Midsommar © A24

Midsommar | Os filmes que influenciaram Ari Aster

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Com a estreia de “Midsommar” e a vinda de Ari Aster ao MOTELx, a MHD destaca o que ver antes da estreia do filme de terror do ano.

“Midsommar: O Ritual” é apenas a segunda longa-metragem do cineasta norte-americano Ari Aster, após o aclamado “Hereditário”, estreado em Portugal no ano passado e que até foi considerado como um dos possíveis nomeados aos Óscares. Tal não aconteceu, mas só o facto de ser bastante comentado, popular e criticamente, prova que Aster quer deixar a sua marca e que não está aqui de passagem.

Além do mais, Aster regressa este ano e o facto de estrear uma nova obra cinematográfica em apenas 1 ano, leva-nos a questionar como é que um realizador tão jovem conseguiu revolucionar o género do terror em tão pouco tempo. A resposta talvez se encontre nas suas fontes de inspiração, que a Magazine.HD decidiu investigar. Digamos que Aster é mesmo conhecedor do género e das suas matrizes, revertendo-as e oferecendo-as como fruta fresca aos espectadores contemporâneos, sedentos por grande cinema de terror.

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Ao contrário de “Hereditário”, que decorre no ambiente fechado e sufocante do lar familiar com Toni Colette como matriarca à beira de um ataque de pânico, “Midsommar” é um filme de espaços abertos e não tem nada que ver com o primeiro projeto de Aster. O filme até começa com um drama familiar, mas destaca-se essencialmente pelos seus cenários e espaços amplos, além de desenrolar-se em plena luz do dia. Só isto, prova ser elemento contraditório à maioria dos filmes de terror focados na escuridão como instigadora do medo.

Com o subtítulo português “O Ritual”, o filme coloca-nos diante a um casal – Dani (Florence Pugh, de “Lady MacBeth”) e Jack Reynor (de “Sing Street”) – que viaja até à Suécia para participar no famoso festival de Verão (as populares Festas Juninas) daquele país nórdico. Contrariamente ao que pensavam, o ambiente de festa na terra do sol da meia-noite começa pouco a pouco a revelar-se sinistro e leva-os a questionarem a sua própria realidade e até a relação.

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Florence Pugh em “Midsommar – O Ritual” (2019), um filme de terror mais luminoso da História do Cinema |©A24

Muito se diz por aí que “Midsommar: O Ritual” renova outro filme de terror sobre cultos pagãos: “O Sacrifício” (1973), protagonizado por Christopher Lee, Edward Woodward e Diane Cilento, e que teve direito a um remake em 2006 com Nicholas Cage e Ellen Burstyn. No entanto, a obra de Ari Aster não deixa de ser um filme original, que se sacia por alguns dos projetos mais amados do cineasta de apenas 33 anos.

Por esta razão, e para te deixares levar pelo grande cinema, recomendamos uma lista de filmes que influenciaram Aster e o seu “Midsommar”. As influências vão desde o ano de 2018,até aos filmes de Michael Powell e Emeric Pressburger estreados há mais de 70 anos atrás, aquando do pós-segunda guerra mundial (momento determinante pela reconfiguração das temáticas nos filmes de terror e do suspense com foco no medo do outro e do desconhecido).

Para quem é fã de um grande filme de terror não deve mesmo perder a estreia de “Midsommar: O Ritual” na 13ª edição do MOTELx, que acontece em Lisboa no início de setembro (programação aqui). O próprio Ari Aster estará presente na projeção que ocorre no Cinema São Jorge, para apresentar o filme e comentá-lo com os espetadores.

A lista dos filmes que influenciaram Ari Aster e o seu “Midsommar” são apresentados a seguir, segundo ordem decrescente relativa ao seu ano de produção. Recomendamos que assistas a estes filmes depois de Midsommar, sobretudo pelos spoilers que possam ser dados.

(ALERTA: SPOILERS!)


