sua relativa juventude possa sugerir, mas, curiosamente, podemos dizer que se trata precisamente do oposto. É que este musical parece quase o tipo de projeto que estudantes de cinema fazem na escola de cinema. Aliás, trata-se de um filme que vai na mesma onda da primeira longa que Chazelle realizou quando tinha apenas 24 anos, “Guy and Madeline on a Park Bench”.

Tal como “La La Land” esse musical era também um cocktail risonho de referências a clássicos de Hollywood, romantismo contagiante e uma boa dose de afeto vagamente pretensioso por jazz. A grande diferença entre os dois filmes não é necessariamente o tom ou a maturidade da narrativa, mas sim os recursos utilizados na sua execução e o primor formal que a produção mais recente possui em grandes quantidades. Isso e um elenco extraordinário que Chazelle dirige com bom olho e um enorme controlo sobre os níveis de estilização e naturalismo que vão variando de cena para cena.

Algumas das passagens de “La La Land” vibram com aquela febril vontade de experimentar coisas novas e copiar os mestres do passado que aparece em tantos filmes de estudante. Este musical tem todas as mais-valias de um realizador jovem atrás das câmaras, mas nenhuma da insegurança estética que ocasionalmente prejudica tais esforços. É uma carta de amor a Hollywood e à magia do cinema, por onde Chazelle nos delicia com grandes feitos técnicos como elaborados planos sequência. Somente Barry Jenkins se aproximou de Chazelle nesta votação, mas, no fim, foi o autor de “La La Land” quem triunfou.




MELHOR FILME

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© A24

O Óscar MHD vai para… LA LA L.. oops, parece que abrimos o envelope errado. Afinal, o Óscar MHD vai para… MOONLIGHT, Dede Gardner, Jeremy Kleiner e Adele Romanski!

E assim termina mais uma edição dos Óscares MHD. Tal como os Óscares reais, “La La Land” é quem ganhou mais prémios, mas, no final, quem triunfa na categoria maior de todas é “Moonlight”. Perdoem-nos a nossa piada às custas do maior escândalo na História dos Óscares, mas era impossível evitar. Estes dois filmes estarão sempre ligados em infâmia, mesmo que, de facto, a maioria, pelo menos a equipa MHD, pareça já concordar que a obra de Barry Jenkins é a produção superior. Não é difícil perceber porquê.

Independentemente de comparações com um certo musical, “Moonlight” é um precioso retrato de um homem em confronto com a sua própria identidade. Longe de ser universal, o filme brilha pela sua especificidade, com um protagonista homossexual, afro-americano que viveu sempre num dos bairros mais pobres de Miami, cuja mãe é toxicodependente e cujo mentor é um traficante. Este é um filme sobre o ato de olhar para o reflexo que se vê no espelho e entender quem lá está refletido, por detrás de armaduras de hipermasculinidade exigidas pela sociedade, por detrás das marcas de violência e dor.

Não se trata de um filme muito feliz ou energético, mas sim de uma experiência lírica, quase meditativa. “Moonlight” encontra beleza operática num grupo de rapazes a jogar com uma bola improvisada e esperança num toque gentil num mundo que tantas vezes rejeita gentileza como uma mostra de fraqueza. “Moonlight” comove e desespera, desfere um murro emocional no espetador e não se deixa cair no erro de dar respostas fáceis ou simplistas. É um filme difícil que se orgulha disso mesmo, que confronta e exige a empatia de quem o vê, o tipo de filme que nunca ganha Óscares, mas que, por milagre, conseguiu fazê-lo em 2017. A MHD concorda com a decisão da Academia e assim, mais uma vez, se celebra “Moonlight” como o Melhor Filme do ano.

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