© Sofie Gheysens via Netflix Media Center

Sob as Águas do Sena, a Crítica | Netflix surpreende com um tubarão em Paris

Há um tubarão a nadar no rio Sena, em Paris, para ver num thriller de verão improvável, e divertido, que merece um certo lugar perto do topo de um sub-género de sucesso e também de bastantes fracassos. “Sob as Águas do Sena” (“Sous la Seine”, “Under Paris”) é para já o grande blockbuster deste verão na plataforma Netflix, perto de ti. Estreou a 5 de junho. 

“Sob as Águas do Sena”, é um novo filme sobre um tubarão do realizador francês Xavier Gens (“Lupin”, “Gangs of London”, “Hitman”) com Bérénice Bejo (“Um Segredo de Família”) e Nassim Lyes (“Birds of Paradise”) nos principais papéis e um extraordinário “produto” da indústria de cinema francesa, que se tornou em pouco tempo um dos maiores sucesso deste quase início do verão na plataforma da Netflix. Imaginem se fosse para as salas de cinema?

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Classificado como “filme de terror” e “thriller” pela plataforma de streaming que também é a distribuidora deste filme de certo modo “tonto” e improvável em todos os sentidos, “Sob as Águas do Sena”, imagina um tubarão rondando o coração de Paris, pronto para atacar, poucos dias antes de um campeonato de triatlo no rio parisiense, uma espécie de warm up para os Jogos Olímpicos de Paris, que abrirão daqui a pouco mais de um mês.

A atriz franco-argentina Bérénice Bejo (“Um Segredo de Família”) interpreta muito bem e com credibilidade Sophia, uma cientista convertida em guia de um aquário após perder toda a sua equipa de investigação durante uma missão no Pacífico.

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© 2023 Netflix, Inc.

Um blockbuster da indústria francesa

“Sob as Águas do Sena” é na verdade um filme com bastantes meios, um blockbuster da indústria francesa, extremamente sofisticado, ambicioso, implacavelmente absurdo, mas genuinamente aterrorizante, com muita ação, terror e uma visão catastrófica (ecológica), sobre esse implacável tubarão gigante que chega sabe-se lá como às águas do rio Sena em Paris. Claro que isso não é possível!

Os tubarões são criaturas de água salgada e o Sena é um rio de água doce, onde jamais encontrariam que comer a não ser algum turista distraído; o Sena também é frio demais para acomodar um tubarão ou mais…; além disso o Sena é governado por um complexo sistema de diques e barragens e um tubarão jamais conseguiria ultrapassá-lo.

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No filme, nem sequer é posta a hipótese ou suspeição de alguém ou alguma organização criminosa, o ter levado para lá! Em poucos minutos de filme começamos logo a questionar a lógica de toda a premissa, que assenta obviamente numa fraude científica falsa e confusa.

Mas as preocupações do filme são outras e outras pelo facto de haver um tubarão no Sena na mesma semana em que a Presidente da Câmara — uma caricatura de uma política populistas, numa figura que se assemelha a Marine Le Pen — organizou o tal torneio de triatlo, assumindo para si os benefícios e as políticas ambientais para melhorar a qualidade das águas do rio, mesmo avisada do perigo do “bicho” e indo contra tudo e contra todos.


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© 2023 Netflix, Inc.

Uma história trágico-ambiental

“Sob as Águas do Sena” até começa por ser uma história algo trágica e bastante humana, sobre a tal corajosa bióloga marinha (Bejo) e também exímia mergulhadora, cujo marido foi comido uns tempos antes, por um tubarão no Oceano Pacífico e que não se conforma, com a sua pouca sorte, além de não conseguir entender a enorme coincidência de ver esse mesmo estranho e violento “bicho” — vigiado por um sistema de localização — agora quase literalmente à porta de sua casa.

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E de facto, o filme partindo desta ideia, parece às vezes bastante ridículo e “parvo”, mas é tão bem feito, tão estranhamente divertido ao mesmo tempo e tão robusto que acabamos por aproveitar o passeio por Paris — pelas suas catacumbas e pontes —, mesmo no meio de muita tensão e atrapalhação das autoridades policiais e militares.

Antes de tudo explodir num espectáculo e num enorme banho de sangue, há mesmo uma agradável economia de meios no filme, quase numa reminiscência de “Godzilla Minus One” (2023), com o monstro a ganhar mais eficácia nos seus ataque quase premeditados, por permanecer escondido a maior parte do tempo, desorientando todas as equipas de defesa e salvamento. O final é efectivamente espectacular e um alerta ambiental, que se pode projectar para algo mais.

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© Netflix

Como tem dividido a crítica

A crítica francesa tem ridicularizado “Sob as Águas do Sena”, apelidando de “grotesco”, enquanto por outro lado a crítica de origem anglo-saxónica ou norte-americana — a mesma afinal que glorificou, há bem pouco tempo ‘Grand Tour’ de Miguel Gomes — que parece mais aberta à novidade, vai comparando-o com o famoso e já um clássico “Tubarão” (1975), de Steven Spielberg.

Quanto aos media franceses, é o mesmo que dizer, que “santos à porta de casa não fazem milagres”. O “intelectual” Libération, é talvez o mais comedido nas palavras e na análise, parece pelo menos ter encontrado — aliás como eu próprio — uma forma de prazer catártico ao assistir a este filme incrível e surpreendente, mas não propriamente pela sua qualidade cinematográfica.

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“Na esteira da sua cobardia, ‘Sob as Águas do Sena’ revela a sua natureza: um filme delirante de catástrofe, que toma o lugar do exorcismo para o parisiense médio, pressionado durante anos por estas Olimpíadas que prometem ser extraordinárias”, lê-se nesse já clássico matutino, que tem um elenco de críticos dos mais respeitados internacionalmente.