“Climax” (2018), de Gaspar Noé

Climax
“Climax” © Wild Bunch

Estreado no Festival de Cinema de Cannes em 2018, onde recebeu o prémio Art Cinema, “Clímax” é outro dos devaneios do polémico cineasta Gaspar Noé. A obra mais recente do realizador, leva-nos até aos anos 90 e a uma trupe de dançarinos que, ao divertir-se e sem darem de conta, começam a sentir o efeito da droga LSD (dietilamida do ácido lisérgico) que alguém colocou na sangria. Alguns começam a entrar em transe, outros dançam freneticamente e alguns são levados por alucinações aterrorizantes a praticar crimes inimagináveis.

Essa visão psicadélica dos efeitos das drogas é partilhada em “Midsommar”, uma vez que as personagens principais, aquando da sua viagem para a Suécia, são levadas a consumir substâncias que alteram o seu estado mental, sem alguma vez saberem do que se trata. Ambos os filmes tocam-se ainda pela reação que despertam no espectador, que começa a distrair-se também pelo que o rodeia, esquecendo a causa primeira. O que importa são os efeitos da droga e aquilo que as personagens são levadas a fazer.

A própria cena do espelho com Sofia Boutella, vista em cima, parece-se muito com uma das cenas de espelhos que coloca Dani, de “Midsommar”, em frente aos seus fantasmas. Para além de Boutella, o filme de Noé conta também com Romain Guillermic, Souheila Yacoub, Kiddy Smile, Claude-Emmanuelle Gajan-Maull e Giselle Palmer.


“45 Anos” (2015), de Andrew Haigh

45 Anos
45 Anos © BFI

Apesar de nunca terem tido filhos, Kate e Geoff Mercer são aparentemente felizes. Tudo se altera quando Geoff recebe uma carta da Suíça a informá-lo que foi descoberto o cadáver de Katya, a namorada anterior a Kate, que morreu tragicamente em 1962, durante umas férias do casal, ao cair na fissura de um glaciar. Aquela notícia abala-o de um modo inesperado, levando-o a afastar-se de tudo o que se relaciona com a vida presente.

É curioso encontrar “45 Anos”, um drama britânico sobre um casamento perto de atingir as bodas de ouro, como uma das influências para o filme de terror à luz do dia de Ari Aster. No entanto, “45 anos” aproxima-se a “Midsommar”, uma vez que ambos colocam em confronto as relações amorosas de dois casais heterossexuais.

Mesmo que Charlotte Rampling e Tom Courtenay representem um casal mais velho, e Florence Pugh e Jack Reynor representem um mais novo, em ambos os filmes há a sensação de que a passagem do tempo não apazigua o conflito: pode minimizá-lo, mas, a certo ponto, ocorre o confronto (há uma explosão de sentimentos).  Estes casais são confrontados com as suas histórias passadas e/ou obscuras, que torna difícil seguir com a vida para a frente.

Ari Aster confirmou mesmo que as suas principais bases, quando começou a escrever “Midsommar: O Ritual” foram os filmes sobre as relações amorosas em colapso, quando ele próprio procurava lidar com uma separação. Também não será difícil a aproximação de “45 anos” a “Midsommar” pelos certos elementos fantasmagóricos que parecem estar subentendidos à sua narrativa.


“Dogville” (2003), de Lars von Trier

Dogville
Dogville © Lions Gate Home Entertainment

“Dogville” é uma obra-prima da mente do controverso cineasta dinamarquês Lars Von Trier que não só tem resistido ao tempo, mesmo depois de 16 anos desde a sua estreia,  como tem influenciado os mais jovens cineastas, entre eles o próprio realizador de Midsommar, Ari Aster.

Na obra que mistura cinema, literatura e teatro (o teatro alemão de Bertold Brecht), Nicole Kidman parece fugir ao ambiente hollywoodesco, após a sua consagração pela Academia com o Óscar de Melhor Atriz, para representar Grace (a primeira Grace da sua carreira, já que a atriz foi também Grace Kelly em “Grace do Mónaco”), uma mulher que, nos anos 30, chega a Dogville.

Esta mulher, tão bela quanto misteriosa, foge de um grupo de gangsters, sendo ajudada pelo ingénuo Tom, que convence os habitantes da aldeia a escondê-la e, em troca, ela aceita trabalhar para eles. No início, ninguém lhe dá trabalho, mas, com o passar do tempo e ao descobrirem que ela é procurada, a comunidade começa e exigir trabalhos forçados. Grace irá entender até onde vão os limites da bondade. Algo que liga os filmes não é só a vontade de dar uma identidade à comunidade e aos grupos marginalizados. Tal como Grace, Dani é uma jovem forasteira que chega a um local para si estranho, mas que, aos poucos, se vai infiltrando nos hábitos dessa mesma comunidade rural.

