'The Killer'©via Biennale di Venezia

Em Veneza Fassbender mostra-se num ‘The Killer’ muito cool

David Fincher, o brilhante e inquieto realizador da geração pós-Hollywood, regressou à Competição de Veneza 80, com um muito aguardado, ‘The Killer’, interpretado por Michael Fassbender, um thriller psicológico elegante e sombrio, baseado num banda desenhada de culto, mas está longe da adrenalina e da tensão dos seus filmes anteriores. 

Pois é o tempo passa e já lá vão cerca de 24 anos que David Fincher,  (61 anos) apresentou aqui o fabuloso ‘Clube de Combate’ (1999), com Brad Pitt e Eduard Norton. Agora regressa com ‘The Killer’, um thriller psicológico protagonizado por um Michael Fassbender, no papel de um assassino profissional e global, com um estilo muito cool e muito consciente. Trata-se de um film noir brutal, elegante e sanguinário, que segue esse personagem, sem nome, num mundo que parece que perdeu a sua orientação moral e os seus valores civilizacionais. Sendo mais uma das produções da Netflix aqui na Competição, o novo filme de Fincher é baseado na novela gráfica francesa de sucesso, ‘Le tueur’ (1993), escrita por Alexis Nolent (mais conhecido como Matz) e desenhada por Luc Jacamon, publicada em 12 volumes entre 1998 e 2013 e com edição portuguesa da Booktree (2003). O filme conta a história desse assassino profissional (Michael Fassbender), uma figura de caráter solitário, sem escrúpulos, frio e super meticuloso. Parece o assassino perfeito, porque sabe esperar silenciosamente nas sombras o momento certo, estudando cuidadosamente o seu próximo alvo. Porém, essa espera constante cria-lhe alguns questionamentos interiores ou seja mesmo que consiga nunca perder a paciência, esses momentos começam a dar-lhe a volta à cabeça.

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The Killer
‘The Killer’. © Biennale di Venezia

Ainda mais quando parece ver o seu refúgio e a família ameaçada. A sua frieza metódica começa então a diminuir aos poucos, para dar lugar a uma consciência moral, que obviamente lhe traz muitos problemas na sua actividade profissional, realizada ao nível global. ‘Simpatia foi a última coisa que passou pela cabeça, no que se refere a esse personagem’, disse Fincher na conferência de imprensa a seguir ao filme. O personagem não precisa ser assustador, mas é antes uma figura comum, explorando o realizador a a ideia da banalidade do mal. Na auto-narrativa permanente e quase sem diálogos, em que o personagem de Fassebender fala consigo mesmo, os espectadores são convidados a entrar na mente deste personagem muito cool: faz ioga, come McGriddles sem pão e ouve temas dos The Smiths, especialmente tema ‘How Soon Is Now’, enquanto se prepara para atirar nos seus alvos. ‘Adorei a ideia de utilizar essa música como uma ferramenta para amenizar as ansiedades do personagem’, disse Fincher. ‘Funciona como um tema de meditação, além de a achar achei divertida e engraçada esta ligação’, concluiu o realizador.

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VÊ TRAILER DE ‘THE KILLER’

‘The Killer’ não é de forma nenhuma dos melhores filmes de Fincher, muito longe disso, mas é uma crónica  limpa e asséptica de um assassino, que se vê sozinho, armado e com a psique a vacilar, numa caçada global em que tenta que não seja pessoal, mas antes redentora e altruísta.

The Killer
‘The Killer’. © Biennale di Venezia

Apesar de toda a história ser centrada num único homem, o filme conta em pequenas aparições e em curtos diálogo com Tilda Swinton, Arliss Howard, Charles Parnell e Sala Baker. ’The Killer’, foi escrito por Andrew Kevin Walker (o argumentista de ‘Seven- Sete Pecados Mortais’) e contou com outros notáveis e históricos colaboradores do realizador, como Erik Messerschmidt (‘Mank’) na fotografia e Trent Reznor (Nine Inch Nails) e Atticus Ross, a dupla musical que criou todas as bandas sonoras dos seus últimos filmes, desde ‘A Rede Social’.

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The Caine Mutiny Court Martial
‘The Caine Mutiny Court Martial’. © Biennale di Venezia

O francês Bertrand Bonello (‘Coma’, 2022) avançou desta vez para um futuro perturbador com o distópico ‘La Bête’, um filme livremente baseado numa história do escritor irlandês Henry James, onde Léa Seydoux ao lado do actor britânico George MacKay — substitui o malogrado Gaspard Ulliel — perseguem o seu passado numa sociedade que teme as emoções e o amor; também na Competição, foi apresentado o estranho filme alemão ‘Die Theorie von Allem’, de Timm Kröger, sobre um cientista dos anos 60 tem que enfrentar um verdadeiro pesadelo. E acabou mesmo por ser um pesadelo na sessão noturna para a imprensa. Por fim, foi também foi o dia da apresentação fora do concurso de ‘The Caine Mutiny: Court Martial’, de William Friedkin, com Kiefer Sutherland no papel que foi interpretado por Humphrey Bogart no filme de Edward Dmytryk de 1954: um duro aviso (bastante atual… aliás) contra o fanatismo militar, e infelizmente uma homenagem póstuma ao grande realizador falecido há pouca semanas.

JVM, em Veneza

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