Com um orçamento de quase 20 milhões de euros e uma forte campanha promocional, a fama de “Sob as Águas do Sena”, fez com que o tubarão tivesse atravessado facilmente o Atlântico, com excelentes referências, como por exemplo na sempre exigente Variety: “Temos finalmente um filme de tubarão digno de nadar na esteira de ‘Tubarão‘ (1975)”. Os media norte-americanos vêem-no assim como um verdadeiro sucessor da obra de Steven Spielberg: “os filmes de tubarão verdadeiramente brilhantes que se seguiram podem-se contar pelos dedos de uma mão”.

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© 2023 Netflix, Inc.

Um dos melhores filmes de tubarões de sempre

E verdade seja dita “Sob as Águas do Sena” é sem dúvida o melhor de todos esse filmes, até agora o que por si só é um grande elogio, para uma ideia já bastante batida. A crítica americana considera mesmo o filme francês como um “blockbuster inteligente” e até lamenta que não tenha sido lançado nas salas de cinema.

O filme da Netflix tem tido também bastante sucesso nos sites especializados: tem uma pontuação de 71% no famoso “Tomatómetro” do Rotten Tomatoes. Também para prestigiado jornal britânico The Guardian, “Sob as Águas do Sena” é “um thriller de verão sabidamente improvável, mas genuinamente divertido, que merece seu lugar no topo de um sub-género de sucesso”.

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Na generalidade, os media britânicos deram-lhe aliás um grande destaque: “A Netflix oferece-nos um dos melhores filmes sobre tubarões até agora já feitos”. O jornalista reconhece, no entanto, que o argumento é ridículo, mas mesmo assim afirma que “Sob as Águas do Sena” é tão divertido, e tão solidamente construído que o espectador acaba por gostar desta espectacular experiência de cinema, mesmo que sentado no sofá de casa.

E destaca ainda e é de realçar que a presença de um tubarão no meio de Paris é sem dúvida também um alerta e “uma bela parábola sobre a crise climática”, que é referida no final, embora em si a premissa, de um ataque em massa ou a revolta dos animais, seja impossível.


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© 2023 Netflix, Inc.

Vem aí uma segunda parte?

“Sob as Águas do Sena” poderá ainda aproveitar esse balanço e o seu êxito de espectadores para estrear num grande ecrã? Bem, dada a forma como “Sob as Águas do Sena” termina, aposto que já deve estar em andamento a segunda parte que não seria, no meio de tanta porcaria que para aí estreia, uma excelente ideia (e bom negócio) esta sequela chegar às salas de cinema.

O suficiente também para novamente dividir a crítica de cinema, o que é bom e todos ficamos a ganhar! Isto porque não tenho dúvidas, que apesar de não ser uma grande apreciador do género, a Netflix estreou de facto um dos melhores e mais assustadores filmes de tubarão que já vi nos cinemas ou na televisão.

Se tiverem dúvidas, confirmem e vejam-no sem pré-conceitos!

Sob as Águas do Sena, em análise

Movie title: Sob as Águas do Sena

Movie description: Para impedir um banho de sangue internacional em Paris, uma cientista é obrigada a enfrentar o seu passado trágico quando um tubarão gigante surge nas águas do Sena.

Country: França

Duration: 1h44

Director(s): Xavier Gens

Actor(s): Bérénice Bejo, Nassim Lyes, Léa Léviant

Genre: Thriller

  • José Vieira Mendes - 65
65

Resumo

Conclusão: “Sob as Águas do Sena” de Xavier Gens, fez fluir mais tinta do que sangue, especialmente na França, o país de origem do filme. No entanto, nos países anglo-saxónicos, goza de uma excelente reputação. Disponível há poucos dias na Netflix, “Sob as Águas do Sena” foi bombardeado pela crítica francesa, mas do outro lado do Atlântico e do do Canal da Mancha, consideram-no um fenómeno e um dos melhores filmes de tubarão, digno de comparação com o famoso “Jaws”, (1975), de Steven Spielberg. Por cá iPad não vi muitas referências. É de facto uma produção e uma estreia rara da Netflix e ainda uma descoberta do ponto de vista cinematográfico, que ainda assim carrega estigmas estéticos e muito clichés: a reviravolta que normalmente teria motivado o clímax serve no entanto de pivô para os últimos 20 minutos, que são absolutamente delirantes, transformando-se diretamente num verdadeiro filme-catástrofe. Na reviravolta que aponta para uma configuração de recompensa… inestimável, Gens revela seu monstro em full-frame, agravando a situação de caos muito além do permitido pelas convenções mais realistas e possíveis. É curiosamente neste final absolutamente delirante que “Sob as Águas do Sena” aparece como deveria ser na sua totalidade: um filme desinibido, franco, ao mesmo tempo e apesar do banho de sangue, bastante engraçado. Não surpreende, portanto, que a imprensa fora de França tenha reservado uma recepção muito mais calorosa a “Sob as Águas do Sena” não se demorando demasiado na importância dos diálogos ou da narrativa, reteve-se principalmente no espectáculo de caos do último acto. Comigo aconteceu o mesmo!

O melhor: De facto a reviravolta, os últimos 20 minutos do filme são absolutamente incríveis e de facto, até uma grande motivo de orgulho para a indústria francesa de cinema que consegue neste caso equiparar-se a Hollywood.

O pior: Uma premissa completamente impossível que torna por vezes o filme um tanto tonto, imprevisível e ridículo, mas ao mesmo tempo e apesar de sanguinário, bastante delirante e engraçado.

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