Ao mesmo tempo, e apesar de “Dogville” ser literalmente despojado do dispositivo cénico (todos os espaços são representados através do giz pintado no solo escuro), também “Midsommar” parece ser dominado pela lógica de um “não-espaço”. Afinal, grande parte do filme ocorre em ambientes exteriores. Em todo o decorrer da trama, o importante é o exterior, onde existe um contacto pleno com os elementos da Natureza.

Sem relevar o final dos filmes, é de observar que ambos se interligam, justamente porque os cineastas dão à protagonista um sentimento de satisfação e de libertação. Estas mulheres percebem que neste mundo não há espaço para a bondade ou sequer para o amor, mesmo por parte das pessoas que lhe são mais próximas ou que melhor as conheciam.


“Save the Green Planet!” (2003), de Joon-Hwan Jang

Filmes que influenciaram Midsommar
Save the Green Planet © CJ Entertainment

Ari Aster, tal como muito dos cineastas que admira, tem uma capacidade, senão mesmo dom, de dissuadir as matrizes dos diferentes géneros cinematográficos. Muitas vezes torna-se difícil ao seu espectador separar a comédia do drama, ou drama do terror. Curiosamente, como fonte de inspiração estão vários cineastas asiáticos que não se deixam levar pela imposição criativa e limitação dos géneros de Hollywood.

Quando questionado por David Ehrlich, Ari Aster revelou que cineastas como Joon-Hwan Jang, Park Chan-wook e Bong Joon-ho têm sido uma forte fonte de inspiração, sobretudo pelos diferentes tons que os seus filmes passam. Uma das obras por ele citada, e que mais teve em conta para “Midsommar”, foi “Save the Green Planet!”, realizado por Joon-Hwan Jang e que não chegou a ser lançado em Portugal.

A história segue o iludido Byeong-gu que acredita que o mundo sofre uma invasão de alienígenas que vieram ao planeta para examinar as suas formas e vão-no destruir no próximo eclipse lunar. A única maneira de salvar a Terra é conseguir o código real genético das mãos do líder alienígena. Esse líder, segundo Byeong-gu, é o chefe da sua repartição, mas está disfarçado. Então, ele rapta o chefe e começa uma severa sessão de torturas para ver se ele conta a verdade.

Curiosamente, também em “Midsommar” há um sequestro e tortura, embora sem que as suas vítimas o entendam verdadeiramente, e também ele provocado por um jovem iludido e fanático, interpretado por Vilhelm Blomgren, o terceiro elemento mais importante do filme de Aster.


“Canções do Segundo Andar” (2000), de Roy Andersson

Canções do Segundo Andar
“Sånger från andra våningen” © Coproduction Office

Um dos elementos mais pertinentes na direcção de fotografia do filme de Aster é não só a forma como a câmara se move, mas também a profundidade de campo, inspirada em “Canções do Segundo Andar”, um filme sueco de 2000.

A profundidade de campo em cada cena de “Midsommar” destaca a atenção do espectador para o fundo, onde os rituais eventualmente sinistros já estão a acontecer, enquanto Dani e os seus companheiros de viagem ainda estão a tentar perceber onde é que se encontram. Além disso, todo o sentido da obra de Aster encontra-se naquilo que está por detrás e escondido, como se de alguma maneira as personagens em primeiro plano estivessem a bloquear a visão do espectador para aquilo realmente importante, que acontece atrás delas.

Em “Canções do Segundo Andar” encontramos outros elementos peculiares do filme de Ari Aster: a dificuldade do ser humano relacionar-se com o outro e o facto de comportar-se de modo tão absurdo e inconsciente. Ao contrário de “Midsommar”, a longa-metragem de Andersson ocorre durante a noite, mas também as suas personagens não conseguem adormecer, estando perdidas num limbo temporal.


