O IndieLisboa ’21 terminou no dia 6 de setembro, continuando com sessões de vencedores nos dias 7 e 8. O último dia do festival trouxe até à disruptiva secção “Boca do Inferno” a narrativa dramática mexicana “50 (o Dos Ballenas se encuentran en la Playa)”, na sua estreia a nível nacional.
Esta obra, exibida na 18ª edição do IndieLisboa a 6 de setembro no Cinema Ideal, vencedora do prémio de Melhor Argumento no Festival de Cinema de Cairo, indicada a múltiplos prémios em Toulouse e integrante da Semana da Crítica de Veneza em 2020, transporta-nos até à Cidade do México no ano de 2018. Aqui, recupera-se uma agridoce história verídica que, ao longo de duas horas vagarosas de narração, é recontada com cuidado e dedicação.
“50”, com subtítulo traduzível para “Ou a história de duas baleias que se encontram na praia”, intercala inesquecíveis imagens a preto e branco numa praia repleta de baleias mortas que deram à costa (recordam-nos quase a iconografia do também mexicano “Roma”) , sendo esta a mais esotérica e bela imagem da longa-metragem, com diversas imagens de Split Screen, pouco usuais em cinema e aqui utilizadas com uma recorrência contínua. Conhecemos Félix (José Antonio Toledano) e Elisa (Karla Coronad), dois adolescentes dormentes, deprimidos, prontos para desistir da vida e que encontram no perigoso “jogo da Baleia Azul” uma raison d’être e um motivo para a sua união.
Filme povoado por ângulos dramáticos e uma constante presença religiosa de ambos os seus protagonistas, “50 (o Dos Ballenas se encuentran en la Playa)” parece tentar ser (e conseguir) melodramático, fantasioso e realista em simultâneo. O clima de eminente catástrofe está sempre presente, conduzido pela banda-sonora pesada e misteriosa e pelos já referenciados ângulos de filmagens drásticos, bicudos, geometricamente ousados.
Foi em 2016 que o fenómeno “Baleia Azul” chocou o mundo. O jogo, originário na Rússia, encabeçado por misteriosos “administradores”, pediria aos participantes para se envolverem em 50 desafios radicais, de manobras radicais à auto-mutilação, com o derradeiro desafio sendo o suicídio. Estima-se que este jogo de mau gosto tenha levado mais de uma centena de adolescentes ao suicídio.
A tristeza de “50” passa por ser não só um filme sobre miúdos deprimidos, como muitas vezes é enfatizado, mas também uma obra sobre paixão e trauma (e a forma como estes sentimentos fortes se movem de mão dada). Queremos, desesperadamente, que os bem interpretados Elisa e Félix sejam felizes e queiram viver e não morrer em conjunto, mas não há lugar para esperança no coração de duas baleias azuis.
Numa longa-metragem que peca por ser excessivamente vagarosa e indulgente, somos ainda assim atingindos, de forma avassaladora, pela crueldade do destino destes “Romeu e Julieta” da idade digital.
Não são poucos os climaxes dramáticos, aliás, numa obra que tristemente presta homenagem à face mais negra da partilha de informação no mundo digital e que explora o próprio sadismo inerente à natureza humana. Não obstante, “50” consegue, de forma notável, encontrar luz abundante entre a escuridão e, assim, contrabalançar a sua natureza melodramática.
TRAILER | 50 OR TWO WHALES MEET ON THE BEACH (2020) NA SECÇÃO BOCA DO INFERNO DO INDIELISBOA ’21
Tens acompanhado a presente edição do IndieLisboa, a qual chega agora ao seu final?
50, em análise
Movie title: 50 (o Dos Ballenas se encuentran en la Playa)
Movie description: Félix conhece Elisa. Mas o que poderia ser o meet cute inicial de uma comédia romântica ou drama melodramático é antes o convite not so cute para jogar um perigoso jogo com 50 desafios que terminam em suicídio. O casal vai entrar na competição junto e esperar que a morte os separe.
Date published: 6 de September de 2021
Country: México
Duration: 122'
Director(s): Jorge Cuchí
Actor(s): José Antonio Toledano, Karla Coronado, Gerardo Trejo Luna
Genre: Ficção, 122 minutos
Maggie Silva - 80
80
CONCLUSÃO:
“50” recupera uma história verídica que se tornou quase lenda urbana. Fá-lo recorrendo a um misto entre drama, romance e suspense e empregando técnicas de fotografia notáveis.
O MELHOR:
A inovação técnica, especialmente no “limbo” das baleias a preto e branco;
Os intérpretes centrais;
O PIOR:
A natureza vagarosa da narrativa, incapaz de manter um ritmo coeso e sempre empolgante;
Comunicadora de profissão e por natureza. Dependente de cultura pop, cinema indie e vítima da incessante necessidade de descobrir novas paixões.
Campeã suprema do binge watch, sempre disposta a partilhar dois dedos de conversa sobre o último fenómeno a atacar o pequeno ou grande ecrã.