Jacob Elordi interpreta um estudante rico de Oxford. | © Amazon Prime Video

De Saltburn a Ghibli, os Melhores Posters de 2023

Mais um grande ano de cinema passou, com posters maravilhosos a acompanhar filmes extraordinários. Desde “Saltburn” até ao “Rapaz e a Garça” da Ghibli, contam-se muitos triunfos de design gráfico nos últimos doze meses.

Muito se aplaude a arte do cinema, essa sétima maravilha que tanto nos deleita a 24 fotogramas por segundo. Contudo, em seu redor orbitam outras façanhas artísticas, mesmo quando estão englobadas num projeto comercial. Tudo isto para dizer que há valor na publicidade além do mercenário.

Pensando no poster de cinema, conseguimos encontrar nos seus desenhos uma maneira de invocar mistério e interesse, por vezes até a capacidade de resumir ideias inefáveis numa só imagem. Tantas vezes, deparamo-nos com cartazes que sintetizam o tom do seu filme, aliciando o espetador com promessas estéticas.

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© Warner Bros.

Por isso mesmo, achamos bem incluir posters nas nossas listas de fim-de-ano, para melhor analisarmos essa arte menosprezada do cartaz e, ao mesmo tempo, continuar a promoção dos filmes. Dito isso, convém fazer algumas menções honrosas antes de mergulharmos no top 10 em si.

Por exemplo, apesar de não serem propostas gráficas arrojadas, temos de amar os muitos posters de “Barbie.” O uso de taglines astutas e a facilidade com que o modelo estabelecido se podia tornar em meme ajudaram a fazer da fita um fenómeno cultural. Os posters de personagem são especialmente fantásticos, com destaque para aquele dedicado à figura titular.

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Outra grande campanha foi aquela dada a “Saltburn,” o novo filme de Emerald Fennell cujo “Uma Miúda com Potencial” foi grande sucesso em 2020. Apesar de ter dividido críticos, esta segunda provocação da realizadora cativou muitos espetadores, em parte porque a estética vampírica da sua história tem pano para mangas no que se refere à sedução.

Os posters são prova disso mesmo, erotizando as figuras masculinas do enredo e expandido a maravilhosa fotografia de Linus Sandgren. Há um toque de cliché deliberado no grafismo, um apelo à génese e auge do Tumblr em décadas passadas. Se não funciona como obra cinematográfica, “Saltburn” certamente vinga como editorial de revista. Basta ver os seus cartazes.

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© Amazon Prime Video

Enfim, tanto “Barbie” como “Saltburn” são menções honrosas porque o impacto dos seus posters tem que ser experienciado enquanto coletividade. Não há nenhum design singular que se eleve acima dos outros. O mesmo não acontece com o nosso top 10. Mas chega de conversa fiada e passemos à contagem decrescente. Os melhores posters de 2023 são…


10. Opponent

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© Tangy

Este título foi a escolha da Suécia para representar o país nos Óscares. Trata-se de uma história de repressão e imigração, focando-se numa família de refugiados iranianos procurando asilo na terra Escandinava. Fulcralmente, é o drama de um homem homossexual em confronto com a sua sexualidade, dentro e fora do ringue onde faz a vida enquanto lutador. O entrelace de violência e erotismo é sumarizado no poster, através da colisão de pele e musculatura, a comunhão do corpo, do desejo proibido.

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9. May December: Segredos de um Escândalo

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© Netflix

A campanha publicitária que a Netflix montou para o novo filme de Todd Haynes é um exemplo de astúcia tonal. Elevando-se acima do debate crítico sobre a natureza cómica do filme, os posters para “May December” fizeram a exaltação do camp, com jogos de espelhos e referências. Este particular exemplo faz a homenagem a duas importantes inspirações. São elas a “Persona” de Bergman e “Fala com Ela” de Almodóvar. Trata-se de pastiche sem vergonha, uma imitação salaz que, num abrir e piscar de olhos, vende a perversidade do melodrama.

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8. In Water

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© Cinema Guild

Esta obra de Hong Sang-soo foi filmada de forma muito curiosa. O realizador escolheu apresentar o filme desfocado, alternando os níveis de distorção com algumas cenas bastante discerníveis e outras esbatidas até ao ponto da abstração. Para publicitar um trabalho destes, há que se puxar pela imaginação.

Assim surgiu este cartaz, uma pintura que sugere o desfoque noutro meio ao mesmo tempo que faz referência à última cena da fita. É uma daquelas imagens que chama a atenção à primeira análise, mas depois ganha novo significado quando já vimos “In Water.”