“Modern Romance” (1981), de Albert Brooks

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Modern Romance © Columbia Pictures

Outro filme sobre relacionamentos a influenciar Ari Aster em “Midsommar” foi o popular “Modern Romance”, realizado, escrito e protagonizado por Albert Brooks. Aqui somos confrontados com Robert Cole (Albert Brooks), um realizador de cinema de Hollywood bem-sucedido e extremamente narcisista. Durante vários anos, Robert sofre com um problema sério: encara assuntos relacionados ao amor como uma enorme tortura. O problema é que a sua namorada está perdendo um pouco a paciência com a instabilidade da relação.

Na verdade, na sua conversa com David Ehrlich, Aster revelou mesmo que “Modern Romance” é o seu filme preferido sobre a ruptura de um casal. Segundo Aster, nestes filmes, que tipicamente levam o espectador ao ensino secundário, há sempre uma mulher que tem uma relação com o homem errado, e que o homem certo está mesmo debaixo do seu nariz, mas ela só se apercebe disso quando finalmente reúne as recordações do mau relacionamento e pega-lhes fogo no seu quintal. Precisamente em “Midsommar”, o fogo é um elemento da natureza determinante para a história, apresentado como um símbolo crucial num dos rituais pagãos a que Dani e Christian assistem.


“Cenas da Vida Conjugal” (1974), de Ingmar Bergman

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Scener ur ett äktenskap (1973) © Cinematograph AB

As cenas iniciais de “Midsommar” refletem a mesma frieza que “O Silêncio,” e os vários rituais pagãos que se seguem são influenciados por “O Sétimo Selo”, mas Ari Aster tem como principal fonte de inspiração um projeto de Ingmar Bergman sobre o casamento.

Em 1973, Ingmar Bergman lançaria na televisão pública sueca a sua série “Cenas da Vida Conjugal” de seis episódios (“1. Inocência e Pânico”; “2. A Arte de Varrer as Coisa para debaixo do Tapete”; “3. Paula”; “4. O Vale das Lágrimas”; “5. Os Analfabetos”; e “6. A Meio da Noite numa Casa Escura Algures no Mundo”). A série foi um sucesso que a produtora Cinematograph AB decidiu tornar num filme comercial com pouco mais de 2 horas e meia.

A produção segue o casamento de Johan (Erland Josephson) e Marianne (Liv Ullman), um professor universitário e uma advogada, aparentemente felizes. Mas, apesar da sua elogiada racionalidade, tolerância e abertura, há fissuras na relação. Um dia Johan revela que quer sair e tentar uma aventura com uma mulher mais jovem. A revelação é um choque para Marianne, que fará tudo para rever o que correu mal numa relação onde, afinal, nunca foi dito tudo o que se devia.

Para além do país que partilham (embora “Midsommar” tenha sido filmado em grande parte na Hungria), “Cenas da Vida Conjugal” e “Midsommar” são próximos pela temática de ruptura de um casal, dando-nos a entender que muitos dos elementos causadores da separação continuam a ser os mesmos de hoje: a traição, a falta de comunicação e a falta de dedicação ao outro. Além de que a brutalidade dos longos monólogos das personagens de Bergman é igualmente sentida nas conversas entre Dani e Christian.


“O Sacrifício” (1973), de Robin Hardy

O Sacrifício
The Wicker Man © Rialto Pictures/ Studiocanal

Não é difícil reconhecer as influências que “Midsommar” busca nos designados folk horror movies como “The Wicker Man”. Os filmes tocam-se por transportarem as suas personagens principais para locais longínquos, mas também por despertarem num espectador uma espécie de ânsia. Em vez das personagens procurarem um escape para a situação que os rodeia (como nos típicos filmes de terror de adolescentes) começam aos poucos a deixarem-se levar, porque sabem que não há fuga possível.

Em “O Sacrifício”, título muito mais revelador que o título português “The Wicker Man” (tradução para Homem de Palha), conta a história do sargento Neil Howie (Edward Woodward) que chega à ilha de Summerisle na Escócia para investigar o desaparecimento de uma jovem. Logo descobre que os habitantes não estão, nem um pouco, dispostos a colaborar. A tensão e o mistério aumentam ainda mais quando Howie conhece o Lord Summerisle (Christopher Lee), um poderoso lavrador que lidera uma estranha seita pagã.

