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A Minha Casinha | Atores e realizador revelam principais desafios e lamentam não terem tido apoios

O realizador e alguns atores de “A Minha Casinha” estiveram à conversa com a Magazine.HD e revelaram os maiores desafios de gravar um filme num ano sem  financiamento.

A Minha Casinha” é um filme português que conta a história de uma família que tem de lidar, repentinamente, com a partida do filho mais velho para o estrangeiro, virando a vida de todos do avesso. Ao longo das várias estações do ano vamos acompanhando o desenvolvimento deste ‘ninho’ que se vai tornando cada vez mais vazio, enchendo-se de alegria quando as férias trazem de volta a casa toda a família. Mais do que a ausência, o filme lida com as tradições de um Portugal mais rural, tendo sempre como foco o lar e a família.

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A Minha Casinha © Pris

Este é um projeto independente que surgiu através da ideia do realizador António Sequeira e da sua equipa, inspirados pelo método de filmagem de “Boyhood – Momentos de uma Vida“. Apesar de “A Minha Casinha” ser uma longa-metragem que se centra, sobretudo, na família portuguesa, o filme foi imediatamente selecionado para a secção “Goes to Cannes” do Marché du Film do Festival de Cannes. Mas a universalidade dos temas abordados na longa-metragem valeram ainda o Prémio do Público no Austin Film Festival ainda antes de o filme estrear em Portugal.

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Numa conversa bastante descontraída, a Magazine.HD teve a oportunidade de falar com António Sequeira, o realizador de “A Minha Casinha”, e perceber as principais dificuldades encontradas durante as filmagens deste filme independente. Além disso, estiveram também à conversa Miguel Frazão, ator que se destacou em produções como “A Espia” e “Fátima” e que ganha agora o seu primeiro papel principal, e Beatriz Frazão, que teve recentemente um papel de destaque no reboot de “Morangos com Açúcar“.




Magazine.HD: “A Minha Casinha” é um filme sobre a família, e vocês são pai e filha fora do ecrã! Como é que foi essa experiência de contracenarem um com o outro?

Miguel Frazão: Foi interessante! Eu confesso que nem foi tanto por sermos pai e filha, foi mais por isto ter sido a minha primeira oportunidade como protagonista de uma longa-metragem, e eu sentir-me, enquanto ator, um bocadinho uns pontos abaixo. E isso estava-me a deixar nervoso, mas também permitiu que eu me entregasse de outra forma à personagem. As cenas com a filha foram estranhas [risos]. Foram estranhas porque nós tivemos de criar uma relação mais normal e mais credível. E era estranho, mas pronto, eram as personagens e lá acabou por se fazer e ficou credível.

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Beatriz Frazão: Eu vou contar uma história mais engraçada [risos]… Foi muito engraçado fazermos de pai e filha, porque eu sou muito tímida, ainda mais a contracenar com uma pessoa que é da minha família, é muito constrangedor, mas as pessoas no set não sabiam que nós éramos pai e filha. Então, nós estávamos sempre juntos e às vezes dormíamos no sofá juntos, agarrados um ao outro, e eu apanhava olhares de pessoas assim “mas o que é que é aquilo? o que é que um homem com 40 anos está a fazer com a menina?” [risos]. Eles começaram a achar aquilo muito estranho e depois é que nós dissemos que nós éramos pai e filha! É giro e acho que conseguimos passar a química que nós temos como pai e filha para o filme.




Magazine.HD: Além de contracenares com o teu pai, também contracenaste com o Salvador Gil que é irmão gémeo do Vicente Gil com quem já tinhas participado nos Morangos com Açúcar. Como é que foi esta contracena? 

Beatriz Frazão: Com o irmão gémeo é muito engraçado, porque eles parecem mesmo a mesma pessoa. Às vezes ficava assim a olhar para o Salvador a pensar que era o Vicente [risos]. Aquilo atrapalhava-me o cérebro porque têm a voz igual, falam da mesma maneira e até a representar são muito parecidos. Mas eu gosto muito deles os dois. 

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Magazine.HD: Para além de ser um filme sobre a família, também é um filme sobre a passagem do tempo. E temos um ano inteiro a passar-se naquela longa-metragem. Como é que se consegue fazer aquela passagem por todas as estações?

António Sequeira: Nós, basicamente, filmámos mais ou menos à volta de um ano e filmámos de três em três meses. Filmávamos uma semana e depois tentávamos apanhar a próxima estação a seguir e a ideia era um bocadinho que não só a nível das estações que elas fossem mudando, mas também os atores que pudessem mudar de visual e também crescer ao longo do ano. Eu acho que vimos um bocadinho, apesar de serem pequenos pormenores, mas nota-se mesmo uma Bia [Beatriz Frazão] como atriz a crescer também no filme, nota-se o Salvador [Gil] também a crescer no filme… os pais não tanto porque não se nota tanto a diferença! Era isso que nós queríamos mesmo capturar com a filmagem de um ano. 

