©Laura Radford/Amazon Prime Contents.

Road House, a Crítica | Uma ode nostálgica aos filmes de porrada

Com a ajuda de Daniela Melchior e Joaquim de Almeida, a estrela norte-americana Jake Gyllenhaal é o protagonista do filme de ação “Road House”, de Doug Liman, um remake do clássico “Profissão: Duro”, dos anos 80, interpretado pelo malogrado Patrick Swayze. Está disponível no streaming da Amazon Prime Video desde 21 de março. 

Este “Road House” de Doug Liman, disponível agora na Prime Video é um filme de ação carregado de regras e princípios: primeiro, nunca subestime o seu adversário. Espere o inesperado. Dois, leve-o lá para fora. Nunca comece nada dentro do bar, a menos que seja absolutamente necessário. E três, seja fiel. Estas eram as palavras, proferidas pelo protagonista James Dalton, interpretado pelo malogrado Patrick Swayze (1952-2009), em “Profissão: Duro” (“Road House”), um filme realizado por Rowdy Herrington, em 1989, do qual esta nova versão é um reboot ou remake. E estas são as mesmas regras agora do mesmo personagem, para defender um motel com um bar, à beira da estrada da famosa N1 que cruza os EUA de Norte a Sul, aqui no percurso entre Miami e Key West, mais precisamente localizada na bela paisagem de Glass Key nas Florida Keys.

Lê Também:   Quentin por Tarantino | Uma Vida aos Quadradinhos

A geografia é importante para explicarmos o resto, embora esta nova versão realizada por Doug Liman, com Jake Gyllenhaal (“Donnie Darko”, “Homem-Aranha: Longe de Casa, entre outros) e com Joaquim de Almeida e Daniela Melchior, tenha sido rodado na Republica Dominicana. Esta estreia na plataforma Amazon Prime Video e não nas salas — algo que aliás irritou bastante Liman, que se recusou a promover o filme — é de facto, e em relação ao primeiro filme, uma ode nostálgica aos famosos “filmes de porrada”, da nossa adolescência e cinéfila dos anos 80.

No entanto, alguém tem de dizer ao realizador deste novo “Road House” que devia ter pelo menos cumprido a regra 3, pois ganhava em ter seguido mais o cult classic de Rowdy Herrington, que não era uma obra-prima, mas tinha muita adrenalina, charme e sobretudo tinha o simpático Patrick Swayze, na figura de James Dalton. Está para quem quiser tirar as teimas também disponível na Prime Video. Quanto a esta nova versão, é pena, mas não passa de uma absoluta sombra do outro. Há quem diga que, por detrás desta ausência da alma, em relação ao original, estará a IA? Embora o argumento seja assinado pela dupla Anthony Bagarozzi e Chuck Mondry.

VÊ TRAILER DE ‘PROFISSÃO: DURO’ (1989)




UM FESTIVAL DE ARTES-MARCIAIS MISTAS

Em “Road House”, Dalton, o ex-lutador de MMA (artes-marciais mistas) interpretado por Jake Gyllenhaal, ganha a vida enganando lutadores amadores que, após entrarem num ringue underground, deparam-se com ele e automaticamente recuam no combate, pois estão familiarizados com seu passado violento e ganhador. Porém, as coisas começam a melhorar e a sua vida muda quando é procurado por Frankie (Jessica Williams), que se oferece para hospedá-lo na sua unidade hoteleira de beira-da-estrada em Florida Keys, proporcionando-lhe uma vida mais estável e calma, se este aceitar em lidar com alguns clientes que estão a causar problemas e cenas de pancadaria, no seu bar tradicional, ponto de passagem e lazer, entre a movimentada estrada e as águas cristalinas da bela praia das Keys.

Road House
Um filme sobre o arquétipo do herói de acção. ©Laura Radford/Amazon Prime Contents.

UM VERDADEIRO ‘FILME DE PANCADARIA’

Acontece que a tarefa de Dalton, não consiste apenas em servir cafés cubanos, bebidas ou na resolução de disputas entre clientes bêbados e alterados. A velha estalagem de estrada, a “Road House” está a ser também alvo de ameaças de Brandt (Billy Magnussen), um jovem rico, bem relacionado e que fará de tudo para desestabilizar o funcionamento do estabelecimento, para que possa ficar com o terreno e ai desenvolver um resort de luxo.

Lê Também:   Mataram o Pianista, a Crítica | A bossa nova e a beleza contra a barbárie!