Os folk horror movies, nos quais se enquadram “The Wicker Man” e “Midsommar”, designam um subgénero do terror em que as histórias desenrolam-se em zonas rurais, rodeadas de mistérios, perigos e mitos. Aqui a tecnologia e o ritmo frenético das grandes cidades está completamente ausentes, para dar lugar às superstições e aos costumes abandonados pela maioria das pessoas, aos segredos do povo e da comunidade. Facto peculiar é que também “The Wicker Man” parecia já dissuadir as barreiras do género com algumas tonalidades de comédia e não só de thriller ou policial.


“Sayat Nova” (1969), de Sergei Parajanov

Sayat Nova
Sayat Nova © Armenfilm

Os filmes oníricos do autor da era soviética Sergei Parajanov, como “Sayat Nova” e “Shadows of Forgotten Ancestors” (1965), foram também uma enorme influência para o filme “Midsommar”. Curiosamente, antes do início da produção, Ari Aster mostrou ambos os filmes ao seu designer de produção Henrik Svensson, sobretudo para que se deixasse influenciar pela estética cenográfica.

Ari Aster procura manter o lado folclórico e vívido das obras de Parajanov. Por exemplo, em “The Color of Romegranates” (ou “Sayat Nova” no título original) o espectador é apresentado aos esplendores da cultura arménia, embora de forma surreal, e à história do trovador do século XVIII Harutyun Sayatyan, conhecido precisamente por Sayat Nova. Mas, em vez de uma biografia cronológica, Parajanov deixa-se levar pelo misticismo, sobretudo quando mostra os tormentos do poeta, com recurso a rudimentares efeitos visuais de stop-motion.

Se Ari Aster pretendia fazer algo igualmente vívido e surrealista, mas também propenso à violência, fê-lo precisamente em “Midsommar”.


“Quando os Sinos Dobram” (1947) de Michael Powell e Emeric Pressburger

Quando os Sinos Dobram (1947)
Black Narcissus © Universal Pictures

Quando pensamos nas novas vagas europeias do pós-segunda guerra mundial, associamos sempre a ideia à França ou à Itália, embora não possamos esquecer que também o Reino Unido recebeu alguma atenção nos Estados Unidos da América. Tudo acontecia graças às narrativas extremamente criativas e originais oferecidas por jovens cineastas europeus que queriam erguer o país e a Europa destruídos pela Segunda Guerra Mundial.

Aliás, nos anos 40 surgem filmes determinantes para a história do cinema britânico como as adaptações “Grandes Esperanças” (1946) e “Oliver Twist” (1948) ou até mesmo “Hamlet”, de Laurence Olivier, que se veria a tornar na primeira longa-metragem de produção completamente não-americana a ganhar o Óscar de Melhor Filme. Curiosamente, outros realizadores, nomeadamente a Michael Powell e Emeric Pressburger ganhava lugar junto das bilheteiras americanas (relembremos, por exemplo, “The Red Shoes”, maior sucesso comercial nos EUA em 1948).

Os filmes de Michael Powell e Emeric Pressburger influenciam a paleta de cores de “Midsommar”. Filmes como “Black Narcissus” ou “The Tales of Hoffmann”, filmados em Technicolor, foram igualmente objetos de estudo e de discussão entre Ari Aster e o seu diretor de fotografia Pawel Pogorzelski. E não só nas cores encontramos influências destes filmes com mais de 70 anos.

Ao assistirmos à obra de Michael Powell e Emeric Pressburger “Quando os Sinos Dobram” (1947), percebemos que as mulheres assumem um papel central e que viraram as costas ao mundo de paixão e amor, para dedicar-se à religião, a Jesus e às crenças na vida para além da morte. Tal característica ressoa em “Midsommar” através do título “Rainha de Maio”, que uma das personagens adquire ao longo do filme.

Como as freiras de “Quando os Sinos Dobram”, as personagens de “Midsommar” terão dificuldade em admitir, ou perceber, que estão perdidas, mesmo que saibam intrinsecamente isso desde o início.

“Midsommar: O Ritual” chega aos cinemas portugueses a 26 de setembro. No MOTELx o filme de Ari Aster é exibido na sexta-feira, 13 de setembro, às 21h na Sala Manoel de Oliveira no Cinema São Jorge em Lisboa.

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