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Histórias de Bondade, a Crítica: Após Pobres Criaturas, Yorgos Lanthimos e Emma Stone desafiam as expectativas

Dedicados a um aparente pacto de produtividade que não conhece limites, passado menos de um ano da estreia de “Pobres Criaturas”, o realizador Yorgos Lanthimos e a sua musa Emma Stone regressam às salas com a insana antologia “Histórias de Bondade”. Terão apressado o seu próximo projeto? 

Depois de “A Favorita” e “Pobres Criaturas”, filmes que mereceram a Emma Stone respectivamente uma nomeação ao Óscar e a sua segunda estatueta dourada, eis que Yorgos Lanthimos volta a colocar a sua atriz de predileção em mais um projeto no campo da longa-metragem: “Kinds of Kindness“.

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Mas será que o tríptico episódico “Histórias de Bondade” é verdadeiramente uma longa? Não, na realidade é uma compilação de três curtas ou, quiçá, três médias metragens profundamente ligadas entre si, em temas, elementos sugestivos e referências, e também através do seu elenco partilhado.

“Uma obra muito mais surreal”

Rejeitando a estrutura bastante linear e fácil de acompanhar do recente “Poor Things”, Yorgos Lanthimos propõe aqui uma obra muito mais surreal e difícil de digerir. Para quem achou “Pobres Criaturas” pouco convencional e se ofendeu com o muito sexo e adulterações da fisionomia humana, é sem dúvida melhor evitar estas pérfidas “Histórias de Bondade”.

kinds of kindness emma stone yorgos lanthimos
© Searchlight Pictures

Desreguladas, dispersas e metafóricas, as três histórias de “Kinds of Kindness” podem ser vistas como comédias negras. A sua maior graça, para além de uma dose de curiosidade e desrespeito pela ordem notáveis? As interpretações centrais do elenco que se repete excerto após excerto: Emma Stone, claro está, mas também Jesse Plemons num dos seus papéis mais memoráveis, e colaboradores repetidos em papéis de apoio, como Willem Dafoe (“Pobres Criaturas”), Margaret Qualley (“Pobres Criaturas”) e Joe Alwyn (“A Favorita”). Hong Chau (“Downsizing”) e a jovem estrela em ascensão Hunter Schafer (“Euphoria”) dão também o ar da sua graça.


“Histórias de Bondade”, em toda a sua veemente não linearidade, aborda várias temáticas estruturais e questões filosóficas com riqueza inegável. São ideias com “I” grande, as que aqui se vão equacionando e representando através de cenários-limite. Quais são as limitações do livre arbítrio? Vale a pena abdicar dele? Depois de um evento traumático, continuamos a ser o mesmo “eu” ou somos substituídos por uma nova versão com pés inchados? Enfim, o habitual.

O que incomoda em relação a “Kinds of Kindness” não é o quão gráfico é, nem sequer a sua predileção pelo efeito de choque e pela opção, uma e outra vez, pela progressão que permite deixar um maior impacto emocional e visual. Não, o problema da nova obra de Lanthimos é ser tão dispersa e livre de propósito.

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© Atsushi Nishijima/Atsushi Nishijima

Não é cerebral que chegue para justificar a sua dispersão, nem deliciosamente surreal ao ponto de dispensar o contacto com o real. Antes, vive numa zona cinza, que não é carne nem peixe, entre ser narrativa e recusar tal necessidade. Acima de tudo, estes episódios parecem pequenos contos onde importa mais o rumo dos eventos do que as personagens que aqui habitam.

“Questões filosóficas com riqueza inegável”

As suas motivações são obscuras, pouco justificadas e raramente desenvolvidas. Apesar de cada um dos capítulos antológicos ser de certo modo independente e ligado aos restantes ao ponto de justificar a sua estrutura, abandonamos a sala com alguma confusão a reinar.

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Eis que não só o segundo acto é muito mais forte que os restantes, como várias ações continuam a ser difíceis de justificar depois do desfecho de cada uma das histórias. Se ao menos fosse possível, para quem vê, compreender o que originou a união pouco comum entre as personagens da primeira histórias, se nos fosse dito como ficou a personagem do terceiro filme tão fixada em água e purificação? Mas não, os universos criados são superficiais e, não deixando de entreter, são tristemente pouco memoráveis.

E não fosse o elenco, liderado por Stone, tão magistral, e tudo isto podia correr o risco bem real de cair no esquecimento.

Histórias de Bondade, a Crítica
Histórias de Bondade

Movie title: Histórias de Bondade

Movie description: Uma fábula tríptica que acompanha um homem sem escolha que tenta assumir o controlo da sua própria vida; um polícia que está alarmado com o facto da sua mulher, que estava desaparecida no mar, ter regressado e parecer uma pessoa diferente; e uma mulher determinada a encontrar uma pessoa específica com uma capacidade especial, que está destinada a tornar-se um prodigioso líder espiritual.

Date published: 1 de January de 1970

Country: Irlanda, Reino Unido

Duration: 164'

Author: Yorgos Lanthimos, Efthimis Filippou

Director(s): Yorgos Lanthimos,

Actor(s): Emma Stone, Jesse Plemons , Willem DaFoe, Margaret Qualley, Joe Alwyn , Hong Chau

Genre: Comédia, Drama

  • Maggie Silva - 65
65

Conclusão

“Histórias de Bondade” é longo, enigmático, não linear e arrojado. Os seus três atos encontram entre si poucos pontos de contacto, mas um elenco de luxo eleva um material intencionalmente caótico.

Pros

  • As prestações do pequeno e recorrente elenco de “Histórias de Bondade”, com evidente tempo de ecrã e mestria a destacar por parte de Emma Stone e Jesse Plemons. Ocasionalmente, Willem DaFoe e Joe Alwyn têm momentos em que o argumento lhes permite brilhar;
  • As grandes questões que são colocadas por Lanthimos.

Cons

  • Estas três histórias, distintas mas próximas, são simultaneamente curtas demais para aprofundar as temáticas que tratam, e ainda assim demasiado longas para uma única longa-metragem;
  • O valor do choque por si só é demasiado alto;
  • Os finais são pujantes, mas têm grande significado? Serão memoráveis?
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