No meio disto tudo, Dalton tem um romance com Ellie (Daniela Melchior), uma ardente enfermeira das urgências, de origem portuguesa e um desentendimento com Knox — na realidade o internacionalmente famoso lutador irlandês de MMA, Conor McGregor — um extravagante assassino contratado, que lhe vai complicar as coisas. Ninguém na pequena cidade consegue evitar que Dalton leve um grande “enxerto de porrada”, pois é ele sozinho que tem de ir contra os malfeitores, onde se inclui o corrupto xerife local, interpretado pelo nosso Joaquim de Almeida. E está dito o argumento!

VÊ TRAILER DE ‘ROAD HOUSE’




UM REALIZADOR ESPECIALISTA EM ACÇÃO

Doug Liman não é um peso-pluma e muito menos um principiante em realizar sequências de ação, bem musculadas e espetaculares. Contudo, o seu trabalho em “Road House’” diferencia-se de forma imediata por exemplo de “Identidade Desconhecida” (“The Bourne Identity”), um razoável sucesso da temporada de 2002, com Matt Damon. Neste novo filme de Liman, as sequências de lutas são muito mais longas — talvez demasiado, porque não há muito para dizer — em vez de editadas em partes ou espalhadas ao longo da trama como já vimos bastante simplista.

Aliás, durante todo o tempo, a câmara raramente se desvia da ação propriamente dita, balançando e oscilando para capturar cada golpe, cada chuto ou pontapé, das implacáveis e intermináveis lutas corpo-a-corpo. Mas à medida que as rápidas lutas se transformam em arrasadoras e violentas provações para os contendores, qualquer excitação evapora-se rapidamente, à medida que fica claro que esses combates, aliás muito bem coreografados, foram acentuados com infelizes inserts de CGI, (efeitos especiais) minando decerto modo a nossa imersão total na ação e na tentativa de encontrar veracidade naqueles momentos.

Daniela Belchior
Daniela Melchior, é uma enfermeira de origem portuguesa. ©Laura Radford/Amazon Prime Contents.

GYLLENHALL A NOVA ESTRELA DE ACÇÃO

Jack Gyllenhaal vai bem no seu papel, comportando-se com a confiança de uma nova estrela de ação, que começa cada vez mais a ser a sua especialidade completada aliás com uns abdominais bem definidos, que foram trabalhados para o efeito e por isso dignos de aplausos — mas não consegue ser tão encantador, charmoso e sobretudo ter aquele estilo suave de Patrick Swayze, que nos encantou a todos. Basta verem o trailer de “Profissão: Duro” (“Road House”).

Nesta versão do personagem de “Road House”, que foi imortalizada pelo falecido ator, não consegue ter tanta graça e subtileza, mesmo quando vemos Gyllenhaal, que depois de ter “partido as trombas” aos adversários, ainda lhes diz educadamente a que distância exata fica o hospital mais próximo e se precisam de ajuda para serem levados até lá. Na verdade, o nosso herói agora, não é de todo parecido com a personagem de Swayze, um ex-estudante de filosofia, meio-zen, praticante de Tai Chi, assombrado pelo trauma do homem que matou em legítima defesa e que aborda cada luta com um certo bom-senso e lealdade.

Lê Também:   Meu Nome é Gal, a Crítica | A Garota da Bahía da dupla de realizadores Dandara Ferreira e Lô Politi

Em vez disso, este Dalton, apesar da sua aparência “meio-pachola” é um tipo com uma determinação quase psicótica, em vários os aspectos, desde os seus ataques de raiva, sonhos, revelações do seu passado até à indiferença que demonstra, quando numa luta acaba por alimentar com um adversário, por mais mau e insignificante que este seja, um crocodilo faminto, nas everglades da Flórida. Pode-se pensar também que a espinha dorsal do filme poderia passar pelos outros personagens, Frankie a dona que administra o motel, os jovens empregados do bar, que dão às vezes um ar da sua graça, como a barista ou mesmo as bandas que continuam incessantemente a tocar, enquanto vemos as cenas de pancadaria, que destroem completamente, e por várias vezes, a mobília da casa. 

Road House
Jake Gyllenhaal contracena com o lutador de artes marciais mistas irlandês Conor McGregor ©Laura Radford/Amazon Prime Contents.



O NOSSO JOAQUIM E A NOSSA DANIELA

O cineasta não parece interessar-se muito em desenvolver esta interação entre estes personagens secundários com os principais, vá lá uma vez ou outra destaca a colorida e divertida equipa do estabelecimento e os alterados clientes alcoolizados; nem tão pouco as características do atraente e pouco convincente vilão interpretado por Billy Magnussen, vestido quase sempre bem ao estilo de “Miami Vice”, aliás como o seu diferenciado grupo de capangas e motards, que parecem todos menores e um pouco caricaturas.

O lutador de artes marciais mistas irlandês Conor McGregor — no seu papel de estreia no cinema e não lhe auguramos grande futuro na 7ª Arte — quando aparece posiciona-se logo, como um ladrão de cenas no papel do assassino demente Knox. Mas a sua performance torna-se estranhamente tão auto-consciente e tão marcada por ele próprio e a sua desengonçada postura, além de parecer presa entre uma figura assustadora, divertida ou absolutamente ridícula. E no final a sua personagem não consegue ser nenhuma destas coisas. Quanto a Daniela Melchior está muito bem e é muito agradável vê-la em ação numa produção norte-americana e em mais uma porta aberta para outros voos.

Lê Também:   74ª Berlinale | Anunciados os Prémios (da Crítica) em Berlim

É também delicioso ouvir aquele sotaque imperfeito de alguém que conhecemos de perto e do mau inglês falado na latina Flórida, — onde na verdade a população insiste em falar quase sempre em espanhol — mas a Daniela merece oportunidades melhores para mostrar o seu talento e fotogenia. Joaquim de Almeida está igual a si próprio, sempre muito bem, na sua “praia”, e à falta de melhor, em mais de um dos seus papéis de vilão latino ou caribeño. Mas também é um extraordinário ator que gostamos de ver em outros papéis mais adequados ao seu talento e experiência e de facto vamos em breve rir com ele numa grande e divertida interpretação em “O Hotel Palace”, de Roman Polanski. “Road House” é a opção de streaming ideal para quando quiserem ver um filme de ação à moda antiga, sem se entusiasmarem em demasia e partir muitas garrafas de cerveja.

"Road House" a Crítica
Road House

Movie title: "Road House"

Movie description: Um ex-lutador de UFC/MMA consegue um emprego como segurança num estabelecimento hoteleiro e bar, na Flórida Keys, apenas para descobrir que este paraíso não é tudo o que parece e o que esperava, para mudar a sua vida e o seu passado violento.

Date published: 25 de March de 2024

Country: EUA

Duration: 123 min

Director(s): Doug Liman

Actor(s): Jake Gyllenhaal, Daniela Belchior, Joaquim de Almeida, Billy Magnussen, Conor McGregor

Genre: Acção, 2023,

  • José Vieira Mendes - 60
60

CONCLUSÃO:

Habilmente dirigido pelo experiente realizador de cenas de acção Doug Liman (“Identidade Desconhecida”), este remake, intitulado no original como “Road House” tem um argumento muito simples — fala-se no efeito IA — mas é um filme muito louco, divertido, espirituoso, nostálgico sobre o arquétipo do herói de acção, dos velhos ‘filme de porrada’, da nossa adolescência. “Road House” não é propriamente um filme notável, nem tem a alma e o charme do original de 1989, protagonizado por Patrick Swayze. Porém é no mínimo gratificante ver Liman, Gyllenhaal, McGregor (e também os dois actores portugueses) criarem uma estapafúrdia e divertida comédia que está para além da grande bolha pop-cultural dos actuais filmes comerciais e de super-heróis. “Road House”, conta a história de um verdadeiro herói de acção à moda antiga, daqueles que levam tudo à frente sem super-poderes. Pena é que os efeitos especiais das lutas espectaculares acabem por estragar tudo e tirarem um pouco da adrenalina pura e tosca, dos filmes da década de 80. 

JVM

Pros

Um remake que se esforça (mas não chega lá) de fazer jus ao filme original dos anos 80 e onde Jake Gyllenhaal, e sobretudo os actores portugueses nos deliciam com boas interpretações. A unica excepção é  Conor McGregor que só serve mesmo para protagonizar as lutas.

Cons

O argumento é de facto demasiado simplista, frágil e composto por reviravoltas às vezes um pouco ridículas, além de o filme ser marcado por algumas das piores lutas dos últimos anos, que apesar de bem coreografadas, têm inserts, bastante mal-feitos de tecnologia CGI (ou efeitos especiais). 

Sending
User Review
2.5 (2 votes)
Comments Rating 0 (0 reviews)

Leave a Reply

Sending