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Magazine.HD: Quais foram os maiores desafios? 

António Sequeira: Fazer um filme em Portugal, só em si é um desafio gigantesco [risos]. Nós não tínhamos financiamento público nenhum, portanto, o filme foi todo feito apenas com o amor e com a dedicação de todas as pessoas que estão aqui e muitas mais que nos ajudaram a fazer o filme. E por isso, as filmagens, em todos os dias, eram um gigante desafio. Assim o mais cómico era, provavelmente, lidar com os comboios, porque os comboios da CP nunca vêm a horas [risos] e eu já vi um comentário no trailer que alguém escreveu e disse assim, “só mesmo na ficção, porque os comboios da CP nunca vêm a horas” [risos]. Ele não sabia que o comboio mesmo nesta ficção também não vinha a horas [risos]. E era basicamente eu a gritar “train is coming!“. Nós temos uma equipa internacional, então eu tinha que gritar para para as pessoas todas saberem e toda a gente correr para os sítios e tentámos descobrir a melhor maneira. Esse foi o mais stressante de todos.




Magazine.HD: Ainda antes de o filme ter chegado a Portugal, já tinha ganho um prémio nos Estados Unidos. Como é que foi essa sensação? 

António Sequeira: É uma sensação muito boa! Nós não estávamos mesmo nada à espera. Eu fui com o Miguel [Frazão], a Bia [Beatriz Frazão], não pôde, estava em gravações, mas fui com o Miguel, com com o diretor de fotografia e com o produtor do filme e nós estávamos lá todos e os filmes que estavam lá eram filmes gigantescos mesmo – Tom Hardy, Austin Butler, Zendaya… nomes assim gigantes que nós nem sequer podemos comparar com Portugal, não é? Depois, o facto de o público em si ter gostado mais do nosso filme comparando com todos, acho que é ridículo, quase [risos]. Mostra mesmo que, sem dúvida, que o filme, apesar de ser bastante português, que é algo universal aqui no tema e que toca as pessoas. E foi para nós muito bom ter recebido do público em especial.

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Magazine.HD: Voltando aqui um bocadinho atrás, gostava de saber se tiveram algumas dificuldades assim mais notórias ao longo das filmagens e também a vossa reação ao saber que ganharam este prémio. 

Miguel Frazão: Olha, eu tive de fumar durante o filme todo e eu nunca fumei na vida. Assim, dificuldades físicas foi ter que fingir que eu coxeava, mas isso era fácil, era uma pedra no sapato [risos]. É verdade! O fumar não era tanto o tabaco, porque aquilo não era tabaco real, mas era o fumo a entrar-me pelos olhos, que era uma coisa que eu não estava mesmo a aguentar [risos].

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Quanto ao prémio, eu achei que era mentira. Nós estávamos lá no Festival quando entregaram os Prémios do Júri, e o Prémio do Júri foi, obviamente, para outro filme, que era o “Sunlight”, não é? E nós até brincámos com isso lá no almoço de entrega de prémios, “Ah, agora só nos falta ganharmos o Prémio do Público”. Só que era completamente impossível, estávamos a falar de um filme português legendado em inglês para um público americano que vê filmes de aliens e de super-heróis, e pronto [risos]. E no fim, quando ganhamos o Prémio do Público foi mesmo uma surpresa gigante. Mas nós, em todas as exibições, no final havia Q&A, o público fazia perguntas e dava para sentir que as pessoas tinham mesmo se deixado envolver com o filme.




António Sequeira: Tínhamos, literalmente, de dizer às pessoas que já não havia mais questões e que tínhamos de seguir em frente [risos].

Miguel Frazão: E havia muitos graus de identificação que nós vimos no público – “Ah, eu gostei muito da relação dos irmãos, porque eu passei isso com a minha irmã… Ah, eu tenho a minha filha que vai agora sair de casa…” Muita gente foi buscar bocadinhos diferentes. 

Beatriz Frazão: Eu acho que a maior dificuldade neste filme é como é passado num ano e como nós gravámos por estações, era fazer as diferenças entre as estações e as nossas personagens iam evoluindo. A Belinha ia ganhando mais confiança, ia ficando mais crescida… No início do filme ela não sabe muito bem quem é que ela é, fizeram-me borbulhas e eu usava a roupa do pai, e depois, no final, ela já usa maquilhagens, já faz a própria roupa e foi muito interessante fazer esse processo de crescimento na mesma personagem e poder também crescer com ela.  

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Já assististe a “A Minha Casinha”? Qual a tua personagem preferida? Consegues-te identificar com alguma temática do filme?


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