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7. Notre Corps

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© The Cinema Guild

O documentário mais recente de Claire Simon explora o corpo feminino através da observação precisa, com a câmara entre médicos e pacientes num hospital parisiense. Trata-se de um filme multifacetado que, a certa altura, coloca a própria realizadora enquanto sujeita do seu estudo. Essa qualidade está patente no poster ilustrado, com uma versão da cineasta entre as várias partes de uma Matrioska simbólica.

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6. Fechar os Olhos

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© Film Factory Entertainment

Depois de décadas fora da ribalta, Víctor Erice regressou aos cinemas com “Fechar os Olhos,” seu novo triunfo. A história contada na fita reflete muito desse legado, sendo, essencialmente uma tese, quiçá um poema, sobre os poderes e os limites do cinema enquanto materialização da memória.

Fazem-se milagres neste filme – à la Dreyer – e o clímax passa-se diante do ecrã, quando o espetador e o que ele vê se tocam. Ao tornar o gesto literal, o poster não só faz referência a Bergman como também nos oferece uma Pedra da Roseta para entender a obra-prima espanhola.

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5. O Rapaz e a Garça

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© Studio Ghibli

Para promover o novo filme de Hayao Miyazaki, o Estúdio Ghibli tomou uma atitude inesperada. Basicamente, recusaram-se a fazer grande publicidade, não revelando qualquer imagem além deste poster esboçado, cujo detalhe descontextualizado não nos permite ter ideia concreta da personagem nele representada.

O objetivo foi criar mistério, vender a obra com base somente no seu autor. Foi uma aposta arriscada, mas compensou. “O Rapaz e a Garça” é uma obra-prima e o seu primeiro poster é um enigma perfeito.

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4. A Zona de Interesse

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© A24

Jonathan Glazer é um dos cineastas mais arrojados da atualidade e o seu “Zona de Interesse” não descura na provocação. Com um olhar clínico, frio, sem paixão ou compaixão, ele observa o quotidiano do capitão de Auschwitz durante o Holocausto, sua esposa e restante família.

Só que nunca olhamos além dos muros altos, enclausurados no idílio oco da gente ariana. Sabemos sempre o que está a acontecer, ouvimos o horror, mas os olhos estão no Éden falso daquele jardim. O poster resume tudo isso em síntese gráfica, uma paisagem pastel onde o céu se converte num buraco negro, um vazio absoluto. O contraste desconcerta, aflige, dá-nos uma boa amostra do que nos espera se arriscarmos ver o pesadelo desta “Zona de Interesse.”

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3. Assassinos da Lua das Flores

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© Apple Studios

A maioria dos posters para “Assassinos da Lua das Flores” são uma tristeza de desinspiração artística. Contudo, depois da miséria veio um milagre. Trata-se desta pintura assinada por Addie Roanhorse, uma embaixadora da Nação Osage. O trabalho centra a figura de Mollie, mas podia ser uma homenagem a toda a mulher Osage, seus cabelos escuros sobre o cobertor vestido qual manto listrado. Simples e poderoso, tão belo quanto desolador, o cartaz é a mágoa do filme num abrir e pescar de olhos.

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2. A Thousand and One

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© Focus Features

Continuando com posters criados por artistas conceituados além da esfera publicitária, temos este exemplo de “A Thousand and One.” Com pintura de Desi Moore, o cartaz deste campeão de Sundance é um retrato estilizado das suas figuras principais, acentuando o papel da maternidade na narrativa proposta. Mas há algo angular e desconfortável na pose, uma beleza que magoa e sugere tensões maiores que o modelo da Virgem com seu Menino. O poster fica na memória, chamando-nos para o filme como as sereias cantavam a perdição dos marinheiros.

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1. Pobres Criaturas

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© Searchlight Pictures

Vasilis Marmatakis tem desenhado os cartazes para praticamente todos os filmes de Yorgos Lanthimos. O seu estilo normal tende a recair no minimalismo, com recortes e fundos brancos, o contraste do vazio com linhas pretas fortes. Só que para a loucura vitoriana de “Pobres Criaturas,” essa abordagem seria errada. Por isso, mudaram-se as fortunas e os modelos, chamando mais para a opulência e também para o grotesco.

Daí surgiu uma série de grandes designs, sendo este o melhor de todos. Para quem já viu o filme, a imagem duplicada de Emma Stone fará todo o sentido, um resumo perverso do seu fado na fita. Que glória – não amariam ter isto exposto na vossa parede? Nós sim.

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Queridos leitores, o que pensam desta lista? Que outros posters merecem ser celebrados neste contexto de fim-de-